domingo, 29 de novembro de 2015

O 'ocidente' nunca atacará o ISIS onde mais dói 

        
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24/11/2015, Tony Cartalucci, New Eastern Outlook         
Tradução pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu                                                    


Logo no dia seguinte dos ataques em Paris, o 'ocidente' tentou alavancar o que esperava que viesse a ser um renovado clamor público por mais e mais guerra longe de casa. Com esse objetivo, EUA e Turquia anunciaram uma operação que visaria a 'securitizar' os últimos 98 km da fronteira turco-síria – área compreendida entre a margem esquerda do rio Eufrates perto de Jarabulus, até Afrin e Ad Dana mais para oeste.


É a "Zona Segura" da OTAN de 2012, em neoembalagem


Os que acompanham o conflito sírio logo verão que esse trecho da fronteira turco-síria é precisamente a área daquela tão buscada e ansiada "zona segura" que EUA, OTAN e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) tentam estabelecer desde 2012. Os ataques em Paris e vários incidentes de fronteiras menores, noticiados recentemente, parecem ser apenas a mais nova série de provocações que o tal 'eixo' tenta, para implementar aquele plano já concebido há anos.


Essa região entre Jarabulus e Afrin constitui o corredor primário pelo qual o grupo constituído da Frente Al-Nusra da Al-Qaeda e o chamado 'Estado Islâmico' ou ISIS, recebe armas, suprimentos e combatentes recém recrutados. Mediante esforços coordenados entre os curdos sírios e o governo do presidente Bashar al-Assad, todo o restante da fronteira já está selado. À medida que esse processo avançou, avançou correspondentemente o desespero do eixo 'ocidental' para derrubar o governo de Damasco.


Aproxima-se o fim do jogo 


Na realidade, independente das tolices repetidas que o 'ocidente' 'declara' sobre sua determinação para "combater contra o ISIS," as suas ações e as ações de seus aliados regionais já mostraram e demonstraram sobejamente que o único interesse 'ocidental' real é preservar o grupo terrorista. 


Mas a falsa guerra que o 'ocidente' diz que combate contra o ISIS ajudou a abrir a porta para a recente intervenção militar dos russos. Com a entrada da Rússia naquela guerra, o 'ocidente' já não pode persistir em suas inexistentes operações contra o ISIS enquanto espera por uma chance para finalmente dividir e destruir a Síria.


A Rússia e o Exército Árabe Sírio, ao qual os russos garantem apoio aéreo, já praticamente selaram, eles mesmos, o corredor Jarabulus-Afrin. De fato, uma semana antes dos ataques em Paris, tropas sírias abriram um corredor até a base aérea Kweires, que até então estivera cercada, a apenas 40 quilômetros do rio Eufrates. Desde então, as forças sírias expandiram o controle sobre a área circundante. 


Tão logo alcance o Eufrates e retome o controle sobre Aleppo, e avance para o oeste, a partir de Latakia no nordeste, a Síria terá preenchido todo o vazio onde a OTAN tanto sonhava, há tanto tempo, estabelecer sua tal "zona segura".


Em outras palavras, há uma corrida entre (i) a OTAN (que quer fixar uma ocupação parcial do território sírio) e (ii) a Síria e seus aliados que lutam para preencher aquele vazio antes de que a OTAN consiga instalar-se ali. – Agora, essa corrida aproxima-se do fim.


A pergunta não perguntada (vide mapa)


Os ataques em Paris aconteceram segundo timing preciso: à véspera das conversações de Viena e exatamente quando Síria e aliados aproximam-se da tal "zona segura" de que a OTAN precisa tão desesperadamente.


Os ataques deram ao 'ocidente' mão forte para chegar às conversações de Viena e sem dúvida ajudarão EUA-Turquia a expandir suas operações no norte da Síria.


E por mais que sugestões de que o 'ocidente' teria qualquer conexão com os ataques em Paris possam ser descartadas como "teoria conspiracionais" (apesar das evidências que surgem e mostram que agências de segurança francesas e outras agências 'ocidentais' e organizações policiais conheciam os atacantes antes mesmo que atacassem), fato é que EUA e Turquia estão tentando 'securitizar' a fronteira entre Turquia e Síria, mas avançando de dentro do território sírio, não de dentro do próprio território da OTAN – e esse movimento revela, afinal, a verdadeira natureza do conflito em curso.


Em matéria da Reuters, "U.S., Turkey working to finish shutting northern Syria border: Kerry" [EUA, Turquia trabalhando para acabar de fechar a fronteira norte da Síria: Kerry], lê-se:


O secretário de Estado dos EUA John Kerry disse na 3ª-feira que os EUA iniciaram operação com a Turquia para acabar de securitizar [orig. finish securing] a fronteira norte da Síria, área na qual militantes do Estado Islâmico têm usado como rota lucrativa de contrabando.


A Reuters diz também (destaques meus):

As áreas onde ocorrerão as operação são hoje controladas pelos islamistas radicais. EUA e Turquia esperam que, varrendo o Estado Islâmico, frequentemente chamado Daesh, para fora daquela zona de fronteira, poderão privá-lo de uma rota clandestina pela qual circulam recrutas estrangeiros, e dos lucros auferidos por comércio ilegal.


Nos termos de um plano conjunto longamente amadurecido entre EUA e Turquia, rebeldes sírios moderados treinados pelo exército dos EUA deverão dar combate ao Estado Islâmico em solo e ajudar a coordenar ataques aéreos a serem disparados pela coalizão liderada pelos EUA a partir de bases aéreas turcas, segundo a estratégia traçada por Washington e Ankara.


