'Gênios' e
genocídio: Síria, Israel, Rússia e muito petróleo
Tradução pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu
As apostas geopolíticas no Oriente Médio acabam de subir uma
ordem de magnitude. Misture uma pouco conhecida "Newark", empresa de
petróleo de New Jersey, as disputadas colinas do Golan entre Síria e Israel,
acrescente uma recém descoberta grande reserva de petróleo bem ali, exatamente
quando a campanha de bombardeio russo em território sírio entra em altíssima
rotação, agite bem, e aí está um potenCIAl detonador da 3ª Guerra Mundial.
IniCIAlmente – se se volta mais de uma década, até quando
os think-tanks conservadores em Washington e o governo Bush-Cheney
estavam concebendo a sua agenda de 'mudança de regime' para o Oriente Médio
Expandido – gasodutos para gás natural para concorrer com os países da região
através da Síria até a Turquia, ou via Líbano até o Mediterrâneo tiveram papel
coadjuvante na guerra de Washington contra Assad da Síria. Agora, petróleo,
muito, muito petróleo entram em cena, e Israel anda dizendo que pertence ao
"Estado judeu". O único problema é que não pertence.
O petróleo está nas colinas do Golan, que Israel tomou
ilegalmente, em assalto, da Síria, na Guerra dos Seis Dias em 1967.
O que têm em comum Dick Cheney, James Woolsey, Bill
Richardson, Jacob Lord Rothschild, Rupert Murdock, Larry Summers e Michael
Steinhardt? Todos eles são membros do Conselho de Aconselhamento Estratégico de
uma empresa chamada Newark, com sede em New Jersey, parte de um grupo de gás e
petróleo que atende pelo nome de Genie Energy. Relação Impressionante
de nomes.
Dick Cheney |
Dick Cheney, antes de ser 'presidente-sombra' de George W.
Bush em 2001, foi presidente executivo da maior empresa de serviços para campos
de petróleo do mundo, a Halliburton, ligada à CIA, pelo que se diz, e
também conectada à gangue da família Bush. James Woolsey, neoconservador e
ex-diretor da CIA no governo de Bill Clinton; é hoje presidente da
"Fundação para Defesa da Democracia" [ing. Foundation for Defense
of Democracies] think-tank neoconservador, e é membro do
Instituto Washington para a Política do Oriente Médio [ing. Institute for Near
East Policy (WINEP), que opera a favor do partido Likud de Israel. Foi
membro do infame Projeto para um Novo Século Americano [ing. Project for a
New American Century (PNAC), ao lado de Cheney, Don Rumsfeld e da escória dos
neoconservadores que, adiante, constituíram o governo Bush-Cheney. Depois do
11/9/2001, Woolsey referia-se à Guerra ao Terror de Bush-Cheney como " IV
Guerra Mundial " (a Guerra Fria seria a III GM). Bill Richardson é
ex-secretário de energia dos EUA. Rupert Murdock, proprietário de vasta
rede de veículos de comunicação nos EUA e Reino Unido, dentre os quais o Wall
Street Journal, é o maior financiador do neoconservador Weekly Standard de
Bill Kristol, que financiou o PNAC. Larry Summers foi secretário
do Tesouro dos EUA e inventor propositor das leis que desregularam os bancos
nos EUA, tirando-os do alcance da Lei Glass-Steagall de 1933. De fato, com esse
movimento, abriram-se completamente as comportas da inundação que ficou
conhecida como crise finanCIA-eira dos EUA de 2007-2015. Michael
Steinhardt, o especulador dos fundos hedge é filantropo amigo de
Israel, de Marc Rich e membro também da Fundação para a Defesa das Democracias
de Woolsey. E Jacob Lord Rothschild é ex-parceiro comercial do
oligarca (petróleo) russo Mikhail Khodorkovsky, já condenado. Antes de ser
preso, Khodorkovsky transferiu secretamente suas ações na Yukos Oil para
Rothschild. E Rothschild é dono de parte das ações da Genie Energy que,
em 2013 recebeu direitos exclusivos para explorar o petróleo e o gás num raio
de 153 milhas quadradas [quase 400 mil quilômetros quadrados] na parte sul das
colinas do Golan, direitos que lhe foram outorgados pelo governo Netanyahu.
Para encurtar a conversa, a Genie Energy é empresa de deixar qualquer um embasbacado.
Colinas do Golan e lei
internacional
O governo de Israel deu a concessão à Genie, nas disputadas
colinas do Golan em 2013, quando o processo liderado pelo EUA para
desestabilizar o regime sírio do presidente Assad estava a pleno vapor.
Convenientemente, no mesmo momento Israel também começou a construir
fortificações que vedassem completamente o acesso da Síria às colinas do Golan
ilegalmente invadidas e ocupadas, sabendo que pouco haveria que Assad ou a
Síria pudessem fazer para impedir. Em 2013, com a Genie Energy já iniciando sua
mudança para as colinas do Golan, engenheiros militares israelenses reforçaram
a cerca de 45 milhas que acompanha a fronteira com a Síria, substituindo-a por
uma barricada de aço que inclui arame farpado, sensores táteis, detectores de
movimento, câmeras de infravermelho e radares no solo, construção que só se
compara ao Muro que Israel construiu na Cisjordânia.
E agora, quando Damasco luta pela vida, parece que, de
repente, a Genie Energy encontrou enorme campo de petróleo exatamente ali..
Mas a ocupação israelense nas colinas do Golan é
absolutamente ilegal. Em 1981, Israel fez aprovar uma "Lei das Colinas do
Golan" [ing. Golan Heights Law], que impõe "leis, jurisdição e
poder de governo" de Israel também nas colinas do Golan. Reação a essa
violência, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução n. 242, que
declara que Israel tem de retirar-se de todas as terras sírias ocupadas na
guerra de 1967, inclusive das Colinas do Golan.
