Segunda Guerra Mundial:
A Guerra
Desconhecida
por Dr. Paul Craig
Roberts
Em minha coluna de seis
de junho, “As mentiras só aumentam...” mencionei que Obama e o primeiro
ministro britânico, o cão de colo de Obama, da mesma maneira que Bush tinha seu
cão de colo britânico, Tony Blair, conseguiram celebrar a derrota do nazismo
alemão no aniversário dos setenta anos da Normandia sem mencionar os russos.
Salientei o fato de
que, como bem sabem os historiadores e pessoas instruídas, o Exército Vermelho já
tinha derrotado o nazismo alemão bem antes que os Estados Unidos sequer
estivessem aptos a participar da guerra. Com certeza a invasão da Normandia não
foi o fato que derrotou os nazistas. O que na realidade a invasão da Normandia evitou
foi que o Exército Vermelho se derramasse por toda a Europa.
Como já ressaltei em
outras colunas, alguns norte americanos, se não muitos, têm crenças que não são
baseadas em fatos, mas em emoções. Então, eu sabia que minha coluna deixaria
pelo menos uma pessoa furiosa... e ficou. JD, do Texas, escreveu para me
elucidar. Foram “nossos rapazes americanos” e mais ninguém, que ganharam aquela
guerra. JD nem tem conhecimento de que os russos estiveram na mesma guerra.
Antes de fazer o
papel de palhaço, JD poderia ter consultado uma enciclopédia, ou um livro de
história, ao mesmo entrar na internet e consultar a Wikipedia. Mas não. Ele
preferiu descarregar sua raiva em mim. JD é o exemplo perfeito da política
externa dos Estados Unidos: intrometer-se em cada luta da qual você não sabe
patavinas, fazer um grande escarcéu e ficar com os créditos da luta que outros
vencerão.
De repente me dou
conta de que a Segunda Grande Guerra aconteceu há tanto tempo que restam poucas
pessoas vivas que se lembram dela e a esta altura até mesmo esses poucos
provavelmente recordam a versão de propaganda política que eles têm ouvido a
cada comemoração do Memorial Day e 04 de Julho desde 1945. Não é de se admirar
que nem Obama nem Cameron ou os idiotas que escrevem seus discursos não saibam
coisa alguma sobre a guerra que estão a comemorar.
Propaganda política
sempre foi o nosso forte. A diferença é que hoje, em pleno século 21, nós só temos
a propaganda política. Mais nada. Só mentiras. Mentiras se tornaram a
especialidade dos norte americanos. Tal como é, o mundo real é desconhecido
para a maioria dos norte americanos.
Em 1973 a televisão
britânica exibiu uma série de documentários que relatam a Segunda Grande Guerra.
Dos 28 episódios, em apenas três deles e em uma parte de um quarto episódio
reconhecem a participação russa na guerra. Do ponto de vista britânico a
vitória foi Anglo Americana.
Para o governo
Soviético, isso não ficou bem. Seus arquivos de filmes sobre a guerra foram
oferecidos ao ocidente. Em 1978 uma série composta de 20 episódios de 48 minutos
foi exibida em um documentário norte americano de televisão, narrado por Burt
Lancaster. O título do documentário era: “A guerra desconhecida”.
Criados ouvindo
propaganda política como são os cidadãos americanos, com certeza a guerra era
para eles uma completa desconhecida.
O documentário “A
guerra desconhecida” foi como uma revelação para os norte americanos porque
demonstra sem margem para dúvidas que os nazistas da Alemanha perderam a Segunda
Grande Guerra no front russo. Dos 20 episódios, “Os Aliados”, isto é, os Anglo
Americanos e a França livre aparecem apenas no de número 17. Mas um em vinte
não passa da proporção correta para a participação do ocidente na derrota da
Alemanha Nazista.
Se você pesquisar na internet,
encontrará “A guerra desconhecida” com apenas uma entrada na Wikipedia. Pode
ser que a série ainda esteja disponível no YouTube. Ela foi retirada do ar
quando a União Soviética invadiu o Afeganistão, uma besteira que ocorre
repetidamente, provocada por beócios em Washington. Para Washington, era mais
importante demonizar a União Soviética que qualquer verdade histórica ser
apresentada. Por isso, a verdade documentada na série “A guerra desconhecida”
foi expulsa da TV dos Estados Unidos. Posteriormente, o documentário reapareceu
no History Channel.
Em meu artigo de 06
de junho eu disse, de acordo com o consenso entre historiadores, que a Alemanha
Nazista perdeu a guerra em Stalingrado. Neste artigo: http://www.globalresearch.ca/70-years-ago-december-1941-turning-point-of-world-war-ii/28059
o historiador Dr. Jacques R. Paulwels diz que a Alemanha perdeu a guerra 14
meses antes, na Batalha de Moscou em Dezembro de 1941. É uma boa argumentação.
Concorde-se ou não com ele, os fatos que apresenta são reveladores para os “americanos
excepcionais, indispensáveis” que acreditam piamente que sem eles, nada
acontece.
A invasão da
Normandia, em junho de 1944 aconteceu 2,5 anos depois que a Alemanha perdeu a
guerra na Batalha de Moscou. Como os historiadores tornaram claro, em junho de
1944 a Alemanha tinha bem pouco com o que lutar. Tudo o que sobrou do exército
alemão estava no front oriental.
