quarta-feira, 30 de abril de 2014


EUA/UE e suas “sanções apavorantes”

 Via redecastorphoto

30/4/2014, The SakerThe Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

“Ninguém espanta porco-espinho, só com bunda pelada”
[provérbio russo]



  • A China já criticou fortemente, oficialmente, todas as sanções; disse que não servem para nada.
  • Outras seis cidades no leste da Ucrânia rebelaram-se.
  • Dmitry Rogozin, Embaixador Extraordinário Plenipotenciário e vice-primeiro ministro da Rússia, encarregado da indústria da Defesa, declarou que a Rússia responderá palavras, com palavras; e ações, com ações. Por exemplo, disse que, se os EUA tentarem causar dano à indústria aeroespacial russa, os russos podem mandar astronautas, eles mesmos, para a Estação Espacial Internacional.
  • Oleg Tsarev, uma das figuras políticas mais populares do leste da Ucrânia abandonou oficialmente a corrida presidencial; disse que sua participação é impossível.
  • Mikhail Dobkin, figura destacada do Partido das Regiões, e amigo próximo do prefeito de Carcóvia, Gennadi Kermes – que sofreu atentado à bala e está em estado crítico num hospital israelense, declarou que também está pensando em desistir da candidatura à presidência.
  • Pilotos russos informaram que o sinal de GPS sobre a Ucrânia parece ter sido degradado pelos EUA. Os EUA fizeram o mesmo na Líbia, e durante o massacre de 8/8/2008 em Ossétia. Por sorte, a constelação de satélites GLONASS operam em plena capacidade (24) e já assumiram todas as frequências.
  • O Secretário de Estado dos EUA John Kerry: “Hoje, que a Rússia tenta mudar a paisagem de segurança da Europa do Leste e Centraltemos de deixar absolutamente claro para o Kremlin, que o território da OTAN é inviolável e nós defenderemos cada polegada dele”.
  • Em Kiev, o Setor Direita e os maidanistas estão brigando entre eles. Turchinov admite que essa operação falhou: “Gostaria de dizer francamente que no momento as estruturas de segurança não conseguem retomar rapidamente sob seu controle a situação nas regiões de Donetsk e Luhansk. O pessoal de segurança encarregado da proteção dos cidadãos está sem apoio. Mais que isso, algumas dessas unidades ou ajudam ou cooperam com os terroristasNossa tarefa é, antes de tudo, deter a disseminação da ameaça terrorista para todas as regiões da Carcóvia e Odessa”.
  • Foi anunciado pelas autoridades militares na Rússia, que dois recém-chegados participarão do desfile do próximo dia 9/5/3014, “Dia da Vitória”, em Moscou: uma unidade da Spetsnaz, com os novos uniformes à prova de bala e rifles com silenciador; e uma unidade de Infantaria Naval da Frota do Mar Negro que levará a bandeira da República Russa da Crimeia. Pode-se facilmente imaginar a fúria dos attachés da OTAN, convidados para assistir ao desfile (como são sempre convidados, anualmente).
  • Boris Nemtsov, ativista neoliberal pró-EUA cometeu suicídio político, ao mostrar-se na TV da Junta de Kiev, e comparar Putin a Stálin. Não que tenha grande coisa a perder, dado que seu partido “Parnas” não descola do 1-dígito, nas pesquisas eleitorais.
  • Nemtsov, Khodorkovsky, Kasparov e Navalnyi e alguns outros, já são, absolutamente, cadáveres políticos.
  • No mesmo programa da TV da Junta de Kiev no qual falou Nemtsov, Iurii Lutsenko, conhecido nacionalista ucraniano, declarou, com ares de máxima seriedade, que “o código genético do povo ucraniano dá aos ucranianos a habilidade de viver longe de mentiras, mas o código genético de filhos de Gengis Khan os faz desejar viver em mentira e disseminar a sífilis patriótica”. Esse comentário sobre a “genética” soou particularmente cômico, porque Lutsenko estava sentado ao lado de um judeu (Nemtsov), em programa de TV cujo apresentador é judeu (Savik Shuster) e está co-organizando a conferência que convidou Nemtsov a Kiev com outro famoso judeu (Khodorkovsky). Fico pensando por que esses judeus, que são usualmente super sensíveis a questões “genéticas”, mantiveram-se calados e sorridentes enquanto um nacionalista neonazista afirmava, a sério, que os genes asiáticos dos russos os tornariam menos capazes de resistir a mentiras de uma suposta “raça” ucraniana.
  • EUA e União Europeia adotaram mais sanções simbólicas contra a Rússia, que só ajudam numa direção: convencer os russos de que o ocidente não pode tomar e não tomará qualquer medida punitiva significativa contra a Rússia.
  • Os EUA estão noticiando entusiasticamente que as sanções estão fazendo a Rússia sangrar horrivelmente, por efeito de uma fuga de capitais. Há uma certa saída de capitais, mas é capital especulativo, que, como aconteceu em 08/08/2008, está sendo sacado por plutocratas ocidentais, em movimento para ser “noticiado”; e rapidamente o dinheiro voltará para a Rússia. Até aqui não se vê qualquer sinal de     desinvestimento, pela simples razão de que os plutocratas ocidentais não têm interesse algum em sofrer as consequências desse movimento.