Diplomatas familiares com esses planos disseram que, cortar uma das linhas de suprimento do Estado Islâmico pode mudar todo o jogo naquele setor da complexa guerra na Síria. O núcleo dos rebeldes, que não serão mais de 60, estará altamente equipado e com capacidade para requerer apoio aéreo próximo quando necessário – dizem.


Sim, mas... "linhas de suprimento para o Estado Islâmico"... que partem de onde? Eis a questão jamais esclarecida – sequer proposta – na matéria da Reuters nem nos 'informes' de Kerry nem em nenhuma das 'declarações' de políticos 'ocidentais', autoridades ou 'especialistas', nunca, desde o início do conflito na Síria, em 2011.


Ninguém pergunta, mas a resposta é óbvia. Todas as linhas de 'suprimento' para o Estado Islâmico partem de território turco, em direção à Síria. 


Basta examinar qualquer mapa do conflito, para ver que absolutamente não se trata de "guerra civil". Está em curso uma invasão à Síria, que se inicia em território da OTAN.


Parar o ISIS na fonte: na Turquia, no Golfo e na própria OTAN


Todos os atacantes de Paris, do mesmo modo, também passaram pela Turquia na viagem que fizeram para receber treinamento, para receberem armas e para lutarem na Síria e depois – sempre passando pela Turquia –, de volta à Europa. As toneladas de armas e centenas de terroristas combatentes embarcados clandestinamente para a Síria pelos EUA a partir de Benghazi, capital do terrorismo em território líbio, também chegavam, primeiro, em território turco antes de prosseguir viagem, aparentemente com conhecimento e cooperação do governo turco.


Tudo isso para dizer que, quem queira realmente cortar "linhas de suprimento" para o ISIS tem de começar a cortá-las dentro da Turquia, de onde saem toneladas de armas e suprimentos e onde milhares de terroristas fazem estágios, são treinados e por onde sempre passam, a caminho da Síria. 


Mas qualquer ação que Rússia, Síria ou Irã empreendam para interditar essas linhas de suprimento que atendem os terroristas a partir de território da OTAN será considerada ato de guerra. 


A própria OTAN não ter bloqueado, ela mesma, em seu território, essas mesmas linhas de suprimento para terroristas já ativas há anos, durante toda essa terrível guerra contra a Síria, isso sim, caracteriza campanha concertada, intencional, de terrorismo patrocinado por um estado.


Também se pode dizer que, além da Turquia, em menor extensão também a Jordânia, ao sul da Síria, e as ditaduras do Golfo Persa, Arábia Saudita e Qatar, também são "fontes" de suprimento do ISIS e de outros grupos terroristas ativos dentro da Síria. 


Ao invés de pressionar esses regimes ou de sancioná-los, e já nem se fala de conduzir operações de guerra dentro dessas fronteiras com o objetivo de alimentar a maré de dinheiro e armas que flui para o ISIS e outros grupos terroristas na Síria e Iraque, o 'ocidente', inclusive os próprios EUA e França, assinaram lucrativos negócios de armas, no valor de bilhões de dólares.


A Arábia Saudita recebeu munição dos EUA para continuar sua tão pouco noticiada guerra no Iêmen, na qual soldados sauditas lutam ombro a ombro com terroristas da Al Qaeda e do ISIS os quais parecer ter função apenas auxiliar – para ocupar territórios que as tropas sauditas e dos Emirados Árabes Unidos pesadamente mecanizadas vão esvaziando de quaisquer populações.


Combater contra o ISIS na própria verdadeira fonte que o alimenta implicaria, para o 'ocidente', pôr a faca no próprio pescoço. O 'ocidente' é claramente responsável pelo surgimento e perpetuação desse grupo terrorista – não como simples consequência da ação do 'ocidente', mas – como resultado de esforço intencional, concertado, planejado, para criar um formidável exército à distância, para guerrear 'por procuração' as guerras do 'ocidente' no Oriente Médio e no Norte da África.


Para os 'ocidentais' que ainda se perguntem por que, apesar de tantos ataques nos EUA e na Europa, e tantas campanhas tão caras para supostamente erradicar os sempre mesmos terroristas que atacam onde bem entendam, o ISIS, essa dita "organização terrorista", não apenas sobreviva sempre, como cresça e prospere sem parar, a resposta é simples: o 'ocidente' jamais se empenhou em pôr fim àqueles terroristas.


E o ISIS não está proposto só para dividir e destruir Síria e Iraque. Se o 'ocidente' sair vitorioso na Síria, a organização terrorista então se mudará para o Irã, para a região do Cáucaso e sul da Rússia, e depois para a Ásia Central. 


O ISIS é o exército para guerras longe de casa que EUA e Arábia Saudita organizaram a partir da Al-Qaeda iniciada nos anos 1980s, a qual por sua vez não passava de continuação do que o Império Britânico já fazia: usar fanáticos wahabbistas para derrubar seus rivais otomanos, há um século.


Quando o 'ocidente' fala de "guerra longa", sabe bem do que fala. E será longa, interminável, até que o povo em todo o ocidente afinal se aperceba de que seus governos supostos democráticos não estão fazendo qualquer "Guerra ao Terror": estão fazendo uma "Guerra de Terror" que se espalha pelo planeta.

