A face escondida da
Administração Obama
Thierry Meyssan
Tradução por ALVA publicado originalmente em Rede Voltaire
A Administração dos
Estados Unidos está profundamente dividida e raros são aqueles que obedecem a
Barack Obama, que está mais preocupado em estabelecer um compromisso medíocre
entre as diferentes facções que em impor o seu próprio ponto de vista. Depois
de ter eliminado o clã Petraeus-Clinton, que sabotava os seus esforços, o
presidente descobre que Feltman e Power prosseguem as suas artimanhas. Thierry
Meyssan retraça aqui a carreira da embaixatriz dos E.U. na ONU, Samantha Power,
e do seu marido, o professor de direito e teórico da ditadura suave, Cass
Sunstein.
Como
instalar uma ditadura com luva de veludo.
O presidente Obama
discute com o seu amigo, o «paternalista liberal» (sic), Cass Sunstein e a
esposa deste, a «idealista maquiavélica» (resic) Samantha Power.
Nomeada
Representante permanente dos Estados Unidos no Conselho de Segurança em 2013, a
embaixatriz Samantha Power é a líder dos «falcões liberais», espécie de alter-ego
dos «neoconservadores» na promoção do intervencionismo do «Império Americano».
Durante a sua audiência de confirmação no Senado, ela exclamou: «Este país é o
maior país da Terra. Eu jamais me desculparei em nome da América!» [1]
.
A
juventude de Samantha Power
Nascida no Reino
Unido em 1970 e criada na Irlanda, ela emigrou com a idade de 9 anos para os
Estados Unidos, tendo a sua mãe abandonado o seu pai pianista para se casar
novamente com um médico rico. Depois de ter feito brilhante estudos em direito
em Yale, ela tornou-se jornalista desportiva na CNN, um canal de notícias
internacional cuja redação abrigava membros do 4º Grupo de Operações
psicológicas de Fort Bragg [2].
Ela entra no Carnegie
Endowment for International Peace como assistente de Morton Abramowitz, na
altura igualmente administrador da National Endowment for Democracy (Fundação
Nacional para a Democracia- ndT), o lado legal da CIA.
Durante a guerra
da Bósnia e Herzegovina torna-se repórter do Boston Globe, The Economist,
New Republic, US News e World Report. Ela encontra então Richard
Holbrooke, o qual se tornou seu mentor. Hoolbroke montou a independência da
Bósnia e Herzegovina, então chefiada por Alija Izetbegović,
na sequência de uma
guerra desejada pelos Estados Unidos com o objetivo de desmembrar a Iugoslávia.
Samantha Power não
podia ignorar que Izetbegovic se tinha rodeado de três conselheiros: para a
diplomacia o neoconservador Richard Perle, para a comunicação o lobista francês
Bernard-Henri Lévy, e para as questões militares o islamita saudita Osama bin
Laden [3].
A imprensa não era
suficiente para ela. Ela retomou os seus estudos em Harvard, na Escola
Kennedy de Administração Pública (Kennedy School of Government- ndT), onde
ela cria, em 1998, o Centro Carr para a Política de Direitos Humanos.
Samantha Power interpreta a expressão «Direitos do Homem» no sentido
anglo-saxónico do termo : proteger as pessoas dos potenciais abusos do poder de
Estado. Como Hiperpotência, o Império deverá atribuir-se uma política de
Direitos do Homem e preparar os seus funcionários para isso.
Esta concepção
opõe-se culturalmente à dos países latinos que falam, em sentido contrário, de
«Direitos do homem e do cidadão». Não se trata para eles de limitar os poderes
do Estado, mas de questionar a sua legitimidade. Não pode, pois, existir nesta
questão «política de Direitos do homem», uma vez que os Direitos do homem
significa a afirmação do Povo na política.
O Centro Carr é
financiado pela Fundação do antigo empresário Gregory C. Carr e pela Fundação
do libano-saudita Rafik Hariri.
