Por que os EUA tanto
protestam contra a Rússia bombardear a al-Qaeda?!
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Tony Cartalucci, New
Eastern Outlook(1)
Tradução Vila Vudu
Phil Greaves@PhilGreaves01 1h1 hour ago
'Esquerda' que ignorou completamente o imperialismo da OTAN na Síria por 5 anos
em 5 minutos já 'identificou' um inexistente imperialismo russo.
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O New York Times no recente artigo "Russians Strike
Targets in Síria, but Not ISIS Areas,"
tenta pintar as recentes ações da Rússia na Síria como desonestas e perigosas.
Vejam:
Aviação russa continua a bombardear
combatentes da oposição síria na 4a-feira, incluindo pelo menos um grupo
treinado pela CIA, o que despertou protestos zangados [orig. angry
protests] de funcionários dos EUA e
lança aquela complexa guerra sectária em novo e perigoso território.
Claro. Só haveria ação russa desonesta ou perigosa, se os grupos
treinados porCIA-EUA fossem realmente os "moderados" que os
EUA dizem que seriam. Mas não são. Assim pois as ações da Rússia são plenamente
justificadas e são expansão da atual e bem conhecida política russa.
Não há 'moderados', nem nunca houve
Já há meses, depois de anos e anos de manchetes a confirmar que os EUA estavam armando clandestinamente militantes na Síria, com o objetivo de derrubar o governo em Damasco, uma narrativa que fala de dezenas de milhares dos tais 'militantes' que teriam 'desertado' para a Frente Al-Nusra e o chamado "Estado Islâmico" (ISIS/ISIL) foi imposta ao público pela mídia-empresa ocidental e políticos dos EUA, tentando explicar o aparente fracasso de uma suposta política dos EUA, de criar um exército de "moderados" que combateria contra, simultaneamente,ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico e o governo sírio.
Em realidade, desde o início, nunca houve qualquer terrorista "moderado". Desde 2007, anos antes da guerra na Síria, os EUA decidiram, como sua política, financiar e apoiar deliberada e intencionalmente a Fraternidade Muçulmana na Síria – que, para todos os efeitos, é o braço político da Al-Qaeda ali – e começaram a armar militantes afiliados diretamente à Al-Qaeda.
É a verdade histórica e foi o que revelou, em 2007, o jornalista e Prêmio Pulitzer Seymour Hersh, em artigo para a revista New Yorker intitulado "The Redirection Is the Administration’s new policy benefitting our enemies in the war on terrorism?" [Redirecionamento: a nova política do governo dos EUA estará beneficiando nossos inimigos na guerra contra o terrorismo?], onde diz, explicitamente (itálicos são meus):
Para minar o Irã, que é
predominantemente xiita, o governo Bush decidiu, de fato, reconfigurar suas
prioridades no Oriente Médio. No Líbano, o governo cooperou com o governo da
Arábia Saudida, que é sunita, em operações clandestinas para enfraquecer o
Hezbollah, a organização xiita apoiada pelo Irã.
Os EUA também participaram de operações clandestinas para atingir o Irã e a
Síria, aliada do Irã. Efeito colateral dessas atividades foi inflar grupos
sunitas extremistas que têm visão militante do Islã e que são hostis aos EUA e
simpáticos à Al-Qaeda.
O relatório profético, de nove páginas, de Hersh, também revelaria
que mesmo então a Fraternidade Muçulmana Síria já recebia dinheiro e apoio dos
EUA, que chegavam até lá pela Arábia Saudita. O relatório revelou (itálicos
meus):
Há evidência de que a estratégia de
redirecionamento do governo já beneficiou a Fraternidade. A Frente de Salvação
Nacional Síria é uma coalizão de grupos de oposição cujos principais membros
são a facção liderada por Abdul Halim Khaddam, ex-vice-presidente da Síria, que
desertou em 2005, e a Fraternidade. Um ex-alto funcionário da CIA disse-me que "Os norte-americanos
garantiram dinheiro e apoio político. Os sauditas estão
tomando a frente com apoio financeiro, mas há envolvimento dos
norte-americanos." Disse que Khaddam, que atualmente vive em Paris,
recebia dinheiro da Arábia Saudita, com pleno conhecimento da Casa Branca. (Em 2005, uma delegação de membros
da Frente reuniu-se com funcionários do Conselho de Segurança Nacional,
conforme notícias que a imprensa publicou.) Um ex-funcionário da Casa Branca
disse que os sauditas forneceram passaportes aos membros da Frente.
