China desafia a
Guerra Econômica dos
Estados Unidos
contra a Rússia
Por Alex Lantier
http://www.globalresearch.ca/china-challenges-us-economic-war-against-russia/5421344
Tradução mberublue
Desafiando
diretamente o poder político da OTAN, que cortou o crédito da Rússia na
intenção de enfraquecer o rublo e destruir a economia russa, a China está
empenhada em estender ajuda financeira a Moscou.
Sábado, o Ministro
de Relações Exteriores da China, Wang Yi destacou a necessidade de ajuda mútua
entre China e Rússia, no comentário sobre a crise do rublo, que assistiu a
drásticos 45 por cento de queda em seu valor ante o dólar americano neste ano. “A
Rússia tem competência e sabedoria suficientes para reverter o atual sofrimento
causado pela situação econômica”, disse Wang. “Se por acaso o lado russo
necessitar, providenciaremos a assistência necessária dentro de nossa
capacidade.”
Hucheng |
Domingo, o
ministro do Comércio chinês Gao Hucheng disse para a TV Phoenix de Hong Kong
que Pequim gostaria de reforçar seus laços com Moscou nas áreas de energia e
manufaturados, anotando que o comércio China/Rússia alcançou sua meta de $100
bilhões de dólares neste ano, apesar da crise do rublo. Como o valor do rublo
ante o dólar e o euro oscila muito, Gao propôs uma mudança no financiamento do
comércio entre China e Rússia que consistiria em sair do dólar ou euro e em vez
disso usar a moeda chinesa, o Yuan ou Renmimbi.
Gao disse que a
China tem seu foco nos “fatores fundamentais, como por exemplo, de que maneira
podem as duas economias complementar uma à outra”, noticia a Reuters. “Investidores
em capital podem ser mais interessados em estoques ou em um mercado de câmbio
volátil, mas quando se trata de cooperação concreta entre duas nações, temos
que assumir uma mentalidade equilibrada e fazer com essas cooperações avancem
sem transtornos” disse Gao.
Ontem, o jornal China Daily referiu-se a Li Jianmin, da
Chinese Academy of Social Sciences (Academia Chinesa de Ciência Sociais – NT) a dizer que a ajuda para a Rússia poderia
vir a acontecer através de canais como a Shanghai Cooperation Organization
(SCO) ou o fórum BRICS. Significativamente, ambos, o SCO (uma aliança entre a
China, a Rússia e Estados Asiáticos) e o fórum BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul), excluem de seus quadros os Estados Unidos e a Europa.
Keqiang e Mdvedev |
Li observou que já
no último mês, quando os Primeiro Ministros Li Keqiang e Dmitry Medvedev se
encontraram no Cazaquistão, assinaram acordos abrangentes que vão desde
rodovias e infraestrutura até o desenvolvimento das regiões que correspondem ao
extremo oriente russo e norte chinês. “Empréstimos, cooperação em grandes
projetos e participação no investimento na infraestrutura doméstica na Rússia
são opções que estão sobre a mesa”, aduziram. Em apenas um destes acordos no
último mês, a China assinou um contrato que corresponde ao valor de 400 bilhões
de dólares, para a compra de gás russo por 30 anos.
Essas ofertas de
ajuda vêm de encontro à guerra econômica lançada pelo imperialismo dos Estados
Unidos e da Europa para punir Moscou, que se opôs à reestruturação neoliberal
que tentavam impor na Eurásia.
Em retaliação ao
apoio russo ao Presidente Bashar al-Assad, na sua luta contra a guerra por
procuração da OTAN na Síria e também retaliando a oposição russa ao regime
ucraniano imposto pela OTAN em Kiev, as potências aliadas da OTAN procuraram
estrangular a Rússia. Como as receitas russas derivadas do petróleo caíram
paralelamente com a queda dos preços mundiais de petróleo e com o colapso do
rublo, elas trabalharam para cortar todo o crédito para a Rússia e exigiram que
esta aceitasse o regime em Kiev. (Leia: Imperialism and the ruble crisis – O imperialismo
e a crise do rublo)
O mecanismo
financeiro básico desta estratégia foi exposto no Financial Times de Londres por Anders Aslund do Petersen Institute
for International Economics (Instituto Petersen de Economia Internacional – NT). “A Rússia não recebeu qualquer
financiamento internacional de relevância – nem mesmo de bancos estatais
chineses – porque todos têm medo das agências reguladoras norte americanas”
escreveu. Com um fluxo de saída de capital da ordem de 125 bilhões de dólares,
reservas internacionais líquidas de 200 bilhões e dívidas externas da ordem de
600 bilhões de dólares, a Rússia ficaria sem reservas em dólares e iria à
falência em meros dois anos, calcula Aslund.
