Noam Chomsky: EUA é o maior
país terrorista do mundo.
por
Euro News
tradução mberublue è Pequeno comentário do tradutor: resolvemos traduzir esta entrevista
concedida por Noam Chomsky pela atualidade dos assuntos e por ser Noam Chomsky
quem é, apesar de ser a Euro News o que é.
18 de abril de 2015 – Information Clearing House – Euro News –
entrevistadora: Isabelle Kumar, entrevistado: Noam Chomsky è (Perguntas em caracteres romanos e
respostas em itálico – NT)
O filósofo Noam Chomsky |
Isabelle Kumar: O mundo em 2015 parece ser um lugar muito
inseguro, mas se você olhar para o todo, sentir-se-ia otimista ou pessimista
sobre a situação atual?
Noam Chomsky: Na cena global estamos caminhando para um precipício
e determinados a cair nele, através de radicais reduções da capacidade para uma
sobrevivência decente.
IK: Que precipício é esse?
NC: Há dois atualmente, um deles a catástrofe ambiental que é
iminente e estamos sem tempo suficiente para lidar com o problema. Quando
fazemos alguma coisa, fazemos a coisa errada, e o outro tem a ver com os
últimos 70 anos, que seja a ameaça de uma guerra nuclear, que na realidade está
crescendo. Se você prestar atenção aos dados, é um milagre que tenhamos
sobrevivido até agora.
IK: Primeiro, o problema ambiental. Temos perguntas oriundas
de frequentadores de nossa mídia social, que estão enviando seus
questionamentos e são montes deles. Recebemos, por exemplo, uma pergunta de
Enoa Agoli: quando você olha para o problema ambiental através da lente de um
filósofo, o que você pensa sobre a mudança climática?
NC: A espécie humana está aqui há cerca de mais ou menos
100.000 anos e neste instante está face a face com um momento único em sua
história. Esta espécie está agora em uma posição em que deve decidir muito
rapidamente, em algumas gerações, se o experimento autointitulado “vida
inteligente” continuará a existir ou está determinado à autodestruição? Quero
dizer aqui que a esmagadora maioria dos cientistas reconhece que grande parte
dos combustíveis fósseis deveriam ser deixados no solo, isso se quisermos
realmente que nossos netos tenham um futuro decente. Mas a estrutura
institucional de nossa sociedade pressiona cada vez mais agudamente para que se
extraia cada gota. Os efeitos, as consequências para os seres humanos e os
efeitos já preditos sobre a mudança climática estão às nossas portas e são catastróficos. Trata-se da corrida para o precipício que já mencionei.
IK: Já que falamos de guerra nuclear, podemos ver um panorama
no qual se alcançou um acordo preliminar com o Irã. Isso lhe dá pelo menos um
raio de esperança de que o mundo possa se tornar um lugar mais seguro?
NC: Sou favorável às negociações com o Irã, mas tais
negociações estão profundamente equivocadas. Há dois Estados cuja voracidade no
Oriente Médio está produzindo agressões, violência, atos terroristas e ações
ilegais constantemente. Os dois são Estados nucleares e possuem blindagem
contra ataques nucleares. E suas armas nucleares não estão sendo levadas em
conta.
IK: A quem exatamente você está se referindo?
NC: Aos Estados Unidos e a Israel. Dois dos maiores estados
nucleares no mundo. Entendo que é por essa razão que em pesquisas
internacionais, levadas a efeito por agências de pesquisas dos próprios Estados
Unidos, este aparece lembrado como a maior ameaça à paz mundial por grande
margem. Nenhum outro país chega sequer perto. É interessante notar que a mídia
dos Estados Unidos se recusa a publicar estes resultados, o que não os faz
desaparecer.
IK: Você não tem muita consideração com o Presidente dos
Estados Unidos, Barak Obama. Mas este acordo não faz com que você o veja em
termos um pouco melhores? O fato de que ele está tentando reduzir o risco de
uma guerra nuclear?
NC: Bem, na verdade ele não está. Ele acaba de dar início a
um programa de um trilhão de dólares para modernizar o sistema de armas
nucleares dos Estados Unidos, o que significa expandir o sistema de armamento
nuclear. Esta é uma das razões pelas quais o relógio do juízo final, criado
pelo Boletim dos Cientistas Atômicos foi, apenas duas semanas atrás, colocado dois
minutos mais perto da meia noite. A meia noite significa o fim. Assim, estamos
agora a apenas três minutos da meia noite, o que é o mais perto nos últimos trinta
anos, desde o início dos anos Reagan, quando estivemos assustadoramente perto
da guerra nuclear.
