Imigração: o novo declínio da civilização ocidental
Vladimir NESTEROV 07 de setembro de 2015.
Tradução mberublue
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Com uma
pontualidade germânica, chegou o outono na Alemanha – em 01 de setembro.
Apenas um dia antes, o povo alemão sofria sob 30 graus de calor, mas na terça
feira eles podiam colocar de lado suas capas e guarda chuvas. Mas os imigrantes
não se importam com datas. Seu fluxo continua ininterrupto.
Desde os dias
de Aníbal a Europa não via uma invasão semelhante proveniente da Líbia, como
nas semanas e meses recentes. Ninguém tem dados suficientes para afirmar
quantos imigrantes atrás de asilo, oriundos da antiga Iugoslávia ou da Síria
devastada pela guerra se encontram hoje nas florestas da Sérvia, próximas à
fronteira da Macedônia. Seis a sete mil pessoas entram na Macedônia a cada
dia em seu caminho para a Alemanha. Guardas de fronteira nem querem saber:
ganham 5 euros de cada imigrante ilegal que deixam passar. O caminho está
livre...
Em
primeiro de setembro autoridades húngaras fecharam a sua principal estação,
Keleti, para 3650 refugiados e imigrantes que queriam transporte para a
Alemanha. Aconteceu apenas um dia depois que, com a conivência da polícia
húngara, centenas de imigrantes deixaram Budapeste com destino a Munique.
Dois dias antes, a Hungria havia acabado de construir um muro eriçado de
arame farpado com 175 quilômetros de extensão em sua fronteira com a Sérvia.
A maioria dos refugiados não quer ficar em países como a Hungria ou Grécia.
Eles tentam com firmeza chegar até a Alemanha ou a Suécia.
Mais de
três mil imigrantes, atraídos pela qualidade de vida superior do Reino Unido
em relação à França estão acampados no Porto de Calais, perto do Eurotúnel.
Aumentam a
cada dia os sinais desse dilúvio que ameaça afogar a Europa. Já as causas e
as ações a serem tomadas são o nó górdio a ser desatado.
No início
de agosto, o presidente da República Checa, Milos Zeman, falou sobre o
problema de maneira duramente explícita: “a onda atual de migração (para a
Europa) tem suas origens na ideia (dos Estados Unidos) imbecil de lançar uma
intervenção contra o Iraque, que alegadamente teria armas de destruição em
massa que jamais foram encontradas” mas “não são apenas os Estados Unidos que
devem ser acusados da atual tragédia dos imigrantes, porque vários membros da
Comunidade Europeia coordenaram as operações contra a Líbia”.
Sob a
influência dessa ideia imbecil (se é que não há uma agenda escondida debaixo
dessa loucura toda) países inteiros se tornaram território sem governo, ausentes
do poder do Estado. Laços sociais deixaram de existir e a frágil paz entre
muçulmanos e cristãos foi quebrada. Dentro da Humma muçulmana a trégua tácita
entre crentes e os que advogam a modernização foi despedaçada.
Como resultado
da intervenção armada dos Estados Unidos, nacionalistas e extremistas de
todos os matizes tiveram amplo acesso a armas dentro de seus países já
abalados. O vácuo político causado pelas guerras, “primaveras árabes” e
outros desastres similares permitiram a esse tipo de gente que tomassem de
assalto o poder. Tudo isso levou à devastação econômica, aumento da pobreza
extrema e instabilidade crescente. A guerra e a morte se tornaram
onipresentes. Milhares de pessoas do norte da África, do Oriente Médio, dos
Balcãs e da Ucrânia se tornaram refugiados. O oceano impede que se dirijam
para os Estados Unidos, mas eles podem ir para a Europa. A ilha de Lampedusa
fica logo ali. Guardas de fronteira búlgaros, gregos e sérvios se sentem
felizes em ganhar milhares de euros.
De acordo
com estatísticas oficiais, o número de refugiados em busca de asilo na Europa
triplicou entre 2008 e 2014. Em 2015, apenas a Alemanha espera receber mais
refugiados que a Europa inteira em 2014. Ocorre que há uma divisão dentro da
Europa. O ministro do exterior francês, Laurent Fabius declarou-se “escandalizado”
com a relutância de alguns países do leste europeu a “respeitar os valores
comuns da Europa” e aceitar mais imigrantes. Por sua vez, a chanceler alemã
Angela Merkel assegurou que a Alemanha “poderá” continuar a receber refugiados,
mas necessita que o restante da União Europeia trabalhe no processo de estabelecer
uma distribuição mais justa dos refugiados. O diabo é que ninguém sequer faz
ideia do que a Alemanha considera como “justo”.
A opinião
pública nos países membros da União Europeia está dividida. O número daqueles
que se opõe à imigração está em crescimento. Na Alemanha já aconteceram mais
de 200 ataques a centros de refugiados desde o início de 2015.
Claro que
apenas uma distribuição “justa” dos refugiados entre os países europeus não
resolverá o problema – um acordo universal entre todos os membros da União
Europeia sobre o assunto é inalcançável. Por outro lado, a recusa de qualquer
dos membros da União Europeia a receber imigrantes na sua “justa” cota,
colocará no colo da Comissão Europeia um sério precedente. Entretanto, o
tempo para resolver o problema, que pegou os europeus totalmente
desprevenidos, está correndo.
É muito eloquente
a fria indiferença com a qual os seus aliados do Atlântico Norte testemunham
o drama europeu. Enquanto o número de imigrantes na Europa cresce para
centenas de milhares, a Europa está destinada a encarar problemas de tensão
social, enquanto os políticos que apoiaram as intervenções desastradas dos
Estados Unidos nos países dos quais se originam os refugiados enfrentarão
tempos difíceis. Se o número destas pessoas destituídas de tudo que invadem a
Europa mudar de centenas de milhares para milhões, a civilização europeia pode
estar assistindo a seus últimos dias.
Tudo isso
a história já testemunhou antes. A Roma antiga foi destruída e sua cultura milenar
varrida da face do planeta exatamente durante um período de migração. O
ocidente, por sua vez, está em declínio já por alguns séculos. Será que
estamos vendo na Europa uma nova edição do período das trevas?
(assina) Vladimir Nesterov
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