Em 2001, Power
participa como consultor na Comissão Internacional para a Intervenção e a
Soberania dos Estados criada pelo Canadá. É o início da noção de «responsabilidade
de proteger». Os peritos avançam com a ideia que para prevenir massacres tais
como os de Srebrenica ou do Ruanda, o Conselho de Segurança deveria poder
intervir quando já não há Estado organizado.
No ano seguinte,
Samantha Power publica a sua obra mestra: Um problema Infernal : a América
e a Era do Genocídio (A problem from Hell : America and the Age of
Genocide). Este livro, particularmente difícil, seria galardoado com o Prêmio
Pulitzer. Muito embora ele se inicie com o genocídio arménio para terminar
naquele em que os Albaneses teriam sido vítimas no Kosovo, ele gira
essencialmente em torno da questão do extermínio dos judeus da Europa pela
Alemanha nazi e da doutrina jurídica de Raphael Lemkins.
Lemkins foi
procurador em Varsóvia durante o período entre-guerras. Como perito na
Sociedade das Nações, ele denunciou os crimes de «barbárie» cometidos pelo
Império Otomano contra os cristãos (de 1894 a 1915) — entre os quais os
Arménios —, depois pelo Iraque contra os Assírios (1933). Durante a Segunda
Guerra Mundial, ele escapou às perseguições nazis contra os judeus exilando-se
nos Estados Unidos, onde ele se tornou conselheiro no Departamento de Guerra.
Toda a sua família, que ficou para trás, foi assassinada. Progressivamente, ele
forjou o termo «genocídio» para designar uma política visando eliminar um grupo
étnico específico. Finalmente tornou-se conselheiro do procurador
norte-americano no Tribunal de Nuremberg que condenou vários dirigentes nazis
por «genocídio».
Para Samantha
Power, Raphael Lemkins abriu uma via que os Estados Unidos deveriam seguir
sempre. Apenas o senador William Proxmire (um parente dos Rockefeller) manteve
a sua luta até à ratificação pelo Senado, em 1986, da Convenção para a
prevenção e repressão do crime de genocídio. Como única potência global, os
Estados Unidos têm agora o dever de intervir lá onde os «Direitos do homem» o
exijam.
No entanto, em
momento algum Power se interrogou sobre a responsabilidade dos Estados Unidos
nos massacres contemporâneos; fosse a responsabilidade direta (Coreia, Vietnã,
Camboja de 1969 a 75, Iraque de 1991 a 2003) ou indireta (Indonésia, Papua,
Timor Leste, Guatemala, Israel e África do Sul). A «responsabilidade de
proteger» forneceu a justificação teórica de uma penada, pela «guerra
humanitária» no Kosovo. O que o professor Edward Herman resume: «Para ela, os
Estados Unidos não são o problema, são a solução».
A
«responsabilidade de proteger» tornou-se um «dever moral» de intervir em todo o
Estado que Washington acuse de praticar ou de planejar um genocídio. Para
lançar a guerra já não é necessário que o Estado esteja falhando, basta apenas
um pretexto.
Ainda em 2002,
Samantha Power dá uma entrevista para o seriado vídeo da Universidade de
Berkeley, Entrevistas com a História. A uma pergunta sobre a reação
desejável dos Estados Unidos se o conflito israel-palestina endurecesse e
tornasse possível um genocídio, ela preconiza o envio de uma potente força
militar para separar os dois campos. Esta resposta foi instrumentalizada para a
acusar de não tomar o partido de Israel por antisemitismo. Ela teve, então, que
solicitar a ajuda de personalidades judaicas americanas, como Abraham Foxman da
Liga AntiDifamação (Anti-Defamation League), para a safar desta má jogada
e redourar a sua imagem.
Samantha Power
entra, entretanto, para o governo. Ela integra por um breve período, em 2003, a
equipe de campanha do general Wesley Clark. O antigo comandante supremo da Otan
no Kosovo lutava então pela investidura democrata à eleição presidencial.
