Marine Le Pen legitimada
por Joseph Kishore e Alex Lantier.
A campanha
internacional para legitimar os políticos fascistóides da Frente Nacional (FN)
francesa alcançou um novo estágio nesta segunda-feira com a publicação no
jornal The New York Times de um
artigo sobre o tiroteio na sede do jornal satírico Charlie Hebdo pela líder do
partido, Marine Le Pen.
Ao franquear suas
portas para Le Pen, o jornal, degradado pilar do liberalismo americano,
sinaliza que significativas partes da classe dominante americana consideram que
as ideias da líder fascista são parte fundamental do debate público sobre
assunto. O jornal The Times ainda
tomou a medida de incluir uma tradução simultânea em francês, assegurando-se de
que a coluna receba a maior divulgação possível também na França.
Marine Le Pen |
Le Pen está sendo
promovida como parte de um esforço comum encetado pela elite da classe
dominante no desenvolvimento de uma corrida anti-islâmica para confrontar ao
mesmo tempo a oposição anti-imperialista no Oriente Médio e os distúrbios
sociais em casa. As charges anti-islâmicas do Charlie Hebdo foram proclamadas pomposamente como símbolos da
democracia e neste instante, Le Pen representa nada menos que uma salvadora da
pátria.
Os argumentos
chauvinistas de Le Pen no The Times (sob
a manchete “dando à ameaça um nome próprio” – To call this threat by is name) foram claramente inspirados no
arsenal ideológico dos Estados Unidos em sua “Guerra ao Terror”. A França,
“terra dos direitos humanos e da liberdade, foi atacada em seu próprio solo por
uma ideologia totalitária: o fundamentalismo islâmico” escreveu ela.
Em seguida, ela
clama pelo desmantelamento efetivo das liberdades e dos direitos humanos na
França a fim de mover uma guerra contra os mais de cinco milhões de muçulmanos
que fazem parte do povo francês, propondo nada menos que “uma política
restritiva à imigração”, novas medidas para retirar deste povo a cidadania e
uma luta contra o “comunitarismo e estilos de vida que estariam em desacordo”
com as tradições francesas.
Enquanto providencia
uma plataforma política para Marine Le Pen, o The Times não se preocupa minimamente em informar a seus leitores o
“pedigree” político da francesa. A Frente Nacional foi formada em 1972 por
antigos apoiadores do regime colaboracionista de Vichy, que apoiou efetivamente
os nazistas na Segunda Guerra Mundial e por defensores do brutal domínio
francês na Algéria. A Frente Nacional é conhecida pelo seu racismo
antimuçulmano e antissemita, seu nacionalismo virulento e seus ataques a
oponentes políticos através de capangas violentos. Como justificativa para a
sua decisão de publicar a coluna de Le Pen, os editores do The Times argumentam que, gostando-se dela ou não, Le Pen não pode
ser ignorada. Os defensores do jornal provavelmente argumentarão, que, dada a
Le Pen uma plataforma, ela na realidade estará se expondo.
Isso é um rematado
absurdo.
A verdade é que Le
Pen está sendo deliberadamente legitimada pelo The Times do mesmo modo que fez o presidente Francês, François Hollande,
que, ao convidar Le Pen para o palácio Eliseu logo após o tiroteio fatídico no
jornal satírico Charlie Hebdo, fez crescer sua estatura política, assim como a
de seu partido, a Frente Nacional.
A promoção de Le
Pen faz parte de um amplo crescimento de organizações de caráter fascista e de
extrema direita internacionalmente. No último ano, os Estados Unidos e a
Alemanha trabalharam em conjunto com o Right Sector (Setor de Direita) e
Svoboda – organizações que celebram como heróis os colaboradores com o nazismo
na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial para derrubar o governo pro Rússia
de Viktor Yanukovych, movimentações apresentadas politicamente como se fossem
esforços em direção à democracia.