Tony Cartalucci


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Pres. Vladimir Putin: Terrorismo internacional e Turquia 
           
Conferência de imprensa e P & R, depois da reunião com o pres. da França, François Hollande, 26/11/2015 transcrição do Kremlin (trad. ao fr. Salah Lamrani) – Tradução de Vila Vudu          



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Vladimir Putin, presidente da Rússia: Senhoras e senhores, boa-noite.


Tivemos negociações substanciais com o presidente francês, conduzidas de modo construtivo e baseadas numa relação de confiança. Naturalmente, dedicamos atenção máxima à questão da luta conjunta contra o terrorismo internacional.


O ataque bárbaro ao avião russo sobre a península do Sinai, os horríveis eventos em Paris e os ataques terroristas no Líbano, na Nigéria e no Mali causaram grande número de vítimas, das quais centenas de cidadãos russos e franceses. É nossa tragédia comum, e nos mantemos unidos em nosso compromisso de encontrar os culpados e levá-los ao tribunal.


Já intensificamos a operação das forças armadas russas contra os terroristas na Síria. Nossas ações militares são eficazes: os militares do dito 'Estado Islâmico' e outros grupos radicais sofreram perdas pesadas. Perturbamos os mecanismos de funcionamento dos extremistas, causamos dano à infraestrutura militar deles e minamos consideravelmente a sua base financeira. Refiro-me, em primeiro lugar, ao comércio ilícito de petróleo, que gera lucros imensos para os terroristas e seus apoiadores.


Todos os que se servem de duplos padrões em suas relações com os terroristas, utilizando-se deles para alcançar seus próprios objetivos políticos e envolvem-se em atividades comerciais ilícitas como sócios de terroristas estão brincando com fogo. A história mostra que cedo ou tarde essas ações viram-se contra os que encorajam os criminosos.


Rússia e França sabem o que significa a ação em espírito de aliança; estivemos unidos mais de uma vez ao longo de nossa história. Hoje, decidimos intensificar nossos esforços comuns para a luta antiterrorista, melhorar a qualidade da troca de informações operacionais na luta contra o terrorismo e estabelecer um trabalho construtivo entre nossos especialistas militares, como o objetivo de evitar qualquer incidente, concentrando nossos esforços a fim de assegurar que nosso trabalho na luta contra o terrorismo seja mais eficaz, evitando ações contra territórios e forças armadas que também combatem contra os terroristas.


O presidente Hollande e eu entendemos que esse tipo de cooperação é contribuição concreta e prática à formação de uma grande coalizão antiterrorismo, de uma grande frente antiterrorista sob os auspícios da ONU. Destaco que é crescente o número de nações que tratam já de unir-se a essa iniciativa.


Estamos convencidos de que a erradicação do terrorismo na Síria criará condições necessárias para que cheguemos a um acordo e, no longo prazo, ao fim da crise síria. Decidimos que continuaremos a trabalhar juntos muito ativamente no quadro do Grupo internacional de apoio à Síria e a agir em favor da realização de todos os acordos firmados no seio desse grupo, sobretudo no que tenha a ver com detalhes e parâmetros para que se constitua e avance um diálogo inter-sírios.


Nas conversações de hoje, não poderíamos ter ignorado a situação na Ucrânia; nesse contexto, discutimos as perspectivas de cooperação no Formato Normandia. Continuaremos a insistir em que sejam postas em prática todas as cláusulas dos acordos de Minsk de 12 de fevereiro.


Concluindo, devo agradecer ao senhor presidente da França e a todos os companheiros franceses por esse diálogo aberto e construtivo. Decidimos continuar nossas conversações em Paris, no quadro da Conferência da ONU para mudança climática.


PERGUNTAS & RESPOSTAS


(Jornalista francês): Boa-noite. Uma pergunta ao Sr. Putin. Senhor presidente, o senhor concorda com a ideia de que manter no cargo o Sr. Assad é um entrave à realização de seus objetivos comuns? Chegaram a algum acordo sobre que grupos podem e não podem ser tomados como alvos dos ataques aéreos?


Vladimir Putin: Entendo que a sorte do presidente da Síria deve ser decidida inteiramente pelo povo sírio.


Concordamos entre nós que é completamente impossível lutar com sucesso contra o terrorismo na Síria sem operações de solo, e não há forças hoje que possam executar operações terrestres na luta contra Daesh, Frente al-Nusra e outras operações terroristas, exceto as forças do exército do estado sírio.


Quanto a isso, entendo que o exército do estado sírio sob o comando do presidente Assad e o próprio presidente Assad são nossos aliados naturais na luta contra o terrorismo. É possível que haja outras forças em solo, que declarem sua disposição de lutar contra o terrorismo. Atualmente, estamos cuidando de estabelecer contato com essas forças, já o fizemos com algumas delas e, como eu mesmo já disse várias vezes, estamos prontos a ajudá-las nos seus esforços na luta contra o Daesh e outras organizações terroristas, como já apoiamos o exército de Assad.


Decidimos também, e entendo que é parte muito importante de nossos acordos com o senhor presidente da França, hoje, que – assim como fazemos com outros países da região – trocaremos informações sobre os territórios ocupados em maior parte por grupos da oposição 'sã', mais do que por terroristas; e evitaremos dirigir nossos golpes aéreos contra esses territórios. Também trocaremos informações porque nós – França e Rússia – temos absoluta certeza de que alguns territórios são ocupados por organizações terroristas, e coordenaremos nossos esforços nessas zonas.


