Uma nova recessão e talvez um novo
mundo, finalmente livre da arrogância de Washington?
por Paul Craig Roberts
tradução: mberublue.
Finalmente, foi
liberado hoje (25/06) um número final para o real Produto Interno Bruto dos
Estados Unidos no primeiro trimestre de 2014. O número não é o de um
crescimento de 2,6% predito pelos economistas boca-de-burro em janeiro deste
ano. O número é um DECLÍNIO do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos para
-2,9%. O crescimento negativo de -2,9% noticiado por si só já é um eufemismo,
pois somente foi alcançado pela subestimação da inflação ocorrida durante o
período. Durante o regime Clinton, a Boskin Commission (grupo de estudos nomeado pelo Senado dos Estados Unidos em 1995 para
medir a inflação – NT) manipulou
o cálculo da inflação para enganar os beneficiários da Seguridade Social em
seus ajustes do custo de vida. Qualquer cidadão, ao adquirir comida,
combustível ou seja o que for, sabe que a inflação está muito mais alta que os
números oficiais fornecidos pelo governo.
É bem possível que a
queda real do PIB no primeiro trimestre seja de três vezes o número oficial.
De qualquer forma, a
diferença entre a previsão de crescimento de 2,6% feita em janeiro e o declínio
no final de março, de 2,9% é enorme.
Qualquer economista
de verdade e que não esteja sendo pago por Wall Street, pelo governo ou pelo
establishment, sabe que a previsão de crescimento de 2,6% era uma safadeza. Com
exceção do 1%, o rendimento do povo americano não cresceu e o único crescimento
real que aconteceu foi o dos empréstimos a estudantes, já que muitos dos que
não conseguem encontrar um emprego voltam-se de forma errônea para a crença de
que “educação é a resposta”. Em uma economia que se baseia na demanda de
consumo, a falta de aumento nos rendimentos e no crédito significa que a
economia não crescerá.
A economia dos EUA não pode crescer porque, incentivadas
por Wall Street, as corporações transferiram a economia dos Estados Unidos para
uma economia offshore (empresas offshore
são aquelas entidades comerciais ou financeiras que se localizam em domicílio
diverso do país de seus proprietários e não sujeitas, portanto, às leis desse
país. “Economia offshore”, como denomina o autor, seria uma economia
grandemente localizada fora do país, por motivos comerciais, como mão de obra
mais barata e isenções fiscais, por exemplo – NT). São feitos fora do país os produtos manufaturados dos
Estados Unidos. Preste atenção nas etiquetas de suas roupas, sapatos, sua
comida e utensílios de cozinha, seus computadores, qualquer coisa. Trabalhos
profissionais dos Estados Unidos, como engenharia de software, migraram para
fora do país. Uma economia com economia fora do país não é uma economia. Tudo
acontece bem na nossa frente, enquanto os bem pagos figurantes mentirosos do
mercado declaram que os americanos são beneficiados por dar seus empregos da
classe média americana para a China ou a índia.
Tenho mostrado essas
mentiras por uma ou duas décadas, e é por isso que há tempos não sou convidado
para falar para universitários americanos ou para associações financeiras
americanas. Os economistas gostam muito do dinheiro que recebem para mentir. A
última coisa que querem em seu meio é uma pessoa que fale a verdade. Um
declínio oficial de -2,9% no primeiro trimestre significa que o segundo
trimestre também verá um declínio do PIB. Uma recessão é definida como dois
trimestres consecutivos de PIB negativo.
Pense nas consequências
de uma recessão. O significado é o de que anos de Quantitative Easing (Flexibilização Quantitativa – política
monetária fora do convencional, onde ocorrem compras massivas de valores
mobiliários por um Banco Central ou governo com a intenção de reduzir juros e
aumentar a oferta de moeda. Considerada atualmente financeiramente perigosa
pelo risco de aumento da inflação e redução do crédito [o que diminuiria a
produção], se os bancos resolverem estocar o excesso de moeda gerado por essa
política financeira – NT) falharam
em reativar a economia. Significa ainda que anos de déficits fiscais
Keynesianos não conseguiram reativar a economia. Nem as políticas fiscais nem
as monetárias tiveram sucesso. O que
pode reativar a economia?