No entanto, agora
Pequim parece pronta a assumir o risco de um confronto com os Estados Unidos e
se prepara publicamente para lançar uma tábua de salvação financeira para a Rússia.
A reserva monetária chinesa é de 3.89 trilhões de dólares, a maior do mundo e
pelo menos no papel, mais que suficiente para facilmente pagar qualquer dívida
russa no mercado internacional.
Não por acaso, as
falas de Wang e Gao sobre a possível ajuda para a Rússia aconteceram apenas um
dia após uma dividida reunião de cúpula da União Europeia sobre a Rússia na
última semana. Apesar do apoio europeu às sanções contra a Rússia, o Ministro
de Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, o Presidente
Francês François Hollande e o Primeiro Ministro italiano Matteo Renzi se
opuseram publicamente a mais sanções. Os principais jornais europeus também
alertaram para o risco de um colapso do Estado Russo.
No cálculo da
importância de sua resposta para a crise do rublo, o regime chinês, que encara
uma economia em arrefecimento, e vê crescer protestos sociais entre as classes trabalhadoras
e campesinas, sem dúvida também vê com receio as possíveis consequências de uma
derrocada econômica e de uma implosão política de seu vizinho do norte.
Os conflitos
econômicos que irrompem entre as maiores potências na cauda da crise do
petróleo e a guerra imperialista lançada na Eurásia dão conta do avançado
estado de crise do mundo capitalista e do crescente perigo de uma guerra
mundial.
A ajuda chinesa
para a Rússia, e ela deve se materializar, exacerbará o conflito dos Estados
Unidos contra a China. Washington tentou um cerco militar ao país oriental
através do chamado “pivoteamento para a Ásia” aliando-se com a Australia, a
Índia e o Japão. Planos para uma guerra contra a China, tanto econômica quanto
militar, sem dúvida serão considerados seriamente por Wall Street e pelo
Pentágono.
Um ano atrás, em
um artigo denominado “A China não deve reproduzir os erros do Kaiser” o
colunista do Financial Times Martin
Wolf alertou a China contra qualquer ação que possa vir a representar uma
ameaça à hegemonia global exercida pelos Estados Unidos. Afirmou que uma
política chinesa que replicasse o desafio alemão à hegemonia britânica antes da
deflagração da Primeira Guerra Mundial em 1914 teria o mesmo resultado: guerra
total.
“Caso o conflito
aberto aconteça, os Estados Unidos pode fazer com que o mundo inteiro corte seu
comércio com a China. Pode também sequestrar uma boa parte dos recursos
líquidos externos chineses”, escreveu Wolf, lembrando que “as reservas chinesas
em moeda, que significam 40% de seu PIB, são, por definição, mantidas no
exterior.” Tal roubo, porque é disso que se trata, de trilhões de dólares que a
China ganhou no comércio com os Estados Unidos e a Europa acarretaria colapso
quase certo do comércio mundial o que por sua vez levaria à preparação para uma
guerra entre países detentores de armas nucleares.
Mao e Nixon |
Com sua política cada
vez mais inconsequente e violenta, o imperialismo dos Estados Unidos acaba por
pesar demais a mão, desacreditando-se entre seus próprios parceiros e
alimentando a oposição cada vez maior de Estados rivais. Ao provocar ao mesmo
tempo Rússia e China, particularmente, os Estados Unidos acabam por desfazer o
que foi considerada durante muito tempo como a maior vitória da política
imperialista americana: a aproximação em 1972 entre o Presidente dos Estados
Unidos, Richard Nixon e o líder chinês Mao Tse-Tung, o que, na ocasião, acabou
por fazer da China um aliado dos Estados Unidos contra a antiga União
Soviética.
“Muitos cidadãos
chineses ainda veem a Rússia como um grande irmão, e os dois países são
estrategicamente importantes um para o outro”, disse o reitor das Universidades
Associadas Renmin, Jin Canrong, referindo-se ao apoio prestado pela União
Soviética à China durante a guerra da Coréia, quando os Estados Unidos fizeram
parte do conflito, pouco depois da chegada ao poder do Partido Comunista Chinês,
de inspiração stalinista. “Até por uma questão de nossos interesses nacionais,
a China deve intensificar sua cooperação com a Rússia quando esta se faz
necessária.”
“A Rússia é nosso
parceiro insubstituível no cenário mundial”, escreveu em editorial na data de
ontem o Global Times, ligado ao
Partido Comunista Chinês. “A China deve tomar atitudes proativas para ajudar a
Rússia a sair da crise que enfrenta atualmente.”
Por Alex Lantier
Tradução: mberublue