Obama agora executará
a Ucrânia,
já condenada à morte
Traduzido pelo coletivo de tradutores Vila Vudu
O presidente dos EUA está em viagem
pela Europa. O itinerário inclui Polônia, Bélgica e França. O foco da agenda é
a Ucrânia. Os EUA facilitaram o golpe armado encenado em Kiev e festejaram a
tomada do poder pelos nacionalistas. Na verdade, os EUA assinaram a sentença de
morte da Ucrânia. O governo faz o que pode para fortalecer a posição do novo
governo ucraniano. Obama não esperou nem a posse: já se encontrou com
Poroshenko durante visita a Varsóvia.
Obama estava reunido com o presidente eleito, no momento em que a aviação ucraniana bombardeava áreas urbanas populosas no leste do país. Na conversa com seu contraparte ucraniano, Obama disse:
“Estou entusiasmado ante as oportunidades. Creio que o povo ucraniano escolheu bem, ao eleger alguém com talento para liderar os ucranianos nesse período difícil. E os EUA estão absolutamente comprometidos com apoiar o povo ucraniano e suas justas aspirações, não só nos próximos dias e semanas, mas também nos anos que virão, porque confiamos que a Ucrânia pode, de fato, ser democracia viva e potente, com laços fortes com a Europa e laços fortes com a Rússia. Mas só poderá acontecer se nós apoiarmos claramente a Ucrânia, durante esse tempo difícil.”[1]
As palavras de Obama sobre os ucranianos terem “escolhido bem” ao escolherem Poroshenko não são só elogio ao eleito: são também ‘autorização’ para que prossiga a guerra civil e o banho de sangue, duas coisas que servem muito bem aos interesses dos EUA.
Em Varsóvia, o presidente dos EUA apoiou a política de usar força contra a oposição ucraniana. É difícil conceber que alguém fale sobre a unificação da Ucrânia, quando o Donbass está cercado por arame farpado, mas... Sim, sim, Obama e Poroshenko falaram exatamente sobre tal ‘tema’. Por exemplo: o presidente dos EUA disse que a ajuda militar dos EUA pode incluir óculos para visão noturna. Não que seja grande contribuição vinda de uma superpotência excepcional, mas é item realmente indispensável, porque, sem óculos para visão noturna, é impossível matar civis à noite, certo? Como Obama disse em Varsóvia, os EUA estão prontos a oferecer u’a mão amiga para ajudar a repelir “a agressão russa” na Ucrânia.
Segundo ele, os EUA respeitam seus compromissos internacionais com os parceiros do Leste Europeu. O presidente Obama até já pediu ao Congresso mais um pacote de segurança, de (mais) um bilhão de dólares. A ajuda, destinada principalmente a aliados da OTAN, será usada em manobras militares em terra, mar e ar, e em missões de treinamento por toda a Europa, com ênfase no leste. Mais pessoal norte-americano será movimentado pelo velho continente. “Uma presença persistente dos EUA em ar, terra e mar na região, especialmente na Europa Central e do Leste, é manifestação necessária e adequada de apoio a aliados” – lê-se numa declaração da Casa Branca sobre o pedido do novo bilhão de dólares ao Congresso. Geórgia, Moldóvia e Ucrânia estão entre os que receberão partes significativas da ‘ajuda’.
A presença naval no Báltico e no Mar Negro será ampliada. Os EUA planeja prover um pacote de segurança à Ucrânia, disse Derek Chollet, the Secretário-Assistente de Defesa para Assuntos de Segurança Internacional dos EUA. Os dois lados discutiram ajuda, inclusive os $18 milhões para a segurança, disse o funcionário do Pentágono em briefing para jornalistas em Kiev. Essa ajuda visará, dentre outras coisas a dar sufiente eficácia às Forças Armadas Ucranianas. Chollet disse também que a ajuda dos EUA foi baseada no que a Ucrânia pediu e inclui vários itens, além de armas. Os ucranianos enviaram longa lista do que precisam, e os EUA e parceiros próximos (França, Grã-Bretanha e Polônia) trabalharão para satisfazer as necessidades – disse ele.
Como essas migalhas caídas da mesa do banquete dos patrões conseguirão arrancar o país de profunda crise em curso? Ninguém sabe.
