Surge o Primeiro
Caso Oficial de Câncer em Fukushima
tradução mberublue
O governo japonês admitiu pela primeira vez que um trabalhador da planta
nuclear de Fukushima desenvolveu câncer depois de ter trabalhado na
descontaminação que se seguiu ao desastre nuclear de 2011.
O homem trabalhou na planta danificada por mais de um ano, durante o
qual este exposto a 19.8 milisieverts (Sievert
– medida do impacto da radiação ionizada no ser humano – NT) de radiação, quatro vezes mais que o limite admitido pela
legislação japonesa. Atualmente, ele tem leucemia.
o acidente em Fukushima |
Masao Yoshida, antigo administrador da planta de Fukushima, por sua vez também
desenvolveu um câncer de esôfago que o levou à morte em 2013 – mas a empresa
Tepco, proprietária e operadora da planta nuclear tenta evitar ser
responsabilizada, alegando que o câncer desenvolveu-se muito rapidamente.
Outros três trabalhadores de Fukushima também contraíram câncer, mas
seus casos ainda têm que ser avaliados.
Foi depois do tsunami de 11 de março de 2011 que aconteceu o desastre
nuclear em Fukushima. Três dos quatro reatores nucleares fundiram, nuvens de
radiação mortal foram liberadas em seguida a uma explosão de hidrogênio, e o
combustível nuclear aparentemente se fundiu nos vasos reatores nucleares e
derramou-se nas ou através das fundações de concreto.
A ponta de um iceberg
Ocorre que a revelação de um único
caso “oficial” de câncer é apenas o começo. Novas pesquisas científicas indicam
que mais centenas de casos devem acontecer entre a população local.
Um excesso de casos de câncer da tireoide, trinta vezes maior que o
normal, foi detectado entre mais de 400.000 de jovens com menos de 18 anos na
área de Fukushima.
De acordo com os cientistas, “Usando-se um período de latência de 4
anos, existe uma elevação da taxa de casos que foi observada no centro
distrital da cidade, em comparação com a taxa anual de incidência no Japão como
um todo”.
Em uma primeira triagem para o Câncer de Tireoide entre 298.577 pessoas
quatro anos depois do desastre, o câncer de tireoide ocorreu numa proporção 50
vezes maior entre aquelas que residem nas áreas com irradiação mais alta, que
entre a população em geral, com uma taxa de 605 casos a cada milhão de pessoas
examinadas.
Quando da realização de uma segunda triagem que abrangeu 106.068 jovens
efetuada em abril de 2014, em parte com menor irradiação da comarca, o câncer
foi 12 vezes mais comum que para o total da população.
O câncer da tireoide comumente se desenvolve como resultado de exposição
aguda à radioatividade do iodo131, um produto da fissão nuclear.
Como o iodo se concentra na tireoide, as doenças da tireoide, incluindo-se o
câncer, são uma marca característica da exposição à precipitação nuclear.
A exposição ao iodo131 apresenta alto risco na sequência
imediata de um acidente nuclear, devido à sua curta vida média de apenas oito
dias, o que faz com sua radioatividade seja intensa. Estima-se que o iodo131
compõe cerca de 9,1% do material radioativo liberado em Fukushima.
Acontecerão ainda muito mais casos!
Os autores do documento observam que a incidência de Câncer de tireoide
é alto mesmo em comparação com o desastre nuclear de Chernobyl, acontecido em
1986 ao qual se seguiu a mesma exposição – e alertam que provavelmente ainda
surgirão muito mais casos:
“Concluindo, entre jovens com 18
anos de idade ou menos em 2011 na cidade de Fukushima, existe um excesso de 30
vezes em comparação com dados externos, variando na comparação com dados
internos na incidência de câncer da tireoide que foi observada em Fukushima
apenas quatro anos depois do acidente com a planta de energia nuclear. É
improvável que a extensão do problema possa ser delimitada apenas com as
triagens efetuadas.”
“Os excessos de casos de câncer
na tireoide em Chernobyl, cresceram depois de 4 ou 5 anos em Belarus e na
Ucrânia. Dessa forma, dado o que ali se observou devemos nos preparar para
um potencial de muito mais casos dentro
de poucos anos”.
Estudos científicos das vítimas de Chernobyl também dão conta que o
risco de desenvolver câncer de tireoide continua por um longo tempo – em outras
palavras, não há diminuição significante do risco de desenvolver o câncer
apenas pela passagem do tempo, entre as pessoas expostas ao iodo131.
De acordo com o Instituto Nacional do
Câncer dos Estados Unidos, resumindo os resultados em 2011,
“Os pesquisadores não encontraram
qualquer evidência, pelo menos durante o período do estudo realizado, que
indicasse uma diminuição, ao longo do tempo, da incidência de câncer para
aqueles que viviam na área, quando do acidente”.
“Entretanto, outra análise prévia
com sobreviventes que receberam radioatividade e foram medicados após uma explosão
atômica, constatou que o risco de contrair câncer declinou após 30 anos da
exposição, mas ainda era elevado após 40 anos decorridos. Os pesquisadores creem
que será necessária a continuação do acompanhamento dos participantes do estudo
que realizaram para determinar um eventual declínio do risco, que provavelmente
ocorrerá”.
A Organização Mundial de Saúde
subestimou a liberação de radiação em Fukushima?
Os autores do estudo realizado em Fukushima sugerem que talvez o total
de radiação liberada em Fukushima pode ser, de fato, maior do que o que foi
estimado pela Organização Mundial de Saúde e outros órgãos oficiais.
“Acrescente-se que poderíamos inferir
a possibilidade de que a exposição dos residentes na área ocorreu em doses mais
altas que o relato oficial ou que a dose estimada pela Organização Mundial de
Saúde, porque o número de câncer da tireoide cresceu mais rápido do que o que
deveria acontecer, baseado nos dados de análise oferecidos pela organização”.
Outra consideração – à qual os autores não se referiram – é o efeito de
outras espécies de radioatividade que também foram emitidas no acidente,
incluindo radiação de 17.5% por Césio137 e 38.5% de Césio134 tais
betaemissores (30 anos e 02 anos, respectivamente) apresentam um risco ainda
maior no longo prazo, já que o elemento relaciona-se ao potássio o pode
rapidamente ser absorvido pela biomassa e grãos usados na alimentação.
Há ainda outras fontes de radiação extremamente perigosas e de longa
vida, como o plutônio239 (meia vida de 24.100 anos) e que é muito difícil
de ser detectado. Mesmo a inalação em uma nanoescala entra nos pulmões e pode
vir a ser a causa de câncer do sistema linfático décadas após o evento, porque continua
ininterruptamente a “queimar” tecidos e células ao redor.
O documento:
“A detecção de câncer da tireoide por ultrassom entre residentes com 18 anos
e menos em Fukushima, Japão: 2011 a 2014” publicado em Epidemiology.
OLIVER TICKELL edita O Ecologista, onde este artigo foi publicado
originalmente.
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