Via redecastorphoto.
29/4/2014, [*] Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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O governo de Barack Obama parece amar o som (vídeo em inglês acima) de sanções unilaterais pela manhã. Talvez lhe soem com som de “vitória”.
Sanções reais, duras à vera, se algum dia vierem a ser aplicadas, serão mais devastadoras para os poodles da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), não para Moscou. Enquanto isso, os adultos (da energia) continuam no business normal de sempre.
Não há como compreender a Guerra Fria 2.0, sem um flashback até novembro de 2010, quando Vladimir Putin falou diretamente à indústria/business da Alemanha, propondo uma comunidade econômica de livre mercado, “de Lisboa a Vladisvotok”.
O interesse alemão nesse relacionamento estratégico chave foi recíproco. Amplificado para outras nações, implica, no longo prazo, uma integração econômica/comercial plena entre União Europeia e Rússia, e, no quadro maior, um passo a mais na direção de Europa-Ásia. O que se traduz em anátema absoluto para a debilitada e viciada em Monopólio hiperpotência/hegemon.
Sergey Lavrov |
Para toda a think-tankelândia dos EUA, que fala e teoriza a perder o fôlego sobre “contenção” de “estado bandido” – o que, só até aí já é de morrer de rir, como se a Rússia fosse a Somália – a abrangente “estratégia” do governo Obama seria algo sem paralelo no universo. Mas essa obra prima de diplomacia juvenil delinquente resume-se a “ignore Putin”.
Podem chamá-la de escola de diplomacia do “não gosto de você; não falo com você; estou de mal de você; tomara que você morra”. Comé que Talleyrand nunca pensou nisso?! Mas, com conselheiros tão espantosa, inacreditavelmente medíocres feito Ivo Daalder, ex-embaixador à OTAN, não surpreende que Obama não precise de inimigos.
A histeria das sanções visa a obrigar o Presidente Putin a curvar-se aos desejos do hegemon, como parte da “estratégia”; criar um “consenso internacional” para “isolar” a Rússia; e fazer dela “estado pária”. “Estado pária” que não para de fazer meganegócios, (Rússia e Índia) como todos veem (Rússia e Irã).
Pois ainda assim o pensamento desejante-delirante predominante dá voltas em torno de algum “estrangulamento”, agora contra a Rússia – como foi insistentemente tentado contra o Irã (ao qual os iranianos resistiram bravamente). Dentro da bolha em que vivem, os “teóricos” desejantes-delirantes dos think-tanks já se autoconvenceram até de que Pequim “está conosco” [com eles], sem se darem conta de que Pequim vê claramente a histeria de sanções + “doutrina do ignore-Putin” como ramo do mesmo “pivoteêmo-nos para a Ásia” – que é, essencialmente, projeto para conter militarmente a China.
Barack Obama "pivoteando-se" nas Filipinas em 27/4/2013 |
No final, o Kremlin chegou à mesma conclusão: é inútil conversar com Washington. Afinal a lista de lavanderia do hegemon é sempre a mesma – o Kremlin não recebeu autorização de Washington para apoiar protestos no leste e no sul da Ucrânia; todo mundo tem obrigação de submeter-se aos neofazistas/aliados dos neofascistas mudadores de regime, de Kiev; e a Crimeia tem de ser “devolvida” – à OTAN – para que a OTAN consiga expulsar Moscou do Mar Negro.
O mais recente sonho molhado de Washington seria interromper os embarques de gás, pela Gazprom, da Rússia para a União Europeia – ato de sabotagem comercial, que Moscou interpreta como ato de guerra. Enquanto isso, o “Plano A” de Washington/OTAN ainda é induzir o Kremlin a uma “invasão”, de tal modo que Putin possa ser (como de fato já está sendo) pintado como “o novo Hitler” e como ameaça absoluta à União Europeia.
A isso se resume o coquetel-Martini “contensão/isolamento”, de arrogância, ignorância, impotência e temeridade. Finesse diplomátic a? Esqueçam Obama. Em termos de verdadeiro diplomata em ação, sintam-se à vontade para assumir que “All we need is Lavrov”.
Moscou tem várias vias para retaliar duramente, realmente, contra o hegemon: na Síria; no dossiê nuclear do Irã; na vergonhosa retirada da OTAN, do Afeganistão, pela Rede Norte de Distribuição que passa pela Rússia; no futuro do Afeganistão.
Vladimir Putin |
Se a Casa Branca e o Departamento de Estado dos EUA quisessem realmente prestar atenção ao modo como Putin enquadra o relacionamento entre o Ocidente e a Rússia, o Kremlin já o repetiu várias vezes. A Rússia espera ser respeitada pelos “nossos parceiros ocidentais”, os quais, desde 1991 tratam a Rússia não como “participante independente e ativo nas questões internacionais”, “com interesses nacionais próprios a serem levados em conta e respeitados”, mas como se fosse nação atrasada ou perigosa, a ser descartada e “contida”.
Os registros históricos mostram claramente que Washington não respeita interesses nacionais de ninguém; a única coisa que conta é que os tais interesses de outros têm de estar subordinados aos interesses de Washington.
O Kremlin, em resumo, convidou Washington a jogar realpolitik. Não Monopólio. O governo Obama, no melhor dos casos – e já é muita generosidade – joga Bingo. Moscou joga xadrez. Movimento ensandecido para gerar caos nas fronteiras oeste da Rússia, e ares de quem “ignora” Putin, não mudarão em nada a defesa, pelo Kremlin, do que entende como interesses nacionais russos.
Putin joga xadrez com o "Ocidente"... Simultaneamente! |
Digamos que o “projeto” era tomar a Ucrânia, expulsar Moscou da base em Sebastopol e, assim, do Mediterrâneo leste; e na sequência tomar a Síria, de modo que o Qatar – não Irã-Iraque-Síria – tivesse “seu” quinhão do Oleogasodutostão, via Jordânia e uma Síria governada pelos sunitas, em direção aos mercados da União Europeia. Esse “projeto” está fracassando miseravelmente.
Mas o jogo das sanções continua (como continuou contra Cuba, Iraque, Irã). A Casa Branca já está cozinhando mais do mesmo. Nenhum adulto na Europa acompanhará o “projeto”. Até os poodles farejam que o governo Obama não se qualifica, sequer, para jogar Jogos dos Tronos no PlayStation 3.
Notas dos tradutores
[1] Há ecos aí de “All you need is love”, dos Beatles, lançada em 1967. Perguntado, então, se seria canção de propaganda, Lennon respondeu: “Claro que sim. Sou artista revolucionário. Minha arte é dedicada a fazer mudar”. Ouve-se/Assiste-se a seguir
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[2] Título de um seriado de televisão: “Game of Thrones”. Trailer a seguir:
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera . Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
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