(Jornalista russo): Tenho uma pergunta para o presidente da Rússia. Senhor presidente, trata-se aqui de uma coalizão de grande envergadura e, quanto a isso, gostaria de perguntar sobre o específico lugar da Turquia nessa história. Hoje, por exemplo, o exército russo sinalizou que intensificou os ataques sobre a região do território sírio onde o avião russo foi abatido.


Ao mesmo tempo, jornais e jornalistas turcos acusam a Rússia de, praticamente, ter bombardeado um comboio humanitário. Nesse contexto, o assunto "Turquia" foi objeto de discussão na reunião com o presidente francês? E o que nos podem dizer sobre o papel da Turquia nessa história e nas nossas relações com aquele país?


Vladimir Putin: Como todos sabem, a Turquia é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN. A França também é estado membro da OTAN, e compreendemos a posição da França nessa situação. Mas o senhor presidente da França manifestou condolências imediatamente depois da morte dos nossos militares, e lhe somos reconhecidos por isso.


Quanto ao território mencionado em sua pergunta, onde morreram militares russos, de fato, as forças armadas sírias utilizaram-se de seus lança-foguetes múltiplos, fornecidos por nós recentemente, em ações coordenadas com a Força Aérea Russa, e os ataques contra essa região foram intensificados imediatamente depois que recebemos informações confiáveis de que um militar russo havia sido morto ali, e pudemos tomar as necessárias providências para salvar o segundo. Não poderia ser diferente. Essa é a maneira correta de agir.


Inicialmente, quero registrar um comentário sobre o que pensamos do assunto de haver ali algumas tribos próximas da Turquia, os turcomenos. Uma pergunta impõe-se imediatamente: o que fazem naqueles territórios representantes de organizações terroristas turcas, que se exibem para as câmeras de TV e postam imagens suas na Internet?


Segundo: o que fazem ali, naquele território, criminosos fugitivos que a Federação Russa procura por crimes praticados aqui e que são claramente classificados como terroristas internacionais? Nossos militares operavam naquele quadrante para impedir a volta possível dessas pessoas ao território russo para cometerem mais crimes; nossos militares cumpriam seu dever com a Rússia, diretamente. Digo, diretamente! Repito a minha pergunta: o que fazem lá aquelas pessoas?


Entendemos que é perfeitamente justificado que intensifiquemos os esforços de nossa aviação naquela área e que apoiemos a intensificação dos esforços, também, das forças sírias.


Quanto ao bombardeio de algum comboio humanitário, tanto quanto sei a organização humanitária da qual as autoridades turcas falavam já se manifestou e declarou que não tinha nenhum comboio ou representante seu naquela zona, no momento em que ocorreram os fatos. Se algum comboio havia ali, com certeza não era pacífico. Se havia algum "comboio" naquela região, suponho que, como ordena a lei internacional, teria de ter declarado que tipo de comboio seria, para onde ia e o que fazia ali. Dado que nada disso foi feito, supusemos que a carga transportada pelo tal comboio nada teria de humanitária. Aí está mais um elemento de prova de que os terroristas internacionais contam com cumplicidades consideravelmente importantes.


(Jornalista francês): Boa-noite. Minha pergunta é dirigida aos dois presidentes. Senhor Putin, por que o senhor instalou na Síria os sistemas S-400 de foguetes múltiplos? Senhor Hollande, essa instalação dos S-400 é compatível com os esforços da coalizão internacional [fala da coalizão EUA-OTAN]?


Vladimir Putin: O S-400 não é sistema de lança foguetes múltiplos, mas um sistema de múltiplos mísseis antiaéreos. Não havíamos trazido antes esses sistemas para o território sírio, porque nossa aviação opera em altitudes que nenhum terrorista alcançaria. Os terroristas não têm a necessária tecnologia militar para abater avições que voem acima de 3, 4 mil metros. 


Jamais antes nos passara pela cabeça que poderíamos se atacados por estado e exército que supúnhamos que fosse nosso aliado.


De fato, os nossos aviões, voando a alturas de 5-6 mil metros, não estavam absolutamente protegidos: não estavam protegidos contra ataque por jatos de caça de outro país, em céus sírios. Se tivéssemos suposto que um ataque como o que sofremos seria possível, o S-400 já estaria na Síria há muito tempo, para proteger nossos aviões.


E há também outras formas de tecnologias e proteções militares, por exemplo caças de escolta ou, pelo menos, técnicas de defesa antimísseis, principalmente as defesas térmicas. Os especialistas sabem fazer operar tudo isso.


Mas repito: nada disso havia sido feito antes, porque entendíamos que a Turquia fosse estado amigo e absolutamente não esperávamos que a Turquia atacasse a Rússia. Por isso, precisamente, entendemos que o que foi feito foi como punhalada pelas costas.


Vimos agora que, sim, pode acontecer. A Rússia perdeu soldados naquela área. Temos o dever de garantir a segurança de nossas tropas e de nossos aviões. Por isso instalamos lá um moderno sistema S-400. Funciona sobre grandes distâncias e é um dos mais eficazes sistemas desse tipo que há hoje no mundo.


Mas não ficaremos só nisso. Se for necessário, complementaremos a atividade de nossos caças com aviões de combate e outros meios, inclusive, é claro, de guerra eletrônica. Fato é que há muitos meios de proteção, e agora os alocaremos e utilizaremos.


Nada disso contradiz o que fazemos com a coalização dirigida pelos EUA. Trocamos informações com ela, mas estamos muito preocupados com a natureza das trocas e os resultados de nosso trabalho comum.


