Relatório da situação – SITREP –
Ucrânia, 31 de maio 21h13 UCT/zulu – Por que a junta não pode tomar Slaviansk?
The Saker
SITREP de combate, por “Juan”
(Juan)
Confirmou-se que
sistemas Igla-S (sistema de mísseis
portáteis para defesa aérea. Sofisticado e muito eficiente. Detecta fontes de
calor e até o formato do alvo a ser atingido. Serve para atuação contra
aeronaves ou mesmo mísseis de cruzeiro desde que voem a velocidade subsônica [NT]) de mísseis antiaéreos foram encontrados
“abandonados” perto de uma estrada rural pelo exército do Donbass. A quantidade
é desconhecida.
Igla-S |
Existe um vídeo de um
avião de ataque ao solo ucraniano, tipo Sukhoi, sendo abatido em 30 de maio.
Sem confirmação do incidente pela testemunha que teria visto o acontecido. É
perfeitamente visível no vídeo quando o piloto ejeta.
Em 30 de maio alguns
edifícios governamentais foram tomados pelas pessoas em Ternopol. Um edifício
administrativo foi queimado.
ZU-23 |
Vários sistemas antiaéreos
ZU-23 (canhão automático antiaéreo de 23
mm [NT]) – que podem ser usados com
devastadores efeitos como metralhadoras pesadas de tiro rápido na luta em solo
– foram “achados” pelo exército do Donbass. Quantidade e origem das novas armas
são totalmente desconhecidas. Agora, estão a serviço do exército do Donbass.
Embora sem
confirmação, estima-se em 50 civis o número de mortes causadas pelos
bombardeios de Slaviansk e Donetsk. Uma menina de cinco anos perdeu o pé em
virtude de ferimentos causados pelos bombardeios.
Ontem e hoje crianças
estavam sendo evacuadas de Slaviansk para a Federação Russa e mandadas para
Sebastopol. A evacuação foi suspensa por causa da situação em Slaviansk desde o
início da tarde, horário local.
Os combates que
continuavam a acontecer em partes de Slaviansk e áreas da periferia durante
todo o dia, foram intensificados a partir das 17h55 (horário local) do dia 31
de maio.
Lutas esporádicas
ainda ocorrem na área do aeroporto de Donetsk desde a tarde do dia 29 de maio.
Continuam hoje (31 de maio).
Até 28 de maio há
relatos de que houve 627 baixas no exército da junta. As baixas desta data até
agora seriam de 250, conforme a mesma fonte. Ambos são números KIA (mortos em
ação). O número de WIA (feridos em ação) não é conhecido com precisão, mas
estima-se que sejam mais que 700 feridos em ação até 28 de maio. Depois disso,
não há estimativas para feridos em ação.
Foi confirmado um
número de no mínimo 1428 deserções no exército ucraniano até 28 de maio. Depois
dessa data não há conhecimento do número de deserções até hoje (31 de maio).
Não há conhecimento se nesses números estão inclusas as baixas ocorridas na
Guarda Nacional/Pravy Sektor (Setor de
Direita – partido ucraniano com tendências neonazistas [NT]).
Às
18h21 (horário local) conforme relatos ainda sem confirmação, no aeroporto de
Donetsk de que uma unidade da Junta, ou pelo menos algumas de suas armas,
tornaram-se lutadores da Guarda Nacional/Pravy Sektor no terminal do aeroporto,
por razões desconhecidas.
(The Saker)
As minhas próprias
fontes relatam que aconteceram em Slaviansk os ataques de artilharia mais
pesados, sempre com bombas caindo aleatoriamente em qualquer lugar da cidade.
Porém a grande e dura barragem de artilharia que “Juan” e, a propósito, também
um dos líderes da resistência, Viacheslav Ponomarev temiam para a noite
passada, acabou por não acontecer. Em outras palavras, os meios para destruir
Slaviansk estão a postos, mas a decisão política ainda é esperada para o início
da ação. Como Crossvader e outros já sugeriram, tal decisão implicaria em
riscos enormes para o regime em Kiev.
