quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ATAQUES EM PARIS - QUEM SE BENEFICIA?                  


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Pepe Escobar, Asia Times                  
Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu                                  


Até o muito sombrio dia em que os "soldados do Califato" atacaram a "capital da abominação e perversões" – como o ISIS/ISIL/Daich descreve seus ataques em Paris –, o presidente francês François Hollande e seu insuportável primeiro-ministro Laurent Fabius, o Farsante, só faziam repetir e repetir: Assad must go [parece que repetiam em inglês mesmo... (NTs)].


Para o Eliseu, Assad = Daich.


Medida para aferir a incongruência do governo Hollande é que nenhum de seus assessores, todos formados na famosíssima Ecole Nationale d'Administration, preveniu-o de que se ia tornando ainda mais irrelevante que o usual.


Rússia e Irã faziam o que diziam que fariam, os "4+1" (Rússia, Síria, Irã, Iraque plus Hezbollah) ativos em campo e nos céus sírios, e realmente dando cabo de todas as cores do jihadismo salafista, dos totalmente loucos aos totalmente loucos "moderados".


E até o governo Obama – depois de incontáveis reuniões entre o secretário Kerry e o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov – já estava corrigindo o curso. Essa tendência levou àqueles 35 minutos de conversa, grávidos de significações, entre Obama e Putin cara a cara, numa mesinha lateral, durante a reunião do G20 em Antalya, no domingo.


Mas... adivinhem quem permaneceu aliado a Hollande até o último, desgraçado momento: a matriz ideológica de todas as linhas do jihadismo salafista, a Arábia Saudita wahhabista e os vassalos do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). "Prêmio" para o governo francês? Sacos e sacos de sumarentos negócios de armas. Aqui se vê lista parcial, combinada com o mais pervertidohardcore fornecimento de armas para os "rebeldes moderados".


E é assim, então, que a França "socialista" – o palavrão mais imundo, pelos critérios da Av. Beltway – luta sua própria Guerra Global ao Terror: fazendo chover Rafales em Doha, mãe provedora dos "rebeldes moderados", e em Riad, mercadão de armas para satisfação dos jihadistas salafistas; Doha e Riad, os melhores clientes da França! Não surpreendentemente, obusiness aí está explodindo!


Foi preciso aquela carnificina sem precedentes em Paris, para que Hollande, Fabius e o primeiro-ministro Valls acordassem do torpor e vissem de que lado sopram os – realmente letais – ventos. Ah! Mas agora é "guerra". "Sem mercê". E contra ISIS/ISIL/Daich.


Já no sábado, em Viena, Lavrov e Kerry – secundados pelos vassalos de sempre, alguns dos quais relutantemente – haviam concordado em declarar "terroristas" a Frente al-Nusra, também conhecida como Al-Qaeda na Síria: "terroristas", não "rebeldes moderados".


E poucos recordarão Fabius, o Farsante, a elogiar al-Nusra, faz poucas semanas: "Ils font un bon boulot" [Fazem bom trabalho] na Síria. 


Hollande, imediatamente depois de estrear seu remix da 'guerra ao têrô' de Bush em 2001, bombardeou Raqqa, 'capital' do falso Califato. Fabius, em Antalya, defendeu a decisão como "política": a França tinha de ser "presente e ativa" depois do massacre em Paris.


"Ativa", ok, logo se entende que signifique, no máximo "qualquer coisa que não deixe perceber que temos algo a ver com isso". Mas "política"? Não, isso não. De modo algum. A guerra de Hollande é, isso sim, ilegal. 


ISIS/ISIL/Daich não é estado – eles mesmos se chamam de "Califato" (que também não são). Assumindo-se que a lei internacional ainda valha, a França não pode, legalmente, invocar direito de "autodefesa". É ilegal. Para nem falar que Paris não foi convidada por Damasco para atacar (seja quem for) em território sírio (a Força Aérea Russa, sim, foi).


Finalmente sacudido de seu esplêndido estupor, o governo francês teve de atacar Raqqa porque, afinal, ora... o mundo está de olho. Raids coordenados irromperam de todos os cantos da França, de Toulouse e Grenoble a Calais. O único porta-aviões movido a energia nuclear da França – e cão alfa (naval) da Europa – o Charles de Gaulle, deixa Toulon na 5ª-feira rumo ao Golfo Persa. Hollande encheu a boca, orgulhoso da missão: para "reforçar o poder de fogo de Paris". 


