Os Mercadores da
Morte: Como as vendas de armas dos EUA estão alimentando as guerras do Oriente
Médio.
tradução
mberublue
O recente aumento
nas transferências de armas para o Oriente Médio é parte de um crescimento sem
precedentes nas grandes vendas de armas que tem sido propiciado pela administração
Obama.
A maioria das
vendas de armas sob a administração Obama vai para o Oriente Médio e Golfo
Pérsico, com a Arábia Saudita liderando a lista, já com mais de 49 bilhões de
dólares em novos acordos. Isto é particularmente problemático dada a complexa
gama de conflitos grassando através da região, e levando em consideração que a
Arábia Saudita se utiliza do suprimento de armamento (norte)americano em sua
intervenção militar no Iêmen.
A administração
Obama tem feito da venda de armas a ferramenta principal de sua política
externa, em parte como forma de exercitar uma influência militar sem precisar
colocar as “botas no terreno” em grande número, como fez a administração Bush,
com consequências desastrosas.
O esforço da
administração Obama por mais vendas de armas no Oriente Médio têm feito a
fortuna dos fornecedores de armas dos Estados Unidos que fazem da exportação de
armas uma meta primordial, dado a diminuição dos níveis de gastos do Pentágono.
Não só as vendas para o exterior fazem crescer os lucros das companhias, como
ajudam a manter as linhas de produção que de outra forma teriam que ser
fechadas devido ao declínio das ordens de compra do Pentágono.
F-18 Super Hornet |
Por exemplo, foi
noticiado no início do ano que a Boeing concluiu um acordo para a venda de 40
F-18s para o Kuwait, o que fará com que se estenda o tempo de vida do programa,
com seu final anteriormente datado para o início de 2017, em pelo menos um ano
ou mais. Igualmente aconteceu com os Tanques M-1 da General Dinamics que
sobreviverão graças a programas adicionais aprovados pelo Congresso e um acordo
para a venda de tanques e upgrade de tanques para a Arábia Saudita.
Mas não se trata
apenas de dinheiro. O suprimento de armas dos Estados Unidos alimenta o
conflito na região. A mais recente e problemática venda é um acordo em
andamento que pode suprir a força aérea saudita com mais um bilhão de dólares
em bombas e mísseis, novamente para serem usados na guerra contra o Iêmen.
O uso dos
helicópteros, aviões de combate, bombas e mísseis que os EUA entregaram para a
Arábia Saudita tem contribuído para a catástrofe humanitária que se observa
ali. Um ataque recente a uma festa de casamento que matou mais que 130 pessoas
é apenas o último exemplo do que pode causar o uso de bombardeios
indiscriminados, que já causaram a morte de mais de 2.300 civis por causa da
guerra.
Bombardeios no Iêmen |
Os bombardeios
foram acompanhados de um bloqueio naval que causou uma situação onde quatro em
cada cinco pessoas no Iêmen estão agora necessitando de ajuda humanitária.
Estima-se que 12,9 milhões de pessoas no Iêmen estão em situação de insegurança
alimentar e que mais de 1,2 milhões de crianças estão sofrendo de moderada a
aguda desnutrição e que meio milhão estão severamente subnutridas, de acordo
com o Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas. Caso se permita que o conflito siga seu curso
atual, há o risco de fome em massa.
Há evidências
reunidas pelas organizações Human Rights Watch e Amnesty International
indicando que os suprimentos fornecidos à Arábia Saudita pelos Estados Unidos
incluem bombas de fragmentação que estariam sendo usadas no Iêmen.
Bombas de
fragmentação são armas que matam indiscriminadamente e que têm seu uso proibido
por um tratado internacional – um tratado que infortunadamente não foi assinado
nem pelos Estados Unidos nem pela Arábia Saudita.
As coisas estão
tão fora de controle que se sabe que é possível que algumas das armas fornecidas
pelos Estados Unidos acabaram chegando às mãos de todas as partes envolvidas
nos conflitos no Iêmen. Como se disse acima, as armas dos EUA estão sendo
usadas tanto pelas forças aéreas e em solo da Arábia Saudita e do Kuwait, ambos
invasores do Iêmen, e algumas delas foram perdidas tanto para os Houtis quanto
para a Al Qaeda na Península Arábica.
O exército do
Iêmen se dividiu ao meio, com uma parte das forças oferecendo lealdade ao
antigo presidente Saleh e juntando forças com os Houtis enquanto a outra parte
tomou o lado dos sauditas e do ex presidente Hadi. As duas facções acabaram
recebendo tanto treinamento militar quanto armas por transferência dos Estados
Unidos. Estatísticas recolhidas pelo Security Assistance Monitor (Monitor de
Assistência para a Segurança) informam que as forças iemenitas ou receberam ou
tiveram oferta de armas dos EUA no valor de mais de 900 milhões de dólares em
ajuda militar ou policial desde 2009.
Cresce a
preocupação sobre a participação dos Estados Unidos, que facilita a campanha de
bombardeio da Arábia Saudita. A Oxfam (Organização
para o combate à fome no mundo - NT) (norte)americana pressiona os Estados
Unidos para que “retire seu apoio à coalizão liderada pela Arábia Saudita, que inclui
a transferência de armamento para as partes em conflito, exija publicamente que
seja permitido o livre fluxo de bens comerciais em todos os portos do país e
angarie apoio no Conselho de Segurança das Nações Unidas para um imediato e
incondicional cessar fogo com o início de um processo político inclusivo que
permita chegar ao fim da guerra.”
O senador (norte)americano
Patrick Leahy (Democrata) tem levantado questões quanto à responsabilidade dos
EUA quanto às ações da Arábia Saudita, e também se os bombardeios violam a Lei
(norte)americana que leva seu nome. A Lei Leahy “proíbe que os Estados Unidos
forneçam assistência a qualquer unidade militar ou policial estrangeira, caso
haja informações críveis de que esta tenha cometido violações graves dos
direitos humanos, impunemente”.
Uma carta ao presidente
Obama, organizada pelos deputados Dibbie Dingell (Democrata), Keith Ellison
(Democrata) e Ted Lieu (Democrata) pede par que o presidente faça com urgência “todos
os esforços possíveis para evitar mortes de civis no Iêmen e chegar a uma
conclusão diplomática para o conflito.”
A intervenção
liderada pela Arábia Saudita e apoiada pelos Estados Unidos no Iêmen precisa ser
interrompida. Cessar o apoio militar dos EUA para esforço de guerra saudita
seria um bom meio de começar.
William
D. Hartung – é o diretor do
Projeto de Armamento e Segurança no Centro para Política Internacional e
conselheiro sênior do Monitor de Assistência para a Segurança e ainda colunista
do Americas Program.
Nenhum comentário :
Postar um comentário