Trincas no muro
As consequências involuntárias do
genocídio
por Robert Fantina
tradução mberublue
Ao
mesmo tempo que Israel declara um cessar fogo de 72 horas, também afirma:
“missão cumprida” em Gaza. Talvez se torne interessante ver o que aquele regime
de apartheid realmente cumpriu.
·
Destruiu
túneis, os quais na maioria das vezes são usados para o contrabando de artigos
para o lar, que Israel, em descumprimento e violação das leis internacionais,
impede que sejam importados pelos palestinos.
· Massacrou
cerca de 2.000 (duas mil) pessoas, entre as quais se incluem crianças, mesmo as
recém nascidas, ferindo ainda milhares delas.
· Destruiu centenas de casas, deixando na rua,
ao léu, milhares de homens, mulheres e crianças.
· Arrasou
usinas de energia, fazendo com que centenas de milhares de pessoas ficassem sem
eletricidade ou água corrente.
· Provocou
a destruição de fábricas que produzem coisas extremamente perigosas para
Israel, como pretzels, queijo e biscoitos.
·
Alvejou
e assassinou jornalistas.
"Cortando a Grama" em Gaza |
Os
oficiais israelenses afirmaram que, em Gaza, precisam regularmente “cortar a
grama”, o que significa destruir a infraestrutura e bombardear a área sitiada
até empurrá-la o mais próximo possível da idade das trevas. Podemos acrescentar
isso às realizações da “missão cumprida” de Israel.
Porém,
talvez a maior falha de Israel, meta desesperadamente procurada, e que não
conseguiu cumprir, foi o seu objetivo mais ambicioso: o desmantelamento do
governo de coalizão entre Fatah e Hamás. Este governo, trêmulo talvez,
definitivamente corrupto, permanece intacto.
Ocorre
que na realidade, existem alguns resultados não esperados e que efetivamente se
dão em consequência desse bombardeio genocida contra os palestinos.
*Crítica
internacional inesperada contra Israel. Mesmo que não seja de forma universal,
desta vez Israel viu embaixadores sendo convocados de volta a seus países, e
até mesmo os Estados Unidos que normalmente dão um cheque em branco a Israel
para que faça o que quiser no cenário internacional,desta vez arriscou algumas
críticas tímidas contra seu fantoche mor. Mas é lamentável que para que os EUA
arriscassem algumas críticas anêmicas, foi necessário que
Israel bombardeasse repetidas vezes as escolas das Nações Unidas, nas ocasiões
usadas como abrigo para milhares de palestinos expulsos de suas casas, mas pelo
menos alguma crítica foi expressa. A inesperada renúncia de SayeedaWarsi,
Ministra Sênior no Gabinete de Relações Exteriores da Grã Bretanha, que saiu
acusando o governo do Primeiro Ministro David Cameron de tomar uma abordagem
“moralmente indefensável” em relação ao conflito entre Israel e Gaza, foi por
sua vez uma consequência surpreendente contra Israel.
*Demonstrações
internacionais de apoio aos palestinos. Israel mesmo teve centenas de pessoas
de seu povo protestando contra o bombardeio maciço na faixa de Gaza. Em
Londres, dezenas de milhares de pessoas protestaram contra o bombardeio,
exigindo que o governo britânico pare de apoiar Israel.
*Israel
enfrentou uma tempestade na mídia social, que bateu sem dó no país. Na última
vez que Israel resolveu “cortar a grama” em Gaza foi há dois anos. Naquele
tempo, o Twitter tinha aproximadamente 20 milhões de usuários. Hoje, este
número já se encontra na casa dos 120 milhões de usuários que espalharam
através do globo fotografias e filmes e informações que a imprensa empresa não
se atreveu ou não quis mostrar. Pelo menos em parte, isso resultou em enormes
manifestações de protesto em frente à sede da BBC em Londres, tendo como
consequência o anúncio, por parte da organização de mídia que deverá rever suas
políticas no intento de ver se, de fato, suas reportagens eram tendenciosas,
favorecendo sempre Israel.
*Maior
motivação para a implementação do movimento BDS (Boycott, Divest and Sanction –
Boicote, Desinvestimento e Sanções –NT). Levando em consideração que as pessoas
ao redor do mundo percebem que crianças brincando em uma praia são alvos do
terrorista IDF (Israeli Defense Forces – Forças Defensivas de Israel – NT), que
atiram em crianças espalhando seus pedaços sangrentos pela praia, mesmo os
politicamente apáticos tornam-se motivados.