Do torpor à ação heroica. OK, mas... por que só agora? 


É o petróleo, estúpido 


A Jihad em Paris abalou um espectro conceitual – cuidadosamente mapeado por gente que conhece Paris como a palma da própria mão (exclusivo para vocês: o alvo foi o bairro onde moro em Paris, o 10º arrondissement). Meu instinto inicial, como escrevi em minha página de Facebookfoi "retornados do Siriaque". E nada dos bombardeadores de dinamite na cueca de al-Zawahiri. Dessa vez foram brancos, super hiper profissionais, cobertos de preto da cabeça aos pés, AK-47 azeitadíssimas, super bem treinados, assassinos de precisão, como os descreveram testemunhas oculares.


A inteligência francesa, depois do fato (horrendo), jurou que estavam monitorando pelo menos 200 portadores de passaporte francês que retornaram do "Siriaque". Mesmo assim, desde as primeiras provas (ou falta delas), tudo parecia apontar para falha monumental da inteligência francesa e o Ministério do Interior.


Claro que há tantas e tantas razões para um revide: ressentimento, para multidões de jovens muçulmanos que se sentem tratados como cidadãos de terceira classe; o apoio francês a "rebeldes moderados"; as guerras do rei Sarkô 1º e do general Hollande contra a Líbia e o Mali; a França como agente da OTAN; os sórdidos ataques a bomba na Síria; e, claro, os 3 mil franceses "renascidos" como ultra radicalizados muçulmanos, que combatem na Síria a serviço do falso 'califato'.


Pelo menos de agosto para cá, a inteligência francesa não soube que o 'estado islâmico' estivesse planejando grande ataque. Recentemente, sim houve avisos, da inteligência iraquiana e até rumores de um iminente "11/9 francês". Vez ou outra a França atirava contra terroristas; quase sempre atirava contra o único campo de treinamento conhecido, mas mais frequentemente acertava a infraestrutura síria do petróleo, atirando a esmo.


Esse ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' é virtualmente uma major do petróleo! A província Deir Ezzor produz mais de 40 mil barris/dia de petróleo, e outros poços produzem outros 17 mil barris/dia extras. O ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' vende esse petróleo para "traders independentes, também conhecidos como contrabandistas, por no máximo $45 o barril. Bombear petróleo é fonte chave do orçamento do ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato', mas mesmo assim, tecnicamente, o falso 'califato' lucra pelo uso de uma infraestrutura estatal (que está envelhecendo) que pertence à nação síria. 


Para realmente ferir o 'califato' onde realmente dói, a França – bem como os EUA e a Grã-Bretanha – precisariam do que não têm: inteligência confiável em solo. Ataques aéreos sem inteligência em solo são quase nada.


O que nos leva de volta a Raqqa. A (falsa) 'capital' do falso 'califato' é nodo chave de toda essa operação de contrabando. E é nodo potencial também de um futuro grande gambito no Oleogasodutostão – trate-se do gasoduto Irã-Iraque-Síria, ou seu concorrente que vem do Qatar.


Que ninguém se engane: EUA e França estão muito empenhadamente focados em Raqqa. Essa "guerra" poderia ter fim em bem poucos dias, se todos esses contrabandistas – que são quem, de fato, está financiando o ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' – fossem identificados e presos (mais uma vez, é preciso inteligência em solo). O fluxo de dinheiro do Daich seria facilmente interceptado.


Mas adivinhem quem está impedindo que assim aconteça? A inteligência turca, porque, para Ancara, a obsessão primeira é "Assad tem de sair", não o ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato'. Não há absolutamente meio para derrotar, dos céus, o falso 'califato' – enquanto os suspeitos de sempre, especialmente os interesses do petrodólar do Golfo e do otomanismo de Erdogan continuarem a "apoiar" o 'califato' em solo, diretamente, via incontáveis subterfúgios ou, simplesmente, fingindo que não veem as operações dele.


