A “Troika Midiática”: Imprensa financeira e
Guerra Política (parte 02)
O extremismo da “imprensa empresa”: As
distorções, fabricação de fatos e fraudes na imprensa financeira.
James
Petras
Tradução por mberublue
Por
causa de uma década de crescimento, a Troika
castiga a Argentina capitalista
Há
uma década a Argentina está no radar negativo da Troika apesar do fato de ter um governo de centro/esquerda, que
recuperou a Argentina capitalista de um colapso total (a Crise de 1998-2002)
recuperando o crescimento dos lucros. Multinacionais como a Monsanto e a
Chevron obtiveram grandes retornos em seus investimentos na Argentina.
A
Troika denuncia o governo argentino por
propor orçamentos deficitários, ignorando o impacto do julgamento de uma corte
de Manhattan beneficiando um grupo de especuladores de “fundos abutres” de Wall
Street que queria o “pagamento de juros” de 1.000% (um mil por cento) de
dívidas pré-crise.
A
Troika reclama que o governo argentino
embarca em excessos populistas, que impedem o fluxo de capital para os
especuladores.
A
Troika descreve o atual baixo
crescimento da economia como sendo uma “crise profunda”, a qual requereria “grandes
reformas estruturais” (principalmente a eliminação de qualquer tipo de ajuda
social estatal para os empregados de baixa renda, para aposentados e
pensionistas e para crianças em idade escolar).
A
Troika pinta a Argentina como à beira
de um desastre total. Uma economia em queda acelerada governada por uma líder
demagógica preocupada apenas em falsificar dados... para mascarar uma iminente
catástrofe...
A
Troika e a campanha: “Odeie a
Venezuela”
Os
jornalistas da Troika e seus escritores
de editoriais apresentam a Venezuela como um desastre total: uma economia
estagnada e em ruínas, destruída por um regime populista e autoritário que
reprimiria violentamente seus opositores pacíficos.
De
acordo com a Troika a Venezuela é
incapaz de prover seus consumidores mesmo com os bens mais básicos. Em vez
disso, recorreria a confiscos draconianos de empresários honestos, acusados
injustamente de cartelização e especulação. A realidade diária da escassez de
manufaturados é solenemente ignorada.
Quando
o governo venezuelano tentou impedir a violência em suas fronteiras, assolada
por constantes assaltos de paramilitares colombianos e traficantes, foi
denunciado como reprimindo
arbitrariamente imigrantes colombianos.
Quando
Caracas teve que prender líderes da oposição porque eles, documentadamente, se
envolveram em manifestações violentas, promovendo até a sabotagem de centrais
de energia e clínicas, planejando golpes, os governantes foram retratados como
violadores dos “direitos humanos de
dissidentes legítimos”.
A
Troika jamais menciona as dezenas de milhões
de dólares que os Estados Unidos providenciaram para ONGs de oposição, que nada mais faziam a não ser tentar
implementar uma campanha contra a Venezuela. Essas ONGs traidoras foram
chamadas de “organizações sociais civis
independentes” (exatamente como na Ucrânia antes do golpe).
Por
quase duas décadas a Troika
apresentou os grupos oposicionistas venezuelanos como críticos formidáveis de
Chavez/Maduro. Só nunca explicou porque esses “formidáveis grupos
oposicionistas” perderam 15 das 14 eleições que ocorreram durante o período.
Defendendo
o Terror Israelense: A Troika e a
Palestina.
Na
sua cobertura do Oriente Médio,a Troika insistentemente
descreve os palestinos como sendo terroristas violentos e agressores, enquanto
descreve os judeus como vítimas inocentes. De acordo com a Troika o exército israelense, quando se dedica a bombardear e
massacrar palestinos encurralados em Gaza estaria apenas agindo em justa
represália. A desapropriação das terras, casas e direitos dos palestinos, que
parece não ter fim, bem como a violenta ocupação colonizadora pelos judeus israelenses é apresentada como
se fosse apenas um assentamento de judeus que fogem da perseguição.
Não
existe menção, ou não se dá a devida importância a:
(1)
a contínua profanação de lugares sagrados para o cristianismo ou islamismo;
(2) O terrorismo sistemático e o aprisionamento
em massa de manifestantes pacíficos.
