domingo, 10 de agosto de 2014

Trincas no muro
As consequências involuntárias do genocídio





 
por Robert Fantina

tradução mberublue

Ao mesmo tempo que Israel declara um cessar fogo de 72 horas, também afirma: “missão cumprida” em Gaza. Talvez se torne interessante ver o que aquele regime de apartheid realmente cumpriu.

·         Destruiu túneis, os quais na maioria das vezes são usados para o contrabando de artigos para o lar, que Israel, em descumprimento e violação das leis internacionais, impede que sejam importados pelos palestinos.

·       Massacrou cerca de 2.000 (duas mil) pessoas, entre as quais se incluem crianças, mesmo as recém nascidas, ferindo ainda milhares delas.

·  Destruiu centenas de casas, deixando na rua, ao léu, milhares de homens, mulheres e crianças.

·   Arrasou usinas de energia, fazendo com que centenas de milhares de pessoas ficassem sem eletricidade ou água corrente.

·     Provocou a destruição de fábricas que produzem coisas extremamente perigosas para Israel, como pretzels, queijo e biscoitos.

·         Alvejou e assassinou jornalistas.


"Cortando a Grama" em Gaza
Os oficiais israelenses afirmaram que, em Gaza, precisam regularmente “cortar a grama”, o que significa destruir a infraestrutura e bombardear a área sitiada até empurrá-la o mais próximo possível da idade das trevas. Podemos acrescentar isso às realizações da “missão cumprida” de Israel.

Porém, talvez a maior falha de Israel, meta desesperadamente procurada, e que não conseguiu cumprir, foi o seu objetivo mais ambicioso: o desmantelamento do governo de coalizão entre Fatah e Hamás. Este governo, trêmulo talvez, definitivamente corrupto, permanece intacto.

Ocorre que na realidade, existem alguns resultados não esperados e que efetivamente se dão em consequência desse bombardeio genocida contra os palestinos.

*Crítica internacional inesperada contra Israel. Mesmo que não seja de forma universal, desta vez Israel viu embaixadores sendo convocados de volta a seus países, e até mesmo os Estados Unidos que normalmente dão um cheque em branco a Israel para que faça o que quiser no cenário internacional,desta vez arriscou algumas críticas tímidas contra seu fantoche mor. Mas é lamentável que para que os EUA arriscassem algumas críticas anêmicas, foi necessário que Israel bombardeasse repetidas vezes as escolas das Nações Unidas, nas ocasiões usadas como abrigo para milhares de palestinos expulsos de suas casas, mas pelo menos alguma crítica foi expressa. A inesperada renúncia de SayeedaWarsi, Ministra Sênior no Gabinete de Relações Exteriores da Grã Bretanha, que saiu acusando o governo do Primeiro Ministro David Cameron de tomar uma abordagem “moralmente indefensável” em relação ao conflito entre Israel e Gaza, foi por sua vez uma consequência surpreendente contra Israel.

*Demonstrações internacionais de apoio aos palestinos. Israel mesmo teve centenas de pessoas de seu povo protestando contra o bombardeio maciço na faixa de Gaza. Em Londres, dezenas de milhares de pessoas protestaram contra o bombardeio, exigindo que o governo britânico pare de apoiar Israel.

*Israel enfrentou uma tempestade na mídia social, que bateu sem dó no país. Na última vez que Israel resolveu “cortar a grama” em Gaza foi há dois anos. Naquele tempo, o Twitter tinha aproximadamente 20 milhões de usuários. Hoje, este número já se encontra na casa dos 120 milhões de usuários que espalharam através do globo fotografias e filmes e informações que a imprensa empresa não se atreveu ou não quis mostrar. Pelo menos em parte, isso resultou em enormes manifestações de protesto em frente à sede da BBC em Londres, tendo como consequência o anúncio, por parte da organização de mídia que deverá rever suas políticas no intento de ver se, de fato, suas reportagens eram tendenciosas, favorecendo sempre Israel.

*Maior motivação para a implementação do movimento BDS (Boycott, Divest and Sanction – Boicote, Desinvestimento e Sanções –NT). Levando em consideração que as pessoas ao redor do mundo percebem que crianças brincando em uma praia são alvos do terrorista IDF (Israeli Defense Forces – Forças Defensivas de Israel – NT), que atiram em crianças espalhando seus pedaços sangrentos pela praia, mesmo os politicamente apáticos tornam-se motivados.

*Isolamento cada vez maior de Israel frente a comunidade internacional. Não se pode ver isso como consequência isolada, pois o isolamento decorre de todos os motivos acima listados. As manifestações de protesto, o cancelamento de eventos patrocinados por Israel, o crescimento exponencial do movimento BDS e o aumento nas pessoas da consciência do que acontece deve ser creditado em grande parte à mídia social pela divulgação dos horríveis crimes cometidos por Israel não podem ser ignorados para sempre pelos governos, quando as pessoas que elegeram estes governos demonstram claramente sua oposição.

A única nação que demonstra ser extremamente lenta em mudar sua retórica em relação a Israel, para condenar as terríveis violações dos direitos humanos cometidos por aquele país é, sem surpresa nenhuma, os Estados Unidos. Como este escritor já mencionou anteriormente, os Estados Unidos gostam dos direitos humanos, desde que não interfiram em suas estratégias ou interesses financeiros. É necessário recordar que apenas entre o início de 2012 e o final de 2013, lobbies pró Israel doaram 8000000 de dólares aos candidatos ao Congresso e à presidência. Tais candidatos receberam dezenas de milhões de dólares no transcorrer das duas últimas décadas. Há outras instâncias do poder em redor do mundo além da Casa Branca, da Câmara de Deputados e o Senado dos EUA... Assim, o que acontece se alguns bebês dormindo em seus berços são selvagemente destroçados por armas proibidas, em clara violação à lei internacional       Criticar isso fará com que diminuam os cheques oferecidos pelos lobbies pró Israel. Não, não acho que haja algum risco de que essa crítica seja feita.

Dessa forma, embora murmurando uma crítica quase inaudível, um sussurro medroso em oposição ao genocídio praticado por Israel, ainda assim, os EUA o financia. Enquanto mostra algum “desconforto” com a decisão de Israel de bombardear as escolas das Nações Unidas que abrigavam centenas de palestinos refugiados, os Estados Unidos ainda assim continuam enviando mais e mais armas para Israel, para que o Estado Terrorista continue “cortando a grama” em Gaza.

