A Europa na
iminência da Guerra
Mais uma vez, o
espectro da guerra ronda a Europa
por Alex Lantier
tradução mberublue
Notícias de que
Washington está seriamente considerando armar o regime de Kiev, apoiado pelo
ocidente, com armas leves e pesadas para atacar os separatistas pro Rússia no
leste ucraniano jogaram repentinamente o risco de uma guerra mundial no centro
da vida política europeia.
No começo desta
semana, antes de voar para Moscou em companhia da Chanceler alemã Angela
Merkel, para conversações com o presidente russo Vladimir Putin, o presidente
francês François Hollande alertou para o risco de uma “guerra total”. Tais
comentários encontraram eco no antigo Primeiro Ministro da Suécia, Carl Bildt.
“Infelizmente é
possível no cenário atual uma guerra contra a Rússia,” disse Bildt ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung numa
entrevista durante a Conferência de Segurança de Munique. “Definitivamente,
vivemos uma das mais perigosas fases históricas” disse Bildt, “especialmente se
você olhar a situação de uma perspectiva europeia”. Estamos lutando no leste e
estamos lutando no sul. “As chamas da guerra cada vez mais se aproximam de nós.
A incerteza quanto às relações globais de poder tornam a situação ainda mais
explosiva.”
Hoje, o mundo capitalista
vive uma crise tão profunda quanto a que viveu no último século – em 1914 e
1939 – e que mergulhou a humanidade em duas guerras mundiais. No curso dessas
guerras imperialistas, dezenas de milhões de pessoas foram massacradas, mas
mesmo essas atrocidades empalidecem em comparação com a devastação que pode vir
a ser causada por uma Terceira Guerra Mundial entre potências nucleares.
A sombra de uma
catástrofe nuclear perigosamente iminente surge por trás da população do mundo
inteiro no meio do silêncio cúmplice da imprensa empresa. O Frankfurter Allgemeine Zeitung “esqueceu”
de colocar para Bildt a questão óbvia: se é verdade que o governo sueco
atualmente leva em consideração a possibilidade de uma guerra contra a Rússia,
que possui armas nucleares, estaria levando isso em conta quando formula suas
políticas, o risco de que mísseis com cargas nucleares podem explodir em
Estocolmo? Acreditariam esses líderes suecos que vale a pena arriscar-se à
aniquilação da Suécia apenas para defender um regime de extrema direita na
Ucrânia? Afinal de contas, quantos milhões de vidas estão os líderes
imperialistas preparados para sacrificar em nome do cálculo frio de suas
ambições geopolíticas?
Nenhum dos governos
do OTAN tem a menor ideia de como resolver o problema, mas ainda assim apontam
para o caráter histórico da crise atual. Enquanto isso, vão pondo gasolina na
fogueira. Os poderes imperialistas estão se preparando para despachar dezenas
de milhares de soldados da força de reação rápida da OTAN aos países do leste
europeu que fazem fronteira com a Rússia enquanto ao mesmo tempo enviam navios
de guerra para o Mar Negro.
Embora Merkel e
Hollande tenham voado para Moscou para um encontro em que se deveria falar de
paz, preocupados, ostensivamente, com as implicações das entregas de armas ao
regime de Kiev pelos Estados Unidos, A Ministra da Defesa da Alemanha, Ursula
Von der Leyen se gabava da participação de seu país nas forças de reação rápida
formadas para serem dirigidas contra a Rússia.
“A Alemanha não
apenas é uma nação primordial e essencial como ponta de lança para a OTAN”,
declarou, “mas também estamos ajudando a erguer o Corpo Multinacional Nordeste,
bem como as bases que a OTAN estabelece neste momento nos Estados membros
orientais e austrais”. A ministra elogiou “o engajamento e empenho incansável
do governo federal Alemão, para fortalecer o crescimento do OSCE (Organization
for Security and Cooperation in Europe – Organização Europeia para a Cooperação
e Segurança – NT)” e garantiu ainda que “a União Europeia adota posição comum
no que se refere à Rússia.”
Algumas vozes na
Europa estão pressionando, como alternativa factível à proposta dos Estados
Unidos de entregar armas à Ucrânia, para que se adotem ainda mais sanções econômicas
contra a Rússia, notadamente a exclusão sumária do sistema internacional de
pagamentos SWIFT – atitude que por si mesma já poderia ser considerada como um
ato de guerra.
