terça-feira, 22 de abril de 2014

Como a Crise da Ucrânia pode
eventualmente derrubar o Império Anglo Sionista.

 
The Saker


Há muitas teorias sobre o que exatamente causou o colapso da União Soviética. Alguns dizem que foi o programa “Guerra nas Estrelas”, deflagrado por Ronald Reagan. Outros, que foi a guerra no Afeganistão ou a ascensão do partido sindicalista polonês Solidarnosc. Outra teoria bem popular inclui no pacote a falência da economia soviética, a queda dos preços do petróleo, a falta de habilidade em produzir bens e serviços para os consumidores, o anseio do povo soviético pelo estilo de vida, liberdade e riqueza do ocidente, problemas étnicos/nacionalistas, hipertrofia do complexo industrial militar, corrupção burocrática massiva, a corrupção no CPSU (Partido Comunista da União Soviética – n. do trad.) e sua “nomenklatura”, a traição pessoal de Mikhail Gorbachev e muitas outras teorias. Mesmo que todos esses fatores possam ter contribuído para o enfraquecimento da União Soviética, não acredito que tenham sido a causa de sua queda, mesmo combinados. O que realmente causou a derrocada da URSS foi algo totalmente diferente: uma insuportável dissonância cognitiva, ou, melhor falando, um intenso senso de total hipocrisia.
Mas antes de expor minhas explicações sobre o caso da hipocrisia, deixem-me esclarecer porque não acredito que nenhuma dessas teorias façam algum senso: simplesmente porque a URSS sobreviveu a tempos muito, mas muito mais difíceis. Francamente, durante o período compreendido entre 1917 e 1946 foi muito pior que qualquer coisa que possa ter acontecido durante a “estagnação de Brejnev” ou depois. Além disso, não apenas a União Soviética sobreviveu, como ganhou praticamente sozinha a Guerra contra a maior máquina militar que a Europa já foi capaz de produzir: o exército alemão de Hitler. Foi ainda capaz de dissuadir a Anglosfera de seus planos de ataque logo depois do fim da guerra. Mais: ganhou o início da “corrida pelo espaço”, embora tenha sido derrotada na corrida pela Lua, em outubro de 1969. Construiu a maior força militar convencional no planeta e ao mesmo tempo foi capaz de crescimento econômico interno. Por qualquer medida, a URSS foi um poder formidável durante muito tempo.
Mas alguma coisa deu muito, muito errado.
Pessoalmente, me inclino a lançar a culpa sobre Khrushchev que na minha opinião foi o pior líder que a URSS já teve.

 
Khrushchev
Embora isso seja controverso, acredito que Khrushchev e uma súcia de apoiadores assassinaram Stalin, envenenando-o e depois se engajaram numa campanha maciça de propaganda para justificar seus atos e o governo posterior que assumiram.  Isso tudo teve início no famigerado “discurso secreto” proferido por Khrushchev no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética e continuou durante todo o governo de Khrushchev. Ele, que odiava Stalin, usou todas as verdades e todas as mentiras possíveis para demonizar Stalin. Pior que isso, para prejudicar Stalin, juntou forças com Trotskistas pelo mundo a fora, espalhando o mito “stalinismo” durante décadas.

De início, quero esclarecer que não sou admirador incondicional de Stalin, a quem considero antes de tudo um tirano sanguinário e um ditador que, mesmo sendo pessoalmente encantador, era absolutamente cruel. Mas não foi pior que Lenin, Trotsky ou Khrushchev e muito melhor estadista que qualquer outro líder soviético em qualquer tempo. Quanto ao próprio Khrushchev, era um canalha ordinário, que também participou avidamente de muitas repressões sangrentas, protegido de um homem odioso como Lazar Kaganovich, e normalmente, uma pessoa odiosa e imoral.

De qualquer forma, o resultado de sua campanha anti Stalin foi que, basicamente disse ao povo que o que costumava ser visto como pedra, agora era pau e o que era pau, tinha virado pedra.  Em um nível mais profundo, mostrou que a União Soviética era governada por hipócritas sem crenças pessoais, que a nada davam importância, a não ser o poder pessoal.

