Erdogan foi o “capanga”
usado por Washington?
por
Finian Cunningham
tradução mberublue
27 de novembro de
2015 - "Information
Clearing House" - "RT"
– No espaço de algumas horas, O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que
parecia em situação de desespero, tornou-se desafiador, depois de ter derrubado
um bombardeiro russo. Aparentemente alguém lhe soprou palavras enérgicas junto
ao ouvido.
Conversa de “machão”
do presidente turco? Não... Parece mais com um menino de recados entusiasmado.
Quando surgiram as
primeiras notícias de que um avião F16 turco havia derrubado um bombardeiro
russo SU24 perto da fronteira da Síria, o governo de Erdogan em Ancara imediatamente
solicitou uma reunião de emergência da Cúpula da OTAN.
Erdogan |
Ancara se
esbaforiu para explicar que a parte que tinha incorrido em uma agressão era a
Rússia e não a Turquia. A pressa e o afobamento de Erdogan eram causados pelo
fato de que quem na realidade praticou um ato de agressão foi a Turquia e não o
contrário.
E eles sabiam
disso.
De maneira
suspeita, Ancara não entrou em contato com Moscou sobre o incidente, o que seria
a coisa certa e normal a fazer na sequência de um sério incidente no qual a
tripulação russa foi obrigada a ejetar e um dos pilotos foi morto em seguida.
Lembre-se que o
governo turco afirmou que não sabia a identidade do avião russo que
alegadamente se aproximava do espaço aéreo turco. Se fosse assim, depois do
fato, no qual os turcos derrubaram um avião russo em um rápido encontro em que
temeram uma muito improvável ameaça à sua “segurança nacional”, então por que
Ancara não procurou imediatamente os russos na tentativa de resolver um assunto
assim tão urgente para que as circunstâncias fossem rapidamente esclarecidas? Seria
o comportamento lógico e esperado se na realidade fosse mesmo um incidente
infeliz, uma confrontação imprevista.
Mais uma vez,
infere-se que Ancara tinha pleno conhecimento de que estava a praticar uma ação
sinistra.
Como se viu,
Ancara afobadamente deliberou com a OTAN, em vez de Moscou. Somente o ato de
ter procurado imediatamente a OTAN já sugere que os turcos estavam bem cientes
desde o início que estavam cometendo um ato desleal contra a Rússia, tendo
então procurado precipitadamente uma linha de proteção através do aliança
militar liderada pelos Estados Unidos.
Davutoglu |
Já no dia seguinte
ao incidente, Erdogan e seu Primeiro Ministro Ahmet Davutoglu estavam voltando
atrás sobre suas versões do incidente. A versão turca inicial sobre a confrontação
aparentemente incorria em uma série de falhas de credibilidade, com muitas anomalias
relacionadas à trajetória do jato russo. Mesmo fontes ocidentais estavam entrando
em acordo de que a versão de Moscou sobre o incidente estava correta sobre os
detalhes e que o jato russo não cruzou a fronteira da Síria.
Vem à tona então
uma conclusão perturbadora: o jato russo foi derrubado criminosamente pelos
turcos.
Erdogan passou
pela quarta feira dizendo ansiosamente que não quer uma escalação militar no
conflito entre a Turquia e a Rússia. Davutoglu foi ainda mais covarde, dizendo
em tons quase suplicantes que a “Rússia é uma nação amiga e um vizinho”. O
Ministro de Relações Exteriores de Ancara chegou perto da abjeção ao praticamente
pedir que a Rússia não corte os suprimentos de gás natural dos quais a Turquia depende
para 60 por cento de seu consumo de combustível.
Então,
subitamente, ocorreu uma mudança de tom em Ancara. Na quinta feira, Erdogan
soou nitidamente diferente, em tom mais beligerante, mais alinhado com os
eventos iniciais da queda do avião russo. Talvez isso tenha acontecido porque a
Rússia afirmou que não estava pensando em ir à guerra com a Turquia por causa
do jato abatido. Mas Erdogan parecia bem corajoso, em contraste com a conduta
tímida que tomara nas 24 horas precedentes.
O presidente turco
disse que seu país não haveria de oferecer desculpas para a Rússia depois de
derrubar o jato, com a perda de um piloto assim como a morte de um soldado russo
morto por militantes enquanto tentava resgatar o segundo aviador que estava no
bombardeiro SU-24 que caiu no norte da Síria. Em vez disso, Erdogan assumiu uma
retórica desafiadora, ao afirmar que a Rússia deveria ser a única a pedir
desculpas por ter alegadamente infringido o espaço aéreo turco, mesmo depois de
todas as evidências apontando o contrário.