Talvez eu já tenha escrito sobre ele, mas há um excelente ditado russo sobre ameaças vazias: “Ninguém espanta porco-espinho, só com bunda pelada”.

É precisamente o que EUA e UE tentam fazer agora: querem espantar a Rússia com sanções que ferirão muito mais EUA e EU, que a Rússia. E não só isso.

A simples noção de que impedir 15 ou 30 pessoas de viajar à Eurozona por seis meses abalaria a alma de gente que resistiu por 900 dias contra o cerco de Leningrado pelas forças alemãs (e que passou fome, frio, sede, sob raids aéreos diários da Luftwaffe) é risível.

A boa notícia é que Turchinov já admitiu que perdeu Lugansk e Donetsk Oblast [província], e que agora lhe resta impedir que os mesmos eventos atinjam outras partes da Ucrânia como as regiões de Odessa e Carcóvia.

Mapa atual  (quase) com todas as províncias (oblasts) da Ucrânia
(clique na imagem para aumentar)
Minha sensação pessoal é que a Carcóvia também já foi. Mas Odessa pode ser mais complicada. E a situação em Dnepropetrovsk é ainda mais complexa.

O que pode acontecer é uma desintegração da Ucrânia, em duas etapas. Na primeira etapa, as regiões de Lugansk, Donetsk e Carcóvia separam-se e formam sua própria república independente. Na sequência, uma relativa calmaria, as futuras eleições presidenciais (assumindo-se que venham a acontecer), a questão das aposentadorias, os preços sobem e o fim, completo, do fornecimento de gás russo à Ucrânia. Então, ao longo do verão e início do outono, o resto da Ucrânia explodirá em protestos sociais, que empurrarão regiões como Odessa ou Zaporozhie a romper, enquanto os oligarcas e neonazistas combatem uns contra os outros pelo controle de Kiev.

Como fator mais poderoso, que afetará o processo de desintegração da Ucrânia, haverá o boom econômico da Crimeia. Se, ano passado, os ucranianos comparavam a prosperidade econômica dos russos e dos cidadãos da União Europeia, esse ano eles compararão a situação econômica na Ucrânia-da-Junta (que chamo de “Banderastão”) e a da Crimeia.

Quanto à República Popular de Donetsk, terá de se integrar á Rússia, mais cedo ou mais tarde, nem que seja por razões de segurança.

John Kerry
Daí que só resta rir da mais recente ejaculação de conversa fiada, de Kerry. O que, exatamente, significa(ria) “nós temos de deixar absolutamente claro para o Kremlin, que o território da OTAN é inviolável e que defenderemos cada palmo dele”?!