A boa notícia, no pé em que as coisas estão, é que o Exército Árabe Sírio, com cobertura dos ataques aéreos russos, já retomou a base aérea de Kuweyris, não distante de Aleppo, enquanto a peshmerga curda, com cobertura de ataques aéreos dos norte-americanos, libertou Sinjar no Iraque, a oeste de Mosul. Com isso, o ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' enfrentará muitos problemas para ir e vir entre Mosul e Raqqa. Pode estar aí um rumo que pode levar oISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' a começar a perder seus campos de petróleo no nordeste da Síria.


Por enquanto, o que é certo é que quando o ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' entrou em frenesi de movimentação, nenhum serviço de inteligência percebeu coisa alguma.


Atacaram a Rússia, servindo-se de um nodo ativo no Sinai e derrubaram o Metrojet.


Atacaram no Líbano, xiitas como grupo, o Hezbollah – e indiretamente o Irã – com as bombas no bairro xiita de Burj el-Barajneh em Beirute. Simbolicamente, foi ataque contra o "4+1" (Rússia, Síria, Irã, Iraque, plus Hezbollah).


E atacaram a OTAN no coração de Paris (o "ato de guerra" de Hollande implica, crucialmente, ataque contra todos os membros da OTAN. Por incrível que pareça, com a Turquia facilitadora de "rebeldes moderados" também incluída).


O benefício de abrir guerra em três fronts – e atacando a Rússia e a OTAN praticamente ao mesmo tempo – é muito, muito duvidoso. 


Dado que ISIL/ISIS/Daich/Estado Islâmico/falso 'Califato' está nadando em dinheiro, os lucros só aumentam, da extorsão, da pilhagem praticamente ilimitada e do contrabando de petróleo idem; e há ainda os generosos 'doadores' de dinheiro com base do Golfo, a ideia de abrir guerra em três fronts parece ser, isso sim, muito sem noção, além da conta.

A conexão belga 


De volta a Paris, minha hipótese de trabalho inicial foi imediatamente confirmada: a inteligência francesa concentrou-se imediatamente numa pequena célula de retornados da Síria, como principais suspeitos dos crimes, antes de a investigação expandir-se – por acaso – na direção da conexão belga e de "três equipes coordenadas de atiradores" – nas palavras do Procurador de Justiça em Paris.


Aconteceu graças à cortesia de um tíquete de estacionamento encontrado num VW Polo; levou a inteligência francesa a Molenbeek, também conhecida como "Pequena Marrocos" a noroeste do centro de Bruxelas, conhecido bairro de retornados da Síria, que estala de tantas sombrias células clandestinas de salafistas e jihadistas salafistas. Até agora, pelo menos sete pessoas já foram presas em Molenbeek no âmbito da investigação europeia – porque o Polo foi alugado em Molenbeek. 


Nos anos imediatamente depois do 11/9, eu costumava brincar com amigos e fontes que, quando voltava do Golfo e andava pelas ruas de Molenbeek, eu me sentia "em casa".


A inteligência belga sabe tudo o que há para saber sobre essas coisas, até esse ponto. O problema é, essencialmente, que nada podem fazer. A Bélgica reúne a mais alta proporção per capita de jihadistas retornados do "Siriaque". Segundo estatísticas oficiais, 494 jihadistas foram identificados; 272 ainda estão no "Siriaque"; 75 são dados por mortos (sem confirmação); 134 retornaram à Bélgica; e 13 estão em algum ponto, a caminho do Levante.


Quem, então, tudo considerado, acreditaria que a paquidérmica investigação dos franceses chegou à Bélgica por acaso? Muito mais crível é que tenha havido gigantesca falha na segurança/inteligência intraeuropeia. 


No máximo tiveram um palpite que os levou a jihadistas europeus (os chamados 'retornados'), que os levaram a alguma coisa, inclusive munições assustadoras e especialistas capazes de fornecer coletes de explosivos made in Europe para suicidas e soldados de infantaria dos que sabem contrabandear Kalashnikovs que qualquer um compra nos Bálcãs por 300 euros – como a Europol sabe muito bem.


E aí está o "exército" europeu do Califa Ibrahim. Jovens. Nascidos e criados na União Europeia. Quase sempre com dupla nacionalidade. Estatisticamente "invisíveis". Totalmente integrados localmente. O que mais me chamou a atenção, no primeiro momento, foi o quanto os alvos haviam sido cuidadosamente selecionados, no 10ème e no 11ème.


