domingo, 8 de junho de 2014

Grande Projeto Geopolítico:


A empresa russa Gazprom assina acordos para abandonar o dólar!

 
por Umberto Pascali

Traduzido por mberublue


“Trata-se apenas da ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico começa a se materializar...”



Em 06 de junho de 2014, a agência russa oficial Itar Tass anunciou o que já era esperado pelo menos desde o início da crise ucraniana: a maior empresa russa de energia, Gazprom Neft finalmente “assinou acordo com seus consumidores” para trocar de dólares para euros (em uma transição para o rublo) “para pagamentos por força de contratos”. Na verdade, o anúncio é de que o acordo foi assinado e não apenas discutido, conforme informou o CEO (Chief Executive Officer – Diretor Executivo [NT]) da Gazprom, Alexander Dyukov.

Apesar das pressões de Wall Street e dos militares dos EUA, propaganda política e do aparato político movido, 9 entre 10 consumidores de petróleo e gás da Gazprom concordaram em pagar em euros. Torna-se claro que o divisor de águas foi o mega acordo sem precedentes firmado pela Gazprom para fornecimento de suprimento de gás natural para a China, feito em 21 de maio por 30 anos e no valor de 400 bilhões de dólares, assinado na presença do presidente Putin e do presidente Xi Jinping no meio da violenta desestabilização da Ucrânia deflagrada pelos governos Anglo/Americanos. Na realidade, é até impróprio falar em “acordo de 400 bilhões de dólares”, tendo em vista que tal negócio foi denominado não em dólares, mas nas moedas nacionais dos dois países, o rublo russo e o renminbi (ou Yuan) chinês. A China e a Rússia ficam pois ligados econômica e estrategicamente por três décadas, de fato (embora não de direito) criando uma aliança inabalável e simbiótica que envolverá necessariamente o aspecto militar.

O acordo Rússia/China promove uma clara derrota nas obsessivas tentativas geopolíticas de Wall Street de colocar os dois países em uma situação de competição desenfreada ou, ainda melhor, em estado de confrontação bélica. Com o acordo, ataca-se o fundamento histórico principal do mecanismo de dominação colonialista pela geopolítica britânica, de dividir para governar. Apesar de estarem sob ameaça constante e intimidações à segurança nacional dos dois países, China e Rússia superaram brilhantemente diferenças históricas, ideológicas e culturais que haviam sido estrategicamente colocados pelos poderes coloniais (e seus herdeiros financeiros em Wall Street e City de Londres) em sua estratégia dividir&conquistar.

Além do mais, para horror de Londres e Washington, China e Rússia concluíram um acordo com a Índia (os BRICS!) quebrando mais um conceito fundamental e sagrado da geopolítica colonial britânica: o segredo para controlar a Ásia (e a Eurásia) sempre foi o de instigar uma rivalidade perene entre China, Rússia e Índia. Esta era a fórmula para o “Grande Jogo do Século 19”. Foi o motivo que levou à escolha de Obama para suceder George W. Bush. O então candidato a vice presidente Joe Biden explicou muito clara e abertamente na convenção democrata em 27 de agosto de 2008 porque Obama-Biden foram escolhido para assumir a Casa Branca. O grande erro da administração Bush e dos republicanos, disse ele, não foi a sua belicosidade desenfreada e atroz, mas o seu fracasso.

“Para fazer frente às maiores forças que moldam este século. A emergência da Rússia, China e Índia como grandes poderes.” O anelo de Zbigniew Brzezinski, protegido de Barak Obama, era derrotar esta “ameaça”. Claro, “eles” falharam! Mas isso explica a obstinada, irracional, arrogância autodestrutiva ao estilo Rei Canuto (antigo Rei da Inglaterra que, conta a lenda, mandou o mar deter sua maré para ensinar uma lição a seus cortesãos [NT]) que tomou conta da atual administração.

