Washington ameaça o mundo
Dr. Paul Craig Roberts
9 de agosto de 2014
Tradução: mberublue
Desencadear o mal no
mundo. Esta é a conseqüência das intervenções irresponsáveis e imprudentes de
Washington em vários países, a saber: Iraque, Líbia e Síria, entre outros. Sob
o governo Saddam, Kadaffi e Assad as várias seitas existentes no Oriente Médio
viviam em paz. Hoje, massacram uns aos outros, enquanto um novo grupo, o DAASH,
ou EI, ou ISIL ou ISIS, está em pleno processo de criação de um novo Estado,
com pedaços do Iraque e da Síria.
Milhões de mortes já
acontecidas e mortes incalculáveis no futuro são o que fizeram o regime de Bush
e Obama pela turbulência causada no Oriente Médio. Neste exato momento em que
escrevo, 40.000 iraquianos estão presos no topo de uma montanha, sem água, a
esperar a morte nas mãos do EI, que vem a ser uma criação da intromissão dos
EUA.
A realidade atual no
Oriente Médio está em enorme contradição com o pronunciamento de George W. Bush
no Porta Aviões Abraham Lincoln, dos EUA, quando declarou: “Missão Cumprida”,
em maio de 2003. A verdadeira missão realizada por Washington foi destruir o
Oriente Médio e a vida de milhões de pessoas, destruindo também no processo a
reputação dos Estados Unidos. É graças ao regime demoníaco e neoconservador de
Bush que os Estados Unidos são hoje considerados universalmente como a maior
ameaça à paz mundial.
O padrão foi fornecido
pelo regime Clinton, com o ataque à Sérvia. Bush apenas incrementou a barbárie
com a agressão nua de Washington contra o Afeganistão, travestindo-a, em
linguagem Orwelliana, de “Operação Liberdade Duradoura”.
Para o Afeganistão,
Washington não trouxe a liberdade, mas a ruína. Depois de treze anos explodindo
o país, os EUA estão em retirada. O “superpoder” foi derrotado por alguns
milhares de talebãs levemente armados, porém Washington larga para trás um
deserto para o qual não quer assumir qualquer responsabilidade.
Outra interminável
fonte de sofrimento no Oriente Médio é Israel, cujo roubo da Palestina foi
permitido e apoiado pelos Estados Unidos. No transcorrer dos últimos ataques de
Israel a civis em Gaza, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma resolução em
apoio aos crimes de guerra de Israel e votaram pelo fornecimento de mais
centenas de milhões de dólares para pagar as munições gastas por Israel. Estamos
neste momento testemunhando a Moral Americana, que apóia 100% a indefensáveis e
inegáveis crimes de guerra, cometidos essencialmente contra civis desarmados e
impossibilitados de se defender.
Quando Israel
assassina mulheres e crianças, os Estados Unidos denominam isso como “o direito
que Israel tem de defender o próprio país”. O mesmo país ao qual Israel roubou
dos palestinos. Mas se os palestinos retaliam, Washington os chama de “terroristas”.
Apoiando Israel, os EUA declaram seu apoio a um Estado Terrorista. Porque ainda
existem alguns governos morais, Israel foi acusado de crimes de guerra pelo
Secretário Geral da ONU, e os Estados Unidos violam suas próprias leis ao
apoiar esse Estado Terrorista.
Mas não há surpresa
nisso, tendo em vista que os EUA são os líderes entre todos os Estados Terroristas
e, portanto, sob a Lei dos Estados Unidos, Washington está exercendo
ilegalmente o poder. Mas é sabido que Washington não aceita nem leis nacionais
nem internacionais, nem qualquer restrição às suas ações. Washington é “excepcional,
indispensável”. Ninguém mais será levado em conta. Nem lei, nem Constituição,
nenhuma consideração humana tem autoridade para contrariar Washington em suas
vontades. Washington chega a superar o Terceiro Reich com suas afirmações.