Jorg Baberowski |
Na Alemanha, a
classe dominante está em movimentação para livrar o país de todas e quaisquer
restrições impostas ao militarismo germânico logo após o final da Segunda
Guerra Mundial, e trabalha ainda para minimizar e justificar os crimes
cometidos no passado. Jorg Baberowski, um dos principais historiadores da
Universidade Humboldt de Berlin recentemente argumentou que “Hitler não era
cruel” e que lhe seria favorável uma comparação entre suas ações e as de Stalin
ou das lideranças soviéticas.
A Chanceler Angela
Merkel referiu-se em um discurso recente, à necessidade de que os cristãos “fortaleçam
sua identidade” e “falem sempre com mais
confiança sobre seus valores cristãos” – um indisfarçado encorajamento dos
sentimentos antimuçulmanos, calculado para reforçar ainda mais e legitimar a
agitação racista do movimento PEGIDA, de extrema direita, na Alemanha.
Parece que as
vozes dos nazistas devem ser ouvidas, na medida em que crescem os setores da
aristocracia corporativa financeira. Ao mesmo tempo em que veio à luz a coluna
de Le Pen no New York Times, Le Pen destacou-se
em uma fulgurante entrevista ao Wall
Street Journal. Coerente com os cálculos da classe dominante o jornal
esclareceu que “se há algum tempo a senhora Le Pen não passava de uma espécie
de aberração política, hoje ganhou proeminência na medida em que os problemas
da França – uma economia moribunda e uma população muçulmana não assimilável –
tornaram-se mais e mais agudos e aparentemente sem solução possível através da
classe política tradicional”.
Neste ponto o
jornal se refere ao fato de que, devido à demorada crise econômica, o
establishment político está profundamente desacreditado na França, tanto
interna como internacionalmente. No esforço para criar apoio ao seu domínio, a
elite financeira está buscando apoio na pequena burguesia, onde busca mobilizar
algumas fatias dessa classe baseada em um nacionalismo extremo. Ao mesmo tempo,
as forças de extrema direita estão explorando as condições de colapso da
“esquerda” apresentando-se como a principal força de oposição.
A lógica dos
desenvolvimentos segue caminho previamente traçado. As políticas contemporâneas
parecem assumir cada vez mais as características dos anos 1930s, quando as
elites dominantes na Europa se voltaram para os partidos fascistas na tentativa
de defender seu domínio. Hoje, a promoção e legitimação de pessoas como Marine
Le Pen fazem parte de um esforço mais amplo que busca usar o racismo
antimuçulmano como apoio para operações imperialistas no exterior e desculpa
para o ataque aos direitos democráticos em casa. As classes dominantes na
França, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e outros poderes imperialistas
estão conspirando e iniciando novas guerras no Oriente Médio e no Norte da
África.
O salvador as elites europeias? |
Internamente, a
classe dominante a cada dia mais se preocupa com o crescimento de oposição
social na classe trabalhadora. Nesta semana, na reunião de bilionários no fórum
econômico mundial de Davos, um relatório mostrou que em 2016 os 1 por cento
mais ricos da população mundial deterão mais riqueza que todos os demais
noventa e nove por cento restantes. Os oitenta indivíduos mais ricos terão mais
riqueza que a metade mais pobre da população do planeta Terra (cerca de 3,5
bilhões de pessoas – 3.500.000.000 de pessoas) Estas condições são
insustentáveis. A oposição das massas é inevitável.
Juntamente com uma
campanha asquerosa contra a população imigrante, a classe dominante está
apoiando e legitimando movimentos fascistas e chauvinistas para direcioná-los
contra as classes trabalhadoras como um todo. A lição básica das experiências dos
anos 1930s, é que a luta contra o fascismo deve ser e será travada como uma
guerra contra o sistema capitalista e suas representações políticas.
Por Joseph Kishore e Alex Lantier.
Tradução: mberublue
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