Nada, exceto forçar o
retorno da economia que as corporações antiamericanas levaram para fora, o que
requer um governo que tenha credibilidade. Infelizmente, o governo dos Estados
Unidos perde credibilidade desde o segundo mandato de Clinton. A credibilidade
não mais existe. Nada.
Atualmente não existe
qualquer lugar no mundo onde se acredite no governo dos Estados Unidos, com
exceção dos zumbis americanos sem cérebro que lêem e assistem a “mídia
convencional”. A propaganda política manipulada de Washington dominou a mente
dos estadunidenses, mas em qualquer outro lugar do mundo, produz gargalhadas e
escárnio.
As perspectivas
cambaleantes da economia dos Estados Unidos levaram dois grandes lobbies de
negócios – A Câmara de Comércio dos Estados Unidos e a Associação Nacional de Fabricantes
(ou o que restou delas) a entrar em conflito com a ameaça do regime de Obama,
que pretende novas sanções contra a Rússia.
De acordo com o
Bloomberg News, a partir de amanhã (26 de
junho – o que realmente aconteceu - NT),
as associações de negócios começarão a postar anúncios do New York Times, Wall Street Journal e Washington Post em oposição a
novas sanções contra a Rússia. As organizações comerciais dos Estados Unidos
dizem que as sanções contra a Rússia prejudicarão seus lucros e significarão mais
desemprego para os estadunidenses.
Dessa forma, duas
grandes organizações de comércio e finança dos Estados Unidos, o que significa
dizer grandes doadores de campanhas políticas, finalmente juntaram suas vozes
às dos homens de negócios da Alemanha, da França e da Itália.
Fora o público norte-americano
que sofreu a lavagem cerebral da mídia, todos sabem que a “crise da Ucrânia”
não passa de um trabalho engendrado por Washington. Homens de negócios europeus
e dos Estados Unidos perguntam: “por que devemos sacrificar nossos lucros e
nossos trabalhadores por causa da propaganda política mentirosa de Washington
contra a Rússia (?)”.
Para isso, Obama não
tem resposta. Talvez a sua escória neocon representada por Victoria Nuland,
Samantha Powers e Susan Rice possa apresentar uma resposta. Obama pode contar
com o New York Times, Washington Post,
Wall Street Journal e Weekly Standard
para explicar porque milhões de norte-americanos devem sofrer para que o roubo
que Washington pratica contra a Ucrânia não seja ameaçado. As mentiras de
Washington aumentam com Obama. A chanceler alemã Angela Markel é uma completa
prostituta de Washington, mas a indústria alemã está dizendo à puta de
Washington que para eles, tem muito mais valor seus negócios com a Rússia que o
sofrimento que terão que passar por causa dos motivos do império de Washington.
Os homens de negócios franceses estão inquirindo a Hollande quais as suas
propostas para os milhares de trabalhadores franceses que fatalmente perderão seus
empregos na França caso Hollande resolva seguir os ditames de Washington. As
empresas italianas estão lembrando ao governo de seu país – se é que a Itália
tem um – que os estadunidenses são pessoas grosseiras e sem finesse e que as
sanções contra a Rússia significam um golpe diretamente contra o setor
econômico mais reconhecido e organizado da Itália – o setor de produtos de luxo
de alto padrão.
As divergências entre
Washington e os dois governos joguetes de Washington na Europa estão se
espalhando. A última pesquisa realizada na Alemanha mostra que três
quartos da população alemã rejeitam de forma permanente a instalação de
bases da OTAN na Polônia e nos Estados Bálticos. A antiga Checoslováquia, atual
Eslováquia e a República Checa, mesmo sendo estados membros da OTAN não mais
aceitam a OTAN e as tropas dos Estados Unidos em seus territórios.
Recentemente, um ministro da Alemanha disse que para satisfazer Washington é
preciso lhe dar uma rodada de sexo oral, sem benefício algum em retorno.
Os rumos que os
idiotas de Washington estão dando à OTAN podem pouco a pouco destruir a
organização. Reze para que isso realmente aconteça. A desculpa para a
existência da OTAN acabou com o colapso da União Soviética, 23 anos atrás. No
entanto, Washington incrementou a OTAN, que cresceu para além das fronteiras da
Organização do Tratado do Atlântico Norte. Hodiernamente, a OTAN cobre do
Báltico até a Ásia Central. Para que haja uma razão que justifique a constante
e caríssima expansão da OTAN, Washington resolveu construir um novo inimigo: a
Rússia.
