O ocidente pavimenta
com mentiras a estrada para a guerra.
Por Paul Craig Roberts
Tradução mberublue
Declarações oficiais
do governo russo indicam que o presidente e o ministro do exterior continuam a
confiar na boa vontade de seus “parceiros ocidentais” para o desenvolvimento de
uma solução diplomática razoável para o problema ucraniano causado por
Washington. Não apenas não existe qualquer evidência de boa vontade nas
capitais ocidentais como as medidas hostis contra a Rússia seguem aumentando.
Além disso, essas medidas hostis aumentam mesmo quando se torna claro que seus
efeitos são desastrosos para a Europa.
Por exemplo: o presidente
socialista da França resolveu seguir caninamente as ordens de Washington e se
recusou a entregar para a Rússia um navio que está construindo sob contrato. As
notícias sobre o assunto são tão mal relatadas que não dão conta se a Rússia já
pagou pelo navio ou se o pagamento ainda está à espera de complementação. Se a
Rússia ainda não pagou, então a falha na entrega causará danos apenas para quem
financiou a construção do navio. Se a Rússia já pagou, então o imbecil presidente
francês colocou a França em flagrante violação de contrato e sob a lei
internacional o país estará sujeito a pesadas sanções financeiras.
Não está claro como
isso prejudicaria a Rússia. São as forças estratégicas nucleares da Rússia que
o ocidente tem que temer, não um navio de transporte de helicópteros. A lição que
Hollande está dando para a Rússia é a seguinte: não faça negócios com a França
ou qualquer outro país da OTAN.
A Rússia pode
simplesmente colocar de imediato a violação contratual em julgamento. No caso a
França deverá sofrer sanções com penalidades cujo valor pode exceder o próprio
valor do contrato, ou então o ocidente estará provando que em suas mãos a lei
internacional não passa de um amontoado de palavras sem sentido. Se eu fosse a
Rússia desistiria tranquilamente de um navio de transporte de helicópteros
apenas para deixar estabelecido esse ponto.
Marine Le Pen |
Atualmente a França
tem apenas um líder: Marine Le Pen, a qual, embora seu apoio tenha crescido
exponencialmente, não está no poder. Le Pen disse que a atitude subserviente de
Hollande para com Obama “acarretará um
custo enorme para a França: a perda de milhões de horas trabalhadas e uma multa
entre 5 a 10 bilhões de euros”.
Hollande tenta
justificar sua submissão abjeta a Washington com uma mentira: “As ações da
Rússia no leste da Ucrânia transgridem princípios fundamentais da Segurança
Europeia”. Ocorre exatamente o oposto. São as ações estúpidas de Hollande, Merkel
e Cameron que colocam em perigo a Segurança Europeia ao permitir que Washington
continue com a sua rota de guerra contra a Rússia.
Tomando-se por base
as reportagens (pelo que elas valem), Washington e seus fantoches da União
Europeia estão preparando mais sanções contra a Rússia. Levando-se em conta a
incompetência crônica de Washington e Bruxelas, é incerto quem será mais
prejudicado com tais sanções, se Rússia ou Europa. O que importa é que a Rússia
nada fez para merecer que as sanções lhe sejam impostas.
As sanções baseiam-se
na mentira de Washington afirmando que, nas palavras de Obama (03 de setembro) “forças
russas de combate, com armas russas e tanques russos” instalaram-se no leste
ucraniano. Conforme relato do Professor Michel Chossudovsky no Global Research,
observadores da OSCE (Organization for Security ond Cooperation in Europe –
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) “não houve registro de
tropas, munição ou armas que tenham cruzado a fronteira entra a Rússia e a
Ucrânia nas últimas duas semanas”.
As passagens
seguintes são relatos do Professor Chossudovsky baseadas nas conclusões da OSCE:
“A
missão de observação da OSCE está instalada nos postos de controle russos de
Gukovo e Donetsk a pedido do governo russo. A decisão foi tomada em acordo
consensual por todos os 57 Estados que participam da OSCE, muitos dos quais se
encontram representados na Cúpula da OTAN em Gales.”
“O
relato da OSCE contradiz as declarações do regime de Kiev e de seus padrinhos
EUA e OTAN. Confirma que as acusações que se referem ao fluxo de tanques russos
não passam de uma mentira deliberada.”
“A
OTAN deu apoio para as declarações de Obama, baseadas em imagens falsas de
satélite (28 de agosto ode 2014) as quais supostamente mostrariam forças russas
engajadas em operações de combate no interior do território soberano da
Ucrânia. Estas declarações foram refutadas detalhadamente por relatos da missão
de monitoramento da OSCE estacionada nas fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia.
Os relatórios da OTAN que se basearam nas fotos de satélite construíram uma
evidência falsa.”
“Note-se
como importante que a OSCE monitoriza cuidadosamente os movimentos através da
fronteira, movimentos estes que consistem na maioria em refugiados.”
Tal como no Iraque,
Afeganistão e Líbia, atacados com base em mentiras evidentes e Síria e Irã, que
estão na mira de outros ataques também suportados em mentiras transparentes, as
sanções contra a Rússia igualmente se apoiam apenas em mentiras descaradas.
De acordo com o UK Telegraph as novas sanções proibirão
que todas as companhias estatais russas de defesa ou petrolíferas façam
captação de recursos nos mercados europeus de capital. Em outras palavras
qualquer empresa petrolífera em operação na Rússia também pode ser excluída
desse mercado. Ninguém ficará imune.
Uma das possíveis
respostas russas a tal sanção pode ser o confisco de qualquer empresa ocidental
em operação na Rússia como forma de compensação para o eventual prejuízo
causado pelas sanções infligidas ao país.
Outra resposta pode
ser voltar-se para a China na busca por financiamento.
Ainda outra pode ser
o financiamento próprio para a indústria de energia e defesa. Se os Estados
Unidos podem imprimir dinheiro para manter quatro ou cinco megabancos à tona, a
Rússia pode muito bem imprimir dinheiro para financiar suas necessidades.
A lição que
Washington está proporcionando para grande parte do mundo é que um país tem que
estar completamente louco para fizer negócios com o ocidente. O ocidente usa os
negócios de forma hegemônica para punir, explorar e saquear. É incompreensível que
depois de tantas lições amargas ainda existam países que recorrem ao FMI para
empréstimos. É impossível não ter consciência atualmente que os empréstimos do
FMI tem dois propósitos: o saque do país pelo ocidente e a subordinação do país
à política hegemônica ocidental. Pois mesmo assim, governantes imbecis ainda
candidatam-se para os empréstimos do FMI.
Toda a escalada da
situação ucraniana é trabalho dos Estados Unidos, União Europeia e Kiev.
Aparentemente, Washington interpreta a resposta moderada da Rússia como se o
governo russo estivesse intimidado. Mas, quando Putin tem todas as cartas na
mão, pode destruir a Europa simplesmente desligando a torneira do fluxo de gás natural
e pode reincorporar a Ucrânia inteira de volta para a Rússia em apenas duas
semanas ou menos, como pode os EUA vir a impor seja o que for?
Será que a Rússia está
tão desesperada para fazer parte do ocidente que sucumbirá, transformando-se em
apenas mais um dos Estados fantoches de Washington?
Paul Craig
Roberts (nascido em 03 de
abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators
Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan
e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall
Street Journal, Business Week e Scripps Howard
News Service. Testemunhou perante comissões do
Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século
XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e
no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os
efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra
contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e
o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos,
opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as
políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do
Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de
Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na
Faculdade de Merton, Oxford University.
Tradução: mberublue
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