A
Alemanha mais dividida
que
nunca sobre o conflito ucraniano
Thomas Schnee –
24 de abril/14
Um texto noticioso com interessante
leitura nas entrelinhas. A convergência de interesse entre a grande indústria
alemã e a Rússia – e também a China – é bem conhecida e muito importante no
desenrolar da presente situação. Se “a guerra é a continuação da política por
outros meios”, devemos igualmente recordar a firmação de Lenin de que “a
política é economia concentrada”.
Os grandes “patrões” da Alemanha
estão à beira de uma crise de nervos. A crise que opõe a União Européia e os
Estados Unidos à Rússia ameaça os negócios pacientemente desenvolvidos num país
onde a lógica política perturbar muito frequentemente as regras dos negócios (business no original). Em 2013 a Alemanha vendeu
produtos e serviços à Rússia no valor de 67 bilhões de euros (67 milhares de milhões no original), ou seja,
mais 10% que em 2012. Além disso, as 30 empresas do DAX – o índice da bolsa
alemã – empregam aí 46.000 pessoas. “Perante a deterioração da situação, as
empresas alemãs receiam muito que a União Européia venha a curto prazo impor
sanções econômicas ainda mais duras à Rússia”, lamenta-se o secretário-geral
das Câmaras de Comércio e da Indústria alemã, Martin Wansleben.
Putin Reabilitado.
O receio é de tal monta que, desde
um mês, os grandes patrões alemães se
lançaram numa operação de comunicação e diplomacia “paralela” destinada tanto a
restabelecer o diálogo com Moscou como a desacreditar a política de sanções de
Bruxelas e Washington. “Não temos a intenção de inflectir a nossa estratégia de
longo prazo por causa de turbulências de curto prazo”, afirmava ainda há pouco
o diretor da gigante Siemens, Joe Kaeser. Este, que aparentemente reduz a crise
na Criméa a uma simples intempérie, vinha na ocasião de um encontro com
Vladimir Putin em pessoa. “Com luz verde da Chancelaria”, acrescentou aos
jornalistas.
Angela Merkel |
Kaeser deverá ser seguido pelo diretor de ferrovias alemãs Rudger Grube que, oficialmente, irá defender em Moscou um projeto de ligação ferroviária. Grube conta igualmente com a bênção da Sra. Merkel, que não quer que as relações com a Rússia “se rompam”.
Perante a opinião pública nacional,
a posição em face do urso russo está bem resumida no vibrante apelo lançado em
março por Gabor Steingart, diretor do “Handelsbaltt”, o maior diário econômico
alemão. “Não fiquem indignados! O presidente Vladimir Putin não é o infame
agressor que o Ocidente descreve”, explicava na primeira página este influente
formador de opinião. Para ele, Vladimir Putin é o único homem capaz de garantir
a estabilidade daquilo que foi outrora o “bloco do leste”. Seria, portanto, “estúpido”
e “destinado ao fracasso” aplicar-lhe sanções econômicas.
A estratégia “subterrânea” dos
executivos transita através dos poderosos lobbies que são o Fórum Germano-Russo
e a “Comissão-leste da economia alemã”. Encontra apoio igualmente em veneráveis
figuras políticas como os ex-chanceleres da social democracia alemã, Helmut Schmidt e Gerhard Schroeder.
Expansão para Leste.
Schmidt considera que a atitude de
Putin em relação à Criméia é ”completamente compreensível”. Coloca mesmo em
dúvida, aliás, a noção de “nação ucraniana”. Posições que são inteiramente
partilhadas por Schroeder, velho amigo de Putin e grande promotor do gasoduto
Nord-Stream entre a Rússia e a Alemanha. Apesar do recente anúncio da
chancelaria alemã de que pretende tornar o país menos dependente do gás russo, “a
Alemanha não tem qualquer desejo de se afastar da Rússia. Existe mesmo a
vontade de reforçar ao máximo a imbricação econômica dos dois países. Trata-se
de desenvolvimento da estratégia de integração a leste elaborada e seguida
desde Kohl e Schroeder, lembra Ewaldo Bocks, perito na questão russa e um dos
principais “think tanks” alemães de política externa.
O problema é que esta estratégia,
centrada essencialmente na aproximação econômica, se preocupou pouco com os
dados da geopolítica. Hoje, o conflito ucraniano está na iminência de desfazê-la
em estilhaços.
O texto original se encontra em http://www.odiario.info/?p=3255
Postado por Roberto Pires Silveira em 26 de abril/14
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