É preciso encarar os fatos. A economia ucraniana está em ruínas. Essa situação foi criada com a “assistência” dos parceiros de além mar.
Desde a revolução “Laranja” apoiada os EUA em 2004, o PIB da Ucrânia caiu duas vezes a nível comparável ao de muitos países em desenvolvimento. Em 2004, era de $312 bilhões, ou igual ao PIB da Arábia Saudita e Bélgica. Em 2013, caiu para $175 bilhões, comparável ao do Vietnã e apenas um pouco superior ao PIB de Angola. A queda da economia da Ucrânia não causou qualquer dificuldade à Rússia; no mesmo período, o PIB russo multiplicou-se por 1,5. As ameaças de Yushenko, fantoche dos EUA, de que pararia de “alimentar a Rússia” jamais produziram qualquer efeito. Há apenas cinco anos, a Ucrânia era o quinto maior produtor mundial de grãos. A Rússia era o 11º. Ano passado, a Rússia já estava em 3º lugar, com a Ucrânia despencada para o 14º lutar. Durante esses anos, os preços dos grãos aumentaram 150%. Fácil entender o muito que a Ucrânia tem a pagar pela amizade que os EUA lhe dedicam...
Depois da reunião com Poroshenko, o presidente Obama disse que:
“Discutimos seus planos econômicos e a importância de erradicar a corrupção, aumentando a transparência e criando novos modelos de crescimento econômico. Discutimos questões de energia – para assegurar que a Ucrânia passe a ser economia eficiente no uso da energia, mas, simultaneamente, deixe de depender exclusivamente de fontes russas de energia. Fiquei profundamente impressionado por sua visão [de Poroshenko], em parte devida à sua experiência como empresário, que compreende bem o que é preciso para ajudar a Ucrânia a crescer e ser efetiva.”
Mas... de que ‘dependência’ fala Obama, no momento em que cresce a indignação na Europa porque Kiev reluta a quitar a dívida de gás super subsidiado que tem a pagar à Rússia. Ninguém paga $268,5 dólares por mil metros cúbicos, nem a Alemanha nem qualquer outro estado europeu. Todos estão habituados a pagar $400-500, com pequena variação, dependendo das condições de momento.
Europeus e a russa Gasprom absolutamente não entendem que estado é esse cujo governo não quer pagar pelo gás que recebe a preço baratíssimo... mas obriga o povo a suportar o ônus de não ter gás! Kiev parece não perceber que a Europa não a apoiará.
Em sua primeira reunião mais demorada com o presidente eleito da Ucrânia Petro Poroshenko, Obama disse que
“Nossa capacidade para modelar a opinião mundial ajudou a isolar completamente a Rússia. Por causa da liderança dos EUA, o mundo imediatamente condenou as ações russas”.
[É fala de autista. Difícil acreditar que tenha dito tal coisa,] e mais difícil ainda entender o que teria levado o presidente dos EUA a crer que a Rússia esteja isolada. Hoje, tudo isso parece sonho, ou delírio, sem qualquer contato com a realidade.
Os fatos apontam em direção oposta. A empresa-imprensa ocidental está chocada ante o amplo apoio com que o presidente Putin conta na Europa.
Pesquisa de opinião realizada pelo canal N-TV da televisão alemã chegou ao surpreendente resultado segundo o qual 89% de seus telespectadores apoiavam as políticas de Vladimir Putin, presidente da Rússia, para a Ucrânia. A maioria dos entrevistados responderam “sim” à seguinte pergunta: “Você compreende e aprova as políticas de Putin?” O resultado foi tão contrário ao que os entrevistadores esperavam, que a pesquisa foi retirada no mesmo dia da página da N-TV. Era tarde, porque muita gente já havia fotografado a tela e distribuído as fotos em páginas e pelas redes sociais.
Uma dessas imagens, postada na página Facebook de Christophe Hoerstel de Potsdam mostra que 89% dos entrevistados responderam um claro “sim”; 11% responderam “não”, e não havia outras opções de resposta.
Pesquisa do Wall Street Journal mostrou exatamente os mesmos resultados. Dizia que europeus letrados opõem-se firmemente a sanções contra a Rússia. Na mesma edição, o jornal mostrava que os índices de aprovação do governo Obama alcançavam recordes negativos históricos em pesquisas feitas nos EUA. Números sempre crescentes de norte-americanos rejeitam a posição de Obama na questão ucraniana.
