domingo, 27 de setembro de 2015

Washington perdeu o Oriente Médio 
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 Resultado de imagem para F. William Engdahl
Tradução do Coletivo de Tradutores da Vila Vudu

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Não é surpresa, de modo algum, exceto pela rapidez do processo. Em pouco mais de uma década, desde a facinorosa decisão do governo Bush de invadir e ocupar o Afeganistão e depois o Iraque em março de 2003, os EUA só fizeram perder influência e aliados em todo o Oriente Médio. Não só os iranianos xiitas, que o presidente Obama crê que sejam gratos a Washington, mas também, pela primeira vez, a Arábia Saudita e os estados do Golfo e o Egito, todos em processo de unir-se a novos aliados ou parceiros colaborativos, que encontram no oriente, não no ocidente.


Dia 11/9/1990, em discurso numa sessão conjunta do Congresso, o então presidente George Herbert Walker Bush falou triunfantemente dos EUA como a única superpotência, para criar o que ele chamou de Nova Ordem Mundial. A União Soviética acabava de se autodissolver em caos. Sob as presidências de Bush e adiante, de Clinton, e até o dia de hoje, a política de Washington consistiu exclusivamente em avançar contra, para desvalorizar, destruir, desconstruir e desmembrar a Federação Russa, praticamente como Washington fez contra a Líbia de Gaddafi depois da guerra de Hillary Clinton, lá, em 2011.


Durante os anos 1990s, o presidente Bill Clinton apoiou a "terapia de choque" econômico financiada pelos EUA, com pesado apoio do seu amigo bilionário e corretor financeiro George Soros e das Fundações Sociedade Aberta [orig. Open Society Foundations] de Soros. Soros trouxe pessoalmente vários Harvard-boys, como Jeffrey Sachs, para a Rússia, logo depois de eles terem devastado a Polônia, a Ucrânia e outros estados ex-comunistas no leste da Europa. O regime corrupto de Yeltsin, que só queria saber de encher a cabeça de vodka e os bolsos de dólares, pouco se incomodava com o que acontecesse aos demais russos.


Mas... Como as coisas mudaram, para Washington, desde aqueles dias de depois de 1990!


Hoje, a Única Superpotência, o Hegemon Indesafiável, está sendo desafiado como nunca antes, afundado na pior depressão econômica desde os anos 1930s. O governo dos EUA tem dívida federal de mais de 103% do PIB. O desemprego real, não a definição delirante com que o Departamento do Trabalho 'opera', está hoje acima de 22%. O Federal Reserve está afundado há oito anos na pior crise financeira da história, sem conseguir aumentar os juros acima de 0%.


E agora, a meta estratégica de toda a projeção de poder dos EUA desde 1945 – controlar os fluxos de energia do Oriente Médio – está sumindo à vista de todos, como algodão-doce ao vento.


Pânico em Washington



A prova mais clara de que está perdendo influência no Oriente Médio é a reação do governo Obama às ações dos russos para pôr fim à terrível guerra de Washington na Síria – que é a verdadeira fonte da crise de refugiados que atualmente faz subir as tensões sociais em toda a Europa.


Dia 12/9, Barack Obama falou contra as recentes atividades da Rússia. Obama rejeitou os chamamentos da Rússia para cooperação militar contra o ISIS, declarando que a estratégia russa de apoiar o governo sírio contra o ISIS estaria "condenada ao fracasso". Sobre a Rússia estar enviando ajuda diretamente ao governo de Bashar al-Assad, que Washington 'exige' que renuncie, Obama atacou: "A estratégia que estão usando agora, de 'dobrar o blefe' [orig. 
doubling down] em Assad é um erro." Double down é expressão de cassino, das mesas de "Blackjack", que nesse caso significa 'adotar comportamento de risco quando [o jogador] já está em posição precária'.


A lógica da posição de Washington, de 'exigir' que Assad saia não é lógica: é perfeito absurdo. Como o ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov seguidamente destaca, a Rússia, aliada da Síria há décadas, continuará a manter a assistência militar que sempre deu ao governo legítimo de Assad em sua batalha para derrotar os terroristas islamistas: "Só posso repetir, mais uma vez, que nossos soldados e especialistas militares estão lá para operar o equipamento militar russo e para dar treinamento ao exército sírio para que possa operar equipamento novo. E continuaremos a garantir a mesma assistência ao governo sírio, para garantir que tenha prontidão adequada de combate em sua luta contra o 
terrorismo."


Por que o pânico


A razão pela qual Washington literalmente pirou não é a possibilidade de que a Rússia venha a agravar a situação na Síria. Depois de mais de um ano de bombardeamento destrutivo por aviões dos EUA e da OTAN, que gerou a atual crise de refugiados na União Europeia, dificilmente a situação piorará se a Rússia conseguir isolar o ISIS. O que deixa (mais) ensandecidos os facinorosos fazedores de guerra em Washington é a possibilidade de a estratégia russa ser bem-sucedida e pôr fim ao reino de terror do ISIS.