Tweedle-Dee e Tweedle-Dum
Sempre foi muito difícil para o eleitor americano escolher entre Tweedle-Dee e Tweedle-Dum (personagens do livro de Lewis Carroll “Alice no País dos Espelhos”. São gêmeos que se complementam a tal ponto que um completa as frases do outro.No fundo, parecem ser o mesmo personagem, tendo como diferença apenas seus nomes bordados nos casacos – NT), candidatos normalmente oferecidos pelos partidos Democrata e Republicano. Nas próximas eleições de meio de mandato, os eleitores americanos certamente deverão escolher entre candidatos dos dois partidos, que se atropelam uns aos outros na tentativa sôfrega de mostrar quem apoia mais a Israel. Não é por outro motivo que este escritor, que viveu durante anos no Canadá, escreverá alguns nomes em sua cédula de ausente. Serão os nomes dos jornalistas palestinos e homens e mulheres conhecidos deste escritor, que vivem em Gaza e foram vítimas dos ataques genocidas do exército de Israel.

Mesmo com a oposição ferrenha dos Estados Unidos a cada passo a ser dado, a ONU parece estar pronta para investigar possíveis crimes de guerra cometidos por Israel. Não é de se estranhar as suas conclusões, pois a ONU tem emitido mais resoluções críticas contra Israel que todas as outras nações combinadas. Mas até que os cidadãos acordem de seu sono induzido pelos serviços de relações públicas e fiquem conscientes de que os EUA estão financiando um genocídio, nada mudará. Nas últimas semanas, temos visto evidências cada vez mais fortes de rachaduras no muro dos Estados Unidos e das relações públicas de Israel. Todos aqueles que estão chocados com os crimes cometidos por Israel devem alargar ainda mais esta rachadura.



Robert Fantina–Ativista e jornalista que trabalha em prol da paz e da justiça social, enquanto viveu nos EUA apoiou decisivamente o controle de armas e se opôs à guerra contra o Iraque antes da invasão norteamericana e depois que ela aconteceu. Depois das eleições de 2004, mudou-se para o Canadá. Escreveu livros, entre os quais “A deserção e o soldado americano – 1776-2006” além de novelas e mais recentemente o livro “Império: racismo e genocídio – uma história das relações exteriores dos Estados Unidos”, seu último livro.
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Conflicts Forum, Comentários, semana 25/7-1/8/2014


“Há nova guerra começando na Europa” – disse ele. – 
“Você realmente pensa que [a sentença de Haia no caso Yukos] tenha alguma importância?”
 
(
Financial Times, 28/7/2014, citando fonte próxima do presidente Putin)
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Traduzido pelo pessoal do Coletivo Vila Vudu

O governo dos EUA anda expressando profunda satisfação. Afinal – contra as dúvidas, que persistiam semana passada – conseguiu empurrar uma relutante Alemanha a aceitar as sanções setoriais contra a Rússia e a unir-se à política para, claramente, isolar o presidente Putin. Sim, escrevi mesmo “Putin”, não “Rússia” – porque os políticos norte-americanos estão (outra vez!) convencidos de que, como resultado da ‘dor’ das sanções e de uma economia sob sítio, eles conseguirão induzir o povo russo a trocar o presidente Putin por algum outro presidente mais confortável e mais pró-ocidente. O presidente Obama chegou a manifestar abertamente o pervertido prazer de estar “desmontando décadas de genuíno progresso” na Rússia, e de ter tornado “uma já fraca economia russa, ainda mais fraca”.


E se Putin não cai, nesse caso uma ‘contenção’ de estilo iraniana tornará ‘impuro-intocável’ o presidente russo, e limitará a capacidade dele para desafiar a ordem global. E a Europa persistirá ancorada a Washington.


A liderança na UE, combinada aos seus profundos laços com a Rússia, significava que a Alemanha era o único estado que poderia reduzir ou conter a fúria dos anglo-saxões para impor sanções à Rússia e 
demonizar Putin. Em sentido importante, sancionar a Rússia tem tanto a ver com  o futuro da Europa (particularmente com o futuro da Alemanha e de seu relacionamento com os EUA) e a manutenção da hegemonia dos EUA sobre a ordem internacional – quanto tem a ver com a Ucrânia e o voo MH17. Mas, sobretudo, é reafirmação do poder dos EUA, num momento de fraqueza visível – como a campanha de Suez o foi para Grã-Bretanha e França.


A vitória sobre a Alemanha (pelo menos, por enquanto), a imposição de sanções e de fato o gerenciamento de toda a imprensa-empresa sobre o caso da Ucrânia e a derrubada do MH17 (uma catarata de emoção ‘humanitária’ de horror, como meio de ação psicológica para impedir que algum eventual verdadeiro jornalismo investigasse o que realmente aconteceu ao avião malaio); e o uso desse contágio emocional para demonizar Putin como ‘bárbaro sem qualquer limite’ – é nada além de espetáculo-show do poder norte-americano, assumidamente ‘para impressionar’. Nada, aí, tem a ver com ‘realidades’ – como já foi deixado abundantemente claro 
na carta de ex-oficiais de inteligência dos EUA ao presidente Obama. Ainda não se sabe (oficialmente) o que aconteceu ao MH17.[1]  É um espetáculo-show de poder: simplesmente isso.


O período mais recente, essencialmente, foi focado numa discussão profunda na Alemanha sobre sua alma germânica. Inicialmente, Alemanha adotou posição contra saltar depressa demais na trilha das sanções; mas pressões diretas dos EUA, e a matrix de influência indireta dos EUA que contamina tudo, sob a superfície europeia, afinal (por enquanto) prevaleceu. A questão e se isso marca algum ponto de virada na política europeia: Essa vitória dos ‘atlanticistas’ no caso das sanções contra a Rússia é vitória de valor meramente tático; ou tem valor verdadeiramente estratégico?


A questão envolve a alma germânica: imediatamente depois das duas guerras europeias, a Alemanha buscou desesperadamente reduzir-se, como um Gulliver – grudar-se naquele novo eixo ‘euro’ entre França e Alemanha — de tal modo que aquele conflito nunca mais voltasse e irromper. Consequência disso, o centro de gravidade da Europa depois da Guerra mudou-se claramente para os litorais atlânticos. Nem poderia ter sido diferente: a Alemanha emergiu da guerra como nação derrotada, com a indústria em ruínas e sob ocupação pelos Aliados.


