Washington fez ressurgir a ameaça de uma Guerra nuclear.
por Paul Craig Roberts
tradução mberublue
Foreign Affairs é a publicação do elitista Conselho de Relações
Exteriores, um conjunto de antigos e atuais altos funcionários do governo, aliados
a executivos corporativistas e financeiros que tem a pretensão de ser o
guardião e elaborador da política externa dos Estados Unidos. Suas publicações
carregam o peso da autoridade e não se espera encontrar nelas quaisquer
resquícios de humor, mas eu pessoalmente me peguei rindo às gargalhadas ao ler
um artigo online publicado em 05 de fevereiro assinado por Alexander J. Motyl,
intitulado “Adeus Putin: porque os dias
do Presidente estão contados”.
É claro que eu tinha a certeza de
estar lendo uma paródia espertinha da propaganda contra Putin patrocinada por
Washington. Declarações absurdas parecem sair de uma linha de montagem. É
melhor que Colbert (comediante satírico
que ridiculariza a política norte americana – NT). Eu simplesmente não
conseguia parar de rir.
Para minha tristeza, descobri que
aquele amontoado de besteiras não era uma paródia da propaganda de Washington.
Motyl, um ardente nacionalista ucraniano, leciona na Universidade Rugers e não
está brincando quando escreve que Putin roubou 45 bilhões de dólares, que Putin
pretende reerguer o Império Soviético, que Putin tem tropas e tanques na
Ucrânia e que foi ele quem começou a guerra naquele país, que Putin é um
homem autoritário cujo regime é extremamente frágil e sujeito à
derrocada a qualquer tempo pelo povo assim que Putin não puder controlar o
preço do petróleo em queda, ou através de uma “revolução laranja” orquestrada
pelas ONGs financiadas por Washington e
que derrubaria Putin como aconteceu na Ucrânia ou ainda por um golpe de estado
perpetrado pela guarda pretoriana de Putin. Se nada disso puder despachar Putin
para o inferno, a vontade de Washington se cumprirá através do Cáucaso Norte, Chechênia,
Inguchétia, Daguestão e dos tártaros da Criméia, que já estariam totalmente
fora de controle. Apenas a relação amistosa do ocidente com a Ucrânia, Belarus
e Cazaquistão podem livrar “o resto do mundo do desastroso legado da ruína
deixada por Putin”.
Ao ser confrontado com esse nível
de incoerência e ignorância em uma publicação supostamente respeitável, tenho
uma medida de degradação sofrida pela elite da mídia política ocidental. Toda
argumentação insensata é inútil.
O que se vê em Motyl é a mais
pura expressão das desavergonhadas propagandas mentirosas que fluem
constantemente de órgãos como as “notícias” da Fox News, Sean Hannity (comentarista político de tom fortemente
conservador – NT), neocons militaristas, a Casa Branca, poder executivo e o
pessoal do Congresso, todos com o rabo preso ao complexo Exército/Segurança
Nacional e suas indústrias.
É um bocado de mentiras, mesmo
comparando-se com Henry Kissinger.
Como declarou honestamente
Stephen Lendman, que documenta uma crescente propaganda anti Rússia: “A guerra
dos Estados Unidos contra o mundo é raivosa. O maior desafio da humanidade é
deter o monstro antes que ele nos destrua a todos”.
Tudo isso é tão absurdo! Qualquer
idiota sabe que se a Rússia realmente colocasse seus tanques e tropas dentro da
Ucrânia seria o suficiente para terminar o serviço. A guerra duraria alguns
dias, se não algumas horas. O próprio Putin disse alguns meses atrás que se os
militares russos entrassem na Ucrânia as notícias não seriam sobre o destino de
Donetsk ou Mariupol, mas sobre a queda de Kiev e Lviv.
O antigo embaixador dos Estados
Unidos para a União Soviética (1987-91) Jack Matlock pede cuidado contra o
ataque propagandístico louco contra a Rússia em seu discurso no Clube Nacional
da Imprensa em 11 de fevereiro. Matlock ficou estupefato com o erro estratégico
de considerar a Rússia como sendo meramente um “poder regional” incapaz de
causar maiores problemas para o poder militar dos Estados Unidos. Nenhum país,
disse Matlock, armado com ICBMs numerosos, acurados e móveis tem poder limitado
a qualquer região. Isso é um tipo de erro de cálculo arrogante cujo resultado
pode ser a destruição do mundo.
Da mesma forma, observou Matlock
que toda a Ucrânia, assim como a Crimeia, já foram parte da Rússia por séculos
e que nem Washington nem a OTAN tem que meter o nariz em assuntos da Ucrânia.
Também salientou as violações de
promessas feitas para a Rússia de que não haveria expansão da OTAN para o leste
e que não apenas este, mas outros atos agressivos dos Estados Unidos contra a
Rússia acabaram por minar a confiança entre os dois países que Reagan construíra
com sucesso.
A educação com que Reagan tratava
os líderes soviéticos e a recusa de personalizar as diferenças criaram uma era
de cooperação que os imbecis que sucederam a Reagan destruíram, fazendo voltar
a ameaça de uma guerra nuclear que Reagan e Gorbachov tinham eliminado.
Matlock disse que a política
praticada por Washington é autista, na medida de sua interação social
insuficiente, falha em comunicar-se com os demais países e o comportamento
restritivo e repetitivo dos Estados Unidos. Você pode ler o discurso (em
inglês) de Matlock em:
Não se incomode com o completo
imbecil que se revelou Motyl:
Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril
de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators
Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração
Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor
e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps
Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões
em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem
frequentemente publicado em Counterpunch e no Information
Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações
Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele
diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da
Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido
processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos,
opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as
políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do
Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de
Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade
de Merton, Oxford University.
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