No mesmo dia,
dois casos mostram a completa podridão
dos Estados Unidos.
por Ted Rall - 25 de abril/2015 – Information Clearing House
tradução mberublue
Por acaso você ainda
pensa que os Estados Unidos são governados por gente decente? Que o sistema não é
totalmente corrupto e injusto?
Pois duas histórias
acontecidas em 23 de abril deste ano deveriam pelo menos servir para acordar
você.
Primeiro caso: o
Presidente Obama admitiu que um de seus drones “Predador” matou dois
trabalhadores em ajuda humanitária, um deles norte americano e outro, italiano,
que foram feitos reféns pela Al Qaeda no Paquistão. De acordo com reportagem do
jornal The Guardian a falha na
especificidade (sobre os alvos) sugerem que, a despeito da altamente propagada
e suposta mudança de política promovida por Obama, que restringiria os
assassinatos via drones, entre outras coisas, passando a requerer a certeza
antecipada de que os “alvos terroristas” estariam realmente presentes, os
Estados Unidos continuam lançando suas operações de ataques assassinos sem o
necessário conhecimento sobre quem se procura matar, uma prática que veio a ser
conhecida como “ataque assinado” (original “signature strike” no sentido de ser
baseado em dados de inteligência (padrões de comportamento obtidos por interceptações, fontes humanas e vigilância aérea analisados pela agências norte americanas, que decidiriam então, se esses padrões de comportamento significariam a "assinatura" de um a pessoa ou grupo de pessoas como terroristas. Uma loucura total) – NT).
O "Predator" |
“Falha de
especificidade” não passa de um eufemismo desavergonhado. Conforme reportagem
do grupo Retrieve (organização inglesa em defesa de direitos humanos fundada em
1999 pelo advogado Clive Stafford Smith - NT) os Estados Unidos marcaram 41
pessoas para morrer, assinalados como “terroristas” – mas na realidade inimigos
dos regimes corruptos do Iêmen e do Paquistão – através de ataques de drones
durante o ano de 2014. Graças às tais “falhas de especificidade” um total de
1.150 pessoas foram mortas. O que nem por isso incluiu todos os 41 “marcados”,
muitos dos quais escaparam ilesos.
A expressão falsa de
Obama fingindo estar pesaroso foi digna de um canastrão. Apertando os lábios em
uma expressão sinto/não sinto à maneira de Bill Clinton, o Presidente parecia
na realidade estar fingindo tristeza por uma coisa que acontecera em janeiro.
Tenha dó, cara... pensa mesmo que vamos acreditar que você passou os últimos
três meses todo tristeza e lágrimas – claro, excluindo todos os discursos e
aparições públicas onde estava às gargalhadas e fazendo piadas? Exatamente no
mesmo dia em que fingiu tristeza, o presidente também riu por causa da
comparação do caso com o campeão do Super Bowl, o time do New England Patriots.
“Esta história toda já passou um pouco dos limites”, assentiu ele (relacionando
o caso dos drones com o escândalo DeflateGate – “escândalo” criado pelo time de
futebol americano, ao desinflar bolas de futebol durante o jogo – NT). Muito
triste, ele. Mas rindo.
Bem confuso.
Juro que os racistas
da extrema direita estão certos em odiar o presidente. Mas eles o odeiam por
razões totalmente erradas.
De qualquer maneira,
qual o motivo que levou a Casa Branca a demorar tanto tempo para finalmente
admitir que matou um de nossos melhores cidadãos? “Levamos semanas para
relacionar as mortes relatadas (dos reféns) com os ataques por drones”, relatou
o jornal The New York Times citando
funcionários da Casa Branca. Mas em suas notas preparadas acintosamente, Obama
afirma que “não é possível capturar estes terroristas” – então, os ataques por
drones.
A Administração Obama
acha que somos assim tão estúpidos?
O fato de que se pode
descobrir quem morreu em um ataque de drones (mesmo que apenas bem depois do
ataque) indica que há fonte de Inteligência confiável originada das áreas
marcadas como alvo, provavelmente proporcionada por aliados locais, talvez
polícia ou exército. Ora, se há policiais ou tropas que são confiáveis a ponto
de fornecer informações, então, obviamente, é possível solicitar a estes
aliados que capturem os alvos individuais.