Os anglo-saxões tendem a ver esse resultado (uma centricidade atlanticista) como nada além de seu direito legítimo como ‘vitoriosos’. Mas os alemães sabem – no fundo da alma – que a verdade é outra: que foi o Exército Vermelho quem, ao longo dos três anos antes do desembarque na Normandia, lutara contra a Wehrmacht e a derrotara.  Os alemães perderam a 2ª Guerra Mundial na Batalha de Stalingrado – quando a maior parte dos sobreviventes do poderoso 6º Exército Alemão renderam-se aos russos, inclusive 22 generais.


19 meses antes, a maior força de invasão jamais organizada invadiu a Rússia por uma fronteira de 1.600 km. 3 milhões de soldados alemães; 7.500 unidades de artilharia; 19 divisões Panzer com 3 mil tanques; e 2.500 aeronaves deslocaram-se por território russo durante 14 meses. Em junho de 1944, três anos adiante, pouco restava desse exército descomunal. O Exército Vermelho mastigara os nazistas.


É essa história terrível partilhada de milhões de mortos dos dois lados que uniu Alemanha e Rússia, depois do fim do Muro (além da presteza com que a Rússia aceitou a reunificação da Alemanha). A Alemanha queria (ainda mais do que quisera em relação à França) unir as duas grandes potências da Europa de tal modo que aquela guerra nunca mais voltasse a ser possível.


A partir dali, a Alemanha deu-se trabalho gigantesco e sofreu muitas dores para cortejar os russos. Ofereceu sua força industrial e seu know-how para ajudar a Rússia em importantes projetos russos de infraestrutura e construção industrial. A Rússia aceitou e valorizou tais aberturas. Os dois estados, com a infraestrutura industrial dizimada pela guerra, compreenderam também o imperativo de que qualquer estado industrial tem de ter recursos energéticos – e compreenderam também que os EUA, depois da primeira Guerra Europeia, haviam-se assenhoreado das principais fontes de recursos de petróleo (e, claro, da política internacional muscular que vem com elas).


O relacionamento russo-alemão cresceu como massa indivisa, de fato, em torno dessa perspectiva partilhada da importância de a Europa não se prender em relações de dependência energética: quando o presidente Putin concebia a estratégia para a empresa Gazprom, concluiu que, se os EUA efetivamente controlavam as principais fontes de petróleo, então a Europa – a Rússia – tentaria controlar as principais fontes de suprimento de gás (a nova fonte de energia e de influência política). A Gazprom então se pôs agressivamente a comprar as principais fontes de fornecimento de gás na Ásia.


O ponto aqui foi que esse projeto que foi concebido como parte da ‘ligação’ que tornaria inconcebível a guerra – foi iniciativa conjunta russo-alemã. Veio à luz graças à cooperação de Hans-Joachim Gornig, um dos ex-vice-presidentes da Empresa Alemã de Petróleo e Gás Industrial, e que supervisionou a construção da rede de gasodutos da Alemanha Ocidental; e o primeiro presidente foi Vladimir Kotenev, ex-embaixador da Rússia na Alemanha (e o chanceler Gerhard Schroeder passou a trabalhar na Gazprom quando deixou o governo alemão em 2005). Todos esses laços, por sua vez, garantiram a segurança energética da Alemanha, mediante a conexão direta com o gás russo pelo gasoduto Ramo Norte [orig. Nord Stream].

Em resumo, ali o centro de gravidade da Europa inexoravelmente se moveu para o leste, na direção contrária aos litorais atlânticos. Na verdade, a jornada da Alemanha poderia ter parado ali (Rússia); mas a jornada manteve sempre a perspectiva (na mente dos russos, como na dos alemães) de que se poderia estender pela Rússia até Pequim e para uma aliança euroasiática que, pelo menos, ‘equilibraria’ o poder dos EUA. 


O ‘pivô da história’ é conceito velho (proposto pela primeira vez por Mckinder em 1904), segundo o qual quem controla o ‘pivô’ (que se estende do Volga ao Yan-Tsé, e das montanhas Himalaias ao Ártico) controla mais de 50% dos recursos mundiais e assim, portanto, controla efetivamente o mundo.  (Os EUA têm sido hostis há muitos anos a qualquer controle sobre as terras do continente eurasiano por qualquer desses dos países; também têm se oposto a a Alemanha depender de fontes russas de energia. Os EUA sempre preferirão que a Europa importe o caríssimo gás liquefeito, dos EUA).


Como, então, poderia a Alemanha, agora, esquecer uma Stalingrado inscrita para sempre em sua alma mais profunda, e embarcar num curso de ação que – com a extensão inevitável, até o fracasso, da missão já em curso – pode empurrar a Europa para muito perto da guerra?


Pyotr Akopovimportante analista russo, também está intrigado com isso:


“Moscou esperava que o ‘jogo’ dos EUA, de isolar a Rússia, acabaria por [paradoxalmente] catalisar a emancipação da Alemanha [da hegemonia dos EUA]. Com certeza, ninguém [na Rússia] contava com rompimento rápido – o objetivo de Putin era, de fato, obter uma neutralidade condicional da Alemanha (e também da UE como um todo), no conflito entre Rússia e EUA [pela Ucrânia]”. 


“Para facilitar [o não alinhamento da UE], a Rússia estava pronta para fazer concessões substanciais – limitadas, é claro, ao interesse nacional russo. Mas [por essa via], ambas, a paz e uma Ucrânia não alinhada, poderiam ter constituído a base da cooperação russo-europeia nos próximos anos. Bastaria que a Europa estivesse preparada para abster-se de ‘pular dentro’ da Ucrânia, enfiando-se sob o guarda-chuva atlântico. Infelizmente, nem Bruxelas nem Berlin quiseram admitir o simples fato de que a Rússia em nenhum caso admitirá a secessão de parte do mundo russo – golpe que apareceu sob a mascarada de uma eurointegração”.


Quer dizer então que o jogo acabou? A Europa terá sido ‘puxada’ com sucesso para a iniciativa nos EUA para instalar em Kiev um regime pró-Europa, pró-OTAN e furiosamente anti-Rússia? Só o tempo dirá; mas não se trata de os europeus estarem apenas ‘desentendidos’, sem saber do que se trata. 


Um importante intelectual norte-americano, 
Professor Wallerstein, escreveu que  “o problema básico é que os EUA estão, já há algum tempo, em rota de decadência geopolítica. A coisa não agrada aos EUA. De fato, os EUA não ‘aceitam’ essa realidade, não sabem como lidar com ela e tendem sempre a minimizar o que os EUA estão perdendo. Assim, tentam restaurar o que já é irrestaurável: a ‘liderança’ norte-americana (leia-se: a hegemonia dos EUA) no sistema-mundo.” 


