domingo, 27 de setembro de 2015

Não há inteligência em Washington
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Por Paul Craig Roberts
http://www.paulcraigroberts.org/2015/09/25/brains-washington-paul-craig-roberts/
Tradução mberublue.

O QI de Washington parece com as taxas do FED (1) – é  negativo. Washington é um buraco negro onde toda a sanidade é sugada pelas deliberações governamentais.  
Para todo o lado que se olhe, são visíveis as falhas de Washington. Podemos ver estas falhas nas guerras dos Estados Unidos e na postura em relação à China e Rússia.
A visita do presidente chinês Xi Jinping estava prevista para o final de semana seguinte à visita do Papa a Washington.  Seria essa atitude de Washington uma forma de despromover o status chinês, apenas porque seu próprio presidente tocou um segundo violino na orquestra papal?
Washington joga sobre a China a culpa de sua própria incompetência e falta de habilidade em manter um simulacro de segurança cibernética. No dia anterior à chegada de Jinping em Washington, o secretário de imprensa da Casa Branca apimentou a visita de Jinping ao anunciar que Obama pode ameaçar a China com sanções financeiras.
Para não perder uma oportunidade de ameaçar ou insultar o Presidente da China, o secretário de comércio dos Estados Unidos disparou um alerta de que o regime de Obama não está nada satisfeito com as práticas negociais da China, para que o presidente Jinping não tenha nenhuma expectativa de um encontro harmonioso e educado em Washington.
Contrastando com tais atitudes, quando da visita de Obama ao território chinês, o governo daquele país o tratou com toda a polidez e respeito.
Depois do Federal Reserve, o maior credor dos Estados Unidos é a China. Caso haja interesse ou inclinação do governo chinês, este pode colocar os Estados Unidos em sérias dificuldades financeiras, econômicas e militares. No entanto, enquanto Washington rosna ameaças, a China ainda busca a paz.
Da mesma forma que a China, a Rússia também tem uma política externa independente dos ditames de Washington, e é essa independência política que coloca tanto China Quanto Rússia no alvo da raiva dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos consideram como ameaça qualquer país que tenha uma política externa independente.
A Líbia, o Iraque e a Síria tinham políticas externas independentes. Washington destruiu dois deles e está tentando destruir o terceiro. Irã, China e Rússia têm políticas externas independentes. Em consequência, Washington trata estes países como se fossem ameaças. É dessa forma que são apresentados ao público norteamericano.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, deve se encontrar com Obama na próxima semana, no encontro das Nações Unidas em Nova Iorque. Parece um encontro destinado a levar a lugar nenhum.

O que o presidente Putin quer, é oferecer a Obama ajuda para derrotar o Estado Islâmico, mas Obama precisa do Estado Islâmico para derrubar o Presidente da Síria, Bashar Assad, colocando em seu lugar um fantoche qualquer e expulsar a Rússia de seu único porto no Mar Mediterrâneo, em Tartus. Obama quer pressionar Putin a entregar a Crimeia russa, e a abandonar as repúblicas separatistas que não querem se submeter ao governo russofóbico que Washington instalou em Kiev através de um golpe de Estado.
Pois apesar da hostilidade de Washington, Xi Jinping e Putin continuar a tentar trabalhar em conjunto com os Estados Unidos, mesmo correndo o risco de parecerem humilhados aos olhos de seu povo. Quanto menosprezo, quantas acusações e apelidos vergonhosos (tais como “Novo Hitler”) podem suportar Jinping e Putin antes de serem desprezados em seus próprios países? Como podem liderar em casa se seus povos sentem a vergonha infligida a seus líderes por Washington?
Xi Jinping e Putin são claramente líderes orientados para a obtenção da paz. Estarão eles iludidos ou decididos a fazer qualquer esforço para salvar o mundo de uma guerra final e definitiva?
Qualquer pessoa pode presumir que Putin e Jinping estão perfeitamente conscientes da “Doutrina Wolfowitz”, a base da política externa dos Estados Unidos, mas talvez eles não estejam ainda acreditando que algo tão estupidamente absurdo possa ser real. Resumidamente, a Doutrina Wolfowitz estabelece que o principal objetivo de Washington consiste em impedir o crescimento de países que possam se tornar suficientemente poderosos a ponto de resistir à hegemonia mundial dos Estados Unidos. É assim que devemos entender o ataque dos EUA contra a Rússia através da Ucrânia e a remilitarização do Japão promovida intensamente por Washington como um instrumento contra a China, apesar da forte oposição de cerca de 80% da população japonesa.
 “Democracia?” “Washington não precisa de nenhuma democracia fedorenta”, declarou o fantoche norteamericano que governa o Japão, ele mesmo um servidor fiel e rasteiro do Washington, ao investir contra o desejo da vasta maioria da população japonesa.
Enquanto isso, a base real do poder dos Estados Unidos – sua economia – está desmoronando. A classe média viu seus empregos desaparecendo aos milhões. A infraestrutura dos Estados Unidos está se desintegrando. Jovens mulheres norteamericanas, sobrecarregadas com débitos estudantis, empréstimos e custo de transporte, com nada a fazer a não ser trabalhar em subempregos pós pagos em sites na internet, acabam por se fazer amantes de homens com posses suficientes para suportar suas dívidas. Isso é o exemplo acabado de um país do Terceiro Mundo.
Previ em 2004, durante uma conferência de âmbito nacional pela televisão em Washington, DC, que os Estados Unidos se tornariam um país do Terceiro Mundo em 20 anos. Noam Chomsky afirmou que alcançamos esse ponto já em 2015. Vejam uma recente declaração de Chomsky:
“Olhe em volta do país. Os EUA estão caindo aos pedaços. Mesmo quando você volta de um país como a Argentina, você acaba por perceber os Estados Unidos como um país do Terceiro Mundo. Se o regresso for da Europa, essa percepção acentua-se ainda mais. A infraestrutura está em colapso. Nada funciona. O sistema de transporte não funciona. O sistema de saúde é um escândalo sem limites – duas vezes o custo per capita de outros países, sem resultados proporcionais. Ponto por ponto. As escolas estão em declínio...”

