Dissuasão hipersônica: Como manter o
equilíbrio estratégico.
Vladimir Kozin
Tradução mberublue
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Não é provável que as armas
nucleares, criadas nos Estados Unidos em meados do século 20 – e usadas
apenas uma vez, contra cidades japonesas – sejam algum dia realmente
utilizadas em um conflito global. Podemos presumir que os líderes de países
ocidentais que possuem bombas nucleares e contam oficialmente como potências
nucleares (Estados Unidos, Reino Unido e França), assim como outros Estados
que atualmente possuem tais armas (Índia, Israel, Coréia do Norte e
Paquistão) continuarão a agir de acordo com o truísmo incontestável que forma
a base conceitual de suas estratégias militares: “uma guerra nuclear não tem
vencedores e jamais deve ser iniciada”. Os atuais líderes políticos e
militares da Rússia concordam com essa observação, óbvia em si mesma. Em seu
discurso em 22 de outubro em Sochi, perante o Clube Valdai, grupo
internacional de discussão, o Presidente Vladimir Putin fez eco a esses sentimentos:
“O desenvolvimento atual das armas nucleares tornou claro que não pode haver
vencedores em um conflito global”.
Diferentemente das armas nucleares,
que são “ferramentas de impacto extremo”, as Armas Hipersônicas de Longa Distância
e Alta Precisão (ou Armas Hipersônicas Avançadas – AHW na terminologia
inglesa), estão prontas para serem usadas em qualquer cenário, incluindo-se
como parte de operações antiterrorismo. As AHW não causam mortes
desnecessárias entre civis e não causam danos significantes para sistemas
civis de transporte, estações de energia, ou outras infraestruturas, além da
pequena área afetada.
Em resposta tanto à implantação já
funcional do “Prompt Global Strike” um ambicioso programa global para um
sistema de mísseis de defesa em estratos, bem como à modernização pelo
Pentágono de suas armas nucleares estratégicas e táticas, a Rússia
desenvolveu seus próprios e promissores protótipos de AHWs, em números que
foram considerados suficientes para a garantia de sua própria segurança.
Há que se ter em mente que já houve
esforços para uma moratória internacional em R&D (Pesquisa e Desenvolvimento – NT)
assim como para testes de AHW. Apesar do fato de que a ideia pode parecer
utópica e sonhadora, pode perfeitamente ser implementada, desde que os dados
quantitativos tenham limites, que possam ser aplicados quanto aos tipos de
AHW, e em relação às regiões onde possam ser posicionadas, mas a
implementação só terá sucesso se seis precondições imprescindíveis forem
seguidas:
1) Qualquer futuro acordo sobre as
AHWs, deve ser atrelado aos princípios de segurança igual e equivalente para
todos e quaisquer Estados signatários, e deve além disso assegurar a criação
de um sistema de dissuasão estratégica multilateral.
2) Os signatários de um acordo deste
tipo devem concordar em respeitar um compromisso mútuo de não usar AHWs uns
contra os outros seja quais forem as circunstâncias.
3) Antes que um tratado desse tipo
fosse assinado, todas as potências nucleares deveriam concordar com a
obrigação recíproca de jamais intentar um primeiro ataque preventivo uns contra
os outros, e também de usar armas nucleares de qualquer maneira e de atacar
veículos uns dos outros (tripulados ou não). Tais promessas deveriam ser
formalizadas e ficar vinculadas através de mecanismos jurídicos
internacionais.
4) Todos os Estados que são detentores
de armas nucleares, de fato ou oficialmente, devem se comprometer a
procedimentos de estratégias defensivas e de dissuasão nuclear que não ameacem
a quem quer que seja.
5) Estados que tenham instalado
mísseis estratégicos de defesa e armas nucleares táticas no interior das
fronteiras de outros Estados, devem desmantelar as instalações desse tipo que
estejam em operação ou sendo construídas, ainda antes de se chegar a um
acordo sobre a limitação de AHWs, e os Estados Unidos deve retirar as armas
nucleares que instalou na Europa e na região do Pacífico asiático,
instalando-as apenas no interior do próprio país.
6) O acordo deverá ser formalizado
através de mecanismos juridicamente vinculados, e deverá ser versátil e
inclusivo – no sentido de que deverá prever a possibilidade de aceitação de
qualquer outro Estado para que se junte aos seus termos – e deverá ter
validade com duração indefinida.
Infelizmente, qualquer tipo de acordo
que se relacione com restrições quantitativas ou territoriais de implantação
de AHWs, apenas com muita dificuldade poderia ser alcançado em futuro
previsível, levando-se em conta o texto e o contexto da atual Estratégia de
Segurança Nacional dos Estados Unidos (revelada em fevereiro de 2015) na qual
por nada menos que seis vezes a palavra “agressor” foi usada para se referir
à Rússia, assim como a nomeação explícita de Rússia e China (aqui, aqui e
aqui) como sendo o primeiro e o segundo maiores adversários potenciais dos
Estados Unidos na visão (norte)americana relacionada ao uso de armas
nucleares estratégicas. O Pentágono ainda está preso a uma teoria de ataques
nucleares “preventivos” iniciais contra determinado inimigo, enumerando uma
extensa lista de alvos potenciais para um ataque nuclear. Mais que qualquer outro
país. Ainda há que se levar em consideração o aumento de forma polivalente na
atividade militar da OTAN na borda das fronteiras russas durante os últimos
dois anos.
Em outras palavras, sem uma mudança
radical na maneira pela qual os Estados Unidos e a OTAN agem, com uma postura
negativa e hostil em relação à China e à Rússia, a ideia de que qualquer tipo
de acordo mútuo possa ser aceito para limitar ou controlar as AHWs
encontra-se ainda no campo do irrealismo e deve ser simplesmente relegada
para “um momento mais adequado”.
Vladimir
Kozin – é o presidente de
um grupo de conselheiros do Instituto Russo para Estudos Estratégicos, membro
da Academia Russa de Ciências Naturais e mestre da Academia de Ciências
Militares da Federação Russa.
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