Os resultados dessa resistência a ver a realidade, dessa negação dos fatos (veja-se, por exemplo, o discurso de Obama em West Point sobre o excepcionalismo norte-americano) têm sido muito visivelmente confusos; e não raras vezes perigosamente desestabilizatórios: os europeus, sim, estão ‘entendendo’ o que se passa – e veem, sim, que a Ucrânia pode ser, sim, mais uma aventura sem sentido, sem justificativa e muito perigosa.


Os EUA estão em declínio e a ordem global está com problemas: Nos anos 1990s, ainda poderia ter sido possível para os europeus convencerem-se eles mesmos de que a ‘ordem liberal’ reinava na maior parte do mundo; hoje, não mais. Na realidade, a ordem global está muitíssimo distanciada dos valores ‘liberais’. Foi gerenciada a golpes mais ou menos declarados e com revoluções ‘coloridas, ou por ações da habilidade unilateral dos EUA para excluir estados, expulsando-os do sistema financeiro global, ou pela manipulação da dívida.  Isso é simplesmente impossível de manter, como mecanismo para o longo prazo; e Rússia, China e os BRICS já estão construindo um sistema paralelo.

Em outras palavras, a mudança do centro de gravidade no rumo da Eurásia tem sua própria dinâmica, seja em termos de política global seja como locus das últimas fontes de recursos energéticos de baixo custo. Está acontecendo. Está em aceleração. E a Ucrânia acelerará o processo, ainda mais. A Alemanha ter concordado com Washington, portanto, é mais evento tático, que estratégico: o mais provável é que a Alemanha mantenha, inalterado, seu jogo de longo prazo.

Putin já deve ter alertado Angela Merkel de que seus movimentos podem levar à guerra – guerra real em plena Europa, outra vez; mas evidentemente ela crê que a guerra será evitada e que conseguirá reencontrar a via para retomar o engajamento com o presidente Putin. (Até aqui, não se vê ainda como.)


E aqui está o ponto: Obama tem suas duras sanções; mas ficará nisso? As sanções obrigarão Putin a aceitar deixar-se ficar, impotente, enquanto Kiev vai suprimindo a ferro e sangue a resistência no Donbass (e em outras províncias)? E se Obama obtiver isso, ficará por aí? Ou, ou as sanções e exigências voltarão a morder, insistindo, então, que a Rússia tem de desistir da Crimeia?  É possível que o presidente Obama suponha que as coisas não chegarão até lá. Angela Merkel talvez também suponha que não. Mas alguns no (e fora do) governo querem que as coisas cheguem precisamente até lá.  


Será que alguém realmente crê que sanções porão de joelhos o presidente Putin, ou dobrarão a Rússia e a forçarão à submissão? Por que Obama mudou tão radicalmente, de posição em relação a quando, ainda candidato, “ridicularizou seu oponente Republicano Mitt Romney, que dissera que a Rússia seria a maior ameaça geopolítica para os EUA no século 21”? Será tudo, só, politicagem doméstica?


A seguir, ouve-se o que disse o 
Conselheiro Econômico do presidente Putin, avaliando os perigos. Absolutamente não significa que Sergei Glazyev falava em nome do presidente Putin; seus comentários, que são visivelmente pessoais e refletem perspectiva russa de raízes profundas, foram feitos durante uma mesa redonda sobre temas econômicos no Moscow Economic Forumdia 10/6. Aqui, foram parafraseados [o vídeo tem legendas em inglês e foi comentado longamente também no blog Vineyard of the Saker (NTs)]:


“Quanto às políticas de Kiev, permitam-me dizer o seguinte: Kiev está claramente perseguindo uma política de genocídio para eliminar a população do Donbass. Está destruindo a infraestrutura social; já destruiu o melhor e mais moderno aeroporto de toda a Europa (importante projeto de infraestrutura); destruiu hospitais, jardins de infância e escolas. O destino que estão preparando para o povo do Donbass é servidão – objetivo do qual não fazem segredo. Basta ouvir os ideólogos de Kiev, como Liashko. A posição de Poroshenko não é significativamente diferente. O pessoal está sendo furiosamente explorado também economicamente – o que visa a forçar condições para que o povo do Donbass deixe a região, que se transformem em refugiados.

Obviamente, os EUA controlam completamente Kiev, controlam Poroshenko pessoalmente e estão forçando o governo a prosseguir nessa guerra contra o Donbass – e até o fim. Sem limites. Usando todos os meios, até que toda a resistência tenha sido eliminada.

Por que o tempo não está do nosso lado? Os norte-americanos definiram um curso de militarização da Ucrânia, a construção de uma ditadura dócil e uma total mobilização do povo da Ucrânia contra a Rússia. Embora a população não abrace entusiasmada essa mobilização, analisem essas dinâmicas: em dezembro de 2013, havia 2 mil milicianos fascistas em Kiev; em fevereiro, 20 mil; em maio, 50 mil; no verão, haverá 100 mil. Em breve, haverá meio milhão de soldados armados. Estão distribuindo equipamento militar tirado dos quartéis. A Ucrânia já possuiu um grande exército, o qual está sendo ressuscitado. Tanques e blindados foram retirados de depósitos e estão sendo restaurados (não é trabalho difícil); o mesmo está acontecendo com os aviões: estão sendo restaurados em Odessa.

O objetivo deles é guerra contra a Rússia. Não é coisa a que possamos só assistir sentados. Ao perder o Donbass, teremos perdido também a paz. O alvo seguinte será a Crimeia. Não estou brincando: a Ucrânia será brutalmente empurrada para uma guerra contra a Rússia, sob o pretexto da Crimeia.  Poroshenko já disse isso. Nuland disse claramente em Odessa que esperam que a Ucrânia entre em guerra para recuperar a Crimeia [negritos nossos]. Essa Armada de meio milhão de soldados invadirá a Crimeia. Disso, não há dúvida. Churchill disse certa vez: “Tiveram a chance de escolher entre guerra e desonra. Escolheram a desonra – e terão guerra.”

Falo aqui de guerra moderna – que não significa mandar nossos tanques contra Kiev. Mas temos o direito, nos termos da lei internacional de pelo menos deter o genocídio. Para tanto, basta fechar o espaço aéreo e usar o mesmo mecanismo para deter armas pesadas, que estão sendo usados contra o povo: como os norte-americanos fizeram na Líbia. Resultado daquela ação, o regime líbio não pode defender-se.