Outra indicação de que estamos em um país do Terceiro Mundo é a grande desigualdade na distribuição da renda e da riqueza. De acordo com a própria CIA, os Estados Unidos têm uma das piores distribuições de renda em todo o mundo.

A distribuição da renda nos Estados Unidos é pior que a do Afeganistão, Albânia, Algéria, Armênia, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Bangladesh, Belarus, Bélgica, Benim, Bósnia/Herzegovina, Burkina Faso, Burundi, Camboja, Camarão, Canadá, Costa do Marfim, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Egito, Estônia, Etiópia, Finlândia, França, Alemanha, Gana, Grécia, Guiné, Guiana, Hungria, Islândia, Índia, Indonésia, Irã, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Jordânia, Cazaquistão, Quênia, Coréia do Sul, Quirguistão, Laos, Letônia, Libéria, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia, Malavi, Mali, Mauritânia, Ilhas Maurício, Moldávia, Mongólia, Montenegro, Marrocos, Nepal, Holanda, Nova Zelândia, Nicarágua, Níger, Nigéria, Noruega, Paquistão, Filipinas, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Senegal, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Taiwan, Tadjiquistão, Tanzânia, Timor Leste, Tunísia, Turquia, Turcomenistão, Uganda, Ucrânia, Reino Unido, Uzbequistão, Venezuela, Vietnã e Iêmen.

Um dos novos objetivos em minha vida é explicar a concentração de renda dos Estados Unidos em mãos de alguns poucos que são muito ricos.
Atribuo essa tragédia a duas coisas.
Um é deslocalização (offshoring) dos empregos norteamericanos. Os empregos deslocalizados foram justamente os empregos norteamericanos de alta produtividade e os de alto valor agregado, levados para países onde o valor do trabalho é tão baixo que seu custo fica abaixo da contribuição proporcional do trabalho no custo total da produção. Esse baixo custo do trabalho no exterior transformou a renda auferida pelos norteamericanos de classe média através de salários dignos em lucros de corporações, bônus escandalosos para executivos dessas corporações e ganhos de capital para os acionistas, além do desmantelamento da escada de oportunidades que anteriormente fazia com que a sociedade dos Estados Unidos fosse conhecida como “a sociedade do oportunismo”.
A outra causa da extrema desigualdade na distribuição de renda que prevalece atualmente nos Estados Unidos é o que Michael Hudson denominou “financialização da economia”, que permite aos bancos direcionar a renda não para o incremento da economia, mas para o pagamento dos juros do serviço da dívida emitida pelos próprios bancos.
Ambos os desenvolvimentos aqui delineados maximizam a distribuição da renda e da riqueza para os já obscenamente ricos “Um por Cento”, às custas da população e da saúde econômica do país.
Como descobrimos, Michael Hudson e eu mesmo, a economia neoliberal permanece cega para a realidade e serve apenas para justificar a destruição das perspectivas econômicas do mundo ocidental. Resta-nos observar se a Rússia e a China poderão desenvolver diferentes rumos econômicos ou se essas superpotências em crescimento cairão vítimas da “economia de lixo” que destruiu o ocidente. Como muitos economistas russos e chineses foram educados em escolas que seguem as tradições econômicas dos Estados Unidos, talvez as suas perspectivas não sejam mais animadoras que as nossas.
De repente, o mundo inteiro pode ir por água abaixo. Todos juntos.
(1) Sistema de Reserva Federal (Federal Reserve System, em inglês), também conhecido como FED, ou Fed. Espécie de Banco Central dos Estados Unidos, embora em parte nas mãos de banqueiros privados que determinam os rumos a serem seguidos pelo FED. Mantém (em tese) independência em relação ao governo federal dos EUA.


Paul Craig Roberts - (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da ReaganomicsEx-editor e colunista do Wall Street JournalBusiness Week e Scripps Howard News ServiceTestemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.

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