Aprendizes de Hitler.
por Roberto Pires Silveira
“Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um
pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for
levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório,
ou perdido o solar de um amigo teu, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem
diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca
mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
John Donne
Sou brasileiro, nestas terras tupiniquins nasci há
sessenta e dois anos. Mas antes de ser brasileiro, sou terráqueo, faço parte
deste número restrito de seres que se debatem no planeta, incapazes de conviver
em paz. Daqui da América do Sul, observo e acompanho o drama vivido por
franceses em virtude de recentes acontecimentos, o episódio dos tiroteios que
vitimaram quase duas dezenas de franceses.
Como vocês podem perceber, não me referi apenas ao
Charlie Hebdo. Neste momento, entendo que não mais importa o início de tudo o
que está acontecendo, por mais trágico e deplorável que tenha sido o tiroteio
no semanário francês. Hoje, o que realmente importa são os desdobramentos que
inevitavelmente acontecerão.
"Não estamos assustados" |
A imprensa empresa ocidental, que o professor Paul Craig
Roberts chama de “presstitute” aproveitou-se do episódio com a maestria que lhe
é peculiar, para demonizar o islã e promover o que já está sendo chamado de “novo
choque de civilizações”. O analista internacional The Saker disse recentemente
que, visto que as tentativas ocidentais de promover uma grande guerra contra a
Rússia utilizando-se da Ucrânia parece destinadas ao fracasso, o ocidente
precisava desesperadamente de uma nova motivação para o incremento da eterna
guerra de que necessita a sua indústria principal: a de armamentos. Sem
guerras, sem conflitos, não se vendem armas. Se não há conflitos, criaremos
alguns.
Mas o conflito que se desenha no horizonte parece particularmente
terrível: trata-se de guerras intestinas, já que os muçulmanos hoje estão
disseminados pela Europa, mais em alguns países que em outros, mas de forma
geral por todo o continente europeu. Neste ponto, torna-se inevitável perceber
que a história se repete. Há um axioma que diz que a história acontece primeiro
como tragédia e se repete posteriormente como farsa. Pois desta vez a história
parece querer repetir a tragédia como outra tragédia. Mais uma vez, a luta que se desenvolverá
dentro da Europa, tem potencial para tornar-se mundial.
Depois de Charlie Hebdo, os acontecimentos se
precipitaram, seguindo um roteiro já anteriormente escrito e colocado em
prática na Europa do século passado. Primeiro, estimula-se a comoção do país
(neste caso, do continente); em seguida, clama-se pela união em torno de “nossos
valores primordiais”; na sequência, elege-se um inimigo particular; depois,
persegue-se implacavelmente esse inimigo; então é a guerra total. Parece
familiar? Pois é exatamente este o roteiro seguido no século passado pelo
nazismo. Substitua Hitler pelos líderes europeus reunidos na França, os judeus
pelos muçulmanos e teremos o cenário perfeito para muito sofrimento, por muito
tempo.
Auswitch |
Quais os próximos passos da população europeia? Ataques
individuais a muçulmanos já aconteceram. Apedrejamento de mesquitas também.
Depredação de lojas de muçulmanos, igualmente já aconteceu. Quais os próximos
passos? Confinar os muçulmanos em guetos? Isso já acontece na prática em alguns
bairros, notadamente na capital francesa. Obrigar os muçulmanos a usarem uma
braçadeira com a crescente em amarelo? Despachá-los coercitivamente para fora
do continente? Reativar Auschwitz?
O fascismo está sempre à espreita, que não nos deixe
mentir Le Pen, na mesma França. O mundo, que já produziu Hitler, Pinochet,
Franco, Costa e Silva, Batista, as juntas argentinas e incontáveis tiranos
sanguinários na África parece estar com saudades do sangue inocente
derramado...
Cometerá a Europa o erro que já cometeu no passado?
Esperemos que não.
Roberto Pires Silveira – mora em Franca, Brasil, e pode
ser contatado pelo email btpsilveira@gmail.com
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