Ainda temos a chance de fazer isso. Dentro de meio ano, essa chance já não existirá. Lugansk e Donetsk estabeleceram dois parlamentos e autoridades que unem as duas repúblicas. A recusa de Kiev a negociar com elas é efeito de Kiev não ter qualquer independência. É vassalo dos EUA e, assim, é importante que identifiquemos claramente a Ucrânia como território ocupado – ocupado pelos EUA. Tão logo passemos a usar o quadro de referências correto, torna-se fácil ver o que temos de fazer. Temos de encorajar as outras regiões, não só a unir-se à Federação, mas, também, a se autolibertar da ocupação”.

A conclusão de Glazyev é que tudo sugere que os EUA estão deliberadamente tentando provocar um confronto militar entre as forças armadas da Ucrânia e a Rússia. Isso terminará em guerra. “Guerra europeia” – como ele prevê.


Depois que esses comentários foram redigidos, a resistência no Donbass conheceu vários sucessos na luta contra as operações militares de Kiev. Desde julho as forças de Kiev nada têm a exibir como sucesso militar (além de ter assumido o controle de Slavyansk, de onde as milícias da resistência fizeram uma retirada tática); consequência disso, estão recorrendo a armamento cada vez mais pesado, contra alvos civis. *******





Postado por Roberto Pires Silveira, via Vila Vudu e @castorphoto


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Técnicas de punição dolorosa



Nikolay Starikov p/Vzgiad, via The Saker
Traduzido (para o inglês) pela equipe russa

Tradução (para o português): mberublue

O ocidente está tão acostumado ao seu joguinho de um lado só que ficou realmente surpreso com a resposta russa às sanções que o ocidente impôs contra o país.

Tudo bem. Deixe lá que se acostumem com isso. Seja quem for que contra nós vier com uma espada, pela espada perecerá. Isto serve apenas quando estivermos a falar de uma batalha onde se usará a espada, uma “guerra quente”. No entanto, se esta é uma guerra de sanções e proibições, o agressor terá mais do que pediu, certamente.

Apoio em gênero, número e grau a introdução de sanções retaliatórias contra os países que por sua vez sancionaram a Rússia. Por muitas razões:

- é bom para nossa economia e nossos produtores;
- é importante para a autoestima de nosso povo, que nunca deixou de punir o infrator que tenha perdido o senso de realidade;
- é necessário para que se tenha respeito pela Rússia, não apenas no interior do país mas também além de suas fronteiras.

A Rússia é uma superpotência. Recuperamos o status depois da reunificação da Criméia. Portanto não adianta, é futilidade tentar tratar a Rússia como se fosse uma criança birrenta que deve ser punida e aprender uma lição.

Pois a partir de agora qualquer agressor deve ter em mente o fato de que pagará caro por sua agressividade. A retribuição acontecerá na mesma medida e grau da agressão.

Se a agressão for econômica, o agressor pagará caro através de sua própria economia e renda. Pagará igualmente caro em vidas de seus soldados e com a perda de liberdade de manobra na esfera internacional por qualquer agressão militar.

Como já aconteceu por várias vezes no decorrer da história, nós não começamos a confrontação.  Acontece que a Rússia está sendo “punida” porque... uma guerra está em curso nos arredores de suas fronteiras, depois de apoio explícito e ostensivo ao golpe de estado na Ucrânia pelo ocidente. Ocorre que a OTAN ameaça expandir sua infraestrutura nas proximidades de nossas fronteiras. O nosso território está sendo bombardeado pela zona de conflito.

O ocidente, em si mesmo, não está em perigo. A Rússia jamais tomou qualquer atitude agressiva contra o ocidente a partir de suas fronteiras. No entanto, estamos sendo punidos. Muito bem, também podemos puni-los. Vocês precisam de nós muito mais do que precisamos de vocês.

Imperatriz Elizabeth Petrovna
A partir de agora nenhum canhão tem permissão de disparar perto de nossas fronteiras sem a nossa explícita permissão. Além de entender, o mundo deve recordar. Acontece dessa forma desde os tempos da Imperatriz Elizabeth Petrovna até os tempos de Leonid Brezhnev.

Ninguém tem o direito de disparar perto de nossas fronteiras e especialmente, através delas. É bom que nossos gentis “parceiros” se acostumem com o fato de que toda a parte eurasiana da Europa é território de nossos interesses vitais.

Sempre foi assim e assim deve continuar agora. Entretanto, nesse meio tempo, armas não só militares, mas também econômicas estão disparando não sem nossa permissão, mas em nós. A seu tempo, os atiradores devem ser e serão punidos.

Severamente punidos. Chega! O ocidente equivocadamente interpreta nossa bondade como sendo fraqueza. Está na hora de responder a todas as agressões contra a Rússia com técnicas de punição dolorosa.

Há apenas uma semana atrás, no artigo “Técnicas para infligir a dor para proteger a Rússia”, escrevi o seguinte:

“Já está na hora da Rússia mudar para uma política de técnicas de fazer sentir dor. Ademais, a continuação de nossa política de tentar promover a paz apenas faz nossos inimigos aumentarem suas forças. Temos que parar de sorrir e começar a responder aos ataques desfechados contra nós. Nossas ações tem que ser mais rápidas e proporcionar maior dano que os golpes de nossos inimigos. Como em um ringue, na luta contra um boxeador de maior peso, o atleta mais leve tem apenas uma vantagem: a velocidade.

E distribuir golpes dolorosos aos pontos mais sensíveis de nosso forte adversário. Quais são os pontos que mais doem em nossos “parceiros” geopolíticos? É necessário avaliar, escolher e golpear”.

Então, aconteceu exatamente isso. Entendemos, reconhecemos, fizemos nossas escolhas. E respondemos aos golpes.

De acordo com as medidas para implementação da Ordem Executiva Presidencial nº 560, de 06 de agosto de 2014 “Adoção de Medidas Econômicas Especiais para Proporcionar Segurança para a Federação Russa” foi introduzida a proibição, por um ano, das importações de produtos agrícolas, matérias primas e alimentares dos seguintes países:

Estados Unidos da América;
União Europeia;
Canadá;
Austrália;
Reino da Noruega.

A lista inclui:

01-) Carne, porco, aves, salgados, secos ou defumados, peixes e frutos do mar, frescos, refrigerados ou congelados.

02-) Leite e produtos dele derivados, vegetais, frutos e nozes, embutidos e produtos assemelhados e outras variedades de carnes (incluindo produtos alimentícios acabados com base em carne).

03-) Alimentos processados, queijos, requeijão e outros produtos lácteos, baseados em gordura vegetal.