Será que Kerry acredita seriamente que alguém – qualquer pessoa, mas muito menos, ainda, os russos – acreditaria que os tanques russos estejam prestes a atacar a OTAN? E ainda falta(ria) explicar como, exatamente, a OTAN planeja lutar contra a Rússia, se a Rússia “já ocupou os Estados Bálticos” (que a Rússia não quer e dos quais a Rússia não precisa)...

Kerry está-se convertendo em bufão ridículo em tempo integral, que faz Hillary parecer racional.

Uma última coisa: Tenho ouvido que quase 70% dos norte-americanos não estão felizes com Obama nem com o modo como Obama está administrando a crise ucraniana; enquanto a popularidade de Putin não baixa dos 80% de aprovação.

Pode-se concluir que o povo russo e o povo dos EUA têm pontos de vista bem semelhantes. Azar, mesmo, da plutocracia parasitária que pôs no poder uma não entidade do quilate de Obama.

The Saker



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terça-feira, 29 de abril de 2014


 Via redecastorphoto

29/4/2014, Alexander DONETSKYStrategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

O povo de Odessa manifesta-se contra a junta de Kiev em 23/3/2014
O povo das regiões de Donetsk e Lugansk ocupou prédios do governo golpista de Kiev, armou-se e declarou sua independência da Ucrânia. Estão combatendo contra o regime de Kiev. A atenção do mundo está focada no que acontece ali. Mas há outros pontos em efervescência na Ucrânia.

Diferente do Donbass, a região de Odessa não tem fronteira com a Rússia e não há ali qualquer porto de ancoragem da Frota Russa no Mar Negro. Mas o povo de Odessa está nas ruas, com bandeiras russas; e manifestou o desejo de separar-se da Ucrânia.

Em tempos antigos, a região foi habitada por gregos, as áreas povoadas concentravam-se ao longo dos rios Dnieper, Buh Sul e Dniester, que correm diretamente para o Mar Negro. Houve outras colônias: as antigas cidades gregas de Tyras, Olbia e Nikonia comerciavam com os cíntios e os cimérios.

Governantes sucessivos, na Idade Média, incluíram Nogai Ulus do Khanato da Horda Dourada [e muitos outros.

Região que abrangia o Khanato da Horda Dourada
Durante o reinado do Khan Haci I Giray da Crimeia (1441-1466), o Khanato foi ameaçado pela Horda Dourada e o Império Otomano, e, à procura de aliados, o Khan aceitou ceder a área à Lituânia. Onde hoje está a cidade de Odessa era então uma cidade chamada Khadjibey (também chamada Kocibey, em inglês). Era parte da região de Dykra. Mas a maior parte da área, nesse período, permaneceu desabitada. Em 1765, os otomanos reconstruíram uma fortaleza em Khadjibey (Hocabey), que recebeu o nome de Yeni Dünya. Hocabey foi um centro sanjak [administrativo] da província de Silistre.

Durante a guerra Rússia-Império Otomano, uma pequena força russa, comandada pelo espanhol Grand Don José de Ribas y Boyonswas capturou a fortaleza e manteve-a, como local sinistro, por mais quatro anos. Então, Ribas recebeu ordens para construir uma cidade e um porto para acolher uma flotilha de galeras que ficariam sob seu comando. O comércio cresceu muito. François Sainte de Wollant, engenheiro de Brabante, foi responsável pela construção.

Armand-Emmanuel du Plessis
Duque de Richelieu
De Ribas foi o primeiro prefeito de Odessa. A cidade realmente prosperou sob o governo de Armand-Emmanuel du Plessis, Duque de Richelieu e herdeiro do legendário cardeal francês. Durante 12 anos de seu governo, a população quadruplicou, e a cidade tornou-se o coração da região de Novorossiysk [Nova Rússia]. Um teatro, uma tipografia e um instituto [de educação] foram construídos. Adiante, Richelieu voltou à França, onde foi Ministro de Relações Estrangeiras e Primeiro-Ministro (duas vezes).

