Grande Projeto Geopolítico:
A empresa russa Gazprom assina acordos para abandonar o
dólar!
por Umberto Pascali
Traduzido
por mberublue
“Trata-se
apenas da ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico começa a se
materializar...”
Em 06 de junho de
2014, a agência russa oficial Itar Tass anunciou o que já era esperado pelo
menos desde o início da crise ucraniana: a maior empresa russa de energia,
Gazprom Neft finalmente “assinou acordo com seus consumidores” para trocar de
dólares para euros (em uma transição para o rublo) “para pagamentos por força
de contratos”. Na verdade, o anúncio é de que o acordo foi assinado e não
apenas discutido, conforme informou o CEO (Chief
Executive Officer – Diretor Executivo [NT])
da Gazprom, Alexander Dyukov.
Apesar das pressões
de Wall Street e dos militares dos EUA, propaganda política e do aparato
político movido, 9 entre 10 consumidores de petróleo e gás da Gazprom
concordaram em pagar em euros. Torna-se claro que o divisor de águas foi o mega
acordo sem precedentes firmado pela Gazprom para fornecimento de suprimento de
gás natural para a China, feito em 21 de maio por 30 anos e no valor de 400
bilhões de dólares, assinado na presença do presidente Putin e do presidente Xi
Jinping no meio da violenta desestabilização da Ucrânia deflagrada pelos
governos Anglo/Americanos. Na realidade, é até impróprio falar em “acordo de
400 bilhões de dólares”, tendo em vista que tal negócio foi denominado não em
dólares, mas nas moedas nacionais dos dois países, o rublo russo e o renminbi
(ou Yuan) chinês. A China e a Rússia ficam pois ligados econômica e estrategicamente
por três décadas, de fato (embora não de direito) criando uma aliança inabalável
e simbiótica que envolverá necessariamente o aspecto militar.
O acordo Rússia/China
promove uma clara derrota nas obsessivas tentativas geopolíticas de Wall Street
de colocar os dois países em uma situação de competição desenfreada ou, ainda
melhor, em estado de confrontação bélica. Com o acordo, ataca-se o fundamento
histórico principal do mecanismo de dominação colonialista pela geopolítica
britânica, de dividir para governar. Apesar de estarem sob ameaça constante e intimidações
à segurança nacional dos dois países, China e Rússia superaram brilhantemente
diferenças históricas, ideológicas e culturais que haviam sido estrategicamente
colocados pelos poderes coloniais (e seus herdeiros financeiros em Wall Street
e City de Londres) em sua estratégia dividir&conquistar.
Além do mais, para
horror de Londres e Washington, China e Rússia concluíram um acordo com a Índia
(os BRICS!) quebrando mais um conceito fundamental e sagrado da geopolítica
colonial britânica: o segredo para controlar a Ásia (e a Eurásia) sempre foi o
de instigar uma rivalidade perene entre China, Rússia e Índia. Esta era a
fórmula para o “Grande Jogo do Século 19”. Foi o motivo que levou à escolha de
Obama para suceder George W. Bush. O então candidato a vice presidente Joe
Biden explicou muito clara e abertamente na convenção democrata em 27 de agosto
de 2008 porque Obama-Biden foram escolhido para assumir a Casa Branca. O grande
erro da administração Bush e dos republicanos, disse ele, não foi a sua
belicosidade desenfreada e atroz, mas o seu fracasso.
“Para
fazer frente às maiores forças que moldam este século. A emergência da Rússia,
China e Índia como grandes poderes.” O anelo de Zbigniew
Brzezinski, protegido de Barak Obama, era derrotar esta “ameaça”. Claro, “eles”
falharam! Mas isso explica a obstinada, irracional, arrogância autodestrutiva
ao estilo Rei Canuto (antigo Rei da
Inglaterra que, conta a lenda, mandou o mar deter sua maré para ensinar uma
lição a seus cortesãos [NT]) que
tomou conta da atual administração.
O significado do
desenvolvimento dos acontecimentos deve ser enfatizado não só em relação à
economia real, mas a suas estruturas financeiras subjacentes. Estes
desenvolvimentos têm o condão de ser suscetível de enfraquecer as “correntes que tem mantida amarrada a União
Europeia a Wall Street e à City londrina”. O fim do sistema de pagamento em
dólar (também conhecido como Petrodólar) não diz respeito apenas à moeda dos
Estados Unidos ou a este enquanto tal. De fato, superar esse sistema significa
a restauração de uma racional e próspera economia nos próprios Estados Unidos.
