Quarta-feira, 23 de abril de 2014.
O plano dos EUA para a Ucrânia - uma
hipótese
The Saker
Ouvindo a fala de
Lavrov hoje, cheguei à conclusão de que o regime de Kiev está realmente a ponto
de lançar um ataque ao oriente da Ucrânia. Não apenas Lavrov, mas a internet
russa está em “alerta vermelho”, cheia de boatos, rumores e especulações sobre
a iminência de um ataque.
Tudo isso levanta
uma série de questões:
Lavrov |
1-) Por que a Junta Militar em Kiev renega reforma tão clara o acordo de Genebra?
2-) Por que
resolve atacar, quando as chances de sucesso são tão pequenas?
3-) Por que esse
ataque, se sabem quase com certeza que a Rússia intervirá?
4-) Por que os
Estados Unidos estão tão claramente por trás dessa estratégia?
Gostaria de
submeter uma hipótese minha à sua atenção.
Em primeiro
lugar, considere que a Junta Militar renega o acordo de Genebra pelo simples
motivo de que não pode cumprir seus termos. Não se esqueça que essa junta é
composta por alguns políticos escolhidos a dedo pelos EUA e uns poucos
oligarcas ucranianos. Certamente eles tem dinheiro, mas não tem poder. Como
poderiam impor seja o que for aos malucos bem armados e determinados do Pravy
Sector (Setor de Direita – partido neonazista ucraniano)?
Em segundo lugar,
não importa o que faça Kiev, o leste da Ucrânia está perdido. Isso leva a Junta
Militar a escolher obrigatoriamente uma das seguintes opções:
a-) Deixar a
Ucrânia oriental separar-se através de um referendo e nada fazer.
b-) Deixar que aconteça
a separação, mas apenas depois de alguma violência.
c-) Deixar que a
separação ocorra, mas apenas depois de uma intervenção russa.
Claramente, a
opção “a” é de longe a pior. A opção “b” é mais ou menos, mas a opção “c” é
muito boa. Pense o seguinte: essa opção
fará com que se tenha a impressão de que a Rússia invadiu o leste da Ucrânia e
que o povo de lá nada podia dizer ou fazer em relação a isso. Também fará com
que o resto da Ucrânia se reúna em volta de sua bandeira. Além disso, fará com
que o desastre econômico (inevitável – n. do trad.) pareça ter sido causado
pela Rússia e as eleições de 25 de maio poderão ser canceladas, devido à
“ameaça” russa. Além disso, não existe
pretexto mais *perfeito* para decretar a lei marcial que uma iminente guerra, e
não importa quão tola seja ela. Lógico, a lei marcial pode ser usada para
reprimir ao mesmo tempo o Pravy Sector e quantos mais expressem opiniões das
quais a junta não goste. Esse é um velho truque. Desencadear uma guerra, reunir
as pessoas em torno do regime, criar uma onda de pânico – e as pessoas vão se
esquecer dos problemas reais.
Os Estados Unidos também já sabem que o leste da Ucrânia já era. Foi-se. Sem o leste e sem a Criméia, a Ucrânia tem o valor de um *zero à esquerda* para o Império e assim, por que não usá-la para criar uma nova Guerra Fria, algo muito mais atraente que a Guerra Global contra o Terror ou a velha e desgastada Guerra às Drogas. Afinal, se a Rússia for forçada a intervir militarmente a OTAN terá que enviar reforços para “proteger” países como a Letônia ou a Polônia, nem que seja apenas no caso de Putin resolver invadir de uma vez toda a União Européia.
Resumindo: como
os Estados Unidos e os loucos no poder em Kiev já *sabem* que o leste da
Ucrânia está perdido para eles, o que querem com este iminente ataque não é “vencer”
os manifestantes russos ou de fala russa, e menos ainda “ganhar uma guerra”
contra a própria Rússia, mas sim provocar violência suficiente a ponto de
forçar a intervenção russa. Em outras palavras: já que o oriente do país está
mesmo perdido, melhor perdê-lo para a invasão das “hordas russas” do que para a
população civil revoltada.
Dessa forma, o objetivo desse ataque não é ganhar, mas perder, e é apenas isso que o exército ucraniano pode fazer atualmente.
Apenas duas
coisas podem acontecer para frustrar esse plano:
1-) Os militares
ucranianos podem se recusar a obedecer ordens assim tão claramente criminosas
(e, para não se tornar alvo do exército russo, convencer seus oficiais afazer a
escolha certa “puramente moral”, claro).
2-) A resistência
local ser forte o suficiente para enfrentar uma operação desse tipo e detê-la.
Combinando os
cenários, vamos a uma situação ideal:
Para os russos, a
coisa é simples: é muito melhor para a Rússia que a ruptura do leste da Ucrânia
aconteça sem qualquer tipo de intervenção russa. Mas se a força atacante for
louca o suficiente para usar blindados, artilharia ou poder aéreo, os russos
podem resolver fazer apenas um ataque aéreo, sem enviar forças terrestres.
Podem também usar sua capacidade de guerra eletrônica para confundir e criar
caos na força de ataque. Podem realizar ataques pontuais limitados que
serviriam para desmoralizar a força de ataque. O que a Rússia deverá evitar a
todo custo é ser obrigada a se envolver em operações urbanas ofensivas, que são
sempre sangrentas e perigosas. Portanto, é essencial que os moradores locais
sejam capazes e tenham força suficiente para assumir o controle de suas
próprias ruas, vilas e cidades.
Hoje, Lavrov deu
um aviso muito direto: caso as coisas saiam do controle no leste ucraniano, a
Rússia intervirá. Vamos torcer para que haja alguém no Ocidente que perceba de
uma vez que os russos não blefam. Dizem exatamente o que querem dizer. Mas não
sou otimista quanto a isso, mesmo porque se Lavrov sentiu necessidade de conceder
uma entrevista de 30 minutos – em inglês – em que ele de forma clara comparou a
situação da Ucrânia hoje à Ossétia em 08.08.08, é provável que o serviço de
inteligência russa tenha indícios de um ataque iminente.
Em breve
saberemos.
The Saker
Trad. btpsilveira
Você encontra diariamente os textos do Saker, traduzidos ao português, no blog redecastorphoto. Por exemplo, o texto de hoje, em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/04/ucrania-relatorio-de-situacao-sitrep_24.html Saudações!
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