Na comemoração dos
setenta anos da invasão da Normandia, na França, Obama informou ao seu capacho
francês, o presidente Hollande, que ele, Obama, o governador do país
excepcional, não se sentaria à mesa para jantar com Putin, o russo. Norte
americanos são bons demais para comer na companhia de russos. Daí, Hollande
tinha que promover dois jantares. Um para Obama, outro para Putin. A comida
francesa ainda é muito boa, graças ao banimento dos alimentos geneticamente
modificados e provavelmente Hollande não se importou. Eu mesmo gostaria de
estar nos dois jantares, mesmo para comer sozinho.
Como geralmente
acontece com toda a notícia que é realmente importante, o jantar para Putin e o
que significa não foi objeto da atenção da mídia presstituta americana, a maior
coleção de putas que há no mundo. Se não me falha a memória, normalmente os
russos são deixados de lado nas comemorações sobre a Normandia. Afinal de
contas, a guerra foi ganha no ocidente, o que é que os russos têm a ver? Nada,
é claro. “Nossos rapazes” fizeram tudo, como bem me informou JD. Russos? Que russos?
Ocorre que desta vez
a França convidou Putin para as celebrações. Putin não foi orgulhoso.
Compareceu. Nas horas de folga, Putin conversou com políticos europeus, e esses
políticos tiveram a oportunidade de ver uma pessoa real, não uma farsa ambulante
como Obama.
A superioridade
flagrante da diplomacia russa sobre a de Washington é clara como água para
todos. A posição de Putin é: “estamos juntos nisso. Podemos resolver as coisas”.
A posição de Washington é: “obedeça ou será bombardeado até voltar à idade da
pedra”.
A Rússia acolhe seus
estados clientes. Washington não. Putin disse que está disposto a trabalhar
para resolver as coisas com o corrupto bilionário imposto por Washington para governar
a Ucrânia, enquanto Washington forçou os búlgaros a parar os trabalhos de
construção do gasoduto South Stream. Este gasoduto para transporte de gás
natural, evita a Ucrânia e passa sob o Mar Negro indo até a Bulgária. Como a
Ucrânia, novo estado fantoche de Washington não pagou nem paga sua dívida
bilionária (em dólares) de gás natural à Rússia e ameaça romper os gasodutos
para a Europa com o propósito de roubar o gás que seria destinado aos europeus,
a Rússia, apesar das sanções do ocidente, preparou-se para construir um novo
gasoduto dirigido à Europa, com a finalidade de que os europeus não necessitem desligar
as máquinas de suas indústrias, não congelem no inverno e não tenham a economia
em colapso por necessidades energéticas não supridas.
Para Washington, o compromisso
de Putin com a Europa não passa de uma ameaça e trabalha para evitar qualquer
fluxo de energia da Rússia para a Europa.
Contrastando com a
posição de Putin, a posição de Washington é: Não damos a menor importância para
nossos fantoches europeus. Como o resto da humanidade, os fantoches europeus
não contam e são dispensáveis, um mero dano colateral na guerra do país
indispensável pela hegemonia mundial.
Tudo o que importa
para Washington é causar algum tipo de dano para a Rússia, sem se importar com
os danos causados aos seus regimes fantoches na Europa Ocidental e Oriental, o
que inclui o imbecil governo polonês, talvez o único governo em cima do planeta
Terra que seja ainda mais idiota que Obama.
Washington está
tentando fortemente interromper as relações econômicas da Europa com a Rússia. Prometeu
suprir à Europa com gás natural dos Estados Unidos, obtido através da
exploração do gás de xisto. A promessa é mais uma mentira, como é mentira tudo
o que Washington diz.
Em 20 de maio o
jornal Los Angeles Times relatou que “as autoridades federais cortaram em 96% a
expectativa de óleo recuperável no grande depósito de xisto de Monterey”. A
formação de Monterey de petróleo de xisto contém cerca de dois terços da
reserva total dos Estados Unidos e desta reserva, apenas 4% é recuperável. http://www.latimes.com/business/la-fi-oil-20140521-story.html
Quanto ao gás,
William Engdahl relatou que, no melhor dos mundos, os Estados Unidos tem cerca
de 20 anos de gás natural recuperável através do fracking, e que o preço desta
extração será a degradação das águas de superfície e subterrâneas dos Estados
Unidos. Especialistas assinalaram que a infraestrutura para transportar o gás
natural dos Estados Unidos para a Europa ainda não existe e que demorará três
anos para que essa infraestrutura seja construída. O que fará a Europa por três
anos enquanto espera pela energia dos Estados Unidos para substituir a energia
cortada da Rússia? A Europa ainda estará lá?
Que os vassalos
europeus dos Estados Unidos tomem nota: Washington está preparado para destruir
a economia de seus vassalos a fim de marcar pelo menos um ponto contra a Rússia.
Como é possível que
até agora a Europa ainda não tenha entendido como pensa Washington? Aquele saco
de dinheiro deve ser bem grande.
Como já disse aqui
muitas vezes o Secretário Assistente de Defesa para Assuntos Internacionais de
Segurança me falou anos atrás que Washington compra políticos europeus com
sacos cheios de dinheiro. Resta saber se os “líderes” europeus estão dispostos
a sacrificar seus povos e suas reputações para se tornarem cúmplices na guerra
que Washington está planejando contra a Rússia, uma guerra que pode significar
o fim da vida na Terra.
A Europa está sendo
convocada. Se os líderes disserem a Washington “não acontecerá, esquece!” o
mundo estará salvo.
Se, ao invés disso,
os políticos europeus quiserem o dinheiro, o mundo estará condenado.
Os europeus seriam os
primeiros a ir.
Dr. Paul Craig Roberts nascido em 03 de abril de 1939 é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
Tradução: mberublue
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