A estratégia do
caos
Manlio Dinucci - via Réseau Tlaxcala
Tradução por José
Reinaldo de Carvalho
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Bandeiras a meio
mastro nos países da Otan pelo "11 de setembro da França", enquanto
o presidente Obama anunncia aos meios de comunicação : "Nós lhes
forneceremos informações sérias" sobre quem são os responsáveis. Sem que
seja necessário esperar, já está claro. O enésimo massacre de inocentes foi
provocado pela série de bombas de fragmentação geopolítica, que explodiram
segundo uma estratégia precisa.
Esta foi
aplicada desde que os Estados Unidos, depois de terem vencido a confrontação
com a União Soviética, autonomearam-se "o único Estado com uma força,
uma envergadura e uma influência em todas as dimensões – política, econômica,
militar – realmente globais", propondo-se "impedir que qualquer
potência hostil domine uma região – a Europa ocidental, a Ásia oriental, o
território da ex-União Soviética e a Ásia sudoeste - onde os recursos seriam
suficientes para gerar uma potência global". Com esse objetivo, os
Estados Unidos reorientaram desde 1991 a sua própria estratégia e, em acordo
com as potências europeias, a da Otan.
Desde então,
foram fragmentados ou demolidos com a guerra (aberta ou encoberta), uns após
outros, os Estados considerados como um obstáculo ao plano de dominação
global - Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia etc. –
enquanto que outros mais (incluindo o Irã) ainda estão na mira. Essas
guerras, que esmagaram milhões de vítimas, desagregaram sociedades inteiras,
criando uma massa enorme de desesperados, cuja frustração e rebelião
conduzem, de uma parte, a uma resistência real, mas de outra são exploradas
pela CIA e outros serviços secretos (inclusive franceses) para seduzir os
combatentes a uma "jihad" de fato funcional à estratégia dos
Estados Unidos e da Otan.
Assim se formou
um exército sombrio, constituído por grupos islamitas (frequentemente
concorrentes) utilizados para minar desde o interior o Estado líbio enquanto
a Otan o atacava, depois por uma operação análoga na Síria e no Iraque. Disto
nasceu o Isis (EI), no qual confluíram os "foreign fighters"
(combatentes estrangeiros), entre os quais agentes de serviços secretos, que
recebeu bilhões de dólares e de armas modernas da Arábia Saudita e de outras
monarquias árabes, aliadas dos EUA e em particular da França. Esta estratégia
não é nova: há mais de 35 anos, para derrubar a URSS na "armadilha
afegã", foram recrutados por meio da CIA dezenas de milhares de
mudjahedins de mais de 40 países. Entre esses o saudita rico Osama Bin Laden,
chegado ao Afeganistão com quatro mil homens, o mesmo que iria em seguida
fundar a Al Qaeda tornando-se o "inimigo número um" dos EUA.
Washington não é o aprendiz de feiticeiro incapaz de controlar as forças
postas em ação. Ele é o centro propulsor de uma estratégia que, demolindo Estados
inteiros, provoca uma reação caótica em cadeia de divisões e conflitos a
utilizar segundo o método de «dividir para reinar».
O ataque
terrorista em Paris, cometido por uma mão de obra convencida de golpear o
Ocidente, aconteceu numa perfeita oportunidade no momento em que a Rússia,
intervindo militarmente, bloqueou o plano dos EUA e da Otan de demolição do
Estado sírio e anunciou contramedidas militares à crescente expansão da Otan
para o Leste. O ataque terrorista, criando na Europa um clima de estado de
sítio, «justifica» um crescimento em poder militar acelerado dos países
europeus da Otan, incluindo o aumento de suas despesas militares reclamadas
pelos EUA, e abre o caminho a outras guerras sob o comando estadunidense.
A França que até
o presente tinha conduzido "contra o Estado Islâmico na Síria apenas
ataques esporádicos", escreve o New York Times, efetuou na noite de
domingo "em represália, o ataque aéreo mais agressivo contra a cidade
síria de Raqqa, atingindo alvos do EI indicados pelos Estados Unidos".
Entre os quais, esclarecem funcionários estadunidenses, "algumas
clínicas e um museu".
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