Aquilo que conhecemos como “sistema dólar” não passa de um instrumento através
de qual os senhores feudais dos centros financeiros pilham a economia mundial.
Esses centros são capazes e estão prontos para fazer qualquer coisa para salvar
esse direito de pilhagem. É bem sabido que qualquer que tenha tentado, até
agora, criar uma alternativa para o sistema dólar, encontrou-se face a face com
uma reação feroz.
É bom lembrar neste
momento de grande esperança, as palavras de um grande estrategista ainda vivo, o
general Leonid Ivashov. Em 15 de junho de 2011, refletindo sobre a selvagem
destruição da Líbia, o general, que é uma espécie de porta voz não oficial das
forças armadas russas e foi representante da Rússia na OTAN, escreveu:
“BRICS e a missão de reconfigurar o mundo”
Quem desafia a
hegemonia de dólar, explica Ivashov, torna-se um alvo.
Dá exemplos precisos:
Iraque, Líbia, Irã.
“Os
países que desafiam a dominação do dólar sofrem enormes pressões e em certo
número de casos, ataques devastadores.” Mas o “império financeiro erguido por
Rothschilds e Rockefellers é impotente contra cinco grandes civilizações
representadas pelos BRICS.”
Adiante, Ivashov defende
uma estratégia coordenada dos países que representam a metade da população
mundial para ganhar a independência ao usar suas próprias moedas.
“A
mudança para as moedas nacionais nas transações financeiras entre os países BRICS
certamente lhes garantirá um nível sem precedentes para a sua independência...”
Desde o colapso da
União Soviética os países que desafiaram a dominação do dólar invariavelmente
ficaram sob forte pressão e em certo número de casos – sob ataques
devastadores. Saddam Hussein, que proibiu ma circulação do dólar em todas as
áreas da economia iraquiana – inclusive nas transações comerciais de petróleo –
foi deslocado e executado e seu país ficou em ruínas. M. Gadaffi iniciou uma
troca nas transações de petróleo e gás utilizando moedas árabes garantidas em
ouro, teve seu país alvo de ataques aéreos quase imediatamente... Teerã teve
que segurar seu plano de sair do sistema dólar para também não se tornar vítima
de ataques agressivos.
Ainda assim, mesmo
com apoio ilimitado dos Estados Unidos, o império financeiro construído pelos
Rothschilds e Rockefellers são impotentes contra a cinco grandes civilizações
representadas pelos países que contabilizam quase a metade da população
mundial, os países BRICS. Estes países são claramente imunes à grande pressão,
seus países membros não parecem vulneráveis a revoluções coloridas e a
estratégia de provocação e exportação de crises financeiras podem facilmente
sair pela culatra, ser um tiro no pé.
Contrastando com os
Estados Unidos e a União Europeia, os países do grupo BRICS têm recursos
naturais suficientes não só para manter suas economias à tona nas configurações
de disponibilidade de contratação de combustíveis de hidrocarbonetos, comida,
água potável e energia elétrica, como também para manter um vigoroso
crescimento econômico. A mudança para suas próprias moedas nacionais nas
transações financeiras entre os países BRICS deverá garantir para eles um nunca
visto nível de independência ante os Estados Unidos e em relação ao ocidente em
geral, mas isto é apenas a ponta do iceberg. Um grande projeto geopolítico
começa a se materializar.
Este é o momento para
que a Europa dê o grande passo. A crise ucraniana é na realidade uma batalha
pela Europa.
As elites do
continente europeu – a Alemanha de Alfred Herrausen, a Franca de Charles de
Gaulle, a Itália de Enrico Mattei e Aldo Moro, a Europa que tentou trilhar o
caminho da independência e da soberania... até agora tem sido ameaçada e
aterrorizada exatamente nos termos colocados com precisão pelo General Ivashov.
Agora, a batalha pela Europa está sem travada. Nós examinaremos em um novo
artigo, para as grandes forças europeias, os parceiros silenciosos, ainda
traumatizados e assustados, que observam com ansiedade e memórias dolorosas das
derrotas que sofreram, a posição firme da Rússia.
Umberto Pascali – é um escritor independente e analista baseado em
Washington DC. Eel tem escrito sobre assuntos estratégicos e a geopolítica
europeia. Também tem conduzido pesquisas de campo em países em conflito. Pascali
é uim observador astute da política externa dos Estados Unidos.
Tradução: mberublue
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