Em 2011, afiliados da Al-Qaeda na Síria, principalmente a Frente
al-Nusra, começaram a operar em todo o país, tomando a dianteira na luta
apoiada pelos EUA contra Damasco. Em 2012, quando o Departamento de Estado pôs
a Frente al-Nusra na lista de organização terrorista estrangeira, já era bem
claro que a maior parte das forças que lutavam contra o governo Assad eram da
Al-Qaeda.
Desde novembro de 2011, a Frente
al-Nusra declarou ter realizado cerca 600 ataques – mais de 40 ataques de
suicidas-bomba, até ataques com armas leves e operações com objeto explosivo
improvisado – em grandes cidades dentre as quais Damasco, Aleppo, Hamah, Dara,
Homs, Idlib e Dayr al-Zawr. Durante esses ataques, morreram muitos sírios
inocentes.
Claro que a Al Qaeda não só esteve envolvida no conflito desde o
início, como também liderou as ações. Assim resulta desmentida a atual conversa
dos EUA, de que a Al-Qaeda só teria entrado na luta no período recente,
aproveitando-se do caos que teria sido criado pelos "moderados" em
sua luta contra Al-Assad. É perfeitamente claro e comprovado que a própria
Al-Qaeda gerou todo o caos, desde o início, e continua alimentando o caos até
hoje.
Os dutos retóricos de repetição
Para explicar como o exército de 'moderados' da ficção que os EUA distribuíam pelo mundo fora 'deslocado' no campo de batalha na Síria, substituído por Al-Qaeda eISIS, os EUA passaram a dizer que aquela sua operação de quase cinco anos e vários bilhões de dólares sofreu repentinamente deserções em massa.
The Guardian apressou-se a noticiar (8/5/2015), em artigo intitulado "Free Syrian Army rebels defect to Islamist group Jabhat al-Nusra," que:
O principal grupo armado da oposição Síria, o Exército Sírio
Livre, está perdendo combatentes e armamento para a Frente al-Nusra, organização
islamista com conexões com a al-Qaeda que está surgindo como a força mais bem
equipada, financiada e motivada na luta contra o regime de Bashar al-Assad.
O International
Business Times também
noticiaria (14/3/2015), em artigo intitulado "Four Years Later,
The Free Syrian Army Has Collapsed," [4 anos depois, o
Exército Sírio Livre entrou em colapso] que:
A Frente Al-Nustra, também chamada
Jabhat al-Nusra, conquistou milhares de combatentes que nos três anos
anteriores lutavam sob o guarda-chuva do Exército Sírio Livre. Oferece a eles
centenas de dólares em salário mensal e mantimentos. Os soldados do Exército
Sírio Livre não têm remuneração mensal. Quando grupos extremistas como a Frente
al-Nusra ganharam espaço na Síria recebendo milhões de dólares em dinheiro de
ricos empresários do Golfo e da Líbia, os moderados "não tiveram
escolha" – disse Jarrah. – "Sentem-se desprestigiados, e juntam-se
aoISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico."
The Daily Beast (1/3/2015) noticiou em "Main U.S.-Backed Syrian Rebel Group Disbanding,
Joining Islamists"
que:
O grupo rebelde sírio Harakat al-Hazm, uma das milícias em que mais a Casa Branca confia na luta contra o governo do presidente Bashar al-Assad, colapsou domingo passado. Os ativistas postaram uma declaração online assinada pelos altos comandantes, em que dizem que estão desmontando as unidades e desdobrando-as em brigadas alinhadas com uma aliança islamista insurgente na qual Washington não confia.
Harakat al-Hazm levaria com ele para a Al-Qaeda e o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico, milhões de dólares em sofisticado armamento norte-americano, inclusive os mísseis antitanques TOW de fabricação norte-americana.
O mais recente grupo apoiado e mantido pelos EUA, a tristemente famosa "Divisão 30", também teria desertado e estaria alistada agora à Al Qaeda – assumindo-se que já não fossem militantes da Al-Qaeda desde o início. The Telegraph (22/9/2015) em artigo intitulado "EUA-trained Division 30 rebels ‘betray EUA and hand weapons over to al-Qaeda’s affiliate in Síria’," [Rebeldes da Divisão 30 treinados nos EUA traem EUA e entregam suas armas a grupo ligado à Al-Qaeda na Síria] disseram que:
Rebeldes treinados pelo Pentágono na
Síria traíram seus apoiadores-financiadores norte-americanos e entregaram suas
armas à al-Qaeda na Síria imediatamente depois de chegarem de volta ao país.
Combatentes da Divisão 30, a divisão de rebeldes "moderados" que os
EUA apoiavam, renderam-se à Frente al-Nusra afiliada da al-Qaeda, como várias
fontes informaram na 2a-feira à noite.
