Os ucranianos já foram
espoliados.
Norte-americanos
serão os próximos.
por
Paul Craig Roberts
Tradução mberublue
Os ucranianos estiveram nos últimos 15 meses a pagar
para Washington pela derrubada de seu governo democraticamente eleito em
mortes, desmembramento de seu país e derrocada econômica, além da deterioração
de seu relacionamento com a Rússia, que, para a Ucrânia, foi traduzida na
prática com a perda de sua energia subsidiada. Agora os ucranianos estão
perdendo suas pensões e ajuda social. Pateticamente, a população ucraniana
marcha de cabeça baixa para o cemitério.
A Agência de Notícias TASS publicou
reportagem em 01 de junho dando conta que a Ucrânia interrompera o pagamento de
pensões em geral, assim como aos veteranos da Segunda Guerra Mundial, pessoas
com deficiências e vítimas de Chernobyl. De acordo com a reportagem, Kiev “eliminou
ainda gastos com transportes, serviços de saúde, serviços públicos e benefícios
financeiros para antigos prisioneiros dos campos de concentração nazistas, bem
como não mais honrará as ordens de pagamentos e títulos remanescentes da era
soviética. As compensações em dinheiro para a s famílias com filhos vivendo nas
áreas contaminadas pela radiação emanada do acidente com a usina de Chernobyl
também deixarão de ser pagas. A oposição no parlamento ucraniano acredita que a
Procuradoria Geral abrirá processo contra o Primeiro Ministro Arseniy
Yatsenyuk, que foi quem trabalhou ativamente para a promulgação da lei de abolição
desses ‘privilégios’.”
O que se observa claramente é que
puxaram o tapete dos idosos e desvalidos na Ucrânia. “Comedores inúteis”, eles
foram classificados como lixo e para a lata de lixo destinados. Como devem se
sentir agora os estudantes enganados da Praça Maidan, vendo que são culpados
pela destruição do sistema de apoio aos seus próprios avós, por terem apoiado a
revolução orquestrada por Washington na Praça Maidan? O crime que esses
estudantes estúpidos cometeram com sua cumplicidade idiota é terrível.
Yatsenyuk, ou “Yats”, como Nuland
prefere chamá-lo, é o fantoche de Washington que o Departamento de Estado
selecionou para tocar o governo de marionetes estabelecido por Washington em
Kiev. Yats age como um republicano de extrema direita quando se refere a
pensões, compensações e serviços sociais como se fossem meros “privilégios”.
Tem uma visão similar à dos republicanos nos Estados Unidos em relação ao
seguro social ou serviços médicos prestados pelo Estado, pagos pelos impostos
sobre os salários, ou seja, pagos pelos trabalhadores ativos dos Estados
Unidos. Os republicanos roubam os recursos que daí advém e os gastam em guerras
que só servem para enriquecer ainda mais os tubarões de Wall Street e do
complexo formado pela segurança/exército, e agora deram para culpar as “esmolas
sociais” pela situação fiscal dos Estados Unidos.
Por acaso seria o direito da MONSANTO
de tornar a Ucrânia uma produtora de alimentos geneticamente modificados um
privilégio para os ucranianos? Será o Benedito que o direito que o filho do
Vice Presidente dos EUA adquiriu de destruir o solo e contaminar as águas
subterrâneas da Ucrânia também um privilégio? Os altos custos financeiros
impostos por forças externas para que os ucranianos sejam mais facilmente
saqueados os tornam privilegiados? Claro que não, ora essa! Nada disso é
privilégio! Trata-se apenas de uma operação do mercado financeiro visando a
criar o maior número possível de benefícios para o maior número possível de
pessoas (como sei que muitos norte-americanos não vão entender que estou sendo
irônico faço questão de afirmar: estou sendo irônico).