O significado do desenvolvimento dos acontecimentos deve ser enfatizado não só em relação à economia real, mas a suas estruturas financeiras subjacentes. Estes desenvolvimentos têm o condão de ser suscetível de enfraquecer as “correntes que tem mantida amarrada a União Europeia a Wall Street e à City londrina”. O fim do sistema de pagamento em dólar (também conhecido como Petrodólar) não diz respeito apenas à moeda dos Estados Unidos ou a este enquanto tal. De fato, superar esse sistema significa a restauração de uma racional e próspera economia nos próprios Estados Unidos. Aquilo que conhecemos como “sistema dólar” não passa de um instrumento através de qual os senhores feudais dos centros financeiros pilham a economia mundial. Esses centros são capazes e estão prontos para fazer qualquer coisa para salvar esse direito de pilhagem. É bem sabido que qualquer que tenha tentado, até agora, criar uma alternativa para o sistema dólar, encontrou-se face a face com uma reação feroz.

É bom lembrar neste momento de grande esperança, as palavras de um grande estrategista ainda vivo, o general Leonid Ivashov. Em 15 de junho de 2011, refletindo sobre a selvagem destruição da Líbia, o general, que é uma espécie de porta voz não oficial das forças armadas russas e foi representante da Rússia na OTAN, escreveu:

“BRICS e a missão de reconfigurar o mundo”

Quem desafia a hegemonia de dólar, explica Ivashov, torna-se um alvo.

Dá exemplos precisos: Iraque, Líbia, Irã.

“Os países que desafiam a dominação do dólar sofrem enormes pressões e em certo número de casos, ataques devastadores.” Mas o “império financeiro erguido por Rothschilds e Rockefellers é impotente contra cinco grandes civilizações representadas pelos BRICS.”

Adiante, Ivashov defende uma estratégia coordenada dos países que representam a metade da população mundial para ganhar a independência ao usar suas próprias moedas.

“A mudança para as moedas nacionais nas transações financeiras entre os países BRICS certamente lhes garantirá um nível sem precedentes para a sua independência...”

Desde o colapso da União Soviética os países que desafiaram a dominação do dólar invariavelmente ficaram sob forte pressão e em certo número de casos – sob ataques devastadores. Saddam Hussein, que proibiu ma circulação do dólar em todas as áreas da economia iraquiana – inclusive nas transações comerciais de petróleo – foi deslocado e executado e seu país ficou em ruínas. M. Gadaffi iniciou uma troca nas transações de petróleo e gás utilizando moedas árabes garantidas em ouro, teve seu país alvo de ataques aéreos quase imediatamente... Teerã teve que segurar seu plano de sair do sistema dólar para também não se tornar vítima de ataques agressivos.

Ainda assim, mesmo com apoio ilimitado dos Estados Unidos, o império financeiro construído pelos Rothschilds e Rockefellers são impotentes contra a cinco grandes civilizações representadas pelos países que contabilizam quase a metade da população mundial, os países BRICS. Estes países são claramente imunes à grande pressão, seus países membros não parecem vulneráveis a revoluções coloridas e a estratégia de provocação e exportação de crises financeiras podem facilmente sair pela culatra, ser um tiro no pé.

Contrastando com os Estados Unidos e a União Europeia, os países do grupo BRICS têm recursos naturais suficientes não só para manter suas economias à tona nas configurações de disponibilidade de contratação de combustíveis de hidrocarbonetos, comida, água potável e energia elétrica, como também para manter um vigoroso crescimento econômico. A mudança para suas próprias moedas nacionais nas transações financeiras entre os países BRICS deverá garantir para eles um nunca visto nível de independência ante os Estados Unidos e em relação ao ocidente em geral, mas isto é apenas a ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico começa a se materializar.

Este é o momento para que a Europa dê o grande passo. A crise ucraniana é na realidade uma batalha pela Europa.

As elites do continente europeu – a Alemanha de Alfred Herrausen, a Franca de Charles de Gaulle, a Itália de Enrico Mattei e Aldo Moro, a Europa que tentou trilhar o caminho da independência e da soberania... até agora tem sido ameaçada e aterrorizada exatamente nos termos colocados com precisão pelo General Ivashov. Agora, a batalha pela Europa está sem travada. Nós examinaremos em um novo artigo, para as grandes forças europeias, os parceiros silenciosos, ainda traumatizados e assustados, que observam com ansiedade e memórias dolorosas das derrotas que sofreram, a posição firme da Rússia.


Umberto Pascali – é um escritor independente e analista baseado em Washington DC. Eel tem escrito sobre assuntos estratégicos e a geopolítica europeia. Também tem conduzido pesquisas de campo em países em conflito. Pascali é uim observador astute da política externa dos Estados Unidos.  

Tradução: mberublue


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