As mentiras só aumentam...
por Paul Craig Roberts
Se por acaso ainda houvesse
alguma dúvida de que os líderes do ocidente vivem em um mundo de faz-de-conta
fantasioso elaborado a partir de suas mentiras, a reunião do G-7 e a celebração
do 70º aniversário do desembarque na Normandia acabou com a dúvida.
As besteiras que foram
gritadas nessas ocasiões bastam para explicitar quem é quem. Obama, com seu
cãozinho de colo Cameron ao lado, descreveu o desembarque da Normandia em 06 de
junho de 1944 como sendo “a maior força de liberação que o mundo já conheceu” e
fez com que os Estados Unidos e a Grã Bretanha ficassem com todo o crédito da
derrota de Hitler. Nem a mais leve
menção sobre a União Soviética e o Exército Vermelho, que por três anos, ainda
antes do desembarque da Normandia já estavam lutando e derrotando a Wehrmacht.
alemães em Stalingrado |
A derrota alemã na
Segunda Guerra Mundial aconteceu na batalha de Stalingrado, que foi travada no
espaço de tempo entre 23 de agosto de 1942 até 03 de fevereiro de 1943, quando
a maioria dos remanescentes do poderoso Sexto Exército Alemão se rendeu,
incluindo 22 generais.
A verdadeira maior
força de invasão já montada no planeta Terra foi a que invadiu a Rússia,
através de uma frente de batalha de mil e seiscentos quilômetros. Três milhões
de tropas alemãs de primeira linha; 7.500 unidades de artilharia, 19 divisões
panzer com 3.000 tanques e 2.500 aviões deslocaram-se pela Rússia por 14 meses.
Em junho de 1944,
três anos depois, restava bem pouco dessa força. O Exército Vermelho a tinha
mascado. Quando os assim chamados “aliados” (um termo que aparentemente exclui
a Rússia) chegaram à França, enfrentaram bem pouca resistência. As melhores
forças que ainda restavam para Hitler estavam engajadas no front russo, que
desabava dia após dia, conforme o Exército Vermelho se aproximava de Berlim.
Cineastas de
Hollywood e escritores de best-sellers, naturalmente, enterraram os fatos bem
fundo. Os americanos produziram todo o tipo de filme, como “Uma ponte longe
demais”, que retratam acontecimentos pontuais e insignificantes, mesmo sendo heróicos,
como pontos de virada da guerra. Não obstante, os fatos reais são claríssimos.
A guerra foi vencida no front oriental pela Rússia. Filmes de Hollywood são
divertidos, mas não passam de nonsense.
A Rússia mais uma vez
está sendo escanteada pela “comunidade internacional” porque os planos de Obama
para se apoderar da Ucrânia e expulsar a Rússia de suas bases no Mar Negro deram
com os burros n’água. A Criméia tem sido parte da Rússia por mais tempo que a
existência dos Estados Unidos. Khrushchev, um ucraniano, anexou a Criméia à
República Socialista da Ucrânia em 1954 quando Rússia e Ucrânia faziam parte do
mesmo país.
Quando o governo
ucraniano, fantoche de e imposto por Washington declarou que estava por abolir
o uso da língua russa e mandaria prender ucranianos que tivessem dupla
cidadania Ucraniana/Russa, e ao mesmo tempo começou a derrubar memoriais de
guerra russos que foram consagrados à libertação da Ucrânia dos nazistas alemães,
o povo da Criméia usou a câmara de votação e a urna para primeiro, se dissociar
da Ucrânia declarando a própria independência e em seguida, para reunificar-se
à pátria mãe.
Washington, assim
como outros países do G-7, que seguem caninamente as ordens de Washington
descreveram este ato de autodeterminação, que em nada se difere do ato de
autodeterminação declarado pelas colônias britânicas na América, como se fosse
um caso de “invasão e anexação pela Rússia”. Outros esforços semelhantes de
separação de Kiev estão em curso em diversos territórios que hoje compreendem o
leste e o sul da Ucrânia. Washington tem
equiparado o esforço de autodeterminação no leste ucraniano a “terrorismo” e
encorajou seus fantoches em Kiev a usar violência militar contra manifestantes
civis. A razão de chamar os manifestantes de “terroristas” é dar o OK para
matá-los.
É muito esquisito
para qualquer pessoa descobrir que o presidente dos Estados Unidos e os líderes
dos estados da Europa ocidental declaram publicamente mentiras tão descaradas
sobre o mundo. Há historiadores no mundo. O mundo tem pessoas esclarecidas com
conhecimentos bem maiores que excedem de muito a mídia convencional também
conhecida como Ministério da Propaganda Política, ou, como Geraldo Celente a
chama, “a presstituta”. Seja lá como a chamamos, a mídia ocidental é uma
coleção de putas bem pagas. Eles mentem por dinheiro, por convites para
jantares festivos, e convites para grandes contratos com bons honorários para
escrever livros com enormes adiantamentos.