Também publicamente,
Erdogan falou na quinta feira para desclassificar as acusações russas de que a
Turquia estaria financiando o Estado Islâmico (EI) e outros grupos jihadistas
através da compra de petróleo. Além disso, o líder turco afirmou que a “luta
turca contra o Estado Islâmico é inegável”, dizendo ainda que apenas a coalizão
militar liderada pelos Estados Unidos, a qual inclui Ancara, está combatendo os
terroristas na Síria. A Rússia e o Irã não estariam levando a guerra ao Estado
Islâmico, afirmou Erdogan, implicando que eles estariam meramente sustentando
no poder seu aliado – o governo do presidente Bashar al Assad.
Erdogan disse ao
canal de notícias francês France 24 que
ele teria tentado entrar em contato com o presidente russo Vladimir Putin sobre
a queda do jato, mas que Putin não atendeu suas chamadas. Anteriormente, Moscou
havia feito notar amargamente que não havia recebido nenhuma comunicação de
Ancara sobre o incidente.
Então, o que
aconteceu que levou Erdogan e seus capangas aparentemente a mudar tão drasticamente
de atitude no espaço de apenas algumas horas? De beligerantes para pusilânimes
e voltando a ser beligerantes quase do dia para a noite.
Embora se assuma
que a derrubada do avião foi decidida e aprovada em altos níveis do governo em
Ancara em circunstâncias que merecem a descrição de um ato de agressão ou mesmo
de guerra contra a Rússia, foi certamente um movimento de ousadia, audácia e
imprudência. No entanto, nas 24 horas seguintes, Ancara aparentemente se
consumiu em ansiedade em relação ao que havia acabado de fazer. Mas subitamente
Erdogan parece ter adquirido em algum lugar uma espinha dorsal, que lhe fez
retomar uma atitude truculenta em relação à Rússia.
A conduta errática
de Erdogan e seus comparsas em Ancara demonstram claramente que eles não tinham
o menor controle da situação. Claro, naquelas alturas eles podiam apenas especular.
Mas façamos uma conjectura que parece razoável, de que Ancara levou a efeito
uma emboscada contra o jato russo a sangue frio, de forma premeditada, como
disse o Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
Vamos também
conjecturar, razoavelmente, que tal ato deliberado de agressão foi conduzido em
colusão com os Estados Unidos, que opera a base aérea turca na província de
Hatay, mesmo ao lado da fronteira síria onde ocorreu o incidente.
Faz sentido pensar
que Washington poderia concordar com uma emboscada aérea, sabendo que isso
geraria uma tensão geopolítica que impediria por outro lado, a movimentação do
presidente francês François Hollande para a formação de uma coalizão ainda maior
contra o Estado Islâmico e com a inclusão e participação da Rússia.
Porque os Estados
Unidos não estão sendo sérios a respeito da formação de uma coalizão. Na
realidade são implacavelmente contra isso, porque o Estado Islâmico e outros
jihadistas mercenários são uma criação secreta dos Estados Unidos e de seus
aliados na OTAN, o que inclui a Turquia, para lutar por eles com o objetivo de
uma mudança de regime na Síria.
Assim, a Turquia
de Erdogan fez o trabalho sujo para Washington contra a Rússia, sob a cobertura
dos Estados Unidos. Mas na sequência imediata, Ancara evidentemente se borrou
de medo em relação ao que havia acabado de fazer, sem dúvida com medo da reação
e da fúria de Rússia. Foi quando Washington foi até Erdogan e lhe disse para “tener
cojones”. Foi daí que surgiu a reviravolta mal humorada da Turquia no espaço
curto de apenas 24 horas.
Todos os
acontecimentos observados só servem para demonstrar que Erdogan com sua
conversa de machão, não passa de um menino de recados choramingas e ridículo de
seu patrão em Washington.
Finian Cunningham - nasceu em Belfast, Irlanda do Norte, em
1963. Especialista em política internacional. Autor de artigos para várias
publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi expulso do Bahrain (em
6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as violações dos direitos
humanos por parte do regime barahini apoiado pelo Ocidente. É pós-graduado com
mestrado em Química Agrícola e trabalhou como editor científico da Royal
Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no
jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como
editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os
jornais Irish Times e The Independent. Atualmente
está baseado na África Oriental, onde escreve um livro sobre o Bahrain e a
Primavera Árabe.
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