Em 2005-06, ela é
convidada por um senador que acaba de sair do nada, Barack Obama. Este jovem
advogado é um protegido do antigo conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew
Brzezinski, e do seu patrocinador David Rockefeller. Samantha Power é informada
sobre o projeto para fazer deste jovem homem negro o próximo presidente dos
Estados Unidos da América. Ela decide demitir-se das suas funções em Harvard e
juntar-se à sua equipe para se tornar a sua secretária de Estado
Em 2006, Obama
empreende uma estranha viagem parlamentar à África, que na realidade é uma
missão da CIA para lançar as bases de uma mudança de regime no Quénia, país do
qual ele é originário [4].
Samantha Power é encarregada de preparar a deslocamento e sobretudo a etapa dos
campos de refugiados do Darfur.
Ela participa
amplamente na redação da Audácia da Esperança: Apreciações sobre a
Recuperação do Sonho Americano (The Audacity of Hope: Thoughts on Reclaiming
the American Dream), o livro que dará a conhecer Barack Obama ao público
norte-americano e lhe abrirá a via da Casa Branca.
Agora, figura
incontornável da intelligentsia imperialista, Samantha Power apropria-se da
figura do brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Este diplomata foi Alto-Comissário
das Nações Unidas para os Direitos do Homem, antes de ser assassinado no
Iraque, em 2003, quando ele esperava tornar-se secretário-geral. Ela
consagra-lhe, em 2008, uma biografia: Chasing the Flame: One Man’s Fight
to Save the World (Manter a chama: Sérgio Vieira de Mello e a luta para
salvar o mundo- ndT)(sic). Ela influencia um outro oportunista, o francês
Bernard Kouchner, que sucedeu a de Mello como representante especial do
secretário-geral da ONU no Kosovo (1999-2001), depois foi escolhido por
Washington como ministro dos Negócios Estrangeiros de Nicolas Sarkozy
(2007-2010).
Samantha Power
milita no seio de organizações intervencionistas, nomeadamente o International
Crisis Group do bilionário húngaro-americano George Soros, e na Genocide
Intervention Network (tornada United End Genocide).
Samantha Power e Cass Sunstein
Samantha Power e Cass Sunstein
No contato com
Barack Obama, ela conheceu um de seus amigos, o professor Cass Sunstein,
nascido como ela num 21 de setembro, mas dezesseis anos mais velho. Ele ensinou
durante muito tempo em Chicago, onde ele se ligou ao jovem político, depois
partiu para Harvard onde o seu escritório está a um quarteirão do que Samantha
habitava. São ambos possuídos pela ambição e fariam qualquer coisa para serem
notados. Em julho de 2008, casam-se na Irlanda, ela a católica e ele o judeu
cabalista. Juntos, eles vão formar o que o jornalista populista Glenn Beck
chamará o «casal mais perigoso da América»
Autor prolixo
—Cass Sunstein escreve vários livros, por ano e numerosos artigos de opinião nos
principais jornais—, ele tem uma opinião sobre tudo, tanto sobre os impostos
como sobre os direitos dos animais. Ele é de longe o acadêmico mais citado na
imprensa dos EUA [5].
E por boas razões: Ele tem-se pronunciado sistematicamente pelo poder do Estado
contra os cidadãos, seja para apoiar as comissões militares Bush em Guantanamo
ou para lutar contra a primeira emenda (liberdade de expressão). Em outras
palavras, enquanto Samantha Power exalta ‘Direitos humanos’ e se torna a
referência intelectual sobre o assunto, o marido Cass Sunstein se opõe com
vigor e se torna a referência legal. Seu fornecido oposto com a mesma paixão
que é útil para eles e eles podem defender qualquer coisa.
Em outras
palavras, enquanto Samantha Power exalta os «Direitos do homem» e se torna a
referência intelectual na matéria, o seu marido Cass Sunstein opõe-se a isso
vigorosamente e torna-se, quanto a tal, a referência jurídica. Eles podem
defender qualquer coisa e o seu oposto com a mesma paixão desde que isso lhes
seja útil.