Meu palpite pessoal é que os comandantes que estão liderando os
Esquadrões da Morte de Kiev ao redor de Slaviansk gostariam demais de abrir
fogo com tudo o que têm, contra aqueles que chamam de “terroristas” “insetos” e
“moskals” mas esse pessoal não vê, como Poroshenko em Kiev o faz, se não o
panorama geral, pelo menos uma visão mais abrangente. Em primeiro lugar: os
russos podem simplesmente abandonar de vez quaisquer negociações sobre as
entregas de gás. O certo é que a luta pelo controle da “teta” ucraniana está
hoje entre, de um lado o duo Poroshenko/Klichko, com a dupla se esforçando para
manter Kiev sobre controle, e do outro lado o circo de aberrações
Iarosh/Timoshenko/Tiagnibok/Liashko tentando colocar ainda mais pressão com
suas exigências alucinantes. Na Novorossia o acordo parece ser o seguinte:
“vamos fazer o suficiente para causar algum pânico, mas não o suficiente para
disparar um banho de sangue real.” Definitivamente, esta não é uma tática
eficiente.
Mesmo com um choque
inicial muito grande e pagando alto preço, as populações civis aprendem a
sobreviver e se adaptam depois de algum tempo após o início de operações de
combate, conforme já demonstrado em várias partes do mundo. Já há relatos de
que crianças são capazes de reconhecer com que armas estão sendo atacadas,
apenas ouvindo o seu som. As escolas estão fechadas e as famílias estão
passando seu tempo nos abrigos ou em locais próximos. Em relação aos homens que
combatem pelas Forças de Defesa da Novorossia (FDN), não serão nem eliminados,
nem obrigados a recuar apenas por ataques de artilharia. Mais uma vez, recentes
pesquisas sobre combates urbanos dão conta que artilharia e ataques aéreos não
são o bastante para prevalecer sobre forças militares treinadas e abrigadas no
interior de cidades.
combate urbano |
Exatamente como aconteceu
na Segunda Guerra Mundial, a única forma conhecida para derrotar uma força
militar treinada, incrustada e abrigada dentro de grandes cidades, é o combate
de infantaria prédio a prédio. Assim que as forças de ataque estiverem dentro
das cidades, torna-se muito complicado o uso de fogo de apoio pela artilharia (por
causa do risco de atingir suas as próprias forças). Apoio aéreo, principalmente
com bombas poderosas ou mísseis é especialmente perigoso. Talvez a ordem mais
perigosa a ser dada para uma tropa de infantaria seja precisamente a tarefa de
limpar uma cidade de seus defensores, rua após rua, casa após casa, mesmo se
apoiados por blindados, mas esta é a única maneira de fazê-lo. Com tropas de
assalto bem armadas (infantaria). O lado mais bem treinado e mais experiente
detém uma vantagem enorme, principalmente se a força atacante é o típico “desordeiro
de rua que virou membro da Guarda Nacional em duas semanas”.
Neste mesmo instante
a Junta está a usar uma velha técnica bolchevique: enviam para o combate
batalhões de conscritos e na retaguarda deles “esquadrões de bloqueio”, que não
passam de esquadrões da morte especialmente recrutados entre os membros do
Pravy Sektor, com a missão de executar sumariamente aqueles que se recusarem a
lutar. Tal método pode ser usado em terreno aberto, mas se torna mais difícil
de empregar no ambiente urbano. Assim, dentre as forças do exército ucraniano
que tem competência para isso (paraquedistas) são raros os que, dentre seus
membros, estejam dispostos a fazê-lo. Os que estão dispostos para executar essa
missão, ou seriam mortos dentro de alguns minutos (“desordeiros de rua que
viraram membros da Guarda Nacional em duas semanas”) ou são muito covardes para
tentar (esquadrões da morte).
Dessa forma, o que
temos visto até este momento, é que a Junta tipicamente não tem capacidade para
dirigir uma operação militar desse porte. O que eles têm conseguido fazer até
agora é:
01 – Em primeiro lugar, a tática
do terror: bombardeio aleatório em Slaviansk e outras cidades.
02 – Em segundo lugar, outra
tática terrorista: atirar em civis, de forma aleatória.