IK: Você mencionou Israel e Estados Unidos relacionados ao
Irã. Agora, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Natenyahu obviamente não quer
que o acordo nuclear com o Irã funcione, e ele disse...
NC: Interessante... deveríamos nos perguntar por que.
IK: Por que?
NC: Nós sabemos porque. O Irã gasta muito pouco com equipamentos
militares, mesmo pelo padrão da região, muito menos que os Estados Unidos. A
estratégia do Irã é defensiva, projetada para segurar um ataque o tempo
suficiente para que a diplomacia possa agir, e os Estados Unidos e Israel, dois
estados bandidos, não podem tolerar um estado dissuasivo. Nenhum analista
estratégico que tenha um cérebro que funcione minimamente pensa que o Irã usará
uma arma nuclear. Mesmo que seja capaz disso, o país seria simplesmente
vaporizado e não há qualquer indicação de que os clérigos que dirigem o país,
não importa o que se pense deles, querem ver tudo o que têm destruído.
IK: Apenas mais uma questão sobre este assunto e veio através
da mídia social, de Morten A. Andersen. Ele pergunta: “você acredita que os
Estados Unidos jamais assinariam um acordo que traria perigo, em primeiro
lugar, para Israel?”
NC: Os Estados Unidos estão a todo instante promovendo ações
que são muito perigosas para o Estado de Israel. A saber, o apoio incondicional
às políticas israelenses. Pelos últimos 40 anos, a maior ameaça enfrentada por
Israel veio de suas próprias políticas. Se você olhar 40 anos atrás, e falo de
1970, Israel era um dos países mais admirados e respeitados em todo o mundo.
Havia muitas atitudes favoráveis para com o país. No início dos anos 70s Israel
tomou uma decisão. Tinha que fazer uma escolha e preferiu trilhar o caminho da
expansão em detrimento da segurança com todas as perigosas consequências que
esta decisão provocou. Consequências estas que atualmente são óbvias. Além de
mim, outras pessoas escreveram sobre isso. Se você prefere expansão à segurança
isso vai levar você em direção à degeneração interna, ódio, oposição,
isolamento e por último, a possível destruição. Apoiando essas políticas, os
Estados Unidos estão contribuindo para as ameaças que Israel encara
hodiernamente.
IK: O que me leva então ao tema do terrorismo. Porque é uma
praga global e muita gente, e penso que posso incluir você mesmo, afirmarão que
é um tiro pela culatra da política de guerra ao terror dos Estados Unidos ao
redor do mundo. Até onde podem ser os Estados Unidos e seus aliados
responsabilizados pelo que vimos atualmente em termos de terrorismo pelo mundo
afora?
NC: Não se esqueça de que a pior campanha terrorista do mundo
é, de longe, aquela levada a efeito por e orquestrada em Washington. É uma
campanha global de assassinatos. Nunca antes houve uma campanha terrorista nesta
escala.
IK: Quando você fala de campanha de assassinatos...?
NC: As ações com o uso de drones – é exatamente o que isso
quer dizer. Sobre grande parte do globo os Estados Unidos estão sistemática,
pública e abertamente – não há qualquer segredo no que estou dizendo, nós sabemos
disso – está levando a efeito uma campanha regular para assassinar pessoas que
o governo dos Estados Unidos suspeita que possa prejudicá-lo algum dia. E isso
é, na realidade, como você mencionou, uma campanha que gera mais terror, pois
quando você bombardeia uma vila no Iêmem e mata algumas pessoas – as quais
talvez sejam as pessoas que você quer, talvez não – e mais algumas pessoas que
moram ou que aconteça se encontrarem nas vizinhanças – como você acha que os
sobreviventes reagirão? Eles querem vingança.
IK: Você descreve os Estados Unidos como o principal país
terrorista. Onde se encaixa então a Europa neste quadro?
NC: Bem, esta é uma questão bem interessante. Assim, por
exemplo, já existe um estudo feito recentemente. Penso que foi realizado pela
Open Society Foundation... a pior forma de tortura é a “entrega extraordinária”.
Entrega extraordinária significa que você prende uma pessoa da qual você tem
uma suspeita qualquer, e a envia para o seu ditador favorito, talvez Assad ou
Kadaffi ou Mubarak para ser torturada, esperando que surja disso alguma coisa.