Sunstein publica à
época com o economista comportamentalista Richard Thaler ‘Golpes de
impulso’ – como melhorar as decisões em matéria de saúde, de riqueza e de
felicidade (Nudge : Improving Decisions about Health, Wealth, and
Happiness). Os autores estudam as influências sociais que levam os consumidores
a fazer escolhas erradas. Ao fazer isso, eles desenvolvem uma teoria sobre como
usar essas mesmas influências sociais para os fazer tomar «boas escolhas». É o
que eles chamam de «paternalismo liberal», um paradoxo que timidamente se
refere a um método de manipulação das massas.
Em setembro de
2015, o presidente Obama fará do «paternalismo liberal» a sua nova política e
dará à sua administração instruções para multiplicar os «golpes de
impulso» [6].
Durante a campanha
de 2007-08, Sunstein redigiu com Adrian Vermeule, para as universidades de
Chicago e de Harvard, uma tese que se vai impôr como doutrina à administração
Obama contra as «teorias da conspiração» –- ou seja, contra a constatação da
retórica oficial –- e que inspirará ulteriormente o presidente François
Hollande e a Fundação Jean-Jaurès [7].
Em nome da defesa da «Liberdade» face ao extremismo, os autores definem é um
programa para aniquilar esta oposição:
«Nós podemos
facilmente imaginar uma série de respostas possíveis.
1. O governo pode interditar as teorias da conspiração.
2. O governo poderia impor uma espécie da taxa, financeira ou outra, sobre aqueles que difundem tais teorias.
3. O governo poderia engajar-se numa contrapropaganda para desacreditar as teorias de complô.
4. O governo poderia envolver setores privados credíveis a engajar num contradiscurso.
5. O governo poderia envolver-se na comunicação informal com as terceiras partes e apoiá-los na ação» [8].
A
ditadura de luva de veludo está em marcha.
Cass Sunstein será
nomeado pelo presidente Obama para chefiar a OIRA, um gabinete da Casa Branca
encarregue de simplificar as formalidades administrativas.
Ele passará o
primeiro ano a fazer outras coisas: encontrar argumentos económicos para
justificar a necessidade de lutar contra a difusão de carbono na atmosfera, o
que provocaria o aquecimento climático. Uma boa notícia para o Presidente
Obama, o qual, enquanto trabalhava para o antigo Vice-presidente Al Gore e seu
parceiro financeiro David Blood, havia elaborado os estatutos do Clima
Exchange Ltd e os da bolsa de comércio de emissões de carbono em Chicago;
argumentos que serão retomados pelo Presidente francês François Hollande, e seu
ministro Laurent Fabius, afim de preparar a Cop 21 (Conference on climate
change) e enriquecer os seus amigos [9].
Samantha
Power, de universitária da moda a mulher de poder
Regressemos à
campanha eleitoral. Numa entrevista ao periódico Scotsman, Samantha Power
descreve a rival de Obama à investidura democrata, Hillary Clinton, como um
«monstro» capaz de emporcalhar falsamente seja quem for para ganhar um lugar
(alusão à polémica eleitoral sobre a NAFTA ). O incidente obrigou à renuncia.
Posteriormente o seu mentor Richard Holbrooke (que encobriu o genocídio em
Timor Leste) servirá de intermediário entre as duas mulheres para reparar o imbroglio.
Durante o período
de transição presidencial, ela trabalha com o futuro assessor de Segurança
Nacional Thomas Donilon, e com Wendy Sherman, sobre a transição no Departamento
de Estado. Mas, finalmente é Hillary Clinton —64 anos antiga primeira dama e
ex-senadora— e não a jovem Srª Power-Sunstein quem se tornará a secretária de
Estado do presidente Obama.