03 – Ataque a postos de controle
fora das cidades.
04 – Atacar alvos simbólicos que
se localizam fora das cidades como por exemplo, o aeroporto de Donetsk.
Como tenho dito, o
tempo é inimigo da Junta. Os civis estão sendo paulatinamente evacuados da zona
de combate e mesmo que as autoridades ucranianas estejam usando sórdidas
técnicas de perseguição e intimidação contra eles (como obrigá-los a abandonar
os ônibus e seguir caminho a pé), não podem simplesmente matar a todos (muitos
celulares com câmeras, muitos repórteres). Quanto às Forças de Defesa da
Novorossia (FDN) estão ficando claramente mais fortes a cada dia que passa,
adquirindo mais armas, como MANPADS (sistema de defesa aérea portátil que pode
ser usado a partir do ombro do atirador) e AA (armas antiaéreas) de fogo
rápido, já mencionadas anteriormente por “Juan”, que a FDN parece “encontrar” a
todo instante aqui e ali. Por falar nisso, MANPADS e AA são armas *perfeitas*
para serem usadas em combate urbano. Os MANPADS podem não apenas prevenir
ataques aéreos mas também impedir a mobilidade através do ar (transporte aéreo
de equipamentos e pessoal), como foi provado recentemente com a morte do
bandido-general da Junta encarregado da liderança da “Guarda Nacional” no Donbass.
As armas AA de fogo rápido podem não só servir como defesa antiaérea como
também podem transformar em confete um veículo blindado leve em segundos. Até
mesmo um tanque pesado de batalha será seriamente avariado se um ZU-23 utilizar
de forma correta munição perfuradora de blindagem atingindo-o várias vezes.
Entendo que até este momento, a FDN só tem em seu poder a versão rebocada,
porém mais cedo ou mais tarde chegarão os ZU-23 com auto propulsão (o ZU-23-4,
chamado carinhosamente de “Shilka”), normalmente usado como arma de defesa
antiaérea para qualquer divisão de infantaria motorizada ou regimento blindado.
Quanto aos velhos ZU-23-2, podem ser montados em qualquer caminhão ou pick-up
(embora tais veículos não sejam adequados para suportar durante muito tempo o
choque dos disparos). Penso que essas armas simples mas espetaculares são como “armas
da Segunda Guerra Mundial com esteróides”.
O que escrevi acima
sobre Slaviansk se aplica de forma ainda mais contundente em grandes cidades
como Donetsk, que a tudo isso adicionam mais dois obstáculos consideráveis que
as forças atacantes teriam que superar: enormes e fortes edifícios construídos
com concreto reforçado com porões profundos e uma rede complementar subterrânea
de comunicações. No primeiro caso, a dificuldade aumenta para o uso de
artilharia ou de ataques aéreos para auxiliar os ataques de uma eventual força
de infantaria e no segundo caso, torna-se quase impossível interromper as
comunicações dos defensores da cidade. Grandes cidades também têm mais armazéns
de comida, mais depósitos de suprimentos e munição e os defensores podem se
preparar melhor para a defesa (eixos de ataque são mais fáceis de serem
previstos em cidades) e as forças defensivas tem *mais* mobilidade dentro da
cidade que fora delas. Finalmente, cidades têm muito mais civis com câmeras e
telefones celulares e também muito mais jornalistas e repórteres. O custo
político do ataque a uma grande cidade é, assim, muito maior que os de um “massacre
privado” de alguma aldeia que, mesmo assim, normalmente são descobertos após
alguns dias. Os piores massacres ocorridos em Ruanda não tiveram lugar em
Kigali (que viu uma infinidade de horrores) mas em pequenas vilas escondidas
nas montanhas e florestas.
Concluindo: este
combate não pode ser vencido pelos líderes da Junta. A esperança deles era que
a Rússia entraria na batalha, mas se a Rússia resiste às provocações, o que
acredito que é exatamente o que a Rússia fará, eles mais cedo ou mais tarde terão
que desistir, como eu disse ontem.
(assina) The Saker
Tradução: mberublue
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