Khrushchev e sua gang injetaram na sociedade soviética um veneno que agiu lenta mas seguramente e quando Leonid Brejnev chegou ao poder em 1964, já se instalara na alma de toda a sociedade soviética. Até 1980, estava onipresente em qualquer nível da URSS, desde o mais pobre dos homens, até aos mais altos mandatários e representantes do partido do topo. O fato é que, mesmo sem apresentar detalhes, digo que ninguém se levantou para defender o sistema soviético em 1991 e 1993, e isso comprova o resultado dessa erosão moral na sociedade soviética. Todos sabiam em 1990 que, mesmo sendo os ideais soviéticos muito bons (alguns até hoje acreditam que não), a sociedade soviética moderna foi erigida sobre uma mentira gigantesca que ninguém estava disposto a defender. Morrer por ela? Melhor deixar pra lá.

Os anos 1990 com seus “pesadelo Yeltsin” também foram definidos por essa podridão de desilusão e cinismo. As pessoas então diziam que naquele tempo, “cada menino soviético queria ser um ‘Don’ mafioso e cada menina uma prostituta de luxo.” Descontando o exagero, geralmente isso era verdade. Somente com a chegada de Putin ao poder esse veneno começou a perder a força e a sociedade russa começou a redescobrir seus verdadeiros ideais e a crença de que há valores aos quais vale a pena defender.


Onde isso tudo se aplica ao Império Anglo Sionista e à Ucrânia?

Eu acho que isso é óbvio, sem dúvida. Tendo a concordar com Alexander Mercouris, Mark Sleboda e Mark Hackard, quando afirmam que os Estados Unidos, governados por políticos incompetentes e rudes (quando poderiam ser governados por diplomatas profissionais e estadistas) provavelmente contaram com que a Rússia se submetesse e aceitasse um “Banderistão” neo nazista no poder na Ucrânia. Quando a Rússia não aceitou e começou a pressionar contra, os Anglo Sionistas cometeram seu segundo e maior erro: aumentaram histericamente sua retórica, insistindo que pau é pedra e pedra é pau.

Uma insurgência armada neo nazista que toma o poder desprezando um acordo assinado 24 horas antes por um legítimo representante do povo ucraniano, para os Anglo Sionistas, são legítimos democratas, enquanto os falantes de russo no oriente da Ucrânia são extremistas que odeiam judeus ou então agentes russos. Quando os asseclas do “Banderistão” em Kiev se envolvem numa campanha de terror, assassinatos ou saques, isso é uma expressão da democracia. Se as pessoas do oriente ocupam edifícios públicos, isso é terrorismo. Quando Yanukovich enfrentou os manifestantes, os Estados Unidos exigiram que não usasse qualquer tipo de força contra o povo insurgente, nem mesmo policiais desarmados. Mas quando o líder do governo auto imposto, Iatseniuk, enfrenta manifestantes, está agindo de forma admiravelmente louvável, mesmo que envie tanques, peças de artilharia e aviões de combate contra seu próprio povo.  O referendo da Criméia não tem legitimidade, por ter sido realizado na mira de armas, mas a próxima eleição presidencial será legítima, claro, mesmo porque será organizada na base da porrada por neo nazistas, e mesmo com os dois candidatos do oriente sendo agredidos e impedidos de fazer campanha. Eu poderia continuar aqui a expor esses exemplos ad nauseam, mas o ponto principal é o seguinte: o que os Anglo Sionistas estão declarando urbi et orbi, basicamente é o seguinte: pau é pedra, pedra é pau; 2 + 2 = 3 e a Terra é plana, etc. Fazem exatamente o mesmo que Khrushchev fez na União Soviética: mostram ao seu próprio povo que em nada acreditam e que nada lhes comove a não ser manter o próprio poder.