*Isolamento
cada vez maior de Israel frente a comunidade internacional. Não se pode ver
isso como consequência isolada, pois o isolamento decorre de todos os motivos
acima listados. As manifestações de protesto, o cancelamento de eventos
patrocinados por Israel, o crescimento exponencial do movimento BDS e o aumento
nas pessoas da consciência do que acontece deve ser creditado em grande parte à
mídia social pela divulgação dos horríveis crimes cometidos por Israel não
podem ser ignorados para sempre pelos governos, quando as pessoas que elegeram
estes governos demonstram claramente sua oposição.
A
única nação que demonstra ser extremamente lenta em mudar sua retórica em
relação a Israel, para condenar as terríveis violações dos direitos humanos
cometidos por aquele país é, sem surpresa nenhuma, os Estados Unidos. Como este
escritor já mencionou anteriormente, os Estados Unidos gostam dos direitos
humanos, desde que não interfiram em suas estratégias ou interesses
financeiros. É necessário recordar que apenas entre o início de 2012 e o final
de 2013, lobbies pró Israel doaram 8000000 de dólares aos candidatos ao
Congresso e à presidência. Tais candidatos receberam dezenas de milhões de
dólares no transcorrer das duas últimas décadas. Há outras instâncias do poder
em redor do mundo além da Casa Branca, da Câmara de Deputados e o Senado dos
EUA... Assim, o que acontece se alguns bebês dormindo em seus berços são
selvagemente destroçados por armas proibidas, em clara violação à lei
internacional Criticar isso fará
com que diminuam os cheques oferecidos pelos lobbies pró Israel. Não, não acho
que haja algum risco de que essa crítica seja feita.
Dessa
forma, embora murmurando uma crítica quase inaudível, um sussurro medroso em
oposição ao genocídio praticado por Israel, ainda assim, os EUA o financia.
Enquanto mostra algum “desconforto” com a decisão de Israel de bombardear as
escolas das Nações Unidas que abrigavam centenas de palestinos refugiados, os
Estados Unidos ainda assim continuam enviando mais e mais armas para Israel,
para que o Estado Terrorista continue “cortando a grama” em Gaza.
Tweedle-Dee e Tweedle-Dum |
Sempre
foi muito difícil para o eleitor americano escolher entre Tweedle-Dee e
Tweedle-Dum (personagens do livro de Lewis Carroll “Alice no País dos Espelhos”.
São gêmeos que se complementam a tal ponto que um completa as frases do outro.No
fundo, parecem ser o mesmo personagem, tendo como diferença apenas seus nomes
bordados nos casacos – NT), candidatos normalmente oferecidos pelos partidos
Democrata e Republicano. Nas próximas eleições de meio de mandato, os eleitores
americanos certamente deverão escolher entre candidatos dos dois partidos, que
se atropelam uns aos outros na tentativa sôfrega de mostrar quem apoia mais a
Israel. Não é por outro motivo que este escritor, que viveu durante anos no
Canadá, escreverá alguns nomes em sua cédula de ausente. Serão os nomes dos
jornalistas palestinos e homens e mulheres conhecidos deste escritor, que vivem
em Gaza e foram vítimas dos ataques genocidas do exército de Israel.
Mesmo
com a oposição ferrenha dos Estados Unidos a cada passo a ser dado, a ONU
parece estar pronta para investigar possíveis crimes de guerra cometidos por
Israel. Não é de se estranhar as suas conclusões, pois a ONU tem emitido mais
resoluções críticas contra Israel que todas as outras nações combinadas. Mas
até que os cidadãos acordem de seu sono induzido pelos serviços de relações
públicas e fiquem conscientes de que os EUA estão financiando um genocídio,
nada mudará. Nas últimas semanas, temos visto evidências cada vez mais fortes
de rachaduras no muro dos Estados Unidos e das relações públicas de Israel.
Todos aqueles que estão chocados com os crimes cometidos por Israel devem
alargar ainda mais esta rachadura.
Robert
Fantina–Ativista e jornalista que trabalha em prol da paz e da justiça social,
enquanto viveu nos EUA apoiou decisivamente o controle de armas e se opôs à
guerra contra o Iraque antes da invasão norteamericana e depois que ela
aconteceu. Depois das eleições de 2004, mudou-se para o Canadá. Escreveu
livros, entre os quais “A deserção e o soldado americano – 1776-2006” além de
novelas e mais recentemente o livro “Império: racismo e genocídio – uma
história das relações exteriores dos Estados Unidos”, seu último livro.