Considerem o seguinte: alertamos nossos parceiros norte-americanos com antecedência sobre as zonas nas quais nossos pilotos operarão, altitude, etc. Os EUA, que dirigem a coalização que inclui a Turquia, sabiam hora e local onde estariam nossos aviões e nossos pilotos. Fomos atacados precisamente nesse ponto.


Pergunto aos senhores: de que nos serviu ter fornecido aquela informação aos EUA? Ou os EUA não conseguem controlar nem o que fazem os seus próprios aliados, ou os EUA distribuem a torto e a direito as informações que recebam, sem nem perceber as consequências. Naturalmente tínhamos de promover reuniões sérias de consulta com nossos parceiros sobre essa questão. Mas o sistema de mísseis de defesa aérea não é, de modo nenhum, dirigido contra nossos parceiros com os quais lutamos contra os terroristas na Síria.


(Jornalista russo): O senhor falou da necessidade de organizar uma grande coalizão. Será esse o tipo de coalizão da qual o senhor falou em seu discurso na ONU, ou prosseguirá a disputa entre diferentes 'coalizões'? Se a disputa prossegue, teremos de perguntar sobre a eficácia de haver duas coalizões, particularmente depois do incidente com o avião russo. Ou quem sabe os senhores têm em vista uma nova coalizão comum e, se for esse o caso, é possível que tal coalizão possa vir a agir também em outros países ameaçados pelo Daesh, não só na Síria?


Vladimir Putin: No que concerne à coalizão, o presidente Hollande e eu discutimos essa questão hoje. Respeitamos a coalizão organizada pelos EUA e estamos prontos a trabalhar com essa coalizão. Entendemos que seria preferível estabelecer coalizão unificada e comum. Isso tornaria mais simples e mais fácil e, penso eu, também mais eficaz fazer a coordenação de nossos esforços comuns nessa situação. Mas se nossos parceiros não estão prontos a fazer tal coisa... Sim, sim, foi disso que falei na ONU. Mas se nossos parceiros não estão dispostos, muito bem, também podemos trabalhar em outros formatos, em qualquer formato que nossos parceiros considerem aceitável. Sim, estamos dispostos e prontos a cooperar com a coalizão construída pelos EUA.


Mas é claro que incidentes como a morte de nossos militares – o piloto e um Marine que tentava salvar os companheiros de armas – e a destruição do nosso avião são totalmente inaceitáveis. Nossa posição é que nada disso pode voltar a acontecer. Para impedir que tais coisas voltem a acontecer, não precisamos nem de cooperação nem de coalizão com país algum.


Discuti tudo isso, em detalhes, com o presidente da França. Acertamos que trabalharemos juntos no futuro imediato, em formato bilateral e, em geral, com a coalizão organizada pelos EUA.


A questão é delimitar territórios que sejam alvos preferenciais para serem atacados e os territórios nos quais é prudente evitar ataques; trocaremos informações sobre essas questões e outras, e coordenaremos a ação em áreas de combate.


Quanto à questão do contrabando de petróleo e a questão de que foram destruídas instalações em território turco, questões que vieram à tona na reunião do G20, que acontecia precisamente na Turquia, em Antalya, já exibi imagens e já falei publicamente sobre isso. As imagens foram colhidas por nossos pilotos, de uma altura de 5 mil metros. Os veículos que transportavam petróleo contrabandeado formavam fila tão longa que, mesmo daquela distância a fila desaparecia no horizonte. É como um oleoduto sobre rodas. O petróleo está sendo contrabandeado e fornecido em escala industrial, saído de áreas do território sírio que estão no momento controladas pelos terroristas. Esse petróleo provém dessas regiões, não de outras regiões. 


Pode-se ver do alto, de nossos aviões, para onde se dirigem aqueles caminhões-tanques: dirigem-se para a Turquia e não param nunca, dia e noite. Posso imaginar que os mais altos governantes turcos não saibam de nada disso. É difícil acreditar que não saibam, mas, teoricamente, é possível que ainda não soubessem.


Mas nada disso significa que, agora que já foram informadas, as autoridades turcas não tenham o dever de pôr fim àquele contrabando. 


O Conselho de Segurança da ONU adotou resolução especial que proíbe que alguém compre petróleo diretamente dos terroristas, porque aqueles barris e caminhões-tanque não contém só petróleo: estão cheios também de sangue de nossos cidadãos; e porque os terroristas servem-se do dinheiro desse comércio para comprar armas e munição e para montar ataques sangrentos como esse, contra nosso avião civil no Sinai e os atentados em Paris e em outras cidades e países.


Se as autoridades turcas queimam o petróleo que confiscariam dos contrabandistas... por que ninguém vê qualquer sinal de fumaça? Permitam que repita que o contrabando de petróleo atinge, ali, escala industrial. Seria preciso construir instalações especiais para conseguir destruir tais quantidades de petróleo. Nada disso está acontecendo. Se os mais altos governantes da Turquia não estavam informados do que se passa, a partir de agora já têm o dever de abrir os olhos.


Não tenho nenhuma resistência a acreditar que há corrupção e pode haver contratos clandestinos gigantescos. É indispensável que tudo isso venha à luz.


Mas não resta nenhuma dúvida de que o petróleo viaja diretamente para a Turquia. Já vimos de nossos aviões e já fotografamos e já mostramos as imagens. O fluxo de caminhões é ininterrupto e os caminhões voltam vazios. São carregados na Síria, em território controlado pelos terroristas, vão para a Turquia e retornam à Síria vazios. Todos os dias. Lá estão e podem ser vistos todos os dias.