Por mais temerária e
horrível que seja a imprudência de Washington em relação ao Oriente Médio, a
que ostenta atualmente em relação à Rússia está vários pontos acima. Os EUA
acabaram por convencer a Rússia de que Washington está a planejar um primeiro
ataque nuclear. Em resposta, a Rússia está reforçando suas forças nucleares e
ao mesmo tempo, testa as forças nucleares americanas, assim como as reações de
seu sistema de defesa: http://freebeacon.com/national-security/russian-strategic-bombers-conduct-more-than-16-incursions-of-u-s-air-defense-zones/
É muito difícil
imaginar ato mais irresponsável que levar a Rússia a acreditar que Washington
pretende lançar contra os russos um primeiro ataque nuclear preventivo. Um dos
conselheiros de Putin explicou à mídia russa as intenções de Washington de um
primeiro ataque preventivo e um membro da Duma (Parlamento) russa fez uma
explanação documentada do que seria esse primeiro ataque preventivo de
Washington: http://financearmageddon.blogspot.co.uk/2014/07/official-warning-u-s-to-hit-russia-with.html
Pela acumulação de provas, eu tenho salientado em minha coluna que, para a
Rússia, é impossível deixar de chegar a essa conclusão.
A China está consciente de que enfrenta a
mesma ameaça da parte de Washington. http://yalejournal.org/2013/06/12/who-authorized-preparations-for-war-with-china/
A resposta da China aos planos de guerra
de Washington foi a demonstração de como as forças nucleares chinesas seriam
usadas no contra ataque, causando a destruição dos Estados Unidos. A China
tornou tudo isso público, na esperança de criar uma oposição nos Estados Unidos
aos planos de Washington contra a China: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2484334/China-boasts-new-submarine-fleet-capable-launching-nuclear-warheads-cities-United-States.html
Assim como a Rússia, a China é um país em ascensão e a última coisa de que
precisa para ter sucesso é uma guerra.
O único país que
necessita urgentemente de uma guerra é Washington, e isso acontece porque o objetivo
de Washington é o exercício de uma hegemonia neoconservadora estadunidense
sobre o mundo.
Antes dos regimes de
Bush e Obama, todos os presidentes anteriores dos Estados Unidos envidaram seus
melhores esforços em prevenir uma ameaça de guerra nuclear. A doutrina de
guerra nuclear americana sempre se limitou a uma retaliação caso os Estados
Unidos fossem alvo de um ataque nuclear. O objetivo das forças nucleares sempre
foi evitar o uso dessas armas. O regime imprudente de George W. Bush destruiu
essa política de contenção elevando as armas nucleares a um patamar de primeiro
ataque preventivo. O objetivo primordial da administração Reagan foi o fim da
guerra fria e por consequência, o fim da
ameaça de guerra nuclear. Os regimes de George W. Bush, juntamente com o regime
de Obama, promovendo a demonização da Rússia, já derrubaram o feito único e
brilhante do presidente Reagan, e acabaram por tornar novamente possível a
guerra nuclear.
Quando o governo
incompetente de Obama decidiu derrubar o governante democraticamente eleito da
Ucrânia, trocando-o por um governo fantoche escolhido por Washington, o
Departamento de Estado de Obama, que por sua vez é fantoche de ideólogos neoconservadores,
acabou por se esquecer que o leste e o sul da Ucrânia são compostos por antigas
províncias russas que foram alocadas à República Soviética Socialista da
Ucrânia por líderes do Partido Comunista quando a Ucrânia e a Rússia eram parte
de um mesmo país, a União Soviética. A seguir, quando os idiotas russófobos que
Washington instalou em Kiev demonstraram não apenas por palavras, mas também
por atos sua hostilidade agressiva em relação à população russa, as antigas
províncias russas declararam seu desejo de tornar a fazer parte da mãe Rússia.
Não há surpresa nisso, nem pode ser atribuída qualquer culpa à Rússia por esse
fato.
A Criméia teve
sucesso em retornar à Rússia, da qual fazia parte desde 1700, mas Putin, talvez
na esperança de desarmar a propaganda de guerra manipulada que Washington
disparava contra ele, não aceitou a solicitação das outras antigas províncias
russas. Em consequência, os fantoches de Washington em Kiev se sentiram livres
para atacar as pessoas que protestavam nas províncias, copiando a política de
Israel de atacar a população, as residências e a infraestrutra civil.
A mídia prostituta do
ocidente deixou os fatos de lado e prontamente acusou a Rússia de anexar partes
da Ucrânia. Mentira absurda, só comparável com as mentiras ditas pelo
Secretário de Estado Colin Powell na ONU, quando falou sobre as supostas armas
de destruição em massa do Iraque, tudo para favorecer o regime criminoso de
Bush. Mais tarde, Powell pediu desculpas pela mentira, mas isso de nada
adiantou ao Iraque e às centenas de milhares de vítimas, destruídas por suas
mentiras.