Os primeiros colonos na cidade de Odessa foram gregos, italianos, albaneses e armênios. Ao final do século 19, havia 49% de russos na população, mas via-se gente de todas as nacionalidades e de todos os países do mundo. Em 1912, a população chegou a meio milhão, e a cidade tornou-se a quarta maior do Império Russo, depois de Moscou, São Petersburgo e Varsóvia.

A Revolução de 1917 a fez mudar de mãos. Os comerciantes cosmopolitas da cidade foram indiferentes à força de ocupação de Brancos, Vermelhos e britânico-francesa. E sempre trataram com desrespeito as autoridades ucranianas lideradas por Michael Grushevsky (Mykhailo Hrushevsky), Symon Petliura e Pavel (Pavlo) Skoropadskyi. Não acreditavam que aquela gente fosse capaz de criar estado viável. Eram tratados como ocupantes, pela população falante de russo, de Odessa.

No início da IIª Guerra Mundial, a cidade era habitada por russos (39,2 %), judeus (36,9 %), ucranianos (17,7 %) e poloneses (2,4 %). Parte da população deixou a cidade quando da ofensiva alemã e romena, 250 mil permaneceram, cercados pelo inimigo. Depois que o Exército Vermelho deixou a cidade, enfrentaram vida muito difícil sob ocupação. 80-90% desses que permaneceram eram judeus, e quase todos morreram nas mãos de soldados nazistas e romenos, e de nacionalistas ucranianos. Guetos e campos de concentração deram poucas chances de sobrevivência à vítimas do holocausto de judeus.

Vista interna da principal sinagoga de Odessa
(clique na imagem para aumentar)
Nos anos 1980s, os judeus tiveram chance de partir para Israel. Depois, a independência da Ucrânia levou a drástica redução nos padrões de vida. A população de judeus caiu drasticamente. Apesar disso, a comunidade de judeus continuou a ser a mais numerosa e a mais influente.

O golpe em Kiev de fevereiro de 2014 teve pouco apoio dos comerciantes. Os governantes em Kiev são, na maioria, partidários do nacionalismo integralista ucraniano que surgiu nos anos 1920-30s como um misto de fascismo italiano e nacional-socialismo alemão com características ucranianas. O governo “provisório” da Ucrânia traz à frente personalidades odiosas, que abertamente pregam ideologia nazista. Por exemplo, Andriy Parubiy, Chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, o qual, no início dos anos 1990s, tentou registrar um partido político nazista. Naquele momento, o Ministério da Justiça recusou-lhe o registro, porque o partido tinha, incluído no nome, a expressão “nacional-socialismo”.

Parubiy inverteu a ordem das palavras, e passou a presidir a organização Social-nacionalista; e o programa do grupo continuou carregado de xenofobia e racismo. Pouco adiante, o grupo converteu-se em Partido Svoboda. Hoje é liderado pelo muito bem conhecido antissemita e xenófobo Oleh Tyahnybok. O Svoboda meteu uns poucos membros no governo de Yatsenyuk.

O Setor Direita (Pravy Sektor) foi a principal força por trás do golpe. É um conglomerado de grupos de orientação nazista, com Trizub como chefe. Defende a pureza da raça branca e prega expurgos como os do tempo de Hitler. O Setor Direita inclui também os “Patriotas da Ucrânia” criado por Parubiy como organização da juventude social-nacionalista. Os “Patriotas” formaram a massa que gerou a Assembleia Social-nacionalista em 2008. A primeira coisa que a Assembleia fez foi anunciar guerra contra outras raças, planos para converter a Ucrânia em estado nuclear, e a dominação global como meta. Segundo o programa dessa Assembleia, minorias têm de ser ou assimiladas ou exiladas.