Resumo da ópera: o
governo dos Estados Unidos está bombardeando pessoas a torto e a direito pelo
mundo afora, sem a menor ideia de quem está sendo bombardeado. Além do mais,
estes assassinatos de cunho político são ilegais. Mentiram, dizendo que tais
fatos não mais estavam acontecendo. Agora, tem a ousadia desavergonhada de
fingir tristeza pelos próprios feitos, que poderiam ser perfeitamente
evitáveis. São repugnantes e brutais, e deveriam ser fechados em uma prisão pelo
resto da vida.
Patreus e a "namorada-biógrafa", Paula Broadwell |
Segundo caso: David Petraus, antigo
bam-bam-bam da mídia, queridinho das redações, general sob Bush e no início dos
anos Obama, recebeu um puxão de orelhas – claro, com liberdade condicional e
multa de 100.000 dólares – por passar informações e documentos confidenciais de
forma ilegal para pessoas não autorizadas, e depois mentir a respeito do fato,
quando inquirido por agentes federais que o questionaram.
Lá vamos nós outra
vez: mais provas de que, no sistema jurídico americano, algumas pessoas voam na
primeira classe, enquanto o resto de nós se aperta na classe turística, mesmo.
Neste mundo às
avessas, gente como Petraus, que deveria já estar preso, porque sua posição
superior lhe fez ser incrustado na administração com imenso poder e
responsabilidade, caminha livre, enquanto os patetas menos ranqueados como nós,
se cometermos o mesmo crime, seremos tratados como se fôssemos Al Capone.
O soldado raso Chelsea
Manning, que revelou os documentos oficiais dos crimes de guerra dos Estados
Unidos no Iraque, através do WikiLeaks, deu com os costados na prisão por 35
anos. Edward Snowden, administrador de sistemas de 31 anos que trabalhava para
uma firma terceirizada que prestava serviços para a NSA e que revelou que o
governo dos Estados Unidos está lendo todos os nossos e-mails e ouvindo o que dizemos
ao telefone, encara a possibilidade de passar a vida na prisão.
Dois anos de
liberdade condicional. Enquanto isso, professores que ajudaram seus alunos a
enganar os testes padronizados receberam pena de sete anos na prisão. Para
Petraus, que passou a trabalhar para um fundo de investimentos, 100.000 dólares
é apenas uma boa gorjeta para o caddy (carregador de tacos para os jogadores de
golfe – NT).
Há algo que adiciona
loucura ao insulto: o fato de que o motivo pelo qual Petraus colocou em perigo
a segurança nacional é venal: ele deu os documentos para a sua namorada, que
escreveu sua biografia autorizada.
Manning e Snowden,
são heróis que deveriam ser objeto de desfiles honrosos e receber medalhas
presidenciais da Liberdade, mas não foram glorificados. Eles apenas queriam
informar ao povo norte americano sobre as atrocidades que se cometiam em seu
nome, e sobre as violações de seus direitos mais básicos, incluindo-se o
direito à privacidade.
Antes de ser apanhado
com a boca na botija e enquanto compartilhava informações confidenciais com sua
namorada, Petraus teve o descaramento indizível de pontificar hipocritamente
sobre um funcionário da CIA que disponibilizou informações sensíveis.
Diferentemente de Patreus, porém, o sujeito da CIA recebeu a justiça reservada
aos patetas: 30 meses na prisão.
“Fechando o assunto”,
Petraus pontificou bombasticamente em 2012: “na realidade, há consequências
sérias para aqueles que se acreditam acima das leis que protegem nossos
verdadeiros colegas e permite que as agências norte americanas possam trabalhar
com o grau adequado de sigilo”.
Bem. Se você é
viajante de primeira classe, as consequências são mínimas.
Ted Rall – Frederick
Theodore “Ted” Rall é escritor e cartunista para o The Los Angeles Times. Seus cartoons são distribuídos para cerca de
100 jornais norte americanos. Já foi correspondente de guerra e escreve artigos
sobre a Ásia Central, sua especialidade.
Tradução mberublue.
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