Não que o povo americano precise de muito convencimento, eu acrescentaria.
Em minha opinião, o nível de repulsa subjetiva do povo americano com o governo Federal já está nas alturas.  Claro que a maioria do povo se sente impotente e quanto a isso, nada há que possamos fazer, eu creio. Quanto mais votam pela paz, mais a guerra lhes é oferecida. Quanto mais votam por menos impostos, mais impostos pagam. Quanto mais votam por direitos civis, mais eles lhes são tomados. Hoje, já existe uma geração de americanos que está tão desiludida com seus governos, quanto os soviéticos estavam com seus governantes nas décadas de 1970 e 1980.

Curiosamente, há um forte movimento anti regime de patriotas americanos. São Pessoas que tem a sabedoria de distinguir entre, por um lado, o país, o povo, os idéias sobre baseadas nas quais a sociedade norte americana foi construída inicialmente e do outro lado, o regime em Washington DC e os 1% da população por cujos interesses trabalha o governo. Incrível, não é? A URSS teve sua nomenklatura formal, enquanto nos Estado Unidos existe uma, informal. Nos dois casos, cerca de 1% da população.

Quer ainda mais paralelos estranhos? Veja:

1-) Um Orçamento Militar enorme, inchado, que produz militares ineficazes.
2-) Uma enorme e também ineficaz comunidade de inteligência.
3-) Infra estrutura pública em ruínas.
4-) Um recorde na proporção de pessoas presas – o Gulag EUA.
5-) Uma gigantesca máquina de propaganda na qual ninguém mais acredita.
6-) Um movimento de dissidência interna que o governo quer calar.
7-) A utilização de violência, de forma sistemática, contra a população.
8-) Um acréscimo de tensão entre autoridades federais e locais.
9-) Uma indústria que exporta principalmente armas e energia.
10-) Uma população temerosa de ser espionada por serviços internos de inteligência.
11-) A sistemática associação de qualquer dissidência com o terrorismo.
12-) A paranóia onipresente em tudo que se refira a supostos inimigos internos e externos
13-) O alcance financeiro catastrófico do império em relação ao resto do planeta.
14-) A consciência (incompreendida – n. do trad.) de que todo o resto do planeta te odeia.
15-) Uma imprensa corporativa subserviente e “presstituta” que jamais questiona qualquer atitude do governo.
16-) A enorme taxa de abuso de drogas.
17-) Uma geração jovem que não acredita em nada.
18-) Um sistema educacional em acentuado declínio.
19-) Um desgosto do público pela política de modo geral.
20-) A enorme corrupção de todo o sistema, em todos os níveis de governo.

Estes são apenas alguns exemplos que podem ser aplicados indistintamente tanto à URSS em 1980 quanto aos Estados Unidos em 2014. Existe, é claro, também uma série de diferenças, mas não há necessidade de listá-las aqui porque são muito evidentes.

O ponto principal que destaco, não é que EUA 2014 e URSS 1980 são exatamente iguais, mas apenas que as semelhanças entre eles se tornam a cada dia mais estranhas e numerosas.
Concluindo, e de forma simples: o que o Anglo Sionismo está defendendo aberta e publicamente na Ucrânia é, supostamente, o contrário exato do que deveriam estar defendendo. Isto é uma coisa extremamente perigosa de se fazer para qualquer regime, e o regime Anglo Sionista não foge a esta regra, nem dela é exceção. Geralmente, o império desaba quando seu próprio povo se torna desiludido, descrente e revoltado com a enorme e hipócrita diferença entre o que seus governantes fazem e o que dizem. Não é tanto           que o império se baterá com inimigos formidáveis. Ocorre que ninguém estará disposto a lutar – e eventualmente morrer – em defesa disso tudo. Para entender isso, basta olhar para a seguinte frase:

“(Na Ucrânia) Barak Obama e o partido Democrata toleram (apóiam, são responsáveis por) o racismo e o fascismo”.

