quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A estratégia do caos          


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Manlio Dinucci - via Réseau Tlaxcala               
Tradução por José Reinaldo de Carvalho                      

Bandeiras a meio mastro nos países da Otan pelo "11 de setembro da França", enquanto o presidente Obama anunncia aos meios de comunicação : "Nós lhes forneceremos informações sérias" sobre quem são os responsáveis. Sem que seja necessário esperar, já está claro. O enésimo massacre de inocentes foi provocado pela série de bombas de fragmentação geopolítica, que explodiram segundo uma estratégia precisa.

Esta foi aplicada desde que os Estados Unidos, depois de terem vencido a confrontação com a União Soviética, autonomearam-se "o único Estado com uma força, uma envergadura e uma influência em todas as dimensões – política, econômica, militar – realmente globais", propondo-se "impedir que qualquer potência hostil domine uma região – a Europa ocidental, a Ásia oriental, o território da ex-União Soviética e a Ásia sudoeste - onde os recursos seriam suficientes para gerar uma potência global". Com esse objetivo, os Estados Unidos reorientaram desde 1991 a sua própria estratégia e, em acordo com as potências europeias, a da Otan.


Desde então, foram fragmentados ou demolidos com a guerra (aberta ou encoberta), uns após outros, os Estados considerados como um obstáculo ao plano de dominação global - Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia etc. – enquanto que outros mais (incluindo o Irã) ainda estão na mira. Essas guerras, que esmagaram milhões de vítimas, desagregaram sociedades inteiras, criando uma massa enorme de desesperados, cuja frustração e rebelião conduzem, de uma parte, a uma resistência real, mas de outra são exploradas pela CIA e outros serviços secretos (inclusive franceses) para seduzir os combatentes a uma "jihad" de fato funcional à estratégia dos Estados Unidos e da Otan.

Assim se formou um exército sombrio, constituído por grupos islamitas (frequentemente concorrentes) utilizados para minar desde o interior o Estado líbio enquanto a Otan o atacava, depois por uma operação análoga na Síria e no Iraque. Disto nasceu o Isis (EI), no qual confluíram os "foreign fighters" (combatentes estrangeiros), entre os quais agentes de serviços secretos, que recebeu bilhões de dólares e de armas modernas da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes, aliadas dos EUA e em particular da França. Esta estratégia não é nova: há mais de 35 anos, para derrubar a URSS na "armadilha afegã", foram recrutados por meio da CIA dezenas de milhares de mudjahedins de mais de 40 países. Entre esses o saudita rico Osama Bin Laden, chegado ao Afeganistão com quatro mil homens, o mesmo que iria em seguida fundar a Al Qaeda tornando-se o "inimigo número um" dos EUA. Washington não é o aprendiz de feiticeiro incapaz de controlar as forças postas em ação. Ele é o centro propulsor de uma estratégia que, demolindo Estados inteiros, provoca uma reação caótica em cadeia de divisões e conflitos a utilizar segundo o método de «dividir para reinar».

O ataque terrorista em Paris, cometido por uma mão de obra convencida de golpear o Ocidente, aconteceu numa perfeita oportunidade no momento em que a Rússia, intervindo militarmente, bloqueou o plano dos EUA e da Otan de demolição do Estado sírio e anunciou contramedidas militares à crescente expansão da Otan para o Leste. O ataque terrorista, criando na Europa um clima de estado de sítio, «justifica» um crescimento em poder militar acelerado dos países europeus da Otan, incluindo o aumento de suas despesas militares reclamadas pelos EUA, e abre o caminho a outras guerras sob o comando estadunidense.
A França que até o presente tinha conduzido "contra o Estado Islâmico na Síria apenas ataques esporádicos", escreve o New York Times, efetuou na noite de domingo "em represália, o ataque aéreo mais agressivo contra a cidade síria de Raqqa, atingindo alvos do EI indicados pelos Estados Unidos". Entre os quais, esclarecem funcionários estadunidenses, "algumas clínicas e um museu".


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