A Rússia tem deixado
muito claro que não pretende fazer da OTAN e de Washington seus inimigos. Mas o
complexo exército/segurança dos Estados Unidos, que anualmente consomem um
trilhão de dólares (USD 1.000.000.000.000) dos já pressionados pagadores de
impostos estadunidenses precisa de uma desculpa que faça com que os lucros
continuem fluindo.
Infelizmente, os
imbecis em Washington escolheram um inimigo perigoso. A Rússia é uma potência
com armas nucleares, um país de vastas dimensões e com uma aliança estratégica
com a China. Apenas um governo que se afoga na própria arrogância e húbris ou
um governo cheio de psicopatas e sociopatas escolheria tal inimigo.
O presidente russo,
Vladimir Putin alertou a Europa de que a política de Washington para o Oriente
Médio e Líbia não apenas se revelou num fracasso total, como prejudica
fortemente a Rússia e a Europa. Os imbecis em Washington removeram os governos
que contiveram os jihadistas. Agora, os jihadistas violentos estão desenfreados.
Estão neste mesmo instante refazendo no Oriente Médio as fronteiras artificiais
impostas pela Bretanha e pela França após o final da Primeira Grande Guerra
Mundial. A Europa,assim como a Rússia e a China, todos tem populações islâmicas
e agora devem se preocupar, porque a violência desencadeada por Washington
poderá provocar a desestabilização de regiões da Europa, Rússia e China.
Ninguém, em qualquer
parte do mundo, tem motivos para gostar dos Estados Unidos. Muito menos todos
os estadunidenses, sangrados até a inanição para que Washington possa fazer
paradas de exibição de poder pelo mundo afora. A taxa de aprovação de Obama é
de minguados 41% e ninguém gostaria que ele permanecesse no gabinete, uma vez
terminado seu segundo mandato. Contrastando com isso, dois terços da população
russa querem que Putin permaneça como seu presidente depois de 2018.
Em março, a agência
de pesquisa Public Opinion Research Center, informou que a taxa de aprovação de
Putin chegava a 76%, e isso apesar da agitação contra ele, promovida pelas ONGs
russas financiadas pelos Estados Unidos e instaladas às centenas como quintas
colunas estabelecidas na Rússia por Washington durante as duas últimas décadas.
No topo dos problemas
da política dos Estados Unidos o dólar americano encontra-se em perigo. O dólar ainda se mantém com o nariz fora d’água
Porque os mercados financeiros estão sendo pressionados pelos Estados Unidos a
manter o seu valor, através da impressão desenfreada de suas próprias moedas
para comprar dólares. Para que isso se mantenha, uma grande parte do mundo está
sendo corroído pela inflação. Quando todo mundo finalmente abandonar essa
política insana e correr para o ouro, a China estará com tudo.
Um dos conselheiros
do presidente Putin, Sergey Glazyev, já disse ao presidente russo que apenas
uma aliança que faça com que dólar americana perca seu valor pode fazer cessar
as agressões de Washington. Esta é, há muito tempo, a minha própria opinião.
Não haverá, não pode haver paz enquanto Washington puder continuar imprimindo
dinheiro para financiar mais guerras.
Como já disseram os
governantes chineses, está na hora de “desamericanizar o mundo”. Os líderes de
Washington falharam completamente com o mundo, produzindo nada mais que
mentiras, violência, morte e a promessa de mais violência. Os Estados Unidos
são excepcionais apenas na medida em que Washington, sem qualquer remorso,
destruiu em parte ou no todo, sete países apenas neste começo do século 21.
Enquanto a liderança em Washington não for substituída por líderes mais humanos,
a vida na Terra não tem futuro.
Paul Craig Roberts. (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista
norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como
secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como
um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall
Street Journal, Business Week e Scripps Howard
News Service. Testemunhou perante comissões do
Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século
XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e
no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os
efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra
contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e
o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados
republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e
criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um
graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade
de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na
Faculdade de Merton, Oxford University.
Tradução: mberublue
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