Quanto à questão de se o presidente turco deveria, ou não, renunciar à presidência, não é coisa que nos diga respeito; só diz respeito ao povo turco. Os russos nunca nos metemos em assuntos internos de outros países e não começaremos agora. Mas é uma lástima perder as relações bilaterais sem precedentes que desenvolvemos com a Turquia ao longo dos últimos anos. Nossas relações haviam alcançado alto grau e considerávamos a Turquia não só como nação vizinha, mas também como país amigo e praticamente como nação aliada. É triste ver tudo isso destruído com brutalidade e levianamente.


Quanto à ideia, que também circulou, segundo a qual a aviação turca não teria reconhecido nosso avião, é absolutamente impossível. Fora de questão. Impossível. Nossos aviões são muito claramente identificados. Não há quem não visse que se tratava de avião russo. Fora de questão.


Além disso – permitam que eu repita mais uma vez –, conforme os acordos que temos com os EUA, sempre demos aos norte-americanos todas as informações antecipadas sobre a operação de nossos aviões, formações, zonas e horários. 


No momento, estamos trabalhando a partir da hipótese de que a coalizão EUA-Turquia é efetiva e que todos os membros dela sabiam, sim, que havia aviões russos em operação naquele ponto, naquele momento. Que outros aviões seriam, se não os nossos? E se os turcos tivessem identificado ali um avião dos EUA? Teriam derrubado um avião norte-americano?


De fato, esses argumentos dos turcos são absolutamente absurdos e inverossímeis, tentativa de arranjar desculpas. 


É lastimável que, em vez de determinar investigação aprofundada e séria sobre o que realmente aconteceu, e de tomar medidas para garantir que esse tipo de ação criminosa não se repita, os turcos só façam repetir tolices e declarações confusas. Aliás, nem desculpas apresentaram e entendem que não devem desculpas. OK. Eles resolveram assim. Não é ideia nossa; é ideia da Turquia. 



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Putin e Hollande vão atrás da gambiarra de Erdogan.              


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por Pepe Escobar          
tradução mberublue                 

28 de novembro de 2015 "Information Clearing House" - "RT" – A coisa toda começou quando o presidente da França, Monsieur François Hollande, logo após os ataques em Paris, teve a ideia temerária de trabalhar lado a lado com a Rússia, naquela mesma coalizão que luta de verdade contra o Estado Islâmico na Síria.

O presidente da Turquia, Sr. Recep Tayyip “sem desculpas” Erdogan pensou que a estas alturas, a OTAN e a Rússia já estariam um na garganta nuclear do outro, uma espécie de Guerra Fria 2.0, já que Washington rebateu a ideia de Hollande com a costumeira pletora de platitudes e distorções.

Pois em menos de 17 segundos o Primeiro Ministro turco Ahmet “eu mesmo dei a ordem” Davutoglu tinha autorizado a derrubada do bombardeiro russo SU-24 – apenas algumas horas antes de Hollande se encontrar com o presidente Obama.

Tudo parecia se encaixar às mil maravilhas. Nada parecia indicar uma nova détente entre as potências atlanticistas e a OTAN. Pelo contrário. Erdogan já tinha como favas contadas que havia sabotado uma reunião produtiva tête-à-tête entre Putin e Hollande em Moscou.

Devagar com o andor, Sultão.

A Rússia e a França não serão separadas, afirmaram em Moscou Hollande e Putin. O chefe de Estado Francês declarou: “Nós concordamos, e isso é o que importa, que atacaremos apenas os terroristas e o Estado Islâmico e não as forças que lutam contra o terrorismo. Trocaremos informações e dados sobre quem atacar e quem não atacar.”

A emoção se revela conforme se descortina o horizonte. Na seção “atacar” nós Já podemos colocar tranquilamente o Estado Islâmico e a Jabhat al-Nusra, também conhecida como al Qaeda na Síria, ambas já definidas como organizações terroristas pelas negociações em Viena.

Considerando então que a al-Nusra tenha absorvido, cooptado ou instrumentalizado uma vasta gama de outras organizações salafistas, “moderadas”  ou não, parece claro que não será muito difícil para os russos convencer os franceses sobre quais são os alvos legítimos.

É também muito significativo que a França pode aumentar seu apoio aos “rebeldes” que estão combatendo o Estado Islâmico no terreno; o que significa o código para denominar os sírios curdos do YPG – uma das Nêmesis de Erdogan, ao lado do PKK.

Dessa forma, o investimento de risco do Sultão na derrubada de jatos russos não está dando os lucros esperados. E quem se importa se Hollande vier com a velha cantilena dos Estados Unidos de que “Assad tem que sair” enquanto Putin reafirma que “o destino do presidente da Síria deve ser colocado em mãos do povo da Síria”? Todos já sabem que a prioridade das conversações em Viena não era esta. Como foi declarado explicitamente pela declaração de guerra embutida na resolução 2249 CSNU – a prioridade principal é esmagar o Estado Islâmico.

Para coroar o bolo com uma enorme cereja, Putin e Hollande chegaram a um consenso: deve acontecer uma dura barragem de bombardeios contra os comboios de caminhões tanques que transportam petróleo roubado na Síria pelo Estado Islâmico através dos territórios controlados pelo Estado Islâmico demandando a Turquia.

