quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Rússia: Vitória em Aleppo é crucial 
         
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Pepe Escobar, RT      
Tradução pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu                  


Mais uma vez, o que quer que o futuro reserve para a Síria nos dois fronts, político e militar, depende da nova Batalha de Aleppo. Com o influxo de refugiados internos, é possível que cerca de três milhões de pessoas estejam vivendo na cidade e arredores. 

Trata-se, sempre, de Aleppo. Eis o que, na essência, está acontecendo no solo. 


Damasco, com o Exército Árabe Sírio [ing. Syrian Arab Army (SAA)] controla a parte ocidental de Aleppo.

Algumas áreas no norte são controladas por curdos do Partido da União Democrática, (cur. Partiya Yekîtiya Demokrat , PYD) – muito mais engajados em combater contra ISIS/ISIL/Daesh do que contra Damasco. O PYD também é considerado aliado objetivo pelo governo de Obama e o Pentágono, para grande desgosto do 'sultão' Erdogan da Turquia.

Allepo
A chave portanto é o leste de Aleppo. Está sob controle do chamado "Exército da Conquista", que reúne militantes da Frente al-Nusra, codinome "Al-Qaeda na Síria, e o grupo salafista Ahrar al-Sham. Outras partes no leste estão sob controle de "restos" (© Donald Rumsfeld) do Exército Sírio Livre [ing. Free Syrian Army (FSA), que se recusaram a colaborar com o Exército da Conquista.

Lá pelos prédios da Av. Beltway onde vivem os operadores do governo norte-americano, todos os supracitados são considerados "rebeldes moderados".

O desenvolvimento recente mais importante no campo de batalha em Aleppo é que o Exército Árabe Sírio – com a ajuda crucialmente importante dos russos – matou Abu Suleiman al-Masri, também conhecido como Mahmud Maghwari, líder da Frente al-Nusra, egípcio, nome que permanecia há eras na lista de matar do Cairo.

Adicionalmente, várias centenas de combatentes xiitas iraquianos, sob a supervisão do comandante superstar das Forças Quds Iranianas, 
Qasem Soleimani, foram transferidos de Latakia para Aleppo. E uma brigada blindada do Hezbollah, de cerca de três mil combatentes, também está para chegar.

O que está tomando forma é uma espécie de ofensiva pelo sul. Todas essas forças estarão convergindo não só para Aleppo, mas, num segundo estágio, terão também de limpar o terreno todo, até a fronteira turco-síria, que hoje é zona aérea de exclusão de facto, controlada pelos russos.

O alvo supremo é cortar as linhas de suprimento para todos e quaisquer atores salafistas ou jihadistas-salafistas – dos "rebeldes moderados" ao ISIS/ISIL/Daesh. Aí está a razão de Moscou tanto insistir em que a luta se trave contra todas as griffes do terror, sem distinção. Não interessa que ISIS/ISIL/Daesh não seja o principal ator presente dentro e nos arredores de Aleppo.

Para todos os objetivos práticos, toda a campanha síria está agora sob gestão operacional, tática e estratégica dos russos – claro que com o input estratégico chave, do Irã.

A coalizão Rússia-Síria-Irã-Iraque-Hezbollah na Síria – também conectada ao centro de inteligência "4+1" em Bagdá – tem grande chance de vencer a próxima Batalha de Aleppo, se preencher três condições:

1) Coordenação entre a cobertura aérea russa e a inteligência em solo para todas as operações (condição que se pode dar por preenchida); 2) Apoio popular (também se pode considerar condição atendida; a população sunita urbana em Aleppo, principalmente empresários, apoia Damasco); 3) Tropas em solo, com experiência de combate e em número não inferior a 15 mil (condição em vias de ser atendida, considerando a contribuição do Iraque e do Hezbollah).


No escuro 


Como se pode prever, há outra coalizão que não está exatamente felicíssima com a configuração que os combates estão assumindo.

No momento, a principal usina geradora de energia de Aleppo, a 25km a leste da cidade, está sob controle deISIS/ISIL/Daesh. Por alucinado que pareça – mas toda a tragédia síria é alucinada –, há acordo informal entre Damasco e o falso 'califato': os doidos ficam com 60% da eletricidade produzida, o governo fica com 40%. Afinal de contas, até os degoladores – sejam suaves-moderados ou degoladores do tipo convencional –, também precisam de energia.

Assim sendo, o que fez a Coalizão dos Oportunistas Finórios (COF) – que 
inclui Turquia, Arábia Saudita e Qatar, além dos EUA – para ajudar na luta contra ISIS/ISIL/Daesh? Ora, há mais ou menos uma semana, bombardearam a usina de Aleppo. É bombardear infraestrutura civil síria – crime clássico, à maneira dos crimes de choque & pavor de 2003, cujas vítimas são, principalmente o "povo sírio" que o 'Excepcionalistão' tanto ama.

O que acontecer no campo de batalha em Aleppo e nos arredores nas próximas poucas semanas será essencial para definir o front diplomático. Como se sabe, Bashar al-Assad captou a mensagem de Moscou. Está pronto a discutir emendas à Constituição e preparado para realizar eleições parlamentares e presidenciais. Mas antes disso os "4+1" precisam de algum grande fato no campo de batalha.

Até o secretário de Estado dos EUA John Kerry mudou a cantilena, depois de falar com o ministro russo de Relações Exteriores Sergey Lavrov: qualquer solução política implica envolvimento direto de Damasco e também da "oposição patriótica".

Mas os "patriotas" do Exército Sírio Livre ainda não entenderam. Lavrov explicitamente comprometeu Moscou com ajudá-los – mesmo depois de terem recebido armas via Turquia e Jordânia para usá-las contra Damasco – desde que combatam contra ISIS/ISIL/Daesh. Como seria de prever, os tais "patriotas/rebeldes moderados" desconsideraram o oferecimento de Lavrov.

Outro absurdo nada diplomático é a ausência do Irã na mesa de negociações – por causa da paranoia aguda da Casa de Saud. Generais e conselheiros iranianos são componentes chaves das operações em solo, na análise da inteligência colhida em solo e em toda a concepção estratégica do quadro geral na Síria.

Em vez disso, Washington e Riad insistem em aumentar o apoio àqueles "rebeldes moderados" –, depois que Kerry reuniu-se com o rei Salman em Riad. O Departamento de Estado, pela primeira vez dedicado a fazer suspense, não especificou o que significa "apoio". Nem é preciso dizer que significa mais treino dado pela CIA e mais mísseis TOW antitanques que de modo algum devem ser mirados diretamente contra ISIS/ISIL/Daesh.

O balé diplomático vai continuar, mais para o fim da semana. Bem na hora, com a crucial Batalha de Aleppo pegando fogo.


Pepe Escobar.


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