Novamente, em 2008, uma sessão da Assembleia Geral da ONU
aprovou a Resolução n. 161-1, a favor de uma moção sobre as colinas do Golan
que reafirmou a Resolução n. 497 do Conselho de Segurança, aprovada em 1981,
depois de Israel ter feito o que se define por "anexação de facto; a
Resolução n. 161-1 declarou a Lei das Colinas do Golan "nula, vácua e sem
efeito legal internacional"; e convocou Israel a desistir de
"modificar o caráter físico, a composição demográfica, a estrutura
institucional e o status legal do Golan sírio ocupado, e, especialmente, a
desistir de estabelecer colônias (...) e de impor a cidadania israelense e
documentos de identidade israelenses aos cidadãos sírios no Golan sírio
ocupado, e a cancelar todas as medidas repressivas contra a população do Golan
sírio ocupado."
Israel foi a única nação a
votar contra a resolução.
Em junho de 2007, o primeiro-ministro de Israel Ehud Olmert
enviou comunicado secreto ao presidente Bashar al-Assad, dizendo que Israel
daria as colinas de Golan, em troca de um amplo acordo de paz e do rompimentos
de quaisquer laços entre a Síria e o Irã, e entre a Síria e grupos militantes
na região.
Genie 'comunica' grande descoberta
Dia 8 de outubro, na segunda semana dos ataques russos, a
pedido do governo Assad, contra o ISIS e outros terroristas ditos
"moderados", Yuval Bartov, geólogo chefe da subsidiária israelense da
Genie Energy, Afek Oil & Gas, disse à Channel 2 TV que sua empresa havia
descoberto enorme reserva de petróleo nas colinas do Golan: “Encontramos
estrato de 350 metros de altura no sul das colinas do Golan. A média mundial da
altura dos estratos é de 20-30 metros; e essa é dez vezes maior; por isso
estamos falando de quantidades significativas.”
Esse petróleo agora encontrado gás das colinas do Golan um
"prêmio" estratégico que claramente está pondo o governo Netanyahu
ainda mais determinado a semear o caos e a desordem em Damasco, e usá-los para
criar uma ocupação israelense de facto irreversível do Golan e
daquele petróleo todo. Um ministro do governo de coalizão de Netanyahu, Naftali
Bennett, da Educação, ministro para as questões da diáspora, e líder do partido
religioso de extrema direita O Lar Judeu [ing.The Jewish Home] propôs que
Israel, em cinco anos, implante 100 mil colonos israelenses nas colinas do
Golan. Diz que com a Síria "em desintegração" depois de anos de
guerra civil, é difícil imaginar algum estado estável ao qual as colinas do
Golan possam ser devolvidas. Como se não bastasse, cresce em Telavive o coro
dos que querem que Netanyahu exija dos EUA que reconheçam a anexação do Golan,
em 1981, por Israel, como “salvaguarda adequada com vistas à segurança
israelense, depois de assinado o acordo nuclear com o Irã.”
Guerras de energia sempre foram componente significativo da
estratégia de EUA, Israel, Qatar, Turquia e, até recentemente, também da Arábia
Saudita, contra o regime de Assad na Síria. Antes da recente descoberta de
petróleo nas colinas do Golan, o foco contra Assad tinha a ver com grandes
reservas de gás natural do Qatar e do Irã, como opostos e concorrentes do Golfo
Persa, que incluem as maiores reservas de gás confirmadas, em todo o mundo, até
hoje.
Em 2009, o governo do Qatar, hoje lar da Fraternidade
Muçulmana e grande financiador do ISIS na Síria e Iraque, reuniu-se
com Bashar al-Assad em Damasco.
O Qatar propôs a Bashar que a Síria assinasse acordo que
permitisse a passagem por seu território de um gasoduto que sairia do enorme
Campo Norte do Qatar, no Golfo Persa, adjacente à também enorme reserva Pars
Sul, de gás iraniano. O gasoduto do Qatar passaria por Arábia Saudita,
Jordânia, Síria até a Turquia, para abastecer mercados europeus. Mais cruCIAlmente
importante: deixava a Rússia de fora.
Matéria da Agência France-Presse noticiava que Assad só se
interessara por "proteger os interesses de seu aliado russo, principal
fornecedor de gás natural para a Europa.”
Em 2010, Assad integrou-se às conversações com Irã e Iraque,
para construir gasoduto alternativa, de $10 bilhões, que potencialmente
permitiria ao Irã abastecer a Europa com o gás de seu campo Pars Sul nas águas
iranianas do Golfo Persa. Os três países assinaram um Memorando de Entendimento
em julho de 2012 – exatamente quando a guerra na Síria alastrava-se para Damasco e Aleppo.
Agora, uma aparente descoberta de grandes volumes de
petróleo, por empresa de New Jersey de cujo board participam o
arquiteto da guerra do Iraque, Dick Cheney; o neoconservador e ex-CIA James
Woolsey e Jacob Lord Rothschild, parceiro de negócios de um dos mais furiosos
críticos de Vladimir Putin, Mikhail Khodorkovsky, eleva muito as apostas em
torno da intervenção russa a pedido da Síria de Assad, contra os terroristas
do ISIS, Al-Qaeda e outros "terroristas moderados" apoiados
pela CIA – e dá-lhes nova dimensão geopolítica.
O golpe dos EUA na Ucrânia em 2014, o treinamento e o
financiamento para o ISIS e outras gangues de terroristas
"moderados" na Síria, todos têm um alvo primário – a Rússia e sua
rede de aliados, rede a qual, ironicamente, as políticas de Washington e Israel
só fazem ajudar a expandir quase de hora em hora.
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