Os bombardeios transformarão em cinzas a lucrativa gambiarra do filho do “Sultão”, Bilal Erdogan, também conhecido como “Erdogan mirim” um dos três acionistas da empresa de transporte marinho BMZ.

Mandem os Sukhois!

Putin mandou um míssil de cruzeiro recheado de sarcasmo quando disse que, afinal de contas, era “teoricamente possível” que o governo em Ancara realmente não soubesse que havia petróleo sírio roubado entrando em território turco por pontos controlados pelo Estado Islâmico, mas acrescentou que era difícil acreditar.

Para não ficar no terreno das teorias, um dos sistemas de mísseis de defesa S-400 AA já foi instalado e está pronto para combate na base aérea de Hmeymim, e poutro está a caminho.

O “Sultão” não pode mais dizer que não foi avisado: A partir de agora a Rússia tem três prioridades principais:

1) – Uma zona real de exclusão aérea já efetiva no sul da fronteira entre a Turquia e a Síria, reforçada por S-400s. Ancara já está se assustando até com corujas e corvos.

2) –  Também já efetivos: A Rússia vai atingir – duramente – qualquer coisa que se mova de maneira suspeitosa em cada corredor de transporte dentro e fora do território turco. Os comboios “humanitários” turcos que transportam – o que mais? – armas, foram pulverizados  em Azaz, a qual fica a apenas cinco quilômetros da fronteira com a Turquia. Outros pontos de distribuição de caminhões também foram bombardeados peto de Raqqa.

3) – Já funcionando: a Rússia vai bombardear de forma maciça toda aquela ampla região onde os operadores da CIA transitam por uma auto estrada para entregar numerário e armamento ao FSA (Exército Livre da Síria) e para os “inocentes” turcomenos. A Rússia iniciou um bombardeio de tapete na área turcomena de Jabal logo após o resgate do tenente-coronel Oleg Pershin, piloto russo abatido com o SU-24.

Como eu já detalhei aqui, não há ninguém “inocente” em toda essa maldita zona de guerra cheia de milícias turcomenas ligados por laços de amizade à al Qaeda.

E tem mais:

A Rússia não só vai destruir as conexões entre as milícias Islamo-Fascistas Turcas/Chechenas/Usbeques/Turcomenas na província de Latakia; vai também destruir até os alicerces a farra do roubo de petróleo que é a fonte dos lucros do “Erdogan Mirim”, com um bônus extra: esmagará também os navios tanques no mar. François Hollande concorda.

Assim, o “Erdogan Mirim” faria melhor se buscasse refúgio em Dubai. Mas pera aí, como vai fazer para evitar um “acidente” qualquer na noite selvagem da cidade?

Autoestrada para o inferno

Por enquanto, Erdogan e seu “Mirim” devem ter tomado conhecimento da mensagem. Eles pensavam que estavam a coberto quando derrubaram o SU-24, que aliás não “violava” nada a não ser a super lucrativa gambiarra com petróleo roubado que enchia de dinheiro, entre outros, o “Mirim”. Livrar-se de uma operação de venda de petróleo que abastece os programas do Estado Islâmico desafiando o embargo de petróleo da OTAN? Esta é uma oferta que a Rússia não pode recusar...

Ao menos duas questões importantes ficam sem resposta. Como é que pode a coalizão liderada pelos Estados Unidos, a “Coalizão de Oportunistas Finórios – COF”, nunca, em mais de um ano – e a palavra correta é esta: nunca – conseguiram bombardear ao menos uma das rodas da máquina de roubar petróleo na Síria?

E como pode ninguém entre os componentes do COF – em especial os (norte)americanos – nada terem feito para impedir “Mirim” e outros da mesma laia de na realidade financiar o Estado Islâmico através dessa gambiarra por tanto tempo? A CIA, claro, sabia de tudo isso e muito mais, dado os satélites geoestacionários trabalhando em regime de tempo integral sobre o “Siriaque”.

Bom. Temos que levar em consideração que a CIA estava por demais ocupada rodando para lá e para cá nas rodovias através das montanhas turcomenas para entregar armas e dinheiro, para que se preocupasse com meras operações de petróleo contrabandeado.

Acontece que agora a Rússia está indo atrás de tudo isso. Da rodovia de entrega de armas da CIA, a rodovia colocada à disposição pela Turquia para os jihadistas, a rodovia de escoamento de petróleo roubado Estado Islâmico/Turquia. O Sultão e seu “Erdogan Mirim” que se preparem para rodar por uma autoestrada que leva direto ao inferno.

Pepe Escobar - é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.

Pequena nota aos leitores, pelo tradutor: a partir desta publicação, nós traduziremos ISIL/ISIS/Daesh sempre como “Estado Islâmico”. Embora sabendo que não se trata de um Estado na forma como entendemos a palavra nem é islâmico na forma que os adeptos reais do Islã entendem, é a forma como ficou conhecida a organização terrorista que leva este nome. Para a boa compreensão dos textos, a partir de agora sempre mencionaremos a organização terrorista como “Estado Islâmico”.




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sábado, 28 de novembro de 2015

Turquia fechará, ou apagará, sua fronteira com a Síria?
                     

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Tradução pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu                                                 



Há desenvolvimentos recentes e preocupantes em solo próximo à Síria.


Ontem, o ministro Lavrov de Relações Exteriores da Rússia disse que a Rússia está pronta para fechar a fronteira turco-síria:


Lavrov lembrou que o presidente francês François Hollande, pouco antes, propusera que se adotassem medidas específicas para bloquear a fronteira turco-síria.