Será que Poroshenko sabe disso? Ao destacar a importância de sua visita a Varsóvia, a imprensa-empresa ucraniana apresentou-o como “diplomata muito experiente”, provavelmente por causa da rica experiência que adquiriu quando foi ministro de Relações Exteriores. Poroshenko ocupou esse cargo por exatos TRÊS DIAS: de 9 a 12 de outubro de 2009.
Poroshenko é comerciante e empresário. Para ele a Ucrânia é e sempre será lugar de onde extrair lucros. Mas Obama ficou impressionadíssimo por seus planos (“Fiquei profundamente impressionado por sua visão, em parte por causa de sua experiência como empresário, que compreende tudo o que é necessário para ajudar a Ucrânia a crescer e ser efetiva”). Não surpreende ninguém!
Hunter Biden, filho do vice-presidente dos EUA Joe Biden, acaba de ser contratado para a diretoria da empresa Burisma Holdings, maior produtor privado de gás da Ucrânia. O grupo tem interesse no leste da Ucrânia, onde se alastra a guerra civil, depois do golpe em Kiev. Biden aconselhará sobre “transparência, governança privada e responsabilidade, expansão internacional e outras prioridades” para assim “contribuir para a economia e beneficiar o povo da Ucrânia”. Aleksander Kwasniewski, ex-presidente da Polônia de 1995 a 2005 também participa da mesma diretoria. É uma espécie de leva-e-traz entre Washington e Kiev.
Como se vê facilmente, todos os pré-requisitos para que a Ucrânia seja convertida em colônia do ‘ocidente’ estarão criados em pouco tempo.
A primeira reunião entre Obama e Poroshenko gerou quantidades consideráveis de retórica anti-Rússia. Nas palavras de Obama:
“É importante para a comunidade internacional posicionar-se firmemente a favor dos esforços de Petro para negociar com os russos um processo pelo qual a Rússia deixe de financiar e apoiar separatistas armados em território soberano da Ucrânia, e que uma comunidade internacional unida deixe claro que há violação da lei internacional e que ela insiste em apoiar esses princípios, com consequências contra a Rússia no caso de o Sr. Putin não aproveitar a oportunidade para desenvolver melhor relacionamento com seus vizinhos – e essa tem de ser parte de nossa missão ao longo dos próximos vários dias”.
Na conferência com a imprensa, o presidente dos EUA disse que não tem interesse em ameaçar a Rússia, mas que a Rússia tem de respeitar a soberania da Ucrânia, conter os combatentes separatistas e trabalhar junto com Poroshenko.
Se a Rússia não obedecer, disse Obama, mais sanções já estão preparadas. “O Sr. Putin tem uma escolha a fazer” – disse Obama. – “É o que lhe direi se o encontrar publicamente. E é o que já lhe disse privadamente.”[2]
Obama disse que oferecerá a Poroshenko o apoio dos EUA para a economia ucraniana, para garantir que superem o inverno, no caso de Moscou fechar as torneiras do fornecimento de gás, em ação de retaliação pela falta de pagamento (sic). Washington reconheceu que a Rússia teve relacionamento histórico com a Ucrânia e tinha interesses legítimos sobre o que acontecesse nas suas fronteiras – disse Obama. – “Mas nós também acreditamos que os princípios de integridade territorial e soberania têm de ser respeitados. Preparamos custos econômicos a serem cobrados da Rússia, que podem aumentar se, de fato, continuarmos a ver a Rússia ativamente desestabilizando um de seus vizinhos do modo como já vimos recentemente”.
Solicitado a comentar se o tópico Ucrânia seria discutido, Peskov, porta-voz de Vladimir Putin presidente da Rússia, disse que o presidente Putin estava disposto a discutir quaisquer temas. No contexto das celebrações que marcam os 70 anos do desembarque das tropas aliadas na Normadia, Putin “manterá inúmeros contatos, como eles dizem, em pé” – disse Peskov. Mas não há nada marcado, de qualquer reunião entre o presidente da Rússia Vladimir Putin e Petr Poroshenko. “Não, ninguém está trabalhando nisso” – Peskow disse à Interfax. *****
[1] http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2014/06/04/remarks-president-obama-and-president-elect-petro-poroshenko-ukraine-aft
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