Putin e Hollande vão atrás da gambiarra
de Erdogan.
por Pepe Escobar
tradução mberublue
28 de novembro de 2015 "Information Clearing House"
- "RT"
– A
coisa toda começou quando o presidente da França, Monsieur François Hollande,
logo após os ataques em Paris, teve a ideia temerária de trabalhar lado a lado
com a Rússia, naquela mesma coalizão que luta de verdade contra o Estado Islâmico
na Síria.
O presidente da
Turquia, Sr. Recep Tayyip “sem desculpas”
Erdogan pensou que a estas alturas, a OTAN e a Rússia já estariam um na
garganta nuclear do outro, uma espécie de Guerra Fria 2.0, já que Washington
rebateu a ideia de Hollande com a costumeira pletora de platitudes e
distorções.
Pois em menos de 17 segundos o Primeiro
Ministro turco Ahmet “eu mesmo dei a
ordem” Davutoglu tinha autorizado a derrubada do bombardeiro russo SU-24 –
apenas algumas horas antes de Hollande se encontrar com o presidente Obama.
Tudo parecia se encaixar
às mil maravilhas. Nada parecia indicar uma nova détente entre as potências
atlanticistas e a OTAN. Pelo contrário. Erdogan já tinha como favas contadas
que havia sabotado uma reunião produtiva tête-à-tête
entre Putin e Hollande em Moscou.
Devagar com o andor, Sultão.
A Rússia e a França não
serão separadas, afirmaram em Moscou Hollande e Putin. O chefe de Estado
Francês declarou: “Nós concordamos, e isso
é o que importa, que atacaremos apenas os terroristas e o Estado Islâmico e não
as forças que lutam contra o terrorismo. Trocaremos informações e dados sobre
quem atacar e quem não atacar.”
A emoção se revela
conforme se descortina o horizonte. Na seção “atacar” nós Já podemos colocar tranquilamente o Estado Islâmico e
a Jabhat al-Nusra, também conhecida como al Qaeda na Síria, ambas já definidas
como organizações terroristas pelas negociações em Viena.
Considerando então que
a al-Nusra tenha absorvido, cooptado ou instrumentalizado uma vasta gama de
outras organizações salafistas, “moderadas”
ou
não, parece claro que não será muito difícil para os russos convencer os
franceses sobre quais são os alvos legítimos.
É também muito significativo que a
França pode aumentar seu apoio aos “rebeldes”
que estão combatendo o Estado Islâmico no terreno; o que significa o código
para denominar os sírios curdos do YPG – uma das Nêmesis de Erdogan, ao lado do
PKK.
Dessa forma, o investimento de risco do
Sultão na derrubada de jatos russos não está dando os lucros esperados. E quem se
importa se Hollande vier com a velha cantilena dos Estados Unidos de que “Assad tem que sair” enquanto Putin
reafirma que “o destino do presidente da
Síria deve ser colocado em mãos do povo da Síria”? Todos já sabem que a prioridade das conversações em Viena não era
esta. Como foi declarado explicitamente pela declaração de guerra embutida na
resolução 2249 CSNU – a prioridade principal é esmagar o Estado Islâmico.
Para coroar o bolo com uma enorme cereja,
Putin e Hollande chegaram a um consenso: deve acontecer uma dura barragem de
bombardeios contra os comboios de caminhões tanques que transportam petróleo
roubado na Síria pelo Estado Islâmico através dos territórios controlados pelo
Estado Islâmico demandando a Turquia.
Os bombardeios transformarão em cinzas
a lucrativa gambiarra do filho do “Sultão”, Bilal Erdogan, também conhecido como
“Erdogan mirim” um dos três acionistas
da empresa de transporte marinho BMZ.
Mandem os Sukhois!
Putin mandou um míssil de cruzeiro
recheado de sarcasmo quando disse que, afinal de contas, era “teoricamente possível” que o governo em
Ancara realmente não soubesse que havia petróleo sírio roubado entrando em
território turco por pontos controlados pelo Estado Islâmico, mas acrescentou
que era difícil acreditar.
Para não ficar no terreno das teorias,
um dos sistemas de mísseis de defesa S-400 AA já foi instalado e está pronto
para combate na base aérea de Hmeymim, e poutro está a caminho.