Entretanto, a
imprensa empresa europeia trabalha implacavelmente para confundir a opinião
pública, através de denúncias de que o Kremlin seria um agressor e culpando a
Rússia pela crise na Ucrânia.
O jornal francês Le Monde em um editorial de sexta feira
alertou que “a história está oscilando entre um conflito localizado e outro que
pode ser muito maior e preocupante... uma dessas reações em cadeia que a Europa
já conhece”. O jornal manobrou para colocar Putin como o único culpado pela
crise. Escreveu: “Na essência, tudo depende de apenas uma pessoa: Vladimir
Putin. Achará o presidente russo que já puniu a Ucrânia o suficiente por querer
se aliar à União Europeia? Continuará a alimentar as chamas da guerra ou
aliviará as tensões?”
Uma reação em cadeia
composta de um só homem é um conto de fadas que o Le Monde tenta impingir a seus leitores, como parte da demonização
da Rússia levada a efeito e que se baseia em um sem número de mentiras
absurdas. O que causa a possibilidade da Guerra são as perigosas ações das potências
imperialistas, empurradas por suas veleidades de hegemonia, além da incurável
crise do sistema capitalista.
As potências
europeias e Washington foram abalados pela crise econômica global, pela
diminuição do peso de sua influência econômica no mundo, assim como pelas
reações da classe trabalhadora contra os intermináveis programas de
austeridade. Aterrorizado pelo que Bildt chama de “incerteza quanto às relações
globais de poder” procuraram solidificar suas posições geopolíticas
aproveitando-se da Ucrânia – por meio de um golpe liderado por forças
paramilitares neonazistas – buscando acertar um golpe devastador em seu vizinho
fronteiriço, a Rússia, ao transformar a Ucrânia em uma semicolônia.
No ano passado as
potências da OTAN, lideradas por Washington e Berlim, promoveram um golpe de
estado em Kiev através do apoio decidido de forças como a milícia fascista Pravy
Sektor (Setor da Direita – NT). Tendo derrubado o presidente pro Rússia Viktor
Yanukovych, instalaram em seu lugar um regime de extrema direita que impôs
brutais medidas de austeridade sobre a classe trabalhadora e buscou afogar as
regiões pro russas do leste ucraniano em sangue.
As potências da OTAN
aproveitaram-se da resistência armada contra o regime de Kiev no leste
ucraniano como a Crimeia e o Donbass, para justificar uma escalada no reforço
militar no leste europeu. Elas apoiaram a guerra do regime de Kiev no Donbass,
que apenas até agora já matou mais de 5000 pessoas, forçando mais 1.200.000 a
abandonar suas casas. Com a sinalização do Kremlin de que poderá intervir para
sustar uma ofensiva militar ainda maior contra o Donbass, as potências da OTAN
responderam que estão preparadas para uma guerra total.
Contra o frenesi de
guerra que toma conta das potências imperialistas, a classe trabalhadora deve
contrapor a estratégia de uma revolução socialista mundial.
As ameaças de guerra
total tornaram-se uma constante na vida política atual. Os anos recentes viram
uma série de possibilidades de guerra – em setembro de 203, quando os Estados Unidos
e a França quase atacaram a Síria; em 2014, quando a ameaçada foi a Rússia, nos
desenvolvimentos do ainda não resolvido caso da queda do vô MH17 sobre a
Ucrânia; e agora, com a guerra no leste da Ucrânia. O perigo é a possibilidade de que, na ausência
de uma intervenção maciça da classe trabalhadora na luta contra o imperialismo,
uma ou outra dessas crises dispare uma guerra incontrolável que ameaça até a
sobrevivência da humanidade.
Exatamente o que foi escrito
declaração da Quarta Internacional pelo Comitê Internacional: “O Socialismo e a
Luta Contra a Guerra Imperialista”.
“O choque entre os
interesses imperialistas e os interesses nacionais é a expressão da
impossibilidade, sob o capitalismo, de organizar uma economia globalmente
integrada com base racional, assegurando assim o desenvolvimento harmonioso das
forças produtivas. No entanto, essas mesmas contradições presentes no
imperialismo são o impulso para prover uma revolução social. A globalização da
produção conduziu a um expressivo crescimento da classe operária. Somente essa
força social, que não deve lealdade a quaisquer nações, é capaz de impor um fim
ao sistema do lucro, causa primária da guerra.”
Alex Lantier
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