A reportagem não dá conta se os “privilégios”
abolidos são parte de uma reforma que poderia posteriormente substituir o atual
sistema de segurança social por outro. Talvez seja este o caso, mas como a
interrupção do pagamento das pensões foi disparado e foi imediatamente aplicada
na sequencia da lei colocada em vigor por Yats para “estabilizar a condição financeira
da Ucrânia”, o objetivo dessa interrupção de pensões e pagamentos pode ter tido
o objetivo de liberar dinheiro para pagar ao FMI e aos bancos ocidentais. Na
Ucrânia, assim como na Grécia, o povo crédulo e ingênuo, que viu a “salvação”
na união com o ocidente está sendo levado ao abismo.
Claro, a Rússia levará a culpa por
tudo. Posso até prever o que escreverão o The
Washington Post e o New York Times em seus editoriais, bem como as palavras que
serão ditas por Obama, CNN e Fox “News”. Aliás, meus leitores inteligentes
também podem.
Pilhagem
semelhante está em curso na Inglaterra, Itália, Espanha e nos Estados Unidos.
Na Inglaterra, tudo o que foi conquistado no decorrer de décadas pelo Partido
Trabalhista foi jogado fora, e não apenas pelo Partido Conservador, mas pelo
próprio líder do Partido Trabalhista, Tony Blair.
Tony
Blair colocou seus eleitores à venda por dinheiro e atualmente, está entre o 1%
dos mais ricos. Bill e Hillary Clinton fizeram a mesma coisa. Os Clinton foram
capazes de gastar três milhões (3.000.000) de dólares para realizar o casamento
de sua filha, talvez um recorde mundial, colocando no chinelo a maioria dos
casamentos de Hollywood. Obama ainda nem deixou o gabinete e também já está
rico. Os fiéis vassalos de Washington, Merkel, Hollande e Cameron, aguardam
expectantes riquezas equivalentes.
Karl Marx estava correto ao dizer que o dinheiro a
tudo corrompe. Tudo se tornou uma espécie de commodity que pode ser comprada e
vendida por dinheiro.
A partir do momento que o dinheiro é a medida mais
importante de uma pessoa, a população inteira está corrompida. Pois esta é a
situação no mundo ocidental.
Em que lugar do ocidente as suas finanças pessoais,
pequenas ou grandes, estão a salvo? Em lugar nenhum. Washington destruiu a
privacidade financeira por todo o território do ocidente. Chegou mesmo a forçar
a Suíça a violar as próprias leis apenas para concordar com a insistência de
Washington em relação a qualquer tipo de privacidade financeira.
Por décadas, os norte-americanos que fossem titulares
de contas bancárias no exterior eram obrigados a declará-las em suas Declarações
do Imposto de Renda. Agora, se um norte-americano for possuidor de uma mera
moeda de ouro em um cofre no estrangeiro, é obrigado a declarar o fato a
Washington.
Uma vez que Washington saiba a localização de seus
ativos, estes podem ser confiscados à vontade. Os EUA só precisam fazer algum
tipo de declaração ou uma acusação qualquer e o seu dinheiro estará perdido.
Tendo em vista que Washington
colocou as máquinas de impressão de dólares a todo vapor para servir a um
punhado de bancos que controlam o tesouro dos Estados Unidos, a menos que a
Rússia e a China concordem em se tornar vassalos de Washington, a qualquer momento
o valor do dólar cairá acentuadamente. Quando isso acontecer, não mais poderá o
Federal Reserve criar dinheiro novo para satisfazer as necessidades de
Washington.
Nesse caso, de onde virá o dinheiro? Das pensões dos
trabalhadores dos Estados Unidos.
Pensões são acumuladas ano após ano sem pagamento de
impostos e essa acumulação pode ser confiscada no total ou em parte para
compensar o não pagamento de impostos, mais um “privilégio”.
Em determinado ano, acontecerá o
confisco. Mas o que acontecerá no ano seguinte, quando o dólar continuará
cambaleante nos mercados cambiais externos, dado o excesso de oferta? A
resposta é que será assaltado mais um pedaço das pensões dos norte-americanos,
e falo agora das pensões privadas, que serão confiscadas “para estabilizar o sistema
financeiro”. Nestas alturas, a seguridade social será coisa do passado.