Isto define a maravilhosa entrega extraordinária. Obviamente, os ditadores do
Oriente Médio participam, e estas pessoas foram enviadas para lá para serem
torturadas. Também a Europa participa. A maioria da Europa participa.
Inglaterra, Suécia e outros países. De fato, só existe uma região no mundo onde
nenhum país participou: a América Latina. Esse fato é dramático. Não participou
apenas porque hoje a América Latina está livre dos laços que a prendiam ao
controle dos Estados Unidos. Quando a América Latina era dominada pelos EUA, há
não muito tempo atrás, ela foi um dos centros mundiais de tortura. Agora, não
participam da pior forma de tortura que existe, que é a entrega extraordinária.
A Europa participa. Quando os mestres rugem, os servos obedecem.
IK: Então a Europa é serva dos Estados Unidos?
NC: Não tenha dúvidas. São muito covardes para ter qualquer
posição de independência.
IK: Onde se enquadra Vladimir Putin nesta paisagem? Ele é
pintado como se fosse uma enorme ameaça à segurança. Ele é?
NC: Como muitos líderes, ele é uma ameaça para a população de
seu próprio país. Praticou ações ilegais, obviamente. Mas descrevê-lo como
sendo um monstro enlouquecido, dizer que ele tem problemas mentais e que sofre
de Alzheimer, que é uma criatura vil e maldosa, trata-se de fanatismo
Orwelliano do tipo padrão. Quero dizer, o que quer que você pense sobre suas
políticas, elas são compreensíveis. A ideia de que a Ucrânia pode se juntar a
uma aliança militar ocidental seria inaceitável para qualquer líder russo. Isso
remete para 1990, quando do colapso da União Soviética. Havia uma questão muito
importante sobre o que aconteceria com a OTAN. Gorbachev concordou em permitir
que a Alemanha fosse reunificada e se juntasse à OTAN. Foi uma concessão e
tanto, mas havia uma contrapartida: que a OTAN nunca mais se expandiria sequer
uma polegada para o leste. Esta foi exatamente a frase usada naquela ocasião.
IK: Então a Rússia tem sido provocada?
NC: Bem, o que aconteceu? A OTAN instantaneamente incorporou
a Alemanha Oriental e então Clinton tratou de expandir a OTAN diretamente até
as fronteiras da Rússia. Agora, o governo ucraniano, estabelecido depois de um
golpe que derrubou o governo precedente, fez o parlamento votar a adesão à
OTAN, com uma aprovação de 300 a 8 ou coisa semelhante.
IK: Mas você pode entender porque eles gostariam de se unir à
OTAN, você pode ver por que o governo de Petro Poroshenko muito provavelmente
vê a união com a OTAN como a proteção de seu país?
NC: Não, não, não, não. Não se trata de proteção. É certo que
a Crimeia foi tomada apenas depois do golpe que derrubou o governo anterior. E
a união com a OTAN não protege a Ucrânia e sim a ameaça com uma guerra em
grande escala. Neste momento, não se trata de proteção. O ponto é: o que temos
é uma ameaça estratégica muito séria contra a Rússia, contra a qual qualquer
líder russo tem que reagir. É muito fácil de entender.
IK: Porém quando olhamos a situação da Europa, existe outro
fenômeno interessante tomando lugar. Vemos a Grécia movendo-se em direção ao
leste, potencialmente, assim como vemos o partido PODEMOS que ganha poder na
Espanha. E há a Hungria. Você vê que existe um potencial para a Europa iniciar
por si mesma um alinhamento maior com os interesses russos?
NC: Dê uma olhada no que está acontecendo. A Hungria não se
encaixa, é uma situação inteiramente diferente. O partido Syriza assumiu o
poder levado por uma onda popular que afirmava que a Grécia não mais deveria
sujeitar-se às políticas de Bruxelas e aos bancos da Alemanha que estavam
destruindo o país. O efeito das políticas de Bruxelas e dos bancos era na
verdade fazer crescer imensuravelmente o débito grego em relação à sua
capacidade de produzir riqueza; provavelmente metade dos jovens gregos está
desempregada e provavelmente 40% da população vive abaixo da linha da pobreza.
A Grécia está em ruínas.
IK: Então seu débito deve ser anulado?
NC: Sim, da mesma forma que foi feito em relação à Alemanha. Em
1953, quando a Europa perdoou a maioria dos débitos germânicos. Apenas por isso
foi a Alemanha capaz de reconstruir o país devastado pela guerra.