O “Sultão”
não pode mais dizer que não foi avisado: A partir de agora a Rússia tem três
prioridades principais:
1) – Uma zona real de
exclusão aérea já efetiva no sul da fronteira entre a Turquia e a Síria,
reforçada por S-400s. Ancara já está se assustando até com corujas e corvos.
2) – Também já efetivos: A Rússia vai atingir –
duramente – qualquer coisa que se mova de maneira suspeitosa em cada corredor de
transporte dentro e fora do território turco. Os comboios “humanitários” turcos que transportam – o que mais? – armas, foram
pulverizados em Azaz, a qual fica a
apenas cinco quilômetros da fronteira com a Turquia. Outros pontos de
distribuição de caminhões também foram bombardeados peto de Raqqa.
3) – Já funcionando: a
Rússia vai bombardear de forma maciça toda aquela ampla região onde os
operadores da CIA transitam por uma auto estrada para entregar numerário e
armamento ao FSA (Exército Livre da Síria) e para os “inocentes” turcomenos. A Rússia iniciou um bombardeio de tapete na
área turcomena de Jabal logo após o resgate do tenente-coronel Oleg Pershin,
piloto russo abatido com o SU-24.
Como eu já detalhei aqui, não há ninguém “inocente” em toda essa maldita zona de guerra cheia de milícias
turcomenas ligados por laços de amizade à al Qaeda.
E tem mais:
A Rússia não só vai destruir as conexões
entre as milícias Islamo-Fascistas Turcas/Chechenas/Usbeques/Turcomenas na
província de Latakia; vai também destruir até os alicerces a farra do roubo de
petróleo que é a fonte dos lucros do “Erdogan
Mirim”, com um bônus extra: esmagará também os navios tanques no mar.
François Hollande concorda.
Assim, o “Erdogan Mirim” faria melhor se buscasse refúgio em Dubai. Mas pera
aí, como vai fazer para evitar um “acidente” qualquer na noite selvagem da
cidade?
Autoestrada para o inferno
Por enquanto, Erdogan e
seu “Mirim” devem ter tomado
conhecimento da mensagem. Eles pensavam que estavam a coberto quando derrubaram
o SU-24, que aliás não “violava” nada a não ser a super lucrativa gambiarra com
petróleo roubado que enchia de dinheiro, entre outros, o “Mirim”. Livrar-se de uma operação de venda de petróleo que
abastece os programas do Estado Islâmico desafiando o embargo de petróleo da
OTAN? Esta é uma oferta que a Rússia não pode recusar...
Ao menos duas questões importantes ficam sem resposta.
Como é que pode a coalizão liderada pelos Estados Unidos, a “Coalizão de
Oportunistas Finórios – COF”, nunca, em mais de um ano – e a palavra correta é
esta: nunca – conseguiram bombardear ao menos uma das rodas da máquina de
roubar petróleo na Síria?
E como pode ninguém entre os
componentes do COF – em especial os (norte)americanos – nada terem feito para
impedir “Mirim” e outros da mesma
laia de na realidade financiar o Estado Islâmico através dessa gambiarra por
tanto tempo? A CIA, claro, sabia de tudo isso e muito mais, dado os satélites
geoestacionários trabalhando em regime de tempo integral sobre o “Siriaque”.
Bom. Temos que levar em consideração que a CIA estava por demais ocupada rodando para lá e para cá nas rodovias através das montanhas turcomenas para entregar armas e dinheiro, para que se preocupasse com meras operações de petróleo contrabandeado.
Acontece que agora a
Rússia está indo atrás de tudo isso. Da rodovia de entrega de armas da CIA, a
rodovia colocada à disposição pela Turquia para os jihadistas, a rodovia de
escoamento de petróleo roubado Estado Islâmico/Turquia. O Sultão e seu “Erdogan Mirim” que se preparem para
rodar por uma autoestrada que leva direto ao inferno.
Pepe Escobar - é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris,
mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online;
é também analista de política de blogs e sites como: Sputinik, Tom
Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é
correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.
Pequena nota aos leitores, pelo tradutor: a partir desta publicação, nós traduziremos
ISIL/ISIS/Daesh sempre como “Estado Islâmico”. Embora sabendo que não se trata
de um Estado na forma como entendemos a palavra nem é islâmico na forma que os
adeptos reais do Islã entendem, é a forma como ficou conhecida a organização
terrorista que leva este nome. Para a boa compreensão dos textos, a partir de
agora sempre mencionaremos a organização terrorista como “Estado Islâmico”.
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