Quando o avião da
Malásia foi abatido, antes de se conhecer quaisquer fatos, a Rússia foi
responsabilizada. A mídia britânica foi especialmente virulenta em culpar a
Rússia quase no mesmo instante em que se soube que o avião fora derrubado. As
deturpações grosseiras e mentiras deslavadas
da BBC e da American National Public Radio só foram superadas como
propaganda manipulada pelo Daily Mail. Tudo leva a crer que a “notícia” e sua
propagação foi adrede orquestrada o que sugere, é claro, que Washington estava
por trás de tudo.
As mortes provocadas
pela queda do avião se tornaram armas propagandísticas importantes para Washington.
Claro que se trata de uma infelicidade a morte de 290 vítimas, mas eles são
apenas uma fração do número de palestinos mortos, no mesmo instante sem
provocar qualquer rumor ou protesto nem de governos, nem dos povos ocidentais
nas ruas, e os poucos que protestaram contra Israel foram convenientemente
reprimidos pelas forças de segurança ocidentais.
A queda do avião,
provavelmente provocada por Washington, foi usada como mais uma desculpa para
nova rodada de “sanções e pressão” dos Estados Unidos, às quais se juntaram
mais sanções de seus fantoches europeus.
Como Washington
depende de acusações e insinuações, se recusa a liberar as provas a partir de
fotos de satélite, porque tais fotos desmentiriam a versão dada pelos EUA.
Fato. Não se permite qualquer tipo de interferência contra a demonização que
Washington promove contra a Rússia, da mesma forma que não se permitiu que
qualquer fato interferisse contra a demonização promovida por Washington contra
o Iraque, a Líbia, a Síria, o Irã.
Vinte e dois
senadores dos Estados Unidos, irresponsáveis e imprudentes, deram forma ao “Ato
Preventivo 2014 sobre a Agressão Russa”. O projeto de Lei/2277 do Senado dos
Estados Unidos patrocinado pelo Senador Bob Corcker, representa bem a ignorância
e estupidez que assola a maioria da população dos Estados Unidos ou da maioria
dos eleitores do Estado do Tennessee. O Projeto de Lei de Corcker é uma peça
dementada de legislação destinada a promover uma guerra que muito provavelmente
não deixará sobreviventes. Aparentemente os eleitores imbecis dos Estados
Unidos elegerão qualquer idiota para o poder.
A convicção de que a
Rússia é responsável pela queda do avião da Malásia tornou-se verdade incontestável
nas capitais do ocidente, mesmo sem qualquer farrapo de evidência de que tal
afirmação é verdade. Convenhamos, mesmo que a acusação fosse verdadeira, a
queda de um avião é motivo para deflagrar uma Guerra Mundial?
O Comitê de Defesa do
Reino Unido concluiu que o reino quebrado e seu exército impotente devem “concentrar-se
na defesa da Europa contra a Rússia.” Batendo os tambores da despesas
militares, se não os da própria guerra, o Reino Unido quer levar todo o
ocidente em sua companhia. Uma Bretanha impotente quer defender a Europa de uma
ameaça que não existe, mesmo estridulamente proclamada, de ataque do urso
russo.
Alertas são emitidos
por dignitários militares da OTAN e dos Estados Unidos, assim como do chefe do
Pentágono, tudo baseado na alegada mas não existente presença de tropas russas
na fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério de Propaganda Manipulada
do ocidente, caso a Rússia defenda a população na Ucrânia dos ataques militares
desfechados pelos fantoches de Washington em Kiev, isso se constitui em prova
de que a Rússia é o vilão.
A campanha de
propaganda mentirosa de Washington teve sucesso em transformar a Rússia em uma
ameaça. Pesquisas demonstram que 69% dos estadunidenses hoje vêem a Rússia como
uma ameaça, e que a confiança dos russos nos líderes americanos desapareceu. Os
russos e seu governo percebem uma demonização idêntica contra o seu país e seu
líder, como observaram em relação ao Iraque e Saddam Hussein, contra a Líbia e
Muammar Kadaffi, contra a Síria e Assad, e contra o Afeganistão e o Taleban,
imediatamente antes de serem seus países tomados de assalto pelo ocidente. Para
um russo, a conclusão óbvia, a evidência gritante é que Washington pretende
fazer a guerra contra a Rússia.