IK: Mas então, e quanto aos demais países da Europa...?
NC: A mesma coisa.
IK: Posso concluir então que Portugal deve ter seu débito anulado,
assim como a Espanha?
NC: Quem contraiu esse débito? A quem se deve tais quantias?
Em grande parte, as dívidas foram contraídas por ditadores. Como na Grécia,
onde uma ditadura apoiada pelos Estados Unidos contraiu grande parte do débito
grego. Penso que essa dívida é ainda mais brutal que a ditadura, e não deve ser
paga, pois se trata daquilo que em direito internacional é chamado de “dívida
odiosa”, introduzida na legislação internacional principalmente pelos Estados
Unidos, quando isso era de seu interesse. Muito do restante dos débitos,
chamados de contribuições para a Grécia não passaram de contribuições para os
bancos franceses e alemães, que decidiram emprestar dinheiro com baixo
interesse e risco extremo e agora se veem face ao risco de não serem pagos de
volta.
IK: Agora, eu gostaria de fazer a seguinte questão, enviada
por Gil Gribaudo que pergunta: Como pode a Europa se transformar contra os
desafios existenciais que enfrenta atualmente? Porque, sim, temos uma crise
econômica e também o crescimento do nacionalismo e você também descreveu algumas
falhas culturais que foram criadas através da Europa. Como você vê a Europa a
transformar-se em algo melhor?
NC: Os problemas enfrentados pela Europa são sérios. Alguns
destes problemas são causados pelas políticas impostas pelos burocratas em
Bruxelas, a Comissão Europeia, etc., enfrentando a pressão da OTAN e dos
grandes bancos a maioria dos quais da Alemanha. Apenas do ponto de vista de
seus elaboradores estas políticas fazem algum sentido. Por um lado, eles querem
ser pagos pelos empréstimos de risco, e investimentos arriscados que fizeram e
por outro lado, estas políticas estão destruindo sistema de bem estar social
dos Estados, do qual aliás, eles nunca gostaram. Mas o sistema de bem estar
social é uma das maiores contribuições europeias para a sociedade moderna,
mesmo que os ricos e poderosos nunca tenham gostado dele e o fato de que estas
políticas o estão erodindo é bom, pelo menos do seu ponto de vista. Há ainda outro
problema na Europa. O continente é extremamente racista. Eu sempre considerei
que, de fato, a Europa é ainda mais racista que os Estados Unidos. Tal situação
não era tão notada na Europa porque as populações europeias no passado sempre
tenderam a ser muito homogêneas. Assim, se todos tem cabelos louros e olhos
azuis, então você não verá racistas, mas assim que a população começa a mudar,
o racismo põe o focinho fora da toca. Muito rapidamente. Este é um dos sérios
problemas culturais na Europa.
IK: Eu gostaria de terminar, porque o tempo se tornou curto,
com uma questão de Robert Light em um tom mais positivo. Ele pergunta: O que
lhe dá esperanças?
NC O que me dá esperanças são algumas das coisas das quais
falei. Da América Latina, por exemplo. Há uma significância histórica no que
acontece ali. Estamos prestes a ver isso se confirmar na Cúpula das Américas (a entrevista aconteceu antes da reunião de chefes de Estado – NT) que acontecerá no Panamá. Em encontros
hemisféricos recentes, os Estados Unidos ficaram completamente isolados. É uma
mudança radical em relação a 10 ou 20 anos atrás, quando os Estados Unidos
impunham (os assuntos latino americanos). De fato, a razão pela qual Obama fez
gestos de amizade em direção a Cuba, foi uma tentativa de romper o isolamento
dos Estados Unidos nas Américas. Ocorre que quem estava isolado não era Cuba.
Eram os Estados Unidos. Talvez a tentativa venha a falhar. Vamos ver. Os sinais
de otimismo na Europa são os partidos Syriza e PODEMOS. Esperemos que haja,
finalmente, uma revolta popular contra as políticas de destruição econômica e
esmagamento de direitos sociais que resultam da burocracia e dos bancos, e isto
é muito esperançoso. Tem que ser.
IK: Noam Chomsky, muito obrigado por ter estado conosco.
Fonte: Euro News.
Noam
Chomsky
- é um linguista, filósofo e ativista político
norte-americano, professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts . Seu nome está associado à criação da gramática gerativa
transformacional. Fonte: wikipedia.
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