Samantha Power
tornou-se assistente especial do presidente e diretora do Gabinete dos Assuntos
Multilaterais e Direitos do Homem da Casa Branca. Ela fez nomear um antigo
assistente de Madeleine Albright, David Pressman, como Diretor a área dos
Crimes de guerra e de Atrocidades no Conselho de Segurança Nacional. Ele
tinha criado com John Prendergast uma organização para popularizar a ideia de
genocídio acontecido no Darfur, Not On Our Watch, e tinha recrutado
celebridades de Hollywood como George Clooney ou Matt Damon. Na mesma linha,
ela consegue convencer o Presidente Obama a criar um Conselho de Prevenção de
atrocidades, agrupando diversas agências norte-americanas [10].
Estranhamente, este organismo jamais publicou qualquer relatório e contentou-se
com um único “briefing” ao Congresso. Sabemos apenas que ele se congratulava aí
com a operação bem-sucedida no Quénia, o que nos remete para a viagem
organizada pela CIA e por Samantha para o senador Obama a África ; mudança de
regime que, longe de evitar um genocídio, se fez à custa de massacres tribais
cuidadosamente planificados. Finalmente, este Conselho parece ter-se evaporado
assim que o Estado Islâmico começou a limpeza étnica do Sunistão
iraquiano [11].
Em outubro de
2009, ela redige o essencial do discurso de Obama para a recepção do Prémio
Nobel da Paz. Ela desenvolve aí o conceito de uma ética de geometria variável :
um presidente deve usar a força e não pode, infelizmente, agir como um Mahatma
Gandhi ou Martin Luther King Jr.
É no Conselho de
Segurança Nacional que ela trava conhecimento com o assistente de Hillary
Clinton, o qual prepara a «Primavera Árabe», o antigo «pro-cônsul americano» no
Líbano, Jeffrey Feltman. Trata-se de derrubar os regimes laicos árabes
(Tunísia, Egito, Líbia, Síria e Argélia), sejam ou não aliados dos Estados
Unidos, e colocar no poder os Irmãos Muçulmanos. Quando Muammar el-Kaddafi
declara que o seu país está a ser atacado pela al-Qaeda, desloca o seu exército
para Benghazi afim de retomar as bases militares que os terroristas tinham
tomado, e, anuncia enfaticamente que, se eles não renderem, fará correr «rios
de sangue», Samantha Power tem um discurso preparado. As agências de notícias
ocidentais fazem crer que o país está a enfrentar uma revolta popular e que
el-Kaddafi se prepara para matar a sua própria população. É, pois, necessário
que os Estados Unidos Membros atuem para prevenir o genocídio que se anuncia.
Rapidamente, a guerra contra a Líbia, planeada desde 2001, é posto em marcha. A
operação custará a vida a 160.000 pessoas e fará deslocar mais de quatro
milhões outras.
Embaixatriz
na Onu e líder dos falcões liberais
Durante o seu
segundo mandato, Barack Obama tenta livrar-se dos promotores de guerras que
conspiram nas suas costas. Fez deter, algemado, o diretor da CIA, o general
David Petraeus, e afasta Hillary Clinton. O secretariado de Estado tão cobiçado
está novamente vago, mas o Presidente Obama nomeia para ele John Kerry —70
anos, senador há 28 anos e antigo candidato à presidência dos Estados Unidos—.
Samantha Power —43 anos, nenhum cargo eletivo— consegue, no entanto, ser
nomeada embaixatriz na ONU.
Power mostrara-se
até aqui fiel, apoiando as «Primaveras árabes», mas aceitando o acordo com a
Rússia na conferência de Genebra. Na ONU, ela reencontra o antigo assistente de
Hillary Clinton, Jeffrey Feltman, que se tornou o diretor dos Assuntos
políticos da Organização, quer dizer o verdadeiro patrão das Nações Unidas.
Após a sua nomeação, em junho de 2012, Feltman organiza secretamente a
sabotagem do Comunicado de Genebra para a Secretária de Estado [12].
