A Arrogância Cega de Washington na Síria
Deve Ser Ignorada pela Rússia
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O problema
com a arrogância é que ela nos cega intelectualmente; já o problema de ser
intelectualmente incapaz é que nunca somos capazes de ver nossas próprias
contradições, por mais absurdas sejam elas.
por Finian Cunningham
tradução mberublue
Os arrogantes aos
quais nos referimos são os Estados Unidos e seus aliados ocidentais. Na última
semana, Washington quase entrou em pé de guerra por causa da decisão russa de
intensificar seu apoio militar ao governo da Síria. Os norteamericanos estão
questionando Moscou para que “esclareça” o que chamam de apoio injustificado
para o “regime” de Bashar al Assad.
Esta atitude
arrogante e autoritária dos Estados Unidos veio ao mesmo tempo em que a
coalizão militar liderada pelos EUA continua a bombardear a Síria pelo menos
nos últimos doze meses.
Nesta semana, aos
aviões dos Estados Unidos que já bombardeiam a Síria juntaram-se bombardeios da
Austrália, sob a alegação de que estariam supostamente bombardeando posições do
grupo terrorista Estado Islâmico no interior do país. Espera-se que a França e
o Reino Unido (Inglaterra) também se juntem em breve aos ataques dentro do
território sírio.
Mas espere um pouco.
Será que estamos entendendo? Os Estados Unidos e seus aliados dão a si mesmo o
direito de bombardear à vontade um país soberano – Síria – sem a aprovação do
governo deste país e sem um mandato do Conselho de Segurança da ONU?
Consequentemente,
portanto, a legalidade desses bombardeios da coalizão liderada pelos EUA – e
que já resultaram em numerosas mortes de civis – é no mínimo muito suspeita,
para não dizer que constitui uma flagrante violação da Lei Internacional.
Pois mesmo assim as
potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, tem a petulância de
repreender a Rússia apenas porque está fornecendo armas para o governo da
Síria.
Como já ressaltou o
Ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, o equipamento militar
que está sendo enviado para a Síria consiste em material que de longa data faz
parte de acordos bilaterais legais entre os dois governos aliados. A Síria é
aliada da Rússia pelo menos pelos últimos 40 anos. Nada de impróprio ou ilegal
está acontecendo, a não ser a campanha ocidental de bombardeio contra a Síria.
O presidente da
Rússia, Vladimir Putin, foi um pouco mais longe na defesa da ajuda militar para
a Síria ao afirmar que é necessário ajudar seus aliados a “lutar contra uma
agressão terrorista”.
Pelos últimos quatro
anos, o exército nacional da Síria encontra-se em batalha contra um conjunto de
mercenários estrangeiros cujas principais formações inclui forças que estão
ligadas a rede terrorista al-Qaeda, tais como a Frente Al Nusra e o Estado
Islâmico. Putin está correto quando diz que as forças governamentais sírias
estão combatendo, primariamente, contra uma rede terrorista jihadista.
Caso os países
ocidentais estivessem mesmo seriametne dispostos a combater esses grupos
terroristas – como dizem que estão – então também dariam apoio ao governo da
Síria, como a Rússia está fazendo.
O chefe da diplomacia
norteamericana, John Kerry disse que a Rússia, com o apoio dado à Síria estaria
“exacerbando e estendendo o conflito” e “sabotando nosso objetivo comum da luta
contra o extremismo”. Seu contraparte russo Sergei Lavrov imediata e
apropriadamente rejeitou as objeções de Kerry como “fora de qualquer senso
lógico”.
Parece que a
arrogância desmedida não apenas nos torna cegos às nossas próprias
contradições; tira também dos que a sofrem qualquer possibilidade de falar algo
que não seja uma rematada besteira.