Os
palestinos continuam a ser descritos como sendo “incendiários, irracionais de extrema violência”
Os
“jornalistas” da Troika produzem “artigos”
que são virtualmente indistinguíveis da propaganda oficial distribuída pela
Configuração do Poder Sionista nos Estados Unidos. A Troika sempre adverte os regimes parceiros EUA/EU por qualquer
resquício de criticismo ou expressão de choque frente aos mais flagrantes
crimes cometidos por Israel.
A
Troika ecoa os ataques sionistas ou
israelenses contra os tribunais internacionais que acusam funcionários
israelenses por crimes contra a humanidade. A Troika afirma que essa atitude traz o “desequilíbrio”.
A
Troika e a Síria: generais de
poltrona.
A
Troika tem demonizado o governo sírio
de Bashar al-Assad enquanto apoia terroristas aos quais denomina “rebeldes” ou “moderados”.
Por muito tempo tem pedido por uma maior intervenção militar pelos exércitos da
OTAN para derrubar o governo em Damasco.
A
Troika, botando uma máscara de “imprensa
financeira independente” publica punhados de artigos, por dúzias de “generais
de poltrona”, que ficam bolando estratégias militares contra Damasco e ao mesmo
tempo ignorando os altos custos econômicos envolvidos, a catástrofe social de 4
milhões de refugiados sírios internos e externos e as consequências funestas de
dividir um país que já foi uma nação/estado secular e unificada.
A
Troika e os neoliberais voluntariosos
A
Troika sempre adverte os Estados
cujos governos, embora tenham adotado “políticas de mercado livre”, mantenham paliativos
sociais, mesmo que moderados. Por exemplo, o governo chileno de Michelle
Bachelet foi vítima de forte criticismo por promover um pequeno aumento nas
taxas contra as corporações e implementar uma legislação sindical que permite
maiores direitos aos trabalhadores. De acordo com a Troika essas reformas mínimas levam a uma estagnação econômica. Um declínio
no investimento e a grande polarização social.
Avaliação:
desmascarando as distorções, invenções e falsificações da Troika
O
“jornalismo e editorialização” da Troika
sobre a Rússia distorceu completamente sua história política e econômica recente.
Como todos os homens de confiança, sejam eles editores, articulistas e
jornalistas da Troika encaixaram
mentiras flagrantes com os fatos reais narrados, conseguiram maximizar defeitos
e minimizar conquistas, não levaram em consideração tendências positivas no
longo prazo e puseram em destaque fatos negativos episódicos.
Os
relatos da Troika sobre a recente assistência
militar e diplomática da Rússia para o governo da Síria, em seus esforços
contra terroristas islâmicos, ignoram as recentes conquistas que tiveram,
revertendo os avanços do Estados Islâmico e estabilizando o governo central do
país.
A
Troika pinta um abantesma de uma
suposta expansão geopolítica da Grande Rússia, mas faz questão de ignorar as
parcerias políticas de longa data entre a Rússia e os maiores países da região,
como Iraque, Irã, Síria, Líbano e Jordânia.
No
campo econômico, a Troika descreve
como “catastrófico” o impacto sobre a Rússia das sanções impostas pelos Estados
Unidos e União Europeia por causa da Ucrânia, enquanto deixa de lado os
resultados positivos que advirão no longo prazo para a economia russa – investimentos
na indústria de transformação e na agricultura, maior autossuficiência,
estímulo a produtores locais e a emergência no estrangeiro de
mercados/fornecedores alternativos, especialmente China e Irã.
A
Troika dá grande destaque aos dois
anos de recessão na Rússia, ignorando toda uma década anterior de crescimento substancial,
depois dos – estes sim catastróficos – “anos Yeltsin”.
A
Troika falsifica tanto o passado
quanto o presente desenvolvimentos políticos. Louvam discretamente os violentos
gangsters oligarcas que governaram o país apoiados por Washington durante a
pilhagem levada a efeito nos anos 1990s como tendo sido “uma democracia”
enquanto denunciam as relativamente pacíficas e competitivas eleições sob Putin
como sendo “autoritárias”.
A
Troika recorre a armadilhas de
propaganda similares contra a China. Qualquer pequena queda no crescimento de
dois dígitos por três décadas consecutivas da China ganha cores de um iminente
colapso, ignorando o fato de que a comunidade de negócios dos Estados
Unidos/Europa só pode mesmo é sonhar com um robusto crescimento de 7% que a
China exibe ano após ano.
