terça-feira, 6 de outubro de 2015

Importante manter a França bem longe da guerra síria
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 Resultado de imagem para MK Bhadrakumar

Tradução do Coletivo de Tradutores da Vila Vudu
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Não se observa nenhum sinal de mal-estar em Washington ou em qualquer capital ocidental ante o fato de, no domingo, a França ter feito seu primeiro ataque aéreo na Síria. É momento terrível. Não esqueçam que a França, com a Grã-Bretanha, é a 'criadora' da Síria moderna.


Usar violência contra a prole não é prática rara para a França – é o que continua a fazer na África –, mas mesmo assim tresanda insensibilidade nesse caso, dada a vergonha que ainda cerca o 
pacto Sykes-Picot. (Em maio do próximo ano, esse capítulo vergonhoso da história colonial da Europa completa 100 anos.)

Mas o que a França fez é repreensível também por outra razão. O país é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tem poder de veto, e violou a integridade territorial de país membro da ONU sem sequer buscar qualquer acordo. As intervenções da França em terras estrangeiras não respondem a qualquer princípio ou moralidade. A Líbia é o caso mais recente de país que a França invadiu, destruiu, impôs o governo que bem entendeu, deixou seu rastro de anarquia e simplesmente lavou as mãos de qualquer responsabilidade sobre o caos que se seguiu.


Nesse caso, a França fareja que a procura de solução política para o conflito sírio está provavelmente começando; e que 'ter voz' no processo. Está no DNA da França, exceto que o que vemos aqui é versão apenas um pouco mais crua do papel pervertido que a França desempenhou durante as negociações sobre o acordo nuclear com o Irã, quando tirou dinheiro da Arábia Saudita e pôs-se a criar obstáculos nas negociações do ‘P5+1 e o Irã' pelo mais longo tempo que pôde, mas quando o acordo tornou-se fato consumado, a França simplesmente mudou-se para o lado dos iranianos, para o ‘business’.


A explicação da França é que na Síria está "protegendo nosso [da França] território, impedindo ações terroristas, agindo em legítima defesa”. Ponto. Parágrafo.


O presidente François Hollande diz que novos ataques na Síria "podem acontecer nas próximas semanas, se necessário". Em suma, a França mijou no poste sírio e faz dele território seu, para constar. Pode haver ato mais cínico?

Países cristãos como a França têm história sangrenta de intolerância e violência, que nenhum mascaramento, sob a fantasia de 'civilização', consegue esconder. O registro dos atos da França na África é simplesmente abominável. Absolutamente não se pode permitir que a França chegue sequer perto da Síria. Já anda por lá, planando como abutre pelos céus sírios, e provavelmente sente que pode ser hora de pousar.


O presidente Barack Obama está a poucas horas de uma conversa com o presidente Vladimir Putin da Rússia, em New York, para discutirem o aumento da presença militar de Moscou na Síria (com conhecimento e total cooperação de Damasco). A mídia norte-americana, esmagada sob o pesado tacão do lobby judeu associado a Israel, enlouqueceu completamente ante a evidência de que a Rússia pretende reforçar o governo sírio em sua luta contra o Estado Islâmico. E, mesmo assim, nem Obama nem nenhum funcionário de seu governo ou comentarista judeu-norte-americano cuida de emitir uma única palavra de crítica contra o ataque militar unilateral da França, contra a Síria.


Na essência, na Síria, a Rússia explicita suas objeções às intervenções militares unilaterais do Ocidente – em particular, dos EUA –, sempre para fazer 'mudança de regime'. A Rússia deveria, na verdade, ter traçado a linha vermelha já há 14 anos, no famoso incidente na base aérea Bagram no Afeganistão, quando os EUA meteram 'coturnos em solo' naquele país sem sequer informar ao governo em Kabul. (O então ministro de Relações Exteriores do Afeganistão Abdullah Abdullah, de fato, protestou contra o movimento unilateral dos EUA de introduzir soldados em campo – desgraçadamente, Washington também induziu a Aliança do Norte a crer que o Afeganistão não seria alvo de nenhuma ocupação ocidental.)


Moscou deveria ter insistido em manter seus aviões em solo em Bagram e em ter voz mais ampla, na guerra contra os Talibã. Sem dúvida, a guerra afegã teria tomado rumo completamente diferente, se os EUA não tivessem ocupado o país – e isso também, só depois  de ter ficado claro que as forças da Aliança do Norte que lutavam em solo haviam derrubado o regime dos Talibã. A invasão norte-americana transformou o que fora uma guerra civil em um complicado conflito regional e internacional. A ocupação ainda continua e, tanto quanto se sabe, Washington parece ter decidido manter uma ocupação por EUA-OTAN, sem prazo para terminar, no Afeganistão.


É preciso dizer que Putin falhará em seu dever como líder mundial, se não disser bem claramente a Obama, na reunião de hoje mais tarde em New York, que as regras postas para intervenções em países soberanos – respeito aos princípios da Carta da ONU – devem ser aplicáveis uniformemente e com coerência. É indispensável que a lei internacional e a Carta da ONU sejam estritamente respeitadas.


São as intervenções ocidentais que estão na raiz da crise no Oriente Médio. O Ocidente não se pode autoatribuir a prerrogativa de intervir no Oriente Médio Muçulmano, como se as Cruzadas jamais tivessem realmente acabado.



MK Bhadrakumar - foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Oriente Médio, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de geopolítica, de energia e de segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Ásia Times Online, Al Jazeera, Counterpunch, Information Clearing House, e muita outras. Anima o blog Indian Punchline no sítio Rediff BLOGS. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala, Índia.

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