Vejam aqui como o
jornal New York Times desta semana
relata os desenvolvimentos da questão Síria-Rússia: “O movimento da Rússia para
reforçar as posições do governo do Presidente Bashar al Assad, o qual resiste
há anos às ordens de Obama para que deixe o governo, colocou em destaque as
diferentes visões sobre como lutar contra a organização terrorista Estado
Islâmico. Enquanto Obama apoia grupos rebeldes para lutar contra o Estado
Islâmico mesmo que eles se oponham a Assad, a Rússia afirma que o governo sírio
é a única força que pode eventualmente derrotar os extremistas islâmicos”.
Percebam a arrogância
profunda que está subjacente nestas palavras. Com uma indiferença tranquila o
ocidente tem a visão de que o líder sírio tem “resistido por anos às ordens de
Obama para que deixe o poder”.
No entanto,
juntamente com o suposto “direito” de bombardear um país soberano, é um
norteamericano que acha que decidirá se um líder de outro Estado deverá
obedecê-lo.
Quem são os
norteamericanos ou qualquer outro governo para decidir coisas que são
prerrogativas do povo sírio? A propósito, nesta altura, é de bom alvitre
lembrar que o povo sírio votou para reeleger o Presidente Bashar al Assad com
uma esmagadora maioria – perto de 80% - nas eleições gerais levadas a efeito no
país em 2012.
Mas a contradição
mais fatal na lógica dos Estados Unidos e de seus aliados ocidentais reside no
seguinte fato: De acordo com o jornal The
New York Times Obama “apoia um grupo rebelde rival para derrotar o Estado
Islâmico, mesmo que este se oponha ao Presidente Assad”.
Esta assertiva é simplesmente
uma mentira deslavada, uma ilusão insustentável. Mesmo os norteamericanos têm
admitido sempre que não existe isso de “grupo rebelde rival” na Síria. Depois
de anos sustentando a pretensão de que o ocidente apoiava “rebeldes moderados”
na Síria, a realidade é que a guerra contra a Síria está sendo levada a a efeito
por extremistas jihadistas armados encobertamente e financiados pelos Estados
Unidos e seus aliados, Inglaterra, França, Turquia, Arábia Saudita e Qatar.
O antigo diretor da
Agência de Inteligência para a Defesa (Defence
Intelligence Agency em inglês, organização governamental norteamericana para o
suprimento de informações sobre o poderio de exércitos inimigos para os EUA e
seus aliados – NT) Tenente General Michael Flynn, em uma entrevista
concedida à rede Al Jazeera em julho passado, candidamente admitiu que
Washington sabe muito bem e está consciente de que está apoiando o Estado
Islâmico e outros grupos terroristas como a principal força antigovernamental
na Síria. Foi uma decisão “intencional” disse Flynn, porque Washington quer
porque quer a mudança de regime na Síria.
É preciso que se diga
com todas as letras que “mudança de regime” sobe para a categoria de um
interferência criminosa nos assuntos internos de um Estado soberano. Ocorre que
isso é algo que Washington e seus vassalos europeus estão acostumados a fazer,
como já aconteceu no Afeganistão em 2001, no Iraque em 2003, na Líbia em 2011 e
na Ucrânia em 2014, apenas para mencionar alguns.
Por causa dessa “decisão
intencional” de Washington, a Síria mergulhou em quatro anos de uma guerra
implacável, com um total de 240.000 pessoas mortas. Mas de metade de sua
população de 24 milhões de pessoas foi desabrigada e deslocada, com centenas de
milhares dirigindo-se para a Europa em desespero. O terrorismo acabou por se
tornar um enorme problema regional de segurança que ameaça transbordar para
outros países ameaçados por sua vez de ruína através da violência sectária que
domina atualmente o Oriente Médio.
Assim, quando
Washington e seus vassalos ocidentais pontificam pomposamente contra a Rússia
sobre o que pode e o que não pode ser feito em relação à Síria e o terrorismo,
são ignorados olimpicamente com o desprezo que merecem. Arrogância, cegueira e
atitudes criminosas não são qualificações para uma liderança internacional.
Finian Cunningham -
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