O plano de invasão da Síria pelos exércitos da Turquia e EUA desandou: O exército
da Síria triunfou em Kuweires
por Mike Whitney
tradução mberublue
11 de novemnbro de 2015 – "Information Clearing House" - "Counterpunch" –
O Exército Árabe da Síria (SAA na sigla
em inglês – NT) conquistou uma vitória memorável no conflito que já dura
quatro anos nesta terça feira, ao recapturar a estratégica base aérea de Kuweires
no norte do país. Centenas de terroristas foram mortos na intensa ação militar
enquanto outras centenas foram vistos em fuga na direção de Raqqa. O anúncio da vitória aconteceu apenas algumas
horas depois que o Primeiro Ministro turco Ahmet Davutoğlu disse em uma entrevista
com a repórter da CNN Christiane Amanpour que a Turquia estaria disposta a
invadir a Síria tão logo houvesse a concordância de Washington em prover apoio
aéreo, criar uma zona de exclusão aérea ao longo da fronteira turca e com a
remoção do presidente sírio Bashar al-Assad.
Exército Sírio em Kuweires |
A situação muda agora que Kuweires foi
libertada e Davutoğlu deverá reconsiderar sua oferta, porque terá que levar em
consideração o fato de que os aviões de guerra russos estarão posicionados a curta
distância da fronteira, e ao mesmo tempo que as tropas e artilharia poderão ser
alocadas de maneira que torne tão difícil quanto possível cruzar a fronteira da
Síria. A janela para que as tropas turcas entrassem na Síria sem oposição está hermeticamente
fechada. Qualquer tentativa de invadir o país, com a situação estratégica que
se estabeleceu agora resultará em resistência duríssima e alto índice de
baixas.
Para entender a importância vital de
Kuweires, precisamos dar uma olhada na entrevista que Davutoğlu concedeu a
Amanpour, para ver o que estava sendo planejado. A seguir, um excerto:
Christiane Amkanpour: Dentro das condições certas, a Turquia concordaria
em agir através de tropas no terreno?
PM Ahmet Davutoğlu: “uma força militar no terreno é um assunto que podemos levar em
consideração em conversações conjuntas. Há a necessidade de uma estratégia que inclua
uma campanha aérea junto com a infantaria. Mas a Turquia não pode fazer tudo
sozinha. Formando-se uma coligação e se houver uma estratégia muito bem
pensada, a Turquia está pronta para participar em todos os sentidos”.
C.A.: Incluindo tropas no campo de batalha?
Davutoğlu. Sim, claro… Temos que resolver a crise síria de uma vez por todas.
C.A.: Posso então entender que você está afirmando que a condição para
que a Turquia seja envolvida de forma intensa deve ser um acordo com uma coalizão
que concorde em derrubar Assad?
Davutoğlu: Sim, e contra quaisquer tropas ou regimes que se estabelecerem a
partir do vácuo do poder na Síria com este problema. Temos visto a coalizão (na
luta) contra o Estado Islâmico, mas isso não foi o suficiente. Agora, temos
sugerido aos nossos aliados, por meses – e estamos sugerindo mais uma vez – a criação
de uma zona de segurança e expulsar o Estado Islâmico para longe de nossas
fronteiras.
C.A.: Bem. O que você pensa então sobre os Estados Unidos, a Europa e
especialmente a Rússia a falar que Assad deve e pode ficar por um certo período
de tempo?
Davutoğlu: … A questão não é quanto tempo Assad pode ficar, a questão é quando
e como Assad partirá. … Pois esta é a solução. A solução é muito
clara. Ela
acontecerá quando milhões de refugiados puderem retornar para as suas casas,
desde que haja paz na Síria, então esta é a solução. Desde que Assad permaneça
no poder em Damasco, não acredito que qualquer refugiado retorne. Por isso a
necessidade de uma estratégia de passo a passo, mas afinal, quando será o fim
do jogo? Quando veremos a luz no fim do túnel, isso é o que importa para os
refugiados.
C.A.: Por que é tão difícil para o governo turco aceitar que os Estados
Unidos treinem e armem os lutadores curdos para servirem como suas tropas no
campo de batalha?