Necessário se faz enfatizar que os embargos da Federação Russa em relação aos produtos dos países ocidentais não se estendem à comida importada para bebês nem para compras individuais de bens originários de países sancionados pela Rússia.

Adicionalmente, a Rússia impôs a proibição de vôos de companhias aéreas ucranianas em seu espaço aéreo. “Esta foi uma resolução acordada pelo governo. Refere-se à suspensão do trânsito de aeronaves ucranianas sobre o espaço aéreo russo para certo número de países – Azerbaijão, Geórgia, Armênia e Turquia,” disse o Primeiro Ministro Medvedev.

Sanções que ainda podem vir a ser implementadas:

01-) Uma proibição de vôo contra aeronaves da Europa e dos Estados Unidos que voem sobre o nosso espaço aéreo para a Ásia Oriental, que seja, a região Ásia/Pacífico.

02-) Alterar as chamadas de entrada e pontos de saída no espaço aéreo russo para qualquer vôo regular ou charter da Europa, o que vai acarretar aumento de custos de transporte e tarifas para transportadores aéreos ocidentais.

“Nosso país está pronto para revisar as regras de uso da rotas transsiberianas, quer dizer, denunciar os princípios acordados de modernização do sistema existente na atualidade – declarou o Primeiro Ministro Medvedev – a revisão será aplicável em sua plenitude aos países europeus. Interromperemos também as conversações com as autoridades aéreas dos Estados Unidos sobre o uso das rotas transsiberianas.”

A resposta às agressões não somente é justificada, como também é a única iniciativa correta para a Rússia. Entretanto, a Rússia sempre estará pronta para cessar a confrontação e reiniciar uma pacífica e mútua cooperação benéfica.

Contra esses países que declararam suas sanções econômicas contra nós, a Rússia foi forçada a introduzir suas próprias sanções. Para todo o mundo, o sinal é muito claro: nem tente! Tem um custo. Leve-se em consideração que nossas sanções tem um período de duração de um ano. É o suficiente para que nossos “parceiros” também sintam a dor das sanções e mudem seu modo de pensar. Se nada disso ajudar, o período pode ser estendido à vontade. Apresentaremos aos nossos “parceiros” novos setores nos quais serão ainda mais machucados, e mais apropriados para nós.

Este é o nosso país e o país é nosso, portanto as regras serão as nossas. Já jogamos por suas regras o tempo suficiente. Agradecemos a vocês, parceiros queridos que já desistiram das próprias regras. Claro que esse fato nos livra da necessidade de nos retirarmos unilateralmente.

Surpreso? Não esperava por isso?

Acostume-se. Estamos de volta...


Nikolay Starikov é o presidente adjunto do partido político para toda a Rússia “Partido da Grande Pátria” (POF) – escritor e publicitário.

Tradução: mberublue


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sábado, 9 de agosto de 2014

Washington ameaça o mundo

Dr. Paul Craig Roberts


9 de agosto de 2014
Tradução: mberublue


Desencadear o mal no mundo. Esta é a conseqüência das intervenções irresponsáveis e imprudentes de Washington em vários países, a saber: Iraque, Líbia e Síria, entre outros. Sob o governo Saddam, Kadaffi e Assad as várias seitas existentes no Oriente Médio viviam em paz. Hoje, massacram uns aos outros, enquanto um novo grupo, o DAASH, ou EI, ou ISIL ou ISIS, está em pleno processo de criação de um novo Estado, com pedaços do Iraque e da Síria.


Milhões de mortes já acontecidas e mortes incalculáveis no futuro são o que fizeram o regime de Bush e Obama pela turbulência causada no Oriente Médio. Neste exato momento em que escrevo, 40.000 iraquianos estão presos no topo de uma montanha, sem água, a esperar a morte nas mãos do EI, que vem a ser uma criação da intromissão dos EUA.

A realidade atual no Oriente Médio está em enorme contradição com o pronunciamento de George W. Bush no Porta Aviões Abraham Lincoln, dos EUA, quando declarou: “Missão Cumprida”, em maio de 2003. A verdadeira missão realizada por Washington foi destruir o Oriente Médio e a vida de milhões de pessoas, destruindo também no processo a reputação dos Estados Unidos. É graças ao regime demoníaco e neoconservador de Bush que os Estados Unidos são hoje considerados universalmente como a maior ameaça à paz mundial.  

O padrão foi fornecido pelo regime Clinton, com o ataque à Sérvia. Bush apenas incrementou a barbárie com a agressão nua de Washington contra o Afeganistão, travestindo-a, em linguagem Orwelliana, de “Operação Liberdade Duradoura”.


Para o Afeganistão, Washington não trouxe a liberdade, mas a ruína. Depois de treze anos explodindo o país, os EUA estão em retirada. O “superpoder” foi derrotado por alguns milhares de talebãs levemente armados, porém Washington larga para trás um deserto para o qual não quer assumir qualquer responsabilidade.

Outra interminável fonte de sofrimento no Oriente Médio é Israel, cujo roubo da Palestina foi permitido e apoiado pelos Estados Unidos. No transcorrer dos últimos ataques de Israel a civis em Gaza, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução em apoio aos crimes de guerra de Israel e votaram pelo fornecimento de mais centenas de milhões de dólares para pagar as munições gastas por Israel. Estamos neste momento testemunhando a Moral Americana, que apóia 100% a indefensáveis e inegáveis crimes de guerra, cometidos essencialmente contra civis desarmados e impossibilitados de se defender.

Quando Israel assassina mulheres e crianças, os Estados Unidos denominam isso como “o direito que Israel tem de defender o próprio país”. O mesmo país ao qual Israel roubou dos palestinos. Mas se os palestinos retaliam, Washington os chama de “terroristas”. Apoiando Israel, os EUA declaram seu apoio a um Estado Terrorista. Porque ainda existem alguns governos morais, Israel foi acusado de crimes de guerra pelo Secretário Geral da ONU, e os Estados Unidos violam suas próprias leis ao apoiar esse Estado Terrorista.

Mas não há surpresa nisso, tendo em vista que os EUA são os líderes entre todos os Estados Terroristas e, portanto, sob a Lei dos Estados Unidos, Washington está exercendo ilegalmente o poder. Mas é sabido que Washington não aceita nem leis nacionais nem internacionais, nem qualquer restrição às suas ações. Washington é “excepcional, indispensável”. Ninguém mais será levado em conta. Nem lei, nem Constituição, nenhuma consideração humana tem autoridade para contrariar Washington em suas vontades. Washington chega a superar o Terceiro Reich com suas afirmações.