A Rússia está bombardeando a Al-Qaeda
Ora! Todo esse noticiário – nada que o ocidente algum dia tenha desmentido ou negado – sobre "moderados" apoiados pelos EUA que se uniram, aos milhares, à Al-Qaeda, prova, no mínimo, que a política dos EUA de construir alguma oposição moderada (e armada) resultou em retumbante fracasso.
Mas todas essas evidências e muitas outras, que vão até os idos de 2007, provam também que os EUA jamais, nem agora nem antes, tiveram qualquer intenção de construir oposição moderada, e que as notícias abundantes de tantas "deserções" são simples mentiras para encobrir a cobertura direta em dinheiro e em armamento, que os EUA provavelmente sempre deram, mas agora com certeza estão dando à Al Qaeda e ao ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico na Síria.
No mínimo, ao bombardear esses grupos armados que, ou já desertaram para a al-Qaeda, ou inevitavelmente logo desertarão, a Rússia presta grande favor ao Pentágono.
O que nos leva de volta ao mais recente artigo publicado no New York Times. A Rússia não está arbitrariamente bombardeando "moderados" apoiados pelos EUA na Síria para devastar uma suposta oposição "legítima" ao governo em Damasco.
A Rússia está bombardeando terroristas que ou já operam sob a bandeira da Al-Qaeda, mas a Casa Branca os apresenta fantasiados de bons democratas, ou logo terão entregue à Al Qaeda seus combatentes e seu armamento.
A verdade é clara: a Rússia está bombardeando a Al-Qaeda.
"Ao apoiar Assad e ao atacar todos
e qualquer um que lute contra Assad" – disse na 4a-feira o secretário da
Defesa Ashton B. Carter, a Rússia "está atacando todo o resto do país que
luta contra Assad." Alguns desses grupos, disse Carter, são apoiados pelos
EUA e têm de ser parte de uma resolução política na Síria.
Não parece haver dúvidas de que a Rússia está, sim, bombardeando
grupos que os EUA apoiam, mas isso só acontece porque os EUA há muito tempo e
intencionalmente, apoiam a Al-Qaeda e o ISIS/ISIL/Daesh/Estado
Islâmico na Síria.
A qualquer momento, se os EUA realmente quisessem fazer desaparecer as forças do ISIS, bastaria terem fechado a fronteira turca, através da qual fluem suprimentos, combatentes, armas e veículos em direção à Síria. Tivessem fechado a fronteira turco-síria ao norte, e a fronteira jordaniana/síria ao sul, os EUA teriam dado cabo do ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico em um mês, se não em menos tempo.
Que os EUA tenham deixado fluir suprimentos, armas, veículos e combatentes para o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico ali, bem diante do nariz de seus aliados e das próprias forças dos EUA estacionadas na Jordânia e na Turquia, é indicador eloquente de que os EUA estão, no mínimo, autorizando a perpetuação doISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico – mas, mais provavelmente, sugere que estejam ativamente envolvidos em encher os caminhões para o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico também na Síria.
O secretário de Defesa dos EUA Ashton Carter diz que a posição dos russos está "condenada" – no que parece ser promessa de que os EUA resistirão contra os esforços de Moscou para pôr fim a grupos da Al-Qaeda e para eliminar oISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico.
Verdade é que há de haver quem veja claramente que subir a aposta e o blefe, numa política de apoiar terroristas que inevitavelmente será revelada ao mundo, e insistindo numa política que já fracassou no intuito de derrubar o governo sírio – o qual, hoje, já está reforçado por forças russas, iranianas e talvez também chinesas – é, essa sim, a política que está "condenada".
Por fim, é preciso observar que, para quem ainda duvide de queISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico é realmente invenção intencional da política externa dos EUA, que esse ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico está hoje combatendo contra forças militares combinadas de Síria, Hezbollah, Irã, Iraque e agora a Rússia.
Não faltará quem se pergunte quem teria capacidade material, armas, dinheiro, organização, para manter exército capaz de fazer frente a uma coalizão multinacional dessa envergadura. De onde, se não dos EUA e de seus aliados regionais, o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico recebe toda sua capacidade militar?
Insistir em repetir que luta contra o ISIS, ao mesmo tempo em que já tão visivelmente apoia esses (e talvez muitos outros) terroristas é, essa sim, a posição realmente "condenada": condenada ao fracasso hoje, e condenada, no futuro, à eterna execração por toda a humanidade.
Tony Cartalucci
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