Alicia Munhel, que foi a minha substituta
como Secretária Assistente do Tesouro para a Política Econômica no regime de
Clinton, advogou anos atrás um confisco de pensões privadas, incluindo seus
IRAs e 401Ks (modalidades de
aposentadorias privadas, através das quais o trabalhador para uma parte e o
empregador paga outra parte, ou ainda paga apenas pelo trabalhador. Durante o
tempo em que a aposentadoria está sendo paga ou seja, ‘acumulada’ – ou pelo
trabalhador ou pelo empregador, ou por ambos – o dinheiro é considerado livre
de impostos, os quais serão cobrados apenas na época da aposentadoria do
trabalhador, quando se supõe que, devido a idade e outros fatores, pagará
impostos mais baixos – NT) para
compensar os Estados Unidos pelo status de dinheiro livre de impostos.
Alicia tem uma sinecura (no original sinecure – emprego bem remunerado que exige pouco ou
nenhum esforço – NT) em uma
universidade do Leste enquanto continua a lutar contra a nossa aposentadoria. O
ataque conjunto dos Democratas de Clinton contra as pensões privadas e dos
Republicanos conservadores contra as pensões públicas significa que nenhum
trabalhador dos Estados Unidos pode ter esperança de gozar algum dia de uma
aposentadoria. Os norte-americanos tem apenas uma eleição antes de perder suas
pensões, e não importa em quem votarão.
A segurança econômica é coisa do
passado. Segurança era um produto que surgiu apenas porque os Estados Unidos
eram a única economia ainda em pé logo depois da Segunda Guerra Mundial.
Naqueles dias saudosos, as corporações acreditavam, assim como Washington, que
as companhias tinham obrigações não apenas com os acionistas, mas também com
seus empregados, consumidores e com as comunidades onde estivessem localizadas.
O resultado disso era
prosperidade para todos, e não apenas, como acontece hoje, com a gestão das
empresas e com os acionistas.
Os apologistas desse sistema de exploração gostam de
dizer que os ricos se tornam cada vez mais ricos porque seriam muito mais
espertos. Mas acontece que a estupidez dos ricos é visível onde quer que se
olhe. Os imbecis gananciosos destruíram o mercado doméstico dos Estados Unidos.
Pense bem, o quanto se pode ser estúpido? Como poderão os cidadãos dos Estados
Unidos continuar a consumir, se os seus bem remunerados empregos da indústria manufatureira
e engenharia de software foram todos deslocalizados para o exterior,
forçando-os a aceitar serviços como garçonetes, garçons, vendedores do varejo e
trabalhadores de tempo parcial para a Walmart, tudo para que as linhas de
capital de giro das empresas melhorem? Quem vai comprar o que se produz para gerar
lucros? Certamente não os norte-americanos, porque não terão dinheiro para
tanto.
No entanto, a crença espalhada por Wall Street e pelos
“advogados de acionistas” de que as corporações somente tem responsabilidade
perante seus proprietários e acionistas destruiu a economia dos Estados Unidos.
Quando deslocalizaram a produção para o estrangeiro,
as corporações destruíram os rendimentos que sustentaram o mercado consumidor
dos Estados Unidos. Por exemplo, os rendimentos associados com a produção de
computadores da Apple, assim como I-Pads e I-Phones estão agora na China. Os
consumidores norte-americanos da Apple não mais tem os rendimentos resultantes
da fabricação dos produtos que a Apple comercializa para eles.
Os cidadãos dos Estados Unidos já
foram espoliados de seus meios de subsistência e de suas carreiras. Suas pensões
por aposentadoria é o próximo alvo. Para onde quer que se olhe, o destino das
populações sob influência do ocidente é o mesmo. Os ucranianos estão sendo espoliados.
Assim como os gregos, os ingleses, os norte-americanos.
Onde quer que o ocidente deixe a
sua marca, as populações são brutalmente exploradas. A exploração de muitos por
poucos é a característica do ocidente, uma entidade corrupta, decrépita e
moribunda.
Paul
Craig Roberts - (nascido em
03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators
Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração
Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e
colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps
Howard News Service. Testemunhou
perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política
econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e
no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os
efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra
contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e
o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados
republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e
criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um
graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade
de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na
Faculdade de Merton, Oxford University.
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