O chamamento russo visa a constituir uma coalizão internacional, convidando também os EUA a unir forças com estados da região e da Organização do Tratado de Segurança Coletiva [orig.Collective Security Treaty Organisation (CSTO)]. 


Dia 15/9/2015, em encontro em Dushanbe, Tadjiquistão, governantes dos estados membros daCSTO denunciaram o terrorismo no Iraque e na Síria, com atenção especial ao chamado 'Estado Islâmico'. Declararam-se prontos para enviar tropas para a Síria, sob patrocínio da ONU, como a OTAN está fazendo sem sucesso. Esse é desenvolvimento que Washington não aprecia, haver dois jogadores jogando o jogo. Os estados-membros da CSTO discutirão sua estratégia para criar uma coalizão global contra o ISIS, durante a reunião de todos, em setembro, para a Assembleia Geral da ONU em New York. A CSTO reúne Rússia, Bielorrússia, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão. Seguindo o rodízio, a Rússia na presidência do Conselho de Segurança da ONU durante 
esse mês.


Segundo relato de Thierry Meyssan, editor francês de Voltaire.net que tem base em Damasco, o mais recente movimento de apoio russo à guerra que o governo do presidente Assad faz contra os terroristas inclui a criação de uma Comissão Militar Conjunta Sírio-Russa; transmissões de inteligência recolhida pelo satélite russo; envio de especialistas russos em várias áreas e o fornecimento de armamento sofisticado. Inclui também significativa modernização e expansão do porto sírio de 
Latakia.


Recentes atividades da Rússia, de ampliação e modernização do porto em Latakia apanharam de surpresa a OTAN



Matéria recentemente publicada na Der Spiegel alemã diz que as entregas russas à Síria também incluem carros blindados de fabricação russa para transporte de tropas, BTR-82A. Esse BTR-82A está em uso nos exércitos da Rússia e do Cazaquistão. É veículo com traços impressionantes: pode operar em combate sem parar, 24 horas por dia. Sua principal arma é um canhão automático de carregamento duplo de 30mm capaz de perfurar a blindagem de foguetes rastreadores, munição de fragmentação, incendiária e rastreadora de explosivos. Além do canhão, o BTR-82A leva também uma metralhadora coaxial de 7,62mm e três lançadores de granadas de fumaça de 81mm de cada lado. A cabine do artilheiro conta com sistema para controle de fogo dia/noite. O comando opera com comunicações e mapas topográficos avançados. E uma câmera de vigilância armada com laser, permite detectar qualquer alvo inimigo no raio de 3 km. Ah, e o veículo leva um dos mais robustos motores turbo-diesel da indústria russa, o KAMAZ 740.14-300 de 300hp e velocidade máxima de 100 km/h, mesmo em terreno acidentado; para completar, é totalmente anfíbio, com propulsão a jato, na água.


O respeitado blogueiro The Saker, citando fontes russas, crê que a Rússia também esteja enviando ao Exército Sírio sistemas de combate em campo que podem ajudar muito, incluindo radares antibaterias (radares que identificam de onde a artilharia inimiga está atirando) e sistemas de guerra eletrônica. O Saker destaca também que, de um ponto de vista estratégico militar, o fator que pode realmente alterar o jogo, e que a Rússia expôs há poucos dias, é ter escolhido o porto de Latakia. Segundo o Saker,


" um dos detalhes que estão deixando nervosos [os norte-americanos] é que os russos, pelo que se pode ver, escolheram a cidade de Latakia como seu "local de entrega".


Diferente de Damasco, Latakia é locação ideal: é segura, sem ser distante demais das linhas de frente, e é relativamente próxima da base russa em Tartus. O aeroporto e o porto naval são sabidamente fáceis de isolar e proteger. Já há relatos de que os russos estenderam as pistas e melhoraram a infraestrutura no aeroporto de Latakia, e pesados AN-124s já foram vistos pousando lá. Quanto à Marinha Russa, também enviou navios para o aeroporto de 
Latakia


E o Saker conclui:


"Em outras palavras, em vez de se limitarem a Tartus ou de irem para Damasco, muito exposta, os russos parecem ter criado nova cabeça de ponte no norte do país, que pode ser usada para entrega de equipamento à área de combate no norte e até para desembarque de forças. (...) Além disso, se o equipamento pesado é enviado por mar, os russos podem entregar por ar os seus sistemas de defesa aérea: o AN-124 é mais que suficiente para transportar os sistemas S-300s. Basta isso para explicar o pânico dos anglo-sionistas."


