Os Estados Unidos “piscaram” em
Cuba... E “piscam” na Ucrânia.
Há notícias de que se ouviram conversas em
surdina nas instalações de tradutores juramentados da Vila Vudu, principalmente
ditos pelo “Mosca Triste”: Uai! E quem será que piscou no Vietnã, no Iraque, na
Síria e agora está piscando no Afenagistão, moçada?
Thomas Friedman
continua a ser o comentarista de política externa mais imbecil de toda a mídia
norte-americana. Hoje ele afirmou que, ao não invadir a Ucrânia, Putin “piscou”,
mesmo sabendo que a Federação Russa nunca teve essa intenção. A interpretação equivocada que Friedman faz
da história é ainda pior que a sua incompreensão daquilo que está acontecendo
bem embaixo do seu nariz em política externa. Sua coluna de hoje começa assim:
“Em outubro de 1962, em plena
crise dos mísseis em Cuba, houve um instante, quando navios soviéticos que se
aproximavam e estavam a apenas algumas milhas de um bloqueio naval dos Estados
Unidos, no último instante se retiraram, levando o então Secretário de Estado
Dean Rusk a dizer uma das mais famosas frases sobre a Guerra Fria: ‘estávamos olho no olho. Acho que o adversário
piscou’.
Como se trata afinal, de
putinismo versus obaminismo, eu gostaria de ser o primeiro a declarar, aqui em
minha coluna, que o adversário – Putin – ‘piscou’.
Não foi a União
Soviética que “piscou” na crise dos mísseis em Cuba, mas os Estados Unidos.
Quem recuou foi Kennedy e não Khrushchev.
Os Estados Unidos, já
nos idos de 1959/60 tinham planos para instalar e efetivamente começaram em
1961 as instalações de mísseis balísticos intercontinentais nucleares na Itália
e na Turquia. Esses mísseis “Júpiter” poderiam atingir Moscou em minutos e
dariam aos Estados Unidos a possibilidade de um primeiro ataque incapacitante
contra a União Soviética.
Em abril de 1961 a
CIA treinou e apoiou uma força de cubanos exilados para a invasão de Cuba. Foram
derrotados e expulsos de Cuba, mas o incidente fez aumentar o desejo de Cuba
por proteção da União Soviética. As conversações com Cuba foram iniciadas e um
acordo firmado, cujo escopo era conter a ameaça norte-americana da instalação
de mísseis na Europa através da implantação de mísseis em Cuba, na mesma
proporção.
Aconteceu então a “crise
dos mísseis de Cuba”, na qual, em troca da retirada de seus mísseis de Cuba, a
União Soviética exigia a retirada dos mísseis Júpiter da Europa. Também exigiu
que os Estados Unidos se abstivessem de qualquer nova tentativa de invasão de
Cuba.
Kennedy “piscou”,
concordando nos seguintes termos:
Ainda naquela noite, mais tarde,
houve um encontro secreto entre Robert Kennedy e o embaixador russo Anatoly
Dobrynin. Chegaram ambos a um acordo básico: a União Soviética retiraria seus
mísseis de Cuba sob a supervisão das Nações Unidas em troca da promessa de
Washington de não invadir Cuba. Em acordo adicional, os Estados Unidos
concordavam em eventualmente remover seus mísseis Júpiter da Turquia.
Através das
instalações dos mísseis Júpiter na Turquia, os Estados Unidos tinham ganhado
uma vantagem. Mas a União Soviética a anulou e no final os Estados Unidos
recuaram. Cuba nunca mais foi invadida e os mísseis Júpiter na Turquia foram
desmontados. A União Soviética entregou a seus aliados em Havana garantias de
segurança, enquanto os Estados Unidos desistiu de garantir os interesses de
seus aliados Itália e Turquia.
A crise ucraniana,
iniciada através de um golpe instigado pelos Estados Unidos, está ainda longe
do fim, mas até o momento, o grande prêmio foi conquistado pela Rússia. A Criméia
e seus mares adjacentes com suas reservas de centenas de bilhões de dólares em
reservas de hidrocarbonetos são novamente parte da Federação Russa. A Ucrânia
continua dependente da Rússia para seus suprimentos de energia e trocas
econômicas em geral. Nem União Europeia nem Estados Unidos darão armas ou
dinheiro em quantidade suficiente que garanta a sobrevivência da Ucrânia. Deixarão
o novo governo da Ucrânia no gancho até ver como ele lidará com a inevitável
crise de energia que se seguirá. Enquanto isso, Rússia e China formam uma nova
aliança. No médio e longo prazo, a Rússia imporá sua vontade à Ucrânia e não há
o que os Estados Unidos possa fazer em relação a isso, a não ser bombardear a
Rússia, para mudar o desenrolar dos acontecimentos.
A administração
Kennedy criou um mito: na crise dos mísseis em Cuba, foram os soviéticos que
piscaram, para encobrir sua própria retirada. Copiando esse falso mito,
Friedman está criando outro, mais falso ainda. O novo mito é que a Rússia “piscou”
na Ucrânia. O fato de que Friedman pensa ser necessária a criação de um novo
mito só pode ser explicado pela necessidade de mais uma vez encobrir a
inevitável retirada dos EUA da Ucrânia.
por Moon of Alabama
Tradução: mberublue
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