O homem é hábil e não vai tardar a dar a volta à ambiciosa embaixatriz Power e
a juntá-la ao seu campo, à revelia do novo secretário de Estado, John Kerry.
O plano é simples:
Power deverá ganhar tempo com os Russos e os Iranianos, enquanto Feltman irá engodar
a Arábia Saudita e a Turquia com um projeto de rendição total e incondicional
da República Árabe Síria, e os generais Petraeus e Allen organizarão a guerra
secreta para derrubar Bashar al-Assad. Se tudo correr bem, os EUA ficarão com a
vitória, a Rússia será ejetada do Próximo-Oriente, o Irã mantido sob embargo, e
o Presidente Obama será confrontado com o fato consumado.
Efetivamente,
Samantha Power irá provocar a falha de todas as tentativas de solução política
do conflito na Síria.
Na questão síria,
Samantha Power trabalha desde cedo com a Syrian Emergency Task Force, a
qual se apresenta como um grupo de Sírios, revolucionários, tentando
sensibilizar os dirigentes dos Estados Unidos. Na verdade, ela é dirigida por
Mouaz Mustafa, um Palestino membro da Irmandade Muçulmana, antigo assistente
parlamentar de John McCain, e antigo jornalista da Al-Jazeera, trabalhando para
o Washington Institute for Near East Policy (o think tank da AIPAC) e implicado
nas manobras contra vários alvos da «Primavera árabe». Ele dirigiu a TV
Sawatel, criada no Egito para instalar Mohamed Morsi no poder e, depois,
dirigiu o Libyan Council of North America. Foi ele quem organizou a viagem
de John McCain à Síria em maio de 2013, e o seu encontro com o futuro califa do
Daesh [13].
Assim que a
imprensa ocidental toma conhecimento do massacre de civis na ghoutta (área
rural-ndT) de Damasco, por armas químicas, e o apresenta como uma ação do
«regime de Bashar» contra a sua «oposição democrática», ela encontra, por fim,
a ocasião de defender populações vulneráveis. Quando de uma conferência no Center
for American Progress, ela advoga pela realização de «bombardeamentos limitados
a fim de prevenir e de impedir o uso futuro de armas químicas». Mas, prevenida
que este assunto é na realidade uma operação sob falsa bandeira dos serviços
secretos turcos para implicar a Otan na guerra, ela recebe da Casa Branca
instruções para não fazer nada. Entalada, entre o seu discurso humanitário, os
seus compromissos junto de Feltman e a sua lealdade ao presidente, ela parte
com o seu marido para um festival de cinema na Irlanda, enquanto o Conselho de
segurança debate o assunto sem ela [14].
A bela retórica de
direitos-do-homem de Samantha Power é um trunfo quando do ataque do Daesh no
Iraque. Ela permite aos Estados Unidos forçar o eleito primeiro-ministro Nouri
al-Maliki a demitir, sem ter de evocar a sua violação do embargo dos EU sobre a
venda de armas iranianas, e a sua venda de petróleo à China sem passar pelo
dólar. Também permite justificar a criação da Coligação Internacional
anti-Daesh, a qual, é claro, seguindo as instruções de Feltman na ONU, e de
Petraeus na KKR, em vez de bombardear a organização jiadista lhe lançará, de
paraquedas, armas e munições durante um ano.
Samantha Power é
entretanto forçada a pôr as suas cartas na mesa quando da intervenção militar
russa na Síria. No decorrer de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional
ela advoga pela intervenção dos Estados Unidos, e entra em conflito com Robert
Malley, o responsável pelo Próximo Oriente no Conselho. Robert Malley é o filho
do jornalista francófono, e fundador da Afrique-Asie, Simon Malley, e de
Barbara Malley, uma antiga colaboradora do FLN argelino. Ele milita contra o
imperialismo US, mas defende uma liderança norte-americana junto com os Estados
em desenvolvimento. Jogou um papel importante quando das negociações com o Irã.