Eu sei. Eles tentaram
me recrutar.
Observe a forma
restrita pela qual Washington define a “comunidade mundial”. A “comunidade
mundial” consiste no G-7 o Grupo dos Sete. É isto. Sete países formam a chamada
“comunidade mundial”, a qual, na visão de Washington, é composta de seis países
e do fantoche de Washington, o Japão. A “comunidade mundial” é feita dos Estados
Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália e Japão. Todos os outros
190 paises não fazem parte da “comunidade mundial” de Washington. Pela doutrina
neocon, sequer fazem parte da humanidade.
Toda a “comunidade
mundial” não possui a população de apenas um dos países dela excluídos. Você
pode escolher entre China e Índia. Não fiz os cálculos, mas provavelmente a
massa terrestre da Rússia ultrapassa o total da massa terrestre da “comunidade
mundial”.
Então, que diabos é
essa “comunidade mundial”?
O conjunto dos países
vassalos dos Estados Unidos forma a “comunidade mundial”. Alemanha, Inglaterra
e França foram importantes no cenário do século 20. Suas histórias são objeto
de estudos nas universidades. O padrão de vida de sua população é decente,
embora não para todos. Seu passado é a razão de sua importância atual. Com
efeito, estes países foram impulsionados pela história, ou pelo menos, pela
história se tornaram importantes para o ocidente. O Japão, atualmente mero
apêndice de Washington anela se tornar “ocidental”. É impressionante como pode
um povo orgulhoso e guerreiro anular-se até o nada.
Bom. Como finalmente
parei de gargalhar com a presumida desimportância da Rússia na derrota de
Hitler, podemos retornar para a reunião do G-7. Desta vez o Grande Acontecimento
da reunião foi a exclusão da Rússia, encolhendo o G-8 para tornar-se o
G-7.
É a primeira vez em
17 anos que a Rússia não tem permissão para participar da reunião do grupo do
qual faz parte. Por quê?
A Rússia está sendo
punida. Está sendo isolada dos sete países que o Idiota da Casa Branca houve
por bem dizer que constituem a “comunidade mundial”.
Obama está bravo
porque seu Conselho de Segurança Nacional e os idiotas que nomeou para o
Departamento de Estado e para a ONU não têm educação ou conhecimentos
suficientes para saber que a maior parte da Ucrânia consiste de antigas
províncias russas habitadas por russos. Os imbecis ignorantes que Obama nomeou acharam
que poderiam tomar a Criméia, expulsar a Rússia, tirando seu acesso ao
Mediterrâneo, o que a tornaria incapaz de manter sua base naval em Tartur, na
Síria, facilitando a invasão da Síria por Washington.
Tamerlão, o Grande |
A Criméia tem sido
parte da Rússia desde que a Rússia finalizou a reconquista dos tártaros. Eu me
recordo da etnia Tártara ou Tartarlar, quando de minha visita a Timur, ao
túmulo de Tamerlão o Grande, em Samarkande (cidade do Uzbequistão. O nome quer
dizer “cidade de pedra” – NT) há 53 anos. A cidade de Tamerlane atualmente foi
convertida em um centro turístico. 53 anos atrás em vi um lugar desolado e em
ruínas, com árvores crescendo por cima do topo dos minaretes.
Com o fracasso do
plano de Obama de tomar a Ucrânia falhou, como se tornou comum em outros planos
seus, os porta vozes de Washington para interesses privados resolveram
aproveitar a oportunidade para demonizar Putin e a Rússia e restaurar a Guerra
Fria. Obama e seus fantoches, ou vassalos, do Grupo dos 7, usaram a ocasião
para ameaçar a Rússia com sanções reais, já que as sanções de fancaria da atual
propaganda política não surtiram efeito. De acordo com Obama e seu cachorrinho
de colo Cameron, Putin deve, sabe-se lá porque, evitar que a população russa da
Ucrânia oriental proteste contra a subserviência a um governo neofacista em
Kiev, apoiado por Washington e outros.
Supostamente Putin
deveria abraçar fraternamente o oligarca, antigo ministro do governo derrubado
pelo golpe patrocinado por Washington e colocado no cargo por falsos votos nos
quais a participação da população votante da Ucrânia não passou de pequeno
percentual do total. Putin deveria ainda beijar o oligarca corrupto nas duas
faces, pagar as contas de gás natural da Ucrânia e esquecer todos os seus
débitos. Adicionalmente, a Rússia em tese deveria repudiar o povo da Criméia, rever
sua adição à Federação russa e entregá-los aos assassinos do Pravy Sektor
(Setor da Direita – partido ucraniano neonazista – [NT]) para que sejam eliminados
como vingança pela vitória russa contra a Alemanha nazista, pela qual muitos
ucranianos ocidentais lutaram. Em troca de tudo isso, a OTAN e Washington
colocarão muitas bases de mísseis nas fronteiras russas como forma de proteger
a Europa de mísseis balísticos intercontinentais iranianos que não existem.