As
alegações berradas pela Troika de que a China rouba ciência e tecnologia do
ocidente ignora o fato óbvio do imenso investimento chinês em tecnologia e
ciência básica e aplicada e a criação pelo governo chinês de dúzias de centros
de excelência que têm produzido impressionantes conquistas em níveis de
escolaridade. Uma passada de olhos nas publicações internacionais de literatura
científica e jornais especializados mostra um quadro inteiramente diferente
daquele pintado pela Troika em
relação aos avanços chineses nesses campos.
As
exportações chinesas por via marítima que não param de crescer, requerem um
grande investimento e comprometimento com segurança e com suas rotas marítimas.
Para conter o enorme crescimento chinês e assegurar a supremacia
(norte)americana, Washington assinou novos e provocativos pactos com o Japão,
Austrália e Filipinas e procedeu a uma escalada nas intrusões de aviões e
navios através de águas e espaço aéreo chinês. A Troika faz questão de rotular a defesa da China de suas águas
territoriais e espaço aéreo como sendo uma ameaça militar “agressiva” contra
seus vizinhos regionais, enquanto os investimentos dos Estados Unidos em novas bases
através da Ásia e coleta de dados de inteligência excede o que é feito por
Pequim na proporção de cinco vezes por uma. Os navios de guerra de Washington
violam descaradamente o limite de 12 milhas das águas territoriais nas
fronteiras chinesas.
Os
escribas da Troika solenemente
ignoram a recente história dos impérios dos Estados Unidos e do Japão, que
invadiram dúzias de países, matando dezenas de milhões de pessoas no processo.
Contrastando com o enorme círculo de bases militares e de centros de comunicação
dos Estados Unidos na região do Pacífico asiático, a China não tem bases ou
tropas no exterior – um fato que você jamais saberá apenas lendo os jornais que
fazem parte da Troika.
Impregnada
em suas páginas, a campanha da Troika contra
a Argentina não dá o devido papel de destaque da diminuição de curto prazo na
demanda internacional por commodities, preferindo atribuir os problemas da
Argentina aos seus programas de bem estar social, controles de capital e
regulação pelo Estado. A Troika não
quer nem saber da última década de crescimento, prosperidade e aumento dos
padrões de vida dos argentinos.
A
fonte da estagnação argentina não está em alguma eventual “falha nas políticas
de livre mercado” mas no regime de Fernandez, que procurou acomodar e promover
o interesse de banqueiros internacionais, praticamente todos eles detentores de
títulos da dívida externa da Argentina (exceto um dos mais notórios “abutres”)
e com as empresas capitalistas extrativistas (agronegócio, Monsanto, Barrak
Gold, etc.).
A
“década da infâmia” – anos 1990s - é totalmente ignorada pela Troika. Nestes anos fatídicos, a
Argentina serviu como um bazar de pechinchas para a privatização de empresas
públicas lucrativas, tendo finalmente desmoronado em 2001, com bancos fechando
em massa, 100.000 falências e cinco milhões de desempregados (30% da força de
trabalho) – tornou-se então uma economia totalmente saqueada. Em vez disso, a Troika quer fazer lembrar estes tempos
negros como um passado ideal de prosperidade e livre mercado, a fim de condenar
a Argentina contemporânea à miséria, desprezando o registro histórico real de
duas coisas: um desastre liberal e uma recuperação keynesiana.
Hoje,
a Venezuela enfrenta uma crise severa, como gostam imensamente de lembrar os
escribas da Troika em reportagens
estridentes – culpando pela crise um governo “populista” (ou seja, que gasta com programas sociais de bem estar
público), e políticas “nacionalistas”.
A
Troika faz questão de desconhecer a já
bem documentada sabotagem feita pelos distribuidores e importadores da
comunidade privada de negócios, retenção de divisas, excesso de exploração e
especulação monetária. Esses problemas foram exacerbados pelo forte declínio
dos preços do petróleo, resultado de forças do mercado internacional e não
meramente de má gestão governamental.
A
Troika gosta de afirmar repetidamente
aos seus leitores que os governos de Chavez e Maduro são autoritários, deixando
porém de informar que uma dezena e meia de eleições muito competitivas foram
realizadas desde que Chavez ascendeu ao poder. Além disso, a Troika mantém bem escondido debaixo do
tapete os seus violentos editoriais de apoio para a oposição liderada pelos
empresários e financistas, e o golpe militar apoiado pela embaixada dos Estados
Unidos em 2001, e ainda outro, que também não deu certo, em 2014.