Por mais temerária e horrível que seja a imprudência de Washington em relação ao Oriente Médio, a que ostenta atualmente em relação à Rússia está vários pontos acima. Os EUA acabaram por convencer a Rússia de que Washington está a planejar um primeiro ataque nuclear. Em resposta, a Rússia está reforçando suas forças nucleares e ao mesmo tempo, testa as forças nucleares americanas, assim como as reações de seu sistema de defesa: http://freebeacon.com/national-security/russian-strategic-bombers-conduct-more-than-16-incursions-of-u-s-air-defense-zones/

É muito difícil imaginar ato mais irresponsável que levar a Rússia a acreditar que Washington pretende lançar contra os russos um primeiro ataque nuclear preventivo. Um dos conselheiros de Putin explicou à mídia russa as intenções de Washington de um primeiro ataque preventivo e um membro da Duma (Parlamento) russa fez uma explanação documentada do que seria esse primeiro ataque preventivo de Washington: http://financearmageddon.blogspot.co.uk/2014/07/official-warning-u-s-to-hit-russia-with.html 


Pela acumulação de provas, eu tenho salientado em minha coluna que, para a Rússia, é impossível deixar de chegar a essa conclusão.

 A China está consciente de que enfrenta a mesma ameaça da parte de Washington. http://yalejournal.org/2013/06/12/who-authorized-preparations-for-war-with-china/  A resposta da China aos planos de guerra de Washington foi a demonstração de como as forças nucleares chinesas seriam usadas no contra ataque, causando a destruição dos Estados Unidos. A China tornou tudo isso público, na esperança de criar uma oposição nos Estados Unidos aos planos de Washington contra a China:  http://www.dailymail.co.uk/news/article-2484334/China-boasts-new-submarine-fleet-capable-launching-nuclear-warheads-cities-United-States.html Assim como a Rússia, a China é um país em ascensão e a última coisa de que precisa para ter sucesso é uma guerra.

O único país que necessita urgentemente de uma guerra é Washington, e isso acontece porque o objetivo de Washington é o exercício de uma hegemonia neoconservadora estadunidense sobre o mundo.

Antes dos regimes de Bush e Obama, todos os presidentes anteriores dos Estados Unidos envidaram seus melhores esforços em prevenir uma ameaça de guerra nuclear. A doutrina de guerra nuclear americana sempre se limitou a uma retaliação caso os Estados Unidos fossem alvo de um ataque nuclear. O objetivo das forças nucleares sempre foi evitar o uso dessas armas. O regime imprudente de George W. Bush destruiu essa política de contenção elevando as armas nucleares a um patamar de primeiro ataque preventivo. O objetivo primordial da administração Reagan foi o fim da guerra fria e por consequência,  o fim da ameaça de guerra nuclear. Os regimes de George W. Bush, juntamente com o regime de Obama, promovendo a demonização da Rússia, já derrubaram o feito único e brilhante do presidente Reagan, e acabaram por tornar novamente possível a guerra nuclear.


Quando o governo incompetente de Obama decidiu derrubar o governante democraticamente eleito da Ucrânia, trocando-o por um governo fantoche escolhido por Washington, o Departamento de Estado de Obama, que por sua vez é fantoche de ideólogos neoconservadores, acabou por se esquecer que o leste e o sul da Ucrânia são compostos por antigas províncias russas que foram alocadas à República Soviética Socialista da Ucrânia por líderes do Partido Comunista quando a Ucrânia e a Rússia eram parte de um mesmo país, a União Soviética. A seguir, quando os idiotas russófobos que Washington instalou em Kiev demonstraram não apenas por palavras, mas também por atos sua hostilidade agressiva em relação à população russa, as antigas províncias russas declararam seu desejo de tornar a fazer parte da mãe Rússia. Não há surpresa nisso, nem pode ser atribuída qualquer culpa à Rússia por esse fato.

A Criméia teve sucesso em retornar à Rússia, da qual fazia parte desde 1700, mas Putin, talvez na esperança de desarmar a propaganda de guerra manipulada que Washington disparava contra ele, não aceitou a solicitação das outras antigas províncias russas. Em consequência, os fantoches de Washington em Kiev se sentiram livres para atacar as pessoas que protestavam nas províncias, copiando a política de Israel de atacar a população, as residências e a infraestrutra civil.
A mídia prostituta do ocidente deixou os fatos de lado e prontamente acusou a Rússia de anexar partes da Ucrânia. Mentira absurda, só comparável com as mentiras ditas pelo Secretário de Estado Colin Powell na ONU, quando falou sobre as supostas armas de destruição em massa do Iraque, tudo para favorecer o regime criminoso de Bush. Mais tarde, Powell pediu desculpas pela mentira, mas isso de nada adiantou ao Iraque e às centenas de milhares de vítimas, destruídas por suas mentiras.

Quando o avião da Malásia foi abatido, antes de se conhecer quaisquer fatos, a Rússia foi responsabilizada. A mídia britânica foi especialmente virulenta em culpar a Rússia quase no mesmo instante em que se soube que o avião fora derrubado. As deturpações grosseiras e mentiras deslavadas  da BBC e da American National Public Radio só foram superadas como propaganda manipulada pelo Daily Mail. Tudo leva a crer que a “notícia” e sua propagação foi adrede orquestrada o que sugere, é claro, que Washington estava por trás de tudo.

As mortes provocadas pela queda do avião se tornaram armas propagandísticas importantes para Washington. Claro que se trata de uma infelicidade a morte de 290 vítimas, mas eles são apenas uma fração do número de palestinos mortos, no mesmo instante sem provocar qualquer rumor ou protesto nem de governos, nem dos povos ocidentais nas ruas, e os poucos que protestaram contra Israel foram convenientemente reprimidos pelas forças de segurança ocidentais.

A queda do avião, provavelmente provocada por Washington, foi usada como mais uma desculpa para nova rodada de “sanções e pressão” dos Estados Unidos, às quais se juntaram mais sanções de seus fantoches europeus.

Como Washington depende de acusações e insinuações, se recusa a liberar as provas a partir de fotos de satélite, porque tais fotos desmentiriam a versão dada pelos EUA. Fato. Não se permite qualquer tipo de interferência contra a demonização que Washington promove contra a Rússia, da mesma forma que não se permitiu que qualquer fato interferisse contra a demonização promovida por Washington contra o Iraque, a Líbia, a Síria, o Irã.

