domingo, 26 de abril de 2015

No mesmo dia,
dois casos mostram a completa podridão dos Estados Unidos.


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por Ted Rall - 25 de abril/2015 – Information Clearing House

tradução mberublue

Por acaso você ainda pensa que os Estados Unidos são governados por gente decente? Que o sistema não é totalmente corrupto e injusto?

Pois duas histórias acontecidas em 23 de abril deste ano deveriam pelo menos servir para acordar você.

Primeiro caso: o Presidente Obama admitiu que um de seus drones “Predador” matou dois trabalhadores em ajuda humanitária, um deles norte americano e outro, italiano, que foram feitos reféns pela Al Qaeda no Paquistão. De acordo com reportagem do jornal The Guardian a falha na especificidade (sobre os alvos) sugerem que, a despeito da altamente propagada e suposta mudança de política promovida por Obama, que restringiria os assassinatos via drones, entre outras coisas, passando a requerer a certeza antecipada de que os “alvos terroristas” estariam realmente presentes, os Estados Unidos continuam lançando suas operações de ataques assassinos sem o necessário conhecimento sobre quem se procura matar, uma prática que veio a ser conhecida como “ataque assinado” (original “signature strike” no sentido de ser baseado em dados de inteligência (padrões de comportamento obtidos por interceptações, fontes humanas e vigilância aérea analisados pela agências norte americanas, que decidiriam então, se esses padrões de comportamento significariam a "assinatura" de um a pessoa ou grupo de pessoas como terroristas. Uma loucura total) – NT).

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O "Predator"
“Falha de especificidade” não passa de um eufemismo desavergonhado. Conforme reportagem do grupo Retrieve (organização inglesa em defesa de direitos humanos fundada em 1999 pelo advogado Clive Stafford Smith - NT) os Estados Unidos marcaram 41 pessoas para morrer, assinalados como “terroristas” – mas na realidade inimigos dos regimes corruptos do Iêmen e do Paquistão – através de ataques de drones durante o ano de 2014. Graças às tais “falhas de especificidade” um total de 1.150 pessoas foram mortas. O que nem por isso incluiu todos os 41 “marcados”, muitos dos quais escaparam ilesos.

A expressão falsa de Obama fingindo estar pesaroso foi digna de um canastrão. Apertando os lábios em uma expressão sinto/não sinto à maneira de Bill Clinton, o Presidente parecia na realidade estar fingindo tristeza por uma coisa que acontecera em janeiro. Tenha dó, cara... pensa mesmo que vamos acreditar que você passou os últimos três meses todo tristeza e lágrimas – claro, excluindo todos os discursos e aparições públicas onde estava às gargalhadas e fazendo piadas? Exatamente no mesmo dia em que fingiu tristeza, o presidente também riu por causa da comparação do caso com o campeão do Super Bowl, o time do New England Patriots. “Esta história toda já passou um pouco dos limites”, assentiu ele (relacionando o caso dos drones com o escândalo DeflateGate – “escândalo” criado pelo time de futebol americano, ao desinflar bolas de futebol durante o jogo – NT). Muito triste, ele. Mas rindo.

Bem confuso.

Juro que os racistas da extrema direita estão certos em odiar o presidente. Mas eles o odeiam por razões totalmente erradas.

De qualquer maneira, qual o motivo que levou a Casa Branca a demorar tanto tempo para finalmente admitir que matou um de nossos melhores cidadãos? “Levamos semanas para relacionar as mortes relatadas (dos reféns) com os ataques por drones”, relatou o jornal The New York Times citando funcionários da Casa Branca. Mas em suas notas preparadas acintosamente, Obama afirma que “não é possível capturar estes terroristas” – então, os ataques por drones.

A Administração Obama acha que somos assim tão estúpidos?

O fato de que se pode descobrir quem morreu em um ataque de drones (mesmo que apenas bem depois do ataque) indica que há fonte de Inteligência confiável originada das áreas marcadas como alvo, provavelmente proporcionada por aliados locais, talvez polícia ou exército. Ora, se há policiais ou tropas que são confiáveis a ponto de fornecer informações, então, obviamente, é possível solicitar a estes aliados que capturem os alvos individuais.