São leais a uma nação virtual desterritorializada (se pelo menos Deleuze e Guattari estivessem vivos para pensar isso tudo!); e então, numa versão século 21 remix do Discurso da Servidão Voluntária, de 1576, de Etienne de la Boétie, eles "renascem" muçulmanos, nascidos e criados no ocidente desenvolvido e enlouquecidos pelo jihadismo wahhabista salafista, e escolhem tornar-se escravos de uma entidade nebulosa de "comando e controle" que é a corporificação da barbárie.


Aprendem a usar armas, tecnologias, camuflagens e técnicas de comunicação, só para se converterem em "soldados" escravos – voluntariamente entregues à servidão. O mecanismo infernal é simples: tão logo você se gradua como sírio "retornado", tão logo recebe seu diploma, você se torna livre para atacar a república – secular – que emitiu seu passaporte.


Quanto à ideia de que esse pequeno exército invisível seja apoiados por milhões de pessoas, é loucura. A maioria dos quase 5 milhões de muçulmanos que vivem na França são de fato seculares, separados por galáxias de distância do jihadismo salafista.


Conheçam a rede social jihadista 


Desperdicem um pensamento para a Brigada de Investigação e Intervenção (BII) francesa, tentando feito louca construir o perfil desse exército invisível que abraçou uma ideologia distorcida de Nascido para Matar. Mas a BII só intervém no último minuto, tipo quando invadiram o salão Bataclan e mataram a equipe de três matadores.


Quem está em campo são os (fr.) DGSI – serviços internos franceses, e deles ficamos sabendo que pelo menos um dos matadores franceses identificados estava sob vigilância desde 2010 e tinha folha corrida 'radical'. A França carece seriamente de racionalização nos serviços – que controle a competição entre DGSI, a seção antiterrorismo da chefatura de Polícia e o chamadoSdat (sub-comando antiterrorismo).


Assim sendo, pode ter acontecido grande falha de inteligência, com a administração impotente para agir guiada por inteligência. Os 'Daich' despistaram de facto os aparatos de inteligência tidos como os melhores do mundo. Será mesmo?


A estrela do show parece ser esse homem sorridente, Abdelhamid Abaaoud, também conhecido como Abu Omar Al-Baljiki, que a inteligência francesa hoje sugere que tenha sido o possível cérebro por trás do massacre de Paris.


Nada menos que um superastro do jihadismo: deita e rola nas mídias sociais, dá entrevistas a veículos jihadistas, organiza ataques (o anterior, em janeiro passado, falhou), humilha a segurança belga com seu vai-e-vem entre Europa e Síria, e sempre dá jeito de escapar em fuga ousada mirabolante. Muito melhor que Ben Whishaw, para o papel de "Q".


Surgem outras discrepâncias, quando se comparam as três equipes da carnificina em Paris.


A equipe do Stade de France mostra três absolutos patetas, tentando entrar em jogo de futebol de alta visibilidade e fortemente policiado, vestindo coletes explosivos de suicida. "Mártires" descartáveis – "passaporte sírio" e tudo.


A equipe do Bataclan eram atiradores calmos, relativamente eficientes, mas também mártires. Sabiam que fazer reféns, na França, sempre terminaria com o "martírio" deles. Menos descartáveis, mas ainda descartáveis.


O xis da questão é a equipe dos que chegaram de carro. Os "equipes". Desses, não há até agora qualquer pista. Os matadores do "La Belle Équipe" chegaram num Mercedes preto, segundo testemunhas. Não há nem menção a esse Mercedes em lugar algum. Matadores ultra profissionais, atléticos, metódicos – e brancos.


Esses são não descartáveis. Com todo o circo 'midiático' cobrindo de Grenoble e Toulouse até Bruxelas, e até mesmo Raqqa, esses matadores simplesmente evanesceram sem deixar traço. Ninguém sabe quem são. Ninguém sabe quem os contratou. Com certeza não foram contratados pela jihad de rede social de al-Baljiki.


Agora deem uma olhada nessa reunião em Washington, ocorrida há pouco mais de duas semanas antes da tragédia em Paris. Aí se vê John Brennan da CIA; o diretor da segurança externa francesa DGSE Bernard Bajolet; o ex-chefe do MI6 John Sawers (podem chamá-lo de ex-"M"), e o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Israel Yaacov Amidror.


