quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dissuasão hipersônica: Como manter o equilíbrio estratégico.               




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Vladimir Kozin     
Tradução mberublue               


Não é provável que as armas nucleares, criadas nos Estados Unidos em meados do século 20 – e usadas apenas uma vez, contra cidades japonesas – sejam algum dia realmente utilizadas em um conflito global. Podemos presumir que os líderes de países ocidentais que possuem bombas nucleares e contam oficialmente como potências nucleares (Estados Unidos, Reino Unido e França), assim como outros Estados que atualmente possuem tais armas (Índia, Israel, Coréia do Norte e Paquistão) continuarão a agir de acordo com o truísmo incontestável que forma a base conceitual de suas estratégias militares: “uma guerra nuclear não tem vencedores e jamais deve ser iniciada”. Os atuais líderes políticos e militares da Rússia concordam com essa observação, óbvia em si mesma. Em seu discurso em 22 de outubro em Sochi, perante o Clube Valdai, grupo internacional de discussão, o Presidente Vladimir Putin fez eco a esses sentimentos: “O desenvolvimento atual das armas nucleares tornou claro que não pode haver vencedores em um conflito global”.

Diferentemente das armas nucleares, que são “ferramentas de impacto extremo”, as Armas Hipersônicas de Longa Distância e Alta Precisão (ou Armas Hipersônicas Avançadas – AHW na terminologia inglesa), estão prontas para serem usadas em qualquer cenário, incluindo-se como parte de operações antiterrorismo. As AHW não causam mortes desnecessárias entre civis e não causam danos significantes para sistemas civis de transporte, estações de energia, ou outras infraestruturas, além da pequena área afetada.

Em resposta tanto à implantação já funcional do “Prompt Global Strike” um ambicioso programa global para um sistema de mísseis de defesa em estratos, bem como à modernização pelo Pentágono de suas armas nucleares estratégicas e táticas, a Rússia desenvolveu seus próprios e promissores protótipos de AHWs, em números que foram considerados suficientes para a garantia de sua própria segurança.

Há que se ter em mente que já houve esforços para uma moratória internacional em R&D (Pesquisa e Desenvolvimento – NT) assim como para testes de AHW. Apesar do fato de que a ideia pode parecer utópica e sonhadora, pode perfeitamente ser implementada, desde que os dados quantitativos tenham limites, que possam ser aplicados quanto aos tipos de AHW, e em relação às regiões onde possam ser posicionadas, mas a implementação só terá sucesso se seis precondições imprescindíveis forem seguidas:

1) Qualquer futuro acordo sobre as AHWs, deve ser atrelado aos princípios de segurança igual e equivalente para todos e quaisquer Estados signatários, e deve além disso assegurar a criação de um sistema de dissuasão estratégica multilateral.
2) Os signatários de um acordo deste tipo devem concordar em respeitar um compromisso mútuo de não usar AHWs uns contra os outros seja quais forem as circunstâncias.

3) Antes que um tratado desse tipo fosse assinado, todas as potências nucleares deveriam concordar com a obrigação recíproca de jamais intentar um primeiro ataque preventivo uns contra os outros, e também de usar armas nucleares de qualquer maneira e de atacar veículos uns dos outros (tripulados ou não). Tais promessas deveriam ser formalizadas e ficar vinculadas através de mecanismos jurídicos internacionais.

4) Todos os Estados que são detentores de armas nucleares, de fato ou oficialmente, devem se comprometer a procedimentos de estratégias defensivas e de dissuasão nuclear que não ameacem a quem quer que seja.

5) Estados que tenham instalado mísseis estratégicos de defesa e armas nucleares táticas no interior das fronteiras de outros Estados, devem desmantelar as instalações desse tipo que estejam em operação ou sendo construídas, ainda antes de se chegar a um acordo sobre a limitação de AHWs, e os Estados Unidos deve retirar as armas nucleares que instalou na Europa e na região do Pacífico asiático, instalando-as apenas no interior do próprio país.

6) O acordo deverá ser formalizado através de mecanismos juridicamente vinculados, e deverá ser versátil e inclusivo – no sentido de que deverá prever a possibilidade de aceitação de qualquer outro Estado para que se junte aos seus termos – e deverá ter validade com duração indefinida.

Infelizmente, qualquer tipo de acordo que se relacione com restrições quantitativas ou territoriais de implantação de AHWs, apenas com muita dificuldade poderia ser alcançado em futuro previsível, levando-se em conta o texto e o contexto da atual Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos (revelada em fevereiro de 2015) na qual por nada menos que seis vezes a palavra “agressor” foi usada para se referir à Rússia, assim como a nomeação explícita de Rússia e China (aqui, aqui e aqui) como sendo o primeiro e o segundo maiores adversários potenciais dos Estados Unidos na visão (norte)americana relacionada ao uso de armas nucleares estratégicas. O Pentágono ainda está preso a uma teoria de ataques nucleares “preventivos” iniciais contra determinado inimigo, enumerando uma extensa lista de alvos potenciais para um ataque nuclear. Mais que qualquer outro país. Ainda há que se levar em consideração o aumento de forma polivalente na atividade militar da OTAN na borda das fronteiras russas durante os últimos dois anos.

Em outras palavras, sem uma mudança radical na maneira pela qual os Estados Unidos e a OTAN agem, com uma postura negativa e hostil em relação à China e à Rússia, a ideia de que qualquer tipo de acordo mútuo possa ser aceito para limitar ou controlar as AHWs encontra-se ainda no campo do irrealismo e deve ser simplesmente relegada para “um momento mais adequado”.

Vladimir Kozin – é o presidente de um grupo de conselheiros do Instituto Russo para Estudos Estratégicos, membro da Academia Russa de Ciências Naturais e mestre da Academia de Ciências Militares da Federação Russa.


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