Odessa é a 3a. maior cidade da Ucrânia
(clique na imagem para aumentar)
Muitos dos que vivem em Odessa perderam familiares durante o holocausto de judeus; a perspectiva de virem a ser governados por gente do governo de Kiev é, para eles, inadmissível. Policiais ucranianos nunca trataram os judeus melhor do que os alemães os trataram; e pregam a ideologia nacionalista que praticamente se tornou ideologia de estado na Ucrânia contemporânea. O slogan de Maidan, “Longa vida à Ucrânia. Glória aos heróis!” e nada mais nada menos que a palavra-de-ordem da Organização dos Nacionalistas Ucranianos Banderistas, seguidores de Stepan Bandera, agente da Abwehr que jurou lealdade a Hitler. Bandera e Roman Shukhevych, capitão da Wehrmacht, vice-comandante da força punitiva, são os heróis deles. 

Em nenhum caso, em nenhuma hipótese, esse governo será aceitável para o povo de Odessa, que sempre lhe fará oposição. Tentar ver aí alguma “mão de Moscou” é perda de tempo. A razão para o que o povo de Odessa sente e faz está na própria história da cidade. 



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29/4/2014, [*] Pepe EscobarAsia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu 

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O governo de Barack Obama parece amar o som (vídeo em inglês acima) de sanções unilaterais pela manhã. Talvez lhe soem com som de vitória.  

Sanções reais, duras à vera, se algum dia vierem a ser aplicadas, serão mais devastadoras para os poodles da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não para Moscou. Enquanto isso, os adultos (da energia) continuam no business normal de sempre.

Não há como compreender a Guerra Fria 2.0, sem um flashback até novembro de 2010, quando Vladimir Putin falou diretamente à indústria/business da Alemanha, propondo uma comunidade econômica de livre mercado, de Lisboa a Vladisvotok.

O interesse alemão nesse relacionamento estratégico chave foi recíproco. Amplificado para outras nações, implica, no longo prazo, uma integração econômica/comercial plena entre União Europeia e Rússia, e, no quadro maior, um passo a mais na direção de Europa-Ásia. O que se traduz em anátema absoluto para a debilitada e viciada em Monopólio hiperpotência/hegemon.

Sergey Lavrov
Para toda a think-tankelândia dos EUA, que fala e teoriza a perder o fôlego sobre “contenção” de “estado bandido” – o que, só até aí já é de morrer de rir, como se a Rússia fosse a Somália – a abrangente “estratégia” do governo Obama seria algo sem paralelo no universo. Mas essa obra prima de diplomacia juvenil delinquente resume-se a ignore Putin.

Podem chamá-la de escola de diplomacia do “não gosto de você; não falo com você; estou de mal de você; tomara que você morra”. Comé que Talleyrand nunca pensou nisso?! Mas, com conselheiros tão espantosa, inacreditavelmente medíocres feito Ivo Daalder, ex-embaixador à OTAN, não surpreende que Obama não precise de inimigos.

All we need is Lavrov [1]

A histeria das sanções visa a obrigar o Presidente Putin a curvar-se aos desejos do hegemon, como parte da “estratégia”; criar um “consenso internacional” para “isolar” a Rússia; e fazer dela “estado pária”. “Estado pária” que não para de fazer meganegócios, (Rússia e Índia) como todos veem (Rússia e Irã).

Pois ainda assim o pensamento desejante-delirante predominante dá voltas em torno de algum “estrangulamento”, agora contra a Rússia – como foi insistentemente tentado contra o Irã (ao qual os iranianos resistiram bravamente). Dentro da bolha em que vivem, os “teóricos” desejantes-delirantes dos think-tanks já se autoconvenceram até de que Pequim “está conosco” [com eles], sem se darem conta de que Pequim vê claramente a histeria de sanções + “doutrina do ignore-Putin” como ramo do mesmo “pivoteêmo-nos para a Ásia” – que é, essencialmente, projeto para conter militarmente a China.