Bajolet nos conta que pelos menos 500 jihadistas franceses vindos do "Siriaque" são ameaça; comparem isso com os 4 mil que há na Rússia (o que explica a determinação de Putin de acabar com todos os tons de jihadismo). Bajolet insiste que a cooperação entre todos os serviços tem de ser perfeita, para "evitar cantos cegos"; "cantos cegos" abundam na tragédia de Paris. E a cooperação tem de ser pan-ocidental. O que inclui a Agência de Segurança Nacional dos EUA capturando toda "as conversa" em todo o planeta.


Brennan, como qualquer um pode prever, fala o idioma CIAnês – "avançar segurança operacional", etc. – mas afinal admite que é problema logístico gigantesco "processar, armazenar e disseminar" tanta informação.


Bajolet, significativamente, 'contém' o fracasso da inteligência em Paris, dizendo que os franceses "desarticularam grande número de ataques" em setembro, em cooperação com CIA e NSA. Assim sendo, como é possível que a NSA não tenha capturado nenhuma "conversa" antes de Paris 13/11? Bajolet mais uma vez ativo na contenção: esses ataques são "difíceis de detectar" quando vêm "de nosso próprio território". Na verdade, a investigação está andando na direção de Paris 13/11 ter sido concebido, em grande parte, em Bruxelas.


A estratégia do medo 


Assim sendo, o que o Daich deseja


Pode-se discutir se haveria algum sentido em o Daich provocar algum revide contra a onda de refugiados, e ver se fecharem hermeticamente todas as entradas da Fortaleza Europa. Esse parece ser o mapa do caminho adiante. As fronteiras da França estão fechadas, até novo aviso. Aárea Schengen [os 26 países entre os quais se dispensam passaportes na União Europeia] já está se dissolvendo. O violento front de extrema direita anti-imigração por toda a Europa está festejando. Mas ao mesmo tempo é o establishment da União Europeia que impede que se constitua a plataforma anti-imigração. Uma narrativa de "a culpa é dos refugiados" está insidiosamente sendo construída – objetivada no passaporte sírio (falso) encontrado no Stade de France.


Daich é sinônimo da estratégia de medo e caos. Querem as capitais ocidentais chaves – Paris, Londres, New York – mergulhadas no medo mais terrível. E querem atrair coturnos ocidentais para o solo sírio. Para eles, seria presente dos céus: os "cruzados" novamente invadem nossas terras. O setor de recrutamento de Jihad Inc. terá recrutados saindo pela tampa.


O único modo factível de arrasar o Daich, passo a passo, mas com certeza, é mediante colaboração íntima entre os "4+1" – exércitos de Síria e Irã e combatentes do Hezbollah, com cobertura pela Força Aérea da Rússia –, os curdos (PKK, YPG, até Peshmerga) e, se estiverem realmente falando sério dessa vez, os membros responsáveis da Coalizão dos Oportunistas Finórios (COF) liderada pelos EUA.


"Coalizão internacional ampla" para combater o Daich, tudo bem. Mas com Turquia, Arábia Saudita e Qatar à mesa de conversações no enigma de Viena, já é um tanto demais, sobretudo se se acrescenta a dedicada subserviência de Paris aos financiadores, patrocinadores, armadores de salafistas jihadistas em Riad e Doha.


Os bandidos do falso 'califato' avisaram que até aqui foi só "o começo de uma tempestade". Para ter as rédeas dessa tempestade contra esse exército muito pequeno, extremamente móvel e "invisível", é preciso inventar outro conceito de Europa federal, com defesa comum e política externa radicalmente diferentes. Tão cedo não acontecerá.


Resta pois a luta obrigatória contra o 'califa' e já. Só ataques aéreos não bastarão. É indispensável uma aliança política realmente ampla (foi a ideia que Putin tentou meter na cabeça de Obama em Antalya). Como trazer o sultão Erdogan e o rei Salman para o mesmo barco – eis o busílis.


Assim sendo, vejamos quanto tempo demora para a OTAN pôr os seus coturnos em solo. ISSO, precisamente, é o que os terroristas do Daich mais desejam.



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Pepe Escobar - é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Rede Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.



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