Davutoğlu: (não estamos tornando difícil para o governo dos Estados
Unidos usarem os) “curdos”, mas o PYD, como um braço do PKK... é um outro grupo curdo, os Peshmerga. Nós
permitimos que os Peshmerga passassem através da Turquia para ir até Kobani
ajudar na sua liberação. Se os Estados Unidos precisam armar lutadores curdos
para lutar no terreno contra o Estado Islâmico, a Turquia está pronta para
permitir isso. Desde que não se tratem de terroristas curdos, como o PKK. Se
eles quiserem armar Barzani, ou os Peshmerga para ajudar na Síria, estamos
prontos a ajudar. Mas todos precisam entender que atualmente o PKK está
atacando nossas cidades, nossos soldados e nossos cidadãos. Não toleraremos
qualquer tipo de ajuda para grupos relacionados ao PKK dentro da Síria ou do
Iraque. Se isso acontecer, a Turquia tomará todas as medidas que julgar
necessárias para impedir isso.” ( For refugees to return, Assad must
go, says Turkish PM – CNN)
Recapitulemos: mesmo com o conhecimento
de que a coalizão liderada pela Rússia está realizando operações militares
significativas na Síria, a Turquia está preparada para invadir o país, desde
que Washington concorde com suas condições e demandas, as quais nunca mudaram e
que (já dissemos em colunas anteriores) eram parte de um acordo secreto para
que a USAF pudesse operar na base aérea de Incirlik para conduzir ataques na
Síria.
Examinemos as condições da Turquia:
(1) Uma zona de segurança
no lado sírio da fronteira Turquia/Síria.
(2) Uma zona de exclusão
aérea nos locais onde as tropas turcas estivessem realizando operações.
(3) Compromisso com a
derrubada de Assad.
Por algum tempo pareceu que a administração Obama poderia
abandonar sua aliança com a Turquia para unir forças com o PYD (curdos) em suas
tentativas de criar uma zona tampão onde pudesse tranquilamente dar abrigo,
treinamento e armas para que os militantes sunitas continuassem ad eternum com suas hostilidades contra o
governo sírio. Na realidade, Obama chegou mesmo a iniciar suas entregas aéreas
de armas e munição para a milícia do PYD (nota:
Os Estados Unidos já cessaram suas entregas de armas e munições ao PYD). Jamais
saberemos se Obama tomou essa atitude para forçar a Turquia a assumir um papel
mais ativo na Síria. Porém sabemos que é muito mais formidável uma aliança
entre EUA e Turquia que aquela entre PYD/EUA e é por isso que os Estados Unidos
estão prontos para abandonar os curdos para unir forças com a Turquia.
a milícia Peshmerga |
Outro sinal de que as relações entre os Estados Unidos
e a Turquia estão começando a esquentar foi o fato de que Obama telefonou para
Erdogan, felicitando-o pela vitória alcançada pelo seu partido oito dias após
as eleições terem sido realizadas. A demora indica que eles trabalhavam todos
estes dias para aparar arestas antes de declarações mútuas de apoio. Erdogan
precisava de uma vitória convincente para consolidar seu poder no Parlamento
turco e para persuadir os militares de que detém um mandato para execução das
políticas externas do país. Assim o telefonema de Obama pavimentou o caminho
para as negociações de bastidores que deverão acontecer durante a reunião do
G20 que acontecerá em Ancara na próxima semana. Mas a coalizão liderada pela
Rússia retomou Kuweites e tornou impossível saber como agirão Turquia e EUA a
partir desse fato. Se a artilharia e a aviação de Putin forem capazes de fechar
a fronteira síria, Washington terá que desistir se seus planos de conquistar 60
milhas dentro da síria no trecho norte, o que é absolutamente necessário para manter
as vitais linhas de suprimento para os terroristas apoiados abertamente pelos
EUA ou para fornecer refúgio seguro para os mercenários que voltam das linhas
de frente. A mudança da estratégia, do campo de batalha e forças no terreno
terá o efeito de tornar impossível defender uma zona de segurança como a
pretendida por Turquia e EUA.
O fato inescapável é que a tomada de
Kuweires pelo exército da Síria mudou tudo. O Estado Islâmico está em fuga, a
miríade de outras organizações terroristas perdem terreno dia após dia, Assad
está seguro em Damasco, as fronteiras serão rapidamente protegidas e o plano de
Estados Unidos e Turquia de invadir a Síria desandou. A não ser que aconteça
algo extraordinário, uma catástrofe impensada, nada parece capaz de reverter o
curso dos acontecimentos; eventualmente, a coalizão liderada pela Rússia
conquistará mais e mais vitórias e ganhará a guerra. Para Washington nada mais
restará que sentar à mesa de negociações e fazer as concessões necessárias para
cessar as hostilidades.
Mike Whitney - é um escritor
e jornalista norte-americano que dirige sua própria empresa de paisagismo em
Snohomish (área de Seattle), WA, EUA. Trabalha regulamente como
articulista freelance nos últimos 7 anos. Em 2006 recebeu o
premio Project Censored por um reportagem investigativa sobre
a Operation FALCON, um massiva, silenciosa e criminosa operação
articulada pela administração Bush (filho) que visava concentrar mais poder na
presidência dos EUA. Escreve regularmente em Counterpunch e vários outros
sites. É co-autor do livro Hopeless: Barack Obama and
the Politics of Illusion (AK Press) o qual
também está disponível em Kindle edition. Recebe
e-mails por: fergiewhitney@msn.com.
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