"Apoiamos ativamente essa ideia. Estamos abertos para coordenação de passos práticos, com certeza em interação com o governo sírio" – disse Lavrov. – "Estamos convencidos de que bloquear a fronteira resolverá, em vários aspectos, as questões relacionadas à erradicação do terrorismo em solo sírio."


A Rússia está dando passos objetivos, ativos, para fazer acontecer precisamente isso. Seis ou sete áreas de estacionamento de caminhões-tanques próximas aos pontos de passagem de fronteira ao norte de Aleppo foram bombardeadas ao longo dos últimos vários dias. Caminhões e proprietários de caminhões já estão pensando duas vezes antes de iniciar viagens que impliquem cruzar a fronteira. Em Latakia, o exército sírio e aliados estão empurrando os mercenários "turcomenos" da Turquia de volta para a fronteira, rumo à Turquia. No leste, forças curdas com apoio aéreo dos russos empurram a fronteira na direção do corredor de Aleppo.


Um dia depois da declaração de Lavrov, os EUA repentinamente põem-se a dizer que é imperioso que a Turquia sele completamente a fronteira. Mas essa notícia pode ser falsa:


O governo Obama está pressionando a Turquia para que desloque mais milhares de soldados para a linha de fronteira com a Síria, para fazer um cordão num trecho de fronteira de 60 milhas que, dizem funcionários dos EUA, é usado pelo Estado Islâmico para mover terroristas estrangeiros, de um lado para o outro, na zona de guerra. 


Os EUA não solicitaram número específico de soldados. Funcionários do Pentágono estimam que podem ser necessários até 30 mil soldados para selar a fronteira do lado turco, para missão humanitária mais ampla. Para fechar apenas um trecho, podem ser necessários 10 mil soldados, ou mais, estimou um funcionário.


Não se tem ideia clara de como a Turquia responderá.


O que ninguém sabe é se os EUA falam sério sobre essa questão. Sabe-se com certeza é que os EUA são coniventes no contrabando de petróleo entre o Estado Islâmico e a Turquia e que os EUA fazem entregas de armas aos tais rebeldes "moderados" através precisamente daquela fronteira turco-síria. Duvido muito que alguma coisa tenha mudado nesses 'negócios'.


Mas a Turquia está, sim, movendo tropas para a fronteira:


A Turquia estacionou mais tanques, veículos blindados de transporte e outras armas ao longo de suas fronteiras com a Síria nesse sábado, depois que a derrubada de um jato militar russo pelas Forças Armadas Turcas fez subirem as tensões entre os dois países. 


Um comboio de caminhões militares vindo das províncias do oeste da Turquia, veículos blindados e 20 tanques entraram na área do Comando da 5ª Divisão Blindada na província fronteiriça de Gaziantep.


Na véspera, outra leva de tanques foi estacionada ao longo da fronteira turca com a Síria.


Tanques não servem para fechar fronteiras. Para isso é preciso infantaria, milhares de soldados. Mas tanques são bons para combater contra exército de outro estado. Há também um relatório que informa que a Turquia teria estacionado um sistema ASELSAN Koral misturador de sinais eletrônicos junto à fronteira. Pode talvez interferir na defesa aérea dos russos na Síria ou, talvez, deixar cegos os jatos russos. O mesmo sistema já foi usado para cegar eletronicamente o exército sírio e desabilitar os seus rádios, quando os "moderados", no início desse ano, eclodiram para fora da Turquia e conquistaram Idleb. 


Para mim, os movimentos dos turcos parecem movimentos ofensivos, sem nada que sugira preparativos para fechar a fronteira.


A Síria alega que os embarques de armas turcas para os rebeldes aumentou, e que soldados sírios foram atacados por fogo vindo de território turco:


"Temos informação segura de que o governo turco aumentou recentemente seu apoio aos terroristas e o nível do fornecimento para eles, de armas, munição e equipamento necessário para dar prosseguimentos aos seus atos criminosos" – lê-se numa declaração do exército sírio.


...

A declaração feita pelo comando do exército sírio dizia que estavam sendo entregues armas em comboios que a Turquia dizia serem de ajuda humanitária. Dizia também que as armas foram fornecidas em troca de antiguidades sírias e iraquianas saqueadas e de petróleo vendido a baixos preços. 


...

A declaração dos sírios também diz que a Turquia disparou várias bombas de morteiro contra posições do exército sírio na 6ª-feira à noite, de local exatamente sobre a fronteira da província de Latakia no noroeste da Síria.


A Turquia pode retirar-se e desistir da agressão contra a Síria e realmente fechar a fronteira. O suprimento de armas para os 'moderados' nesse caso encolheria significativamente. Se a Turquia apenas parar e nada fizer, a Rússia fará como já começou a fazer. Bombardeará qualquer caminhão ou tipo de transporte que cruze a fronteira em direção à Síria.


Mas talvez a Turquia deseje impedir que isso aconteça e tentará espantar os russos para longe da fronteira e meter soldados turcos pela Síria a dentro para criar uma "zona segura" e, dali, atacar Aleppo e outras cidades sírias. É má ideia. Não funcionará, porque seria sangrento e potencialmente escalará para guerra muito maior.

A questão é saber se Obama dará luz verde a tudo isso e prometerá seu apoio ao "moderado" Erdogan.

PS: Aí está o que bem pode ser um bom título de livro: The Dirty War on Síria [A guerra suja contra a Síria].

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