Conclusão
A
Troika: o Wall Street Journal, New York Times e o Financial Times fazem de forma repetitiva falsos prognósticos relacionados
ao desempenho econômicos dos governos apontados pelo Império como “inimigos”,
sempre visando uma “mudança de regime”. Tais previsões econômicas erram, erram
e erram e caso seus leitores entre o público de investidores tivessem apostado
nestes prognósticos teriam perdido até a camisa, por apostar baseados nas
sugestões dos editoriais da Troika
contra a China e o resto...
Suas
denúncias mal intencionadas em relação às atividades meramente de defesa dos
exércitos russos e chineses estão elevando o nível de tensão no mundo a um
nível perigoso. Seu apoio a separatistas étnicos no Oeste chinês e no Cáucaso
russo incentivam atos de terrorismo que levaram à morte centenas de
trabalhadores chineses pela ação de terroristas uigures e tibetanos e ainda
centenas de russos nas mãos de terroristas chechenos, além de milhares de pessoas
de linguagem russa na região do Donbass na Ucrânia.
Que
fuja da Troika aquele que desejar
informação confiável, especialmente as relacionadas às decisões econômicas, e
políticas de governos estrangeiros considerados adversários dos Estados Unidos
e da União Europeia (aqueles que são alvo de tentativas de “mudança de regime”).
Os
leitores mais exigentes e inteligentes da Troika
terão, no máximo, uma visão bem abrangente sobre a linha propagandística
adotada pelas potências ocidentais.
Além
disso, na atualidade, a Troika se
tornou aos poucos ainda mais irracional e militarista que as próprias elites
dominantes. Os generais de poltrona da Troika
zombaram de Obama porque ele não quis enviar tropas para a Síria; os
acordos nucleares com o Irã foram alvos de críticas direcionadas aos Estados
Unidos e União Europeia; a Troika
encampou com entusiasmo o sistemático assassinato de palestinos por Israel.
Irracional,
desonesta e mais dada a agir de forma ruidosamente estabanada do que a relatar
os fatos de maneira equilibrada, Troika perdeu
credibilidade, pelo menos para leitores mais inteligentes e sérios, que tem que
se esforçar para “ler nas entrelinhas” quando a Trika escreve, por exemplo, que determinado governo é “impopular”
no correr das eleições. Mais provável é que não sejam, pois estes governos
acabam por vencer de forma categórica as eleições, mantendo maiorias absolutas,
como é o caso, pelo menso atpe agora, na Rússia, na Argentina, na Venezuela pelo
mundo afora.
Nos
casos em que a Troika tem sucesso em
promover mais e mais guerras, como fez e faz no Iraque, na Líbia, Síria, Iêmen
e Somália, todas estas e cada uma destas aventuras militares levaram e levarão
a desastres econômicos e sociais, espalhando pelo mundo milhões de refugiados.
Quando
governos soberanos, como o da Inglaterra, resolvem adotar políticas
conciliatórias em relação à China, deixando de lado confrontações de ganho zero
para uma política cooperativa de ganha-ganha, os generais de poltrona não
perdem tempo em zombar e acusar os governos conservadores que agem dessa forma
acusando-os de “submissão” a regimes autoritários – rejeitando
um acordo de 30 bilhões de dólares.
Já
vão longe os tempos em que a Troika
apenas seguia fielmente a linha determinada pelos regimes imperiais. Agora,
marcham com independência, rufando os tambores para guerreiros nucleares
imaginários e terroristas. Sejam benvindos à “imprensa livre” e desfrutem das “mentiras
de nossos tempos!”.*
*(A
última frase do artigo é um trocadilho do autor com o nome de dois dos jornais
da Troika, ao escrever ironicamente ‘lies
of our Times’. Dois dos jornais da Troika
tem [Times] no nome The New York
Times – Financial Times – NT).
James Petras - é um emérito professor de sociologia da Universidade Binghamton em
Binghamton, Nova Iorque e professor adjunto na Saint Mary’s University,
Halifax, Nova Escócia, Canadá. Pode ser encontrado em http://petras.lahaine.org/
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