É um conhecido do presidente Bashar el-Assad, com quem se encontrou numerosas
vezes e que conhece bem. Não é, pois, possível fazê-lo engolir a história do
tirano-que-assassina-seu-próprio-povo. Malley sublinha que a República Árabe da
Síria, apoiada pela Rússia, ganhou, e que é hora de fazer a paz. Power finge
curvar-se, mas a CIA já começou uma nova guerra, desta vez para criar um
Curdistão no norte da Síria, em cima de um território que é 70% não-curdo.
Como o seu esposo,
o «paternalista liberal» Cass Sunstein, Samantha Power define-se por um
paradoxo : ela proclama-se, sem rir, «idealista maquiavélica».
A reter :
Os professores Samantha Power e Cass Sunstein formam um casal ambicioso, no qual cada parceiro assume, magistralmente, um discurso diametralmente oposto. No entanto, ambos se unem para defender o «Império americano» contra os cidadãos e contra os Povos.
Para Samantha Power, é em nome dos «Direitos do homem» que tudo é permitido aos Estados Unidos. Enquanto que para Cass Sunstein, é em nome da «Liberdade» que o Estado se pode permitir tudo. Mas, o importante é que o discurso mascara a realidade.
A embaixatriz Samantha Power apoia, hoje em dia, o clã Clinton-Feltman-Petraeus-Allen no ataque à Rússia, ao Irão e à Síria. Enquanto o professor Cass Sunstein teoriza uma forma de ditadura suave. Ele convenceu o Presidente Obama a manipular as opiniões públicas censurando-as, ou a desacreditar a oposição, e a manipular os seus comportamentos, agindo para tal sobre o seu ambiente social.
Thierry Meyssan - Intelectual
francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.
As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe,
latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores,
2008).
[1]
“This country is the greatest country on earth. I would never apologize for
America!”
[2]
“U.S. Army ’Psyops’
Specialists worked for CNN”, Abe de Vries, Trouw, February 21, 2000. English
Version : Emperor’s Clothes.
[3] Wie
der Dschihad nach Europa kam, Jürgen Elsässer, Np Buchverlag, 2005.
[4]
« L’expérience
politique africaine de Barack Obama », par Thierry Meyssan, Réseau
Voltaire, 9 mars 2013.
[5]
“Top
Ten Law Faculty (by area) in Scholarly Impact, 2009-2013”, Brian Leiter,
June 11, 2014.
[6]
“Executive Order —
Using Behavioral Science Insights to Better Serve the American People”, by
Barack Obama, Voltaire Network, 15 September 2015.
[7]
“O Estado contra a
República”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 9 de Março
de 2015.
[8]
« Conspiracy
Theories », Cass R. Sunstein & Adrian Vermeule, Harvard Law
School, January 15, 2008.
[9]
« 1997-2010 :
L’écologie financière », par Thierry Meyssan, Оdnako(Russie), Réseau
Voltaire, 26 avril 2010.
[10]
“Presidential Study
Directive on Mass Atrocities/PSD-10”, Voltaire Network, 4 August 2011.
[11]
“Why
Is Obama Suppressing the Atrocities Prevention Board?”, Amelia M. Wolf, The
National Interest, August 27, 2014
[12]
“Duas espinhas no pé de
Obama”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 31 de Agosto de
2015.
[13]
“John McCain, chefe de
orquestra da «primavera árabe»,
e o Califa”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de
Agosto de 2014.
[14]
“Grenell:
Samantha Power Could Have Sought to Postpone Security Council Meeting”,
Paul Scicchitano, NewsMax, August 23, 2013. “UN
Ambassador Samantha Power missed crucial meeting on Syria because she was on
holiday in Ireland where her husband was guest speaker at comedy film festival”,
Meghan Keneally, Daily Mail, August 25, 2013. “Chaplin
festival finds itself centre stage in UN row”, Irish Independent ,
August 26, 2013.
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