O que parece estar também acontecendo, como sugeri em artigo anterior, é um movimento da diplomacia russa, para dar à Arábia Saudita e aos membros árabes da OPEP uma alternativa à fracassada estratégia que abraçaram, de financiar todos e quaisquer terroristas que se apresentassem como anti-Assad. 


O novo monarca saudita e seus conselheiros parecem ter começado a suspeitar que é muito provável que os doidos-por-guerra neoconservadores nos EUA que estão armando o ISIS e a Frente Al-Nusra da Al-Qaeda, além da Fraternidade Muçulmana no Oriente Médio ali perto, bem podem ter em vista derrubar os sauditas e outras 
monarquias do Golfo. Ao abrir negociações, ou mediar um fim informal para a mais recente guerra sunitas versus xiitas inventada/fomentada por Washington, a Rússia pode conseguir remover um importante fomentador de guerras à distância que sempre manteve ativas as guerras de Washington.


E assim, resta só a Turquia de Erdogan, como principal patrão/patrocinador do ISIS. É situação qualitativamente nova desde o início da guerra há cerca de quatro anos, e momento ideal para o aumento combinado do apoio russo, ao Exército Árabe Sírio e ao legítimo governo do presidente Assad, e para uma grande nova ofensiva diplomática para pôr fim àquela guerra.


Esse é o fator que, muito provavelmente, mais incomoda os planejadores de guerras em Washington. Estão começando a ver que estão a um passo de perder – ou, mais provavelmente, já perderam – qualquer derradeiro fiapo de poder ou influência sobre países em todo o Oriente Médio, inclusive sobre o Irã – pedra central, até agora, de toda a política de Obama para o Oriente Médio.


Dia 21/9, o vice-ministro do Exterior para Questões Árabes e Africanas do Irã, Hossein Amir Abdollahian, estava em Moscou, discutindo Oriente Médio e Síria. O Irã trabalha com a Rússia, bem próximos, já há semanas, para construir uma estratégia que ponha fim à 
ameaça que o ISIS representa para a Síria.


Mas... E Israel?



Claro que o fator que mais fez crescer e aprofundar a instabilidade política e social no Oriente Médio islamista sempre foi o governo de Netanyahu em Israel. Também nesse campo Putin mais uma vez mostrou presença e alta habilidade, com Israel já se afastando de Washington na questão do Irã, como em outras questões.


Segundo o site de notícias 
DEBKA.file, reputado como centro de atividade de militares israelenses e da inteligência do Mossad, no final de agosto Putin propôs a Israel que Moscou assumisse a responsabilidade pela segurança dos campos de gás de Israel no Mediterrâneo, ao mesmo tempo em que ofereceu investimento russo de $7-10 bilhões para o desenvolvimento do poço Leviathan, o maior de todos, e construção de um gasoduto até a Turquia, para exportar o gás para a Europa. "Um investimento multibilionário da Rússia naquele campo faria dele um projeto russo, que nem Síria nem Hizbollah ousariam atacar, mesmo que pertença a Israel" – escreveu DEBKA.

A matéria diz que a oferta foi feita "ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu em telefonema confidencial e por enviados sigilosos." DEBKA.file diz também que as revelações dessa crescente ajuda militar russa à Síria e da cooperação entre forças russas e iranianas na Síria mudaram completamente o cálculo estratégico israelense, depois de construída a 'parceria' com os russos: "O exército de Israel deve agora reavaliar sua postura no front sírio, reconsiderando o patrocínio que dava ao grupo de rebeldes seletos que defendem a linha no sul da Síria contra iranianos e combatentes do Hezbollah que atacam através da fronteira no norte de Israel. A mudança na atitude de Israel apareceu sugerida em declarações ouvidas nos últimos dias, de altos funcionários da segurança israelense, os quais, agora, dizem que, afinal, a melhor opção é, mesmo, deixar que Assad permaneça no governo da Síria."


E acrescentam: "A Força Aérea e a Marinha russas são os mais fortes contingentes militares estrangeiros ativos no Mediterrâneo oriental. Os EUA nada têm ali, sequer comparável. A força militar de Israel é substancial, mas ninguém cogita de confronto militar com os 
russos…"


Se as notícias de DEBKA.file são acuradas, a mais recente estratégia de paz dos russos para o Oriente Médio, que associa diplomacia e ostentação de força militar, acaba de aplicar derrota devastadora à estratégia de Washington, de promover e inflar guerras e mais guerras sempre e por todos os cantos do planeta.


Se a Rússia consegue agora forjar uma coalizão genuína e honesta de nações, para isolar e destruir o monstro criado e nutrido por Washington conhecido como ISIS ou EI, e permitir que a verdadeira oposição síria resolva seus problemas com o presidente Bashar al-Assad (e vice-versa) – em eleições das quais não participem ONGs mantidas por George Soros ou a "National Endowment for Democracy" do governo norte-americano – o mundo terá dado passo gigantesco para bem longe de novas guerras.




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