Deveria ser então um
jogo de ganha-ganha para a Rússia...
O regime de Obama,
usando suas muito bem pagas ONGs acabou por derrubar um governo
democraticamente eleito, um governo que não era mais corrupto que qualquer
outro da Europa ocidental, oriental ou que Washington.
Na Inglaterra,
França, Alemanha e Itália, os idiotas que as comandam estão sacudindo seus
punhos fechados na direção da Rússia, ameaçando com mais sanções, desta vez
reais. Será que esses dementes realmente querem que seu próprio fornecimento de
energia seja cortado? Não há perspectiva, apesar da propaganda política
enganosa, de que Washington possa suprir a energia de que a indústria alemã
depende, ou a da qual dependem os europeus para não congelar no próximo
inverno.
Eventuais sanções
contra a Rússia destruirão a Europa e terão pouco ou nenhum efeito sobre a
Rússia. Esta já se movimenta, juntamente com China e o restante dos BRICS, para
fora do mecanismo de pagamento em dólares.
Na realidade o que o
Bobo da Casa Branca, o neoconizado Conselho de Segurança Nacional, a mídia
presstituta e o Congresso estão a fazer é apoiar e dar suporte às suas
políticas com base apenas na presunção e na arrogância, o que está levando os
Estados Unidos para o abismo.
Um abismo assim é
como um buraco negro. Você não consegue sair dele.
As mentiras de
Washington são tão claramente flagrantes e transparentes que Washington está
destruindo a própria credibilidade. Considere por exemplo o caso da espionagem
levada a efeito pela NSA. Documentos revelados por Snowden e Greenwald tornam
bem claro que Washington não apenas espionou líderes governamentais e o povo
comum mas também empresas estrangeiras com o fito de privilegiar interesses
comerciais e financeiros dos Estados Unidos. Nunca foi colocado em dúvida que
os EUA roubam segredos comerciais chineses. Washington não apenas nega que os
documentos apresentados provem alguma coisa, como posa de vítima e acusa cinco
generais chineses de espionar empresas norte americanas.
Estas acusações
descabidas e sensacionalistas têm apenas uma finalidade: propaganda política
manipulada. De qualquer outra forma que se olhe, as acusações são totalmente sem
sentido, se não simplesmente falsas. Claro que a China nem pensa em entregar
cinco de seus generais para gáudio dos mentirosos em Washington, mas é uma
oportunidade de ouro para a mídia presstituta desviar os holofotes da NSA e
assestá-los na China, que vem a calhar para substituir a NSA como vilã.
Por que o Brasil, a
China, a Alemanha e outros países espionados não emitem mandados de prisão
contra os altos oficiais da NSA, contra Obama e contra os membros do Comitê de Fiscalização
do Congresso? Por que permitem que os Estados Unidos sempre ataquem primeiro
com sua propaganda manipulada para controlar as explicações?
O povo dos Estados
Unidos é muito suscetível à manipulação política dos fatos. Parecem mesmo gostar
disso. Pense no ódio instigado até agora contra o sargento Bowe Bergdhal, um
soldado dos EUA recentemente libertado pelo Talibã em uma troca de prisioneiros.
A comemoração que se realizaria em sua cidade natal festejando a sua libertação
foi cancelada por causa da sede de sangue desencadeada pelo ódio com o qual a mídia
presstituta atacou Bergdhal. A engenharia do ódio erguida pela mídia contra
Bergdhal tem feito acontecer uma enxurrada de ameaças contra a cidade de
Hailey, Idaho.
Mas afinal de contas,
em que se baseiam os ataques contra Bergdhal? Aparentemente, a resposta é que
Bergdhal, como a estrela do futebol americano Pat Tillman, que recusou um
contrato de 3,6 milhões de dólares para se unir aos rangers do exército e
entrar em combate pela liberdade no Afgeganistão, adquiriu um monte de dúvidas
sobre a guerra. Originalmente, a morte de Pat Tillman foi atribuída a uma ação
heróica e ao fogo inimigo. Depois, verificou-se que Tillman foi abatido por “fogo
amigo”. Muitas pessoas concluíram que ele foi abatido porque o governo não
precisa de um herói esportivo falando mal da guerra. Como agora Bergdhal está
fora do alcance da batalha e do fogo amigo, ele tem que ser abatido pela
imprensa, exatamente como a Rússia, China, Irã, Putin, Assad, o povo da Criméia
e a população de língua russa na Ucrânia.
Nenhuma única virtude
moral tem sido cultivada nos EUA, mas o cultivo do ódio e o ódio vão bem,
obrigado.
Paul Craig Roberts - nascido
em 03 de abril de 1939 é um economista norte-americano, colunista do Creators
Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração
Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business
Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de
política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado
em Counterpunch e no Information Clearing House,
escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde
Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a
proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais
como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado
posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as
drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel
contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da
Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na
Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford
University.
Tradução: mberublue
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