Vinte e dois senadores dos Estados Unidos, irresponsáveis e imprudentes, deram forma ao “Ato Preventivo 2014 sobre a Agressão Russa”. O projeto de Lei/2277 do Senado dos Estados Unidos patrocinado pelo Senador Bob Corcker, representa bem a ignorância e estupidez que assola a maioria da população dos Estados Unidos ou da maioria dos eleitores do Estado do Tennessee. O Projeto de Lei de Corcker é uma peça dementada de legislação destinada a promover uma guerra que muito provavelmente não deixará sobreviventes. Aparentemente os eleitores imbecis dos Estados Unidos elegerão qualquer idiota para o poder.

A convicção de que a Rússia é responsável pela queda do avião da Malásia tornou-se verdade incontestável nas capitais do ocidente, mesmo sem qualquer farrapo de evidência de que tal afirmação é verdade. Convenhamos, mesmo que a acusação fosse verdadeira, a queda de um avião é motivo para deflagrar uma Guerra Mundial?

O Comitê de Defesa do Reino Unido concluiu que o reino quebrado e seu exército impotente devem “concentrar-se na defesa da Europa contra a Rússia.” Batendo os tambores da despesas militares, se não os da própria guerra, o Reino Unido quer levar todo o ocidente em sua companhia. Uma Bretanha impotente quer defender a Europa de uma ameaça que não existe, mesmo estridulamente proclamada, de ataque do urso russo.

Alertas são emitidos por dignitários militares da OTAN e dos Estados Unidos, assim como do chefe do Pentágono, tudo baseado na alegada mas não existente presença de tropas russas na fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério de Propaganda Manipulada do ocidente, caso a Rússia defenda a população na Ucrânia dos ataques militares desfechados pelos fantoches de Washington em Kiev, isso se constitui em prova de que a Rússia é o vilão.

A campanha de propaganda mentirosa de Washington teve sucesso em transformar a Rússia em uma ameaça. Pesquisas demonstram que 69% dos estadunidenses hoje vêem a Rússia como uma ameaça, e que a confiança dos russos nos líderes americanos desapareceu. Os russos e seu governo percebem uma demonização idêntica contra o seu país e seu líder, como observaram em relação ao Iraque e Saddam Hussein, contra a Líbia e Muammar Kadaffi, contra a Síria e Assad, e contra o Afeganistão e o Taleban, imediatamente antes de serem seus países tomados de assalto pelo ocidente. Para um russo, a conclusão óbvia, a evidência gritante é que Washington pretende fazer a guerra contra a Rússia.

A irresponsabilidade e a imprudência do regime de Obama não tem precedentes, na minha opinião. Nunca antes houve nos Estados Unidos ou em qualquer outra potência nuclear, um governo que fosse tão longe em seus esforços para convencer outra potência nuclear de que seu poder estava sendo preparado para um ataque. Imaginar ato tão provocativo e mais perigoso para a vida no planeta Terra é muito difícil. Indubitavelmente, o louco da Casa Branca duplicou esse perigo, convencendo ao mesmo tempo a Rússia e a China de que os Estados Unidos preparam um primeiro ataque nuclear preventivo contra ambos.

Os republicanos querem processar ou impichar (conforme Dicionário Aulete - NT) Obama por assuntos relativamente desimportantes como o ObamaCare. Por que os republicanos não impicham Obama por causa de um assunto tão crucial como submeter o mundo ao risco de um armagedom?

A resposta está no fato de que os republicanos são tão insanos quanto os democratas. Seus líderes, como John McCain e Lindsay Graham, estão determinados a “levantar-se contra os russos!”. Para onde quer que se olhe para os políticos estadunidenses, só se vê gente louca, psicopatas e sociopatas que não deveriam estar ocupando um cargo político.

Washington mandou a diplomacia às favas há longo tempo. Washington baseia-se na força e na intimidação. O governo dos Estados Unidos é totalmente desprovido de bom senso. Não é por outra causa que uma pesquisa efetuada no resto do mundo considera que o governo dos Estados Unidos é atualmente a maior ameaça à paz mundial. Hoje (08 de agosto de 2014) Handelsblatt, o Jornal de Wall Street da Alemanha escreveu, em um editorial assinado:

“A tendência demonstrada pelos Estados Unidos de transformar uma escalada verbal em escalada militar – o isolamento, demonização e ataque aos inimigos – mostrou-se ineficaz. O último grande sucesso militar em ação dos Estados Unidos aconteceu na invasão da Normandia (em 1944). Todos os outros – Coréia, Vietnã, Iraque e Afeganistão – acabaram em claro fracasso. Mover unidades da OTAN através da fronteira Polonesa para perto da Rússia e pensar em armar a Ucrânia não passa da continuação da política de contar com os meios militares em detrimento da diplomacia.”

Os Estados fantoches de Washington – toda a Europa, Japão, Canadá e Austrália – permitem um perigo inigualável ao mundo todo através de seu apoio à agenda de Washington: continuar a exercer sua hegemonia sobre o mundo inteiro.

Acaba de acontecer o 100º aniversário da Primeira Guerra Mundial. Hoje, repete-se a loucura que causou aquela guerra calamitosa. A Primeira Guerra Mundial destruiu o mundo ocidental civilizado, e foi causado por um punhado de conspiradores. O resultado foi Lenin, a União Soviética, Hitler, o nascimento e crescimento do Império Americano, Coréia, Vietnã, intervenções militares que acabaram na criação do EI (ISIL, DAASH) e agora está sendo recriado o conflito entre Rússia e Estados Unidos, que o presidente Reagan e Mikhail Gorbachev haviam sepultado.

Como já salientou Stephen Starr em meu site, se apenas 10% das armas nucleares do arsenal dos Estados Unidos e da Rússia forem usados, a vida na Terra acabará.

Caros leitores, perguntem a vocês mesmos, quando foi que Washington falou qualquer coisa que não fosse uma mentira? As mentiras de Washington já causaram milhões de mortes. Você quer se tornar mais uma vítima dessas mentiras?

Você acha que vale a pena o risco de acabar com a vida na Terra por causa das mentiras de Washington sobre a queda do avião da Malásia e sobre a Ucrânia? Existe alguém ingênuo o suficiente para acreditar que Washington não mente sobre a Ucrânia da mesma forma que mentiu sobre as armas de destruição em massa de Hussein, sobre as bombas iranianas e sobre o uso por Assad de armas químicas?

Você não acha que a influência noeconservadora que prevalece hoje em Washington, independentemente do partido político no poder, é muito perigosa para ser tolerada?

Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da ReaganomicsEx-editor e colunista do Wall Street JournalBusiness Week e Scripps Howard News ServiceTestemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

Tradução: mberublue




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