Barack Obama "pivoteando-se" nas Filipinas em 27/4/2013
No final, o Kremlin chegou à mesma conclusão: é inútil conversar com Washington. Afinal a lista de lavanderia do hegemon é sempre a mesma – o Kremlin não recebeu autorização de Washington para apoiar protestos no leste e no sul da Ucrânia; todo mundo tem obrigação de submeter-se aos neofazistas/aliados dos neofascistas mudadores de regime, de Kiev; e a Crimeia tem de ser “devolvida” – à OTAN – para que a OTAN consiga expulsar Moscou do Mar Negro.

O mais recente sonho molhado de Washington seria interromper os embarques de gás, pela Gazprom, da Rússia para a União Europeia – ato de sabotagem comercial, que Moscou interpreta como ato de guerra. Enquanto isso, o “Plano A” de Washington/OTAN ainda é induzir o Kremlin a uma “invasão”, de tal modo que Putin possa ser (como de fato já está sendo) pintado como “o novo Hitler” e como ameaça absoluta à União Europeia.

A isso se resume o coquetel-Martini “contensão/isolamento”, de arrogância, ignorância, impotência e temeridade. Finesse diplomática? Esqueçam Obama. Em termos de verdadeiro diplomata em ação, sintam-se à vontade para assumir que All we need is Lavrov.

De volta à Guerra dos Tronos/Game of Thrones [2]

Moscou tem várias vias para retaliar duramente, realmente, contra o hegemon: na Síria; no dossiê nuclear do Irã; na vergonhosa retirada da OTAN, do Afeganistão, pela Rede Norte de Distribuição que passa pela Rússia; no futuro do Afeganistão.

Vladimir Putin
Se a Casa Branca e o Departamento de Estado dos EUA quisessem realmente prestar atenção ao modo como Putin enquadra o relacionamento entre o Ocidente e a Rússia, o Kremlin já o repetiu várias vezes. A Rússia espera ser respeitada pelos “nossos parceiros ocidentais”, os quais, desde 1991 tratam a Rússia não como “participante independente e ativo nas questões internacionais”, “com interesses nacionais próprios a serem levados em conta e respeitados”, mas como se fosse nação atrasada ou perigosa, a ser descartada e “contida”.

Os registros históricos mostram claramente que Washington não respeita interesses nacionais de ninguém; a única coisa que conta é que os tais interesses de outros têm de estar subordinados aos interesses de Washington.

O Kremlin, em resumo, convidou Washington a jogar realpolitik. Não Monopólio. O governo Obama, no melhor dos casos – e já é muita generosidade – joga Bingo. Moscou joga xadrez. Movimento ensandecido para gerar caos nas fronteiras oeste da Rússia, e ares de quem “ignora” Putin, não mudarão em nada a defesa, pelo Kremlin, do que entende como interesses nacionais russos.

Putin joga xadrez com o "Ocidente"... Simultaneamente!
Digamos que o “projeto” era tomar a Ucrânia, expulsar Moscou da base em Sebastopol e, assim, do Mediterrâneo leste; e na sequência tomar a Síria, de modo que o Qatar – não Irã-Iraque-Síria – tivesse “seu” quinhão do Oleogasodutostão, via Jordânia e uma Síria governada pelos sunitas, em direção aos mercados da União Europeia. Esse “projeto” está fracassando miseravelmente.

Mas o jogo das sanções continua (como continuou contra Cuba, Iraque, Irã). A Casa Branca já está cozinhando mais do mesmo. Nenhum adulto na Europa acompanhará o “projeto”. Até os poodles farejam que o governo Obama não se qualifica, sequer, para jogar Jogos dos Tronos no PlayStation 3.



Notas dos tradutores

[1] Há ecos aí de All you need is love, dos Beatles, lançada em 1967. Perguntado, então, se seria canção de propaganda, Lennon respondeu: “Claro que sim. Sou artista revolucionário. Minha arte é dedicada a fazer mudar”. Ouve-se/Assiste-se a seguir
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 [2] Título de um seriado de televisão: Game of ThronesTrailer a seguir:
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing HouseRed Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia TodayThe Real News Network Televison Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.




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