Não é incrível? Mas é verdade, apenas essa pequena frase tem potencial de tensão para confundir seriamente a cabeça de muitos americanos, principalmente Democratas. Eu coloquei “na Ucrânia” entre parênteses para fornecer o contexto, mas é claro que este não importa tanto. Você não pode ter políticas contra racismo e fascismo em casa e apoiá-los no exterior. Não pode ser também, um anti racista que apóia o racismo e não interessa onde este racismo está localizado. Valores reais são iguais e aplicáveis em todos os lugares. Se você se opõe à tortura no país “X” e a apóia no país “Y”, isso é simplesmente ridículo. Reformularei então a frase acima, desta vez sem o contexto (entre parênteses).
“Barak Obama e o partido Democrata apoiam o racismo e o fascismo”

Funde a sua cabeça, é ou não é?

Claro que o mesmo pode ser dito de  McCain e seu partido:

“McCain e o partido Republicano apoiam o racismo e o fascismo.”

Ainda dói, não é?

Que tal isto? “A União Européia apóia o racismo e o fascismo”.

Ou ainda melhor: “A ADL e o Centro Weisenthal apoiam o raciscmo e o fascismo”.

Ou esta: A Anistia Internacional e a Human Rights apoiam o fascismo e o racismo.”

Cada vez mais incrível, não é? Agora, combine tudo isso acima com isto:

“Putin e a Rússia representam a democracia, a liberdade e o direito do ser humano.”

Aiai! Machucaria MESMO um monte de europeus e americanos.

É evidente que não é desta forma que os eventos na Ucrânia ou quaisquer outros, são apresentados ao público pelos meios de comunicação oficiais e seu discurso zumbificado. Nem era o caso na URSS. Mesmo assim, nem todas as pessoas são zumbis estúpidos, embora, claro, alguns sejam. Assim, essas pessoas, quietas em casa, fazem a sua própria idéia do que está acontecendo e às vezes comentam com seus amigos. Na União Soviética, o lugar de fazer isso era na cozinha. Nos EUA, deve ser na beira da churrasqueira.

Evidentemente, não veremos manifestações em massa nas ruas de Nova York, nem de Washington DC. A maioria das pessoas mantém esses “pequenos pensamentos criminosos” para si mesmos ou em um círculo privado e restrito de amigos de confiança, mas, deixem-me lembrá-los, ainda na linha de comparação entre URSS e EUA, que nunca houve também uma “ocupação em massa do Kremlin”, nem movimentos na URSS. Já o movimento “Occupy Wall Street” nos EUA foi bem grande e amplamente divulgado por este imenso país. Também nunca houve um equivalente soviético equiparável aos protestos imensos de 1990 contra a OMC em Seattle. Então o público americano não está nem perto de ser tão passivo como alguns pensam.

A Ucrânia está muito longe dos Estados Unidos e apenas 1/6 dos americanos saberiam localizá-la em um mapa. Mas as conseqüências do pesado envolvimento e visibilidade do regime Anglo Sionista e do Império dos EUA se tornarão cada vez mais dramáticas com o passar do tempo. Ninguém em sã consciência daria hoje o prêmio Nobel da Paz a Obama. Dessa forma, mesmo com a eficácia indiscutível da máquina de propaganda ocidental, melhor que qualquer coisa que Goebbels ou Suslov poderiam sequer imaginar, não poderá esconder a verdade PARA SEMPRE.

Este é o motivo de desespero imperial para qualquer tipo de vitória na Ucrânia. Se não mais será respeitado, precisa que seja ao menos temido. Ocorre que se a Ucrânia explodir de vez e a Rússia ficar, além da Criméia, com o leste (o que não parece improvável atualmente), então ninguém mais temerá o Anglo Sionismo. Quando isso acontecer, a vida do Império se tornará muito, muito curta.

Assim, conhecer a verdade, faz com que sejamos livres, e a verdade é o império mais poderoso já inventado. Derrubou a URSS e derrubará o Anglo Sionismo. Agora é apenas uma questão de tempo.

The Saker.

tradução: btpsilveira


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