A irresponsabilidade
e a imprudência do regime de Obama não tem precedentes, na minha opinião. Nunca
antes houve nos Estados Unidos ou em qualquer outra potência nuclear, um
governo que fosse tão longe em seus esforços para convencer outra potência
nuclear de que seu poder estava sendo preparado para um ataque. Imaginar ato
tão provocativo e mais perigoso para a vida no planeta Terra é muito difícil. Indubitavelmente,
o louco da Casa Branca duplicou esse perigo, convencendo ao mesmo tempo a
Rússia e a China de que os Estados Unidos preparam um primeiro ataque nuclear
preventivo contra ambos.
Os republicanos
querem processar ou impichar (conforme Dicionário Aulete - NT) Obama por assuntos
relativamente desimportantes como o ObamaCare. Por que os republicanos não
impicham Obama por causa de um assunto tão crucial como submeter o mundo ao
risco de um armagedom?
A resposta está no
fato de que os republicanos são tão insanos quanto os democratas. Seus líderes,
como John McCain e Lindsay Graham, estão determinados a “levantar-se contra os
russos!”. Para onde quer que se olhe para os políticos estadunidenses, só se vê
gente louca, psicopatas e sociopatas que não deveriam estar ocupando um cargo
político.
Washington mandou a
diplomacia às favas há longo tempo. Washington baseia-se na força e na
intimidação. O governo dos Estados Unidos é totalmente desprovido de bom senso.
Não é por outra causa que uma pesquisa efetuada no resto do mundo considera que
o governo dos Estados Unidos é atualmente a maior ameaça à paz mundial. Hoje (08
de agosto de 2014) Handelsblatt, o Jornal de Wall Street da Alemanha escreveu,
em um editorial assinado:
“A tendência
demonstrada pelos Estados Unidos de transformar uma escalada verbal em escalada
militar – o isolamento, demonização e ataque aos inimigos – mostrou-se
ineficaz. O último grande sucesso militar em ação dos Estados Unidos aconteceu
na invasão da Normandia (em 1944). Todos os outros – Coréia, Vietnã, Iraque e
Afeganistão – acabaram em claro fracasso. Mover unidades da OTAN através da
fronteira Polonesa para perto da Rússia e pensar em armar a Ucrânia não passa
da continuação da política de contar com os meios militares em detrimento da
diplomacia.”
Os Estados fantoches
de Washington – toda a Europa, Japão, Canadá e Austrália – permitem um perigo
inigualável ao mundo todo através de seu apoio à agenda de Washington:
continuar a exercer sua hegemonia sobre o mundo inteiro.
Acaba de acontecer o
100º aniversário da Primeira Guerra Mundial. Hoje, repete-se a loucura que
causou aquela guerra calamitosa. A Primeira Guerra Mundial destruiu o mundo
ocidental civilizado, e foi causado por um punhado de conspiradores. O resultado
foi Lenin, a União Soviética, Hitler, o nascimento e crescimento do Império
Americano, Coréia, Vietnã, intervenções militares que acabaram na criação do EI
(ISIL, DAASH) e agora está sendo recriado o conflito entre Rússia e Estados
Unidos, que o presidente Reagan e Mikhail Gorbachev haviam sepultado.
Como já salientou
Stephen Starr em meu site, se apenas 10% das armas nucleares do arsenal dos
Estados Unidos e da Rússia forem usados, a vida na Terra acabará.
Caros leitores, perguntem
a vocês mesmos, quando foi que Washington falou qualquer coisa que não fosse
uma mentira? As mentiras de Washington já causaram milhões de mortes. Você quer
se tornar mais uma vítima dessas mentiras?
Você acha que vale a
pena o risco de acabar com a vida na Terra por causa das mentiras de Washington
sobre a queda do avião da Malásia e sobre a Ucrânia? Existe alguém ingênuo o
suficiente para acreditar que Washington não mente sobre a Ucrânia da mesma
forma que mentiu sobre as armas de destruição em massa de Hussein, sobre as
bombas iranianas e sobre o uso por Assad de armas químicas?
Você não acha que a
influência noeconservadora que prevalece hoje em Washington, independentemente
do partido político no poder, é muito perigosa para ser tolerada?
Paul
Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é
um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate.
Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi
destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall
Street Journal, Business Week e Scripps Howard
News Service. Testemunhou perante comissões do
Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século
XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e
no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os
efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra
contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e
o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados
republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e
criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um
graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade
de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na
Faculdade de Merton, Oxford University.
Tradução: mberublue
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