Resumo da ópera: o governo dos Estados Unidos está bombardeando pessoas a torto e a direito pelo mundo afora, sem a menor ideia de quem está sendo bombardeado. Além do mais, estes assassinatos de cunho político são ilegais. Mentiram, dizendo que tais fatos não mais estavam acontecendo. Agora, tem a ousadia desavergonhada de fingir tristeza pelos próprios feitos, que poderiam ser perfeitamente evitáveis. São repugnantes e brutais, e deveriam ser fechados em uma prisão pelo resto da vida.

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Patreus e a "namorada-biógrafa", Paula Broadwell
Segundo caso: David Petraus, antigo bam-bam-bam da mídia, queridinho das redações, general sob Bush e no início dos anos Obama, recebeu um puxão de orelhas – claro, com liberdade condicional e multa de 100.000 dólares – por passar informações e documentos confidenciais de forma ilegal para pessoas não autorizadas, e depois mentir a respeito do fato, quando inquirido por agentes federais que o questionaram.

Lá vamos nós outra vez: mais provas de que, no sistema jurídico americano, algumas pessoas voam na primeira classe, enquanto o resto de nós se aperta na classe turística, mesmo.

Neste mundo às avessas, gente como Petraus, que deveria já estar preso, porque sua posição superior lhe fez ser incrustado na administração com imenso poder e responsabilidade, caminha livre, enquanto os patetas menos ranqueados como nós, se cometermos o mesmo crime, seremos tratados como se fôssemos Al Capone.

O soldado raso Chelsea Manning, que revelou os documentos oficiais dos crimes de guerra dos Estados Unidos no Iraque, através do WikiLeaks, deu com os costados na prisão por 35 anos. Edward Snowden, administrador de sistemas de 31 anos que trabalhava para uma firma terceirizada que prestava serviços para a NSA e que revelou que o governo dos Estados Unidos está lendo todos os nossos e-mails e ouvindo o que dizemos ao telefone, encara a possibilidade de passar a vida na prisão.

Dois anos de liberdade condicional. Enquanto isso, professores que ajudaram seus alunos a enganar os testes padronizados receberam pena de sete anos na prisão. Para Petraus, que passou a trabalhar para um fundo de investimentos, 100.000 dólares é apenas uma boa gorjeta para o caddy (carregador de tacos para os jogadores de golfe – NT).

Há algo que adiciona loucura ao insulto: o fato de que o motivo pelo qual Petraus colocou em perigo a segurança nacional é venal: ele deu os documentos para a sua namorada, que escreveu sua biografia autorizada.

Manning e Snowden, são heróis que deveriam ser objeto de desfiles honrosos e receber medalhas presidenciais da Liberdade, mas não foram glorificados. Eles apenas queriam informar ao povo norte americano sobre as atrocidades que se cometiam em seu nome, e sobre as violações de seus direitos mais básicos, incluindo-se o direito à privacidade.

Antes de ser apanhado com a boca na botija e enquanto compartilhava informações confidenciais com sua namorada, Petraus teve o descaramento indizível de pontificar hipocritamente sobre um funcionário da CIA que disponibilizou informações sensíveis. Diferentemente de Patreus, porém, o sujeito da CIA recebeu a justiça reservada aos patetas: 30 meses na prisão.

“Fechando o assunto”, Petraus pontificou bombasticamente em 2012: “na realidade, há consequências sérias para aqueles que se acreditam acima das leis que protegem nossos verdadeiros colegas e permite que as agências norte americanas possam trabalhar com o grau adequado de sigilo”.

Bem. Se você é viajante de primeira classe, as consequências são mínimas.


Ted Rall – Frederick Theodore “Ted” Rall é escritor e cartunista para o The Los Angeles Times. Seus cartoons são distribuídos para cerca de 100 jornais norte americanos. Já foi correspondente de guerra e